Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte | |
Processo: | 00368/15.4BEMDL |
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Secção: | 1ª Secção - Contencioso Administrativo |
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Data do Acordão: | 03/05/2021 |
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Tribunal: | TAF de Mirandela |
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Relator: | Ricardo de Oliveira e Sousa |
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Descritores: | CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM; INCOMPETÊNCIA DO TRIBUNAL ARBITRAL. |
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Sumário: | I – Respeitando a “causa petendi” dos autos a faturação emitida pela Autora relativa a serviços de abastecimento de água e de saneamento e não paga pelo Réu, funciona in casu a exceção prevista no n.º 3 das cláusulas 9ª e 10ª do Contrato de Fornecimento e do contrato de recolha identificados nos autos, não sendo, por isso, o conhecimento do presente litígio de submeter ao tribunal arbitral.* * Sumário elaborado pelo relator |
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Recorrente: | ÁGUAS (...), S.A |
Recorrido 1: | MUNICÍPIO DE (...) |
Votação: | Unanimidade |
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Meio Processual: | Acção Administrativa Comum |
Decisão: | Conceder provimento ao recurso. |
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Aditamento: | ![]() |
Parecer Ministério Publico: | Emitiu parecer no sentido da improcedência do recurso. |
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Decisão Texto Integral: | Acordam, em conferência, os Juízes Desembargadores da Secção de Contencioso Administrativo do Tribunal Central Administrativo Norte: * * I – RELATÓRIO ÁGUAS (...), S.A, devidamente identificada nos autos, vem intentar o presente RECURSO JURISDICIONAL da decisão judicial promanada pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela, que, em 02.07.2020, julgou o Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela absolutamente incompetente para a apreciação da presente ação e, consequentemente, absolveu o Réu, aqui Recorrido, MUNICÍPIO DE (...) da instância. Em alegações, a Recorrente formula as conclusões que ora se reproduzem, que delimitam o objeto do recurso: “(…) 1. Vem o presente recurso interposto da sentença proferida em 02/07/2020 (notificada à aqui Recorrente por notificação eletrónica elaborada e certificada em 03/07/2020), e que absolveu o Réu da instância, ao julgar procedente a alegada exceção de incompetência absoluta, por preterição da cláusula arbitral, decidindo: “Em face do exposto, julgo este Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela absolutamente incompetente para a apreciação da presente ação e, consequentemente, absolvo o R. MUNICÍPIO DE (...) da instância.”. 2. Salvo o devido respeito, a decisão tomada pelo douto Tribunal a quo consubstancia-se num manifesto ERRO DE JULGAMENTO, porquanto: 3. O presente litígio, tal como fora articulado pela Autora, ora Recorrente, prende-se com a falta de pagamento por parte do Município Réu, ora Recorrido, de montantes faturados pela Sociedade Concessionária. 4. Os montantes faturados são devidos porquanto o MUNICÍPIO DE (...), na qualidade de utilizador originário, está contratualmente obrigado a pagar os serviços de saneamento e abastecimento de água que lhe são fornecidos, nos termos do contrato de concessão e dos contratos de saneamento e fornecimento outorgados - tudo conforme alegado na PI. 5. Resulta das Cláusula 1º e 3ª do contrato de fornecimento de água e das Cláusulas 1.a e 3? do contrato de recolha de efluentes, que a Sociedade Concessionária se obriga a fornecer água ao Município, destinada ao abastecimento público, e a recolher os efluentes provenientes do sistema próprio daquele, sendo a faturação de tais serviços apresentada mensalmente. 6. Pelo que, a aqui Recorrente forneceu ao Município Recorrido os serviços de abastecimento de água e de saneamento (recolha e tratamento de efluentes), tendo faturado e exigido cobrança dos preços que foram legalmente estabelecidos. 7. Motivo pelo qual, a presente ação administrativa de condenação, intentada pela Sociedade concessionária, é uma ação de cobrança de faturas (neste caso, faturas de serviços e juros de mora) que foram por esta emitidas e que não foram pagas pelo MUNICÍPIO DE (...); 8. Pelo que o presente litígio, tal como foi configurado, preenche a exceção prevista na cláusula 9ª/3 e 10ª/3 dos contratos de fornecimento e de recolha de efluentes outorgados entre as partes, uma vez que a presente contenda está relacionada com a falta de pagamento de faturação emitida pela Sociedade Concessionária e não com a interpretação/execução do contrato de concessão. 9. Pois que, tendo em consideração a teoria da impressão do destinatário, consagrada no art.° 236°, n.° 1 do CC, e que tão bem foi relembrada pelo douto Tribunal a quo na sentença proferida, sempre se deverá concluir pelo seguinte: 9.1. Nos termos do n.° 3 das cláusulas 9ª e 10ª dos contratos celebrados, todas as questões relacionadas com interpretação e execução dos contratos serão submetidas ao Tribunal Arbitral; 9.2. Com exceção das que respeitem à faturação emitida pela Sociedade e ao seu pagamento ou falta dele - como é o caso dos presentes autos! 10. E não pode a defesa apresentada pelo Recorrido, em sede de Contestação, ser pressuposto bastante para a subsunção do presente litígio à convenção arbitragem, porquanto as questões que possam estar relacionadas com a interpretação e execução do contrato de concessão e/ou dos contratos de fornecimento, apenas surgem enquanto “resposta” à cobrança judicial dos valores faturados pela Autora, ora Recorrente - não é o ora Recorrido, enquanto Município Utilizador, que se encontra a impugnar judicialmente o clausulado contratual, pois que este apenas levantou possíveis questões relacionadas com a interpretação/execução do contrato para obstar à pretensão da Autora. 11. Tanto que, a defesa apresentada pelo Recorrido, apesar de estar relacionada com a execução do contrato (como sempre iria estar, pois que a própria faturação dos serviços prestados é matéria de execução do contrato!), não se consubstancia numa verdadeira impugnação das cláusulas do mesmo, porquanto o Recorrido limita-se a referir que não paga os montantes faturados, por considerar que a Recorrente não cumpriu o contratualmente fixado — pelo que o Recorrido aceita o clausulado dos contratos celebrados, bem como o contrato de concessão para o qual aqueles contratos remetem, tanto que pagou parcialmente as faturas em litígio. 12. Pelo que, a questão decidenda dos presentes autos prende-se, exclusivamente, com a faturação da Sociedade Concessionária, ora Recorrente, ao aqui Recorrido, que se recusa a pagar os valores emitidos e faturados, que se recusa a pagar os valores emitidos e faturados, por considerar que a Recorrente não cumpriu com os termos dos contratos. 13. Motivo pelo qual o douto Tribunal a quo sempre deveria ter julgado totalmente improcedente a exceção de incompetência absoluta arguida pelo Recorrido, porquanto é em relação à ação configurada pela Autora, ora Recorrente, mormente na sua exposição de facto e de direito extraída da PI, que a competência material do Tribunal deve ser aferida - Cfr. artigo 5.° do ETAF. 14. Discordando-se da tese interpretativa daquele douto Tribunal, quando afirma que, tratando-se de competência absoluta relacionada com o compromisso arbitral, a fixação do objeto da ação deverá ter em consideração todos os articulados apresentados pelas partes, não sendo de aplicar o artigo 5.° do ETAF (firmando tal interpretação nos Acórdãos do Tribunal da Relação de Guimarães de 09.07.2015 (proc. n.° 1100/12.0TVPRT.G1) e de 08.03.2012 (proc. n.° 1387/11.5TBBCL-B.G1)). 15. Salvo devido respeito, considera a Recorrente que aqueles Acórdãos citados não apoiam a interpretação que é levada a cabo pelo Tribunal a quo na sentença proferida, pois que aqueles Acórdãos referem expressamente que na determinação da competência absoluta dever-se-á atender, principalmente, à Petição Inicial apresentada, pois é através da mesma que se delimita o objeto da ação, bem como a causa de pedir. 16. Pelo que, não pode a Recorrente conceder que tal normativo (artigo 5.° do ETAF) não possa ser aplicado aos presentes autos, porquanto a determinação da competência material é em tudo semelhante à determinação da competência absoluta aqui discutida (preterição, ou não, da cláusula arbitral), pois que é quanto ao objeto e à causa de pedir que a mesma deve ser fixada. 17. Pelo exposto, e porque o presente litígio apenas está relacionado com a faturação de serviços prestados (e respetivos montantes a eles associados, como juros de mora), tudo conforme previsto no contrato de concessão e nos contratos de fornecimento e recolha de efluentes celebrados entre as partes, a presente ação sempre será da competência dos Tribunais Estaduais, por força do n.° 3 da clausula 9ª do contrato de fornecimento e do n.° 3 da cláusula 10.a do contrato de recolha - inexistindo, portanto, qualquer preterição da cláusula arbitral. 18. Assim, considera a Recorrente que a decisão aqui recorrida padece de um manifesto erro de julgamento sobre a matéria de direito, porquanto existe uma errada interpretação dos fundamentos da presente ação administrativa (existindo um erro na determinação do objeto e causa de pedir dos presentes autos), bem como da cláusula 9.a do contrato de fornecimento e 10.a do contrato de recolha de efluentes (pelo que existe um erro na interpretação da própria cláusula arbitral e consequente subsunção jurídica do objeto e causa de pedir). 19. Por fim, cumpre ainda dizer que o douto Tribunal a quo considerou existir apenas uma aparência da aplicabilidade da cláusula arbitral, não sendo perentório acerca do caráter manifesto e insuscetível de controvérsia da inaplicabilidade da cláusula arbitral. 20. Motivo pelo qual a presente decisão viola o disposto no artigo 13.° e nos artigos 89.°, n.° 2 e 4, alínea a), do CPTA, no artigo 5.° do ETAF e nos artigos 96.° e 278.°/1/a) do CPC, aplicáveis ex vi artigo 1.° do CPTA (…)”. * Notificado que foi para o efeito, o Recorrido não produziu contra-alegações.* O Tribunal a quo proferiu despacho de admissão do recurso, fixando os seus efeitos e o modo de subida.* O/A Digno[a] Magistrado[a] do Ministério Público junto deste Tribunal Superior emitiu parecer no sentido da improcedência do presente recurso.* Com dispensa de vistos prévios, cumpre, pois, apreciar e decidir, já que nada a tal obsta.* * II - DELIMITAÇÃO DO OBJETO DO RECURSO - QUESTÕES A DECIDIR O objeto do recurso é delimitado pelas conclusões das respetivas alegações, de acordo com o disposto nos artigos 144.º n.º 2 e 146.º n.º 4 do C.P.T.A. e dos artigos 5.º, 608.º n.º 2, 635.º n.ºs 4 e 5 e 639.º do novo CPC ex vi dos artigos 1.º e 140.º do CPTA. Neste pressuposto, a questão essencial a dirimir resume-se a saber se a decisão judicial recorrida, ao declarar-se absolutamente incompetente para a apreciação da presente ação, incorreu em erro de julgamento de direito, por violação do “(…) disposto no artigo 13.° e nos artigos 89.°, n.° 2 e 4, alínea a), do CPTA, no artigo 5.° do ETAF e nos artigos 96.° e 278.°/1/a) do CPC, aplicáveis ex vi artigo 1.° do CPTA (…)”. Assim sendo, esta será a questão a apreciar e decidir. * * * * III – FUNDAMENTAÇÃO III.1 – DE FACTO O quadro fáctico [e respetiva motivação] apurado na decisão recorrida foi o seguinte: “(…) 1. Por contrato de concessão outorgado em 26.10.2001 entre o Estado Português e a sociedade «Águas (...), S.A.», foi por aquele atribuída a esta, pelo prazo de 30 anos e em regime de exclusividade, a concessão da exploração e gestão, abrangendo a conceção, construção de obras e equipamentos, bem como a exploração, reparação, renovação e manutenção, do sistema multimunicipal de abastecimento de água em alta e de saneamento de Trás-os-Montes e Alto Douro, para captação, tratamento e distribuição de água para consumo público e para recolha, tratamento e rejeição de efluentes, de diversos municípios, entre os quais o MUNICÍPIO DE (...) (cf. documento n.° 01 junto aos autos com a petição inicial); 2. Em 26.10.2001, entre a «Águas (...), S.A.» e o R., foi outorgado um contrato de fornecimento de água, destinada ao abastecimento público, denominado “Contrato de Fornecimento entre o MUNICÍPIO DE (...) e a Águas (...), S.A.”, do qual consta, além do mais, o seguinte: [imagem que aqui se dá por reproduzida] (cf. documento n.º 02 junto aos autos com a petição inicial); 3. Na mesma data, entre a «Águas (...), S.A.» e o R. foi outorgado um contrato de recolha de efluentes, denominado “Contrato de Recolha de Efluentes entre o MUNICÍPIO DE (...) e a Águas (...), S.A.”, do qual consta, além do mais, o seguinte: [imagem que aqui se dá por reproduzida] (cf. documento n.º 02 junto aos autos com a petição inicial). * A convicção do Tribunal quanto à matéria de facto resulta da alegação das partes vertida nos articulados e da inexistência de desacordo ou confronto factual quanto àquela matéria assente.Com efeito, o Tribunal atendeu ao teor dos documentos juntos pela A. com a petição inicial, designadamente aqueles que foram sendo indicados nos respetivos pontos do probatório, considerando, desde logo, que tais documentos não foram impugnados (…)”. * III.2 - DO DIREITO Cumpre decidir, sendo que a única questão que se mostra controversa e objeto do presente recurso jurisdicional consiste em saber se a decisão judicial recorrida, ao declarar-se absolutamente incompetente para a apreciação da presente ação, incorreu em erro de julgamento, por violação do “(…) disposto no artigo 13.° e nos artigos 89.°, n.° 2 e 4, alínea a), do CPTA, no artigo 5.° do ETAF e nos artigos 96.° e 278.°/1/a) do CPC, aplicáveis ex vi artigo 1.° do CPTA (…)”. A este propósito, e no que concerne ao direito, discorreu-se em 1ª instância o seguinte: “(…) Adquiridos os factos necessários para o efeito, apreciemos agora o direito. Em face do que invoca o R. importa aferir se este Tribunal é competente para conhecer da pretensão da A. em face do que dispõem os contratos de fornecimento de água e de recolha de efluentes celebrados entre o R. e a «Águas (...), S.A.» (ATMAD), sociedade a que a Autora veio a suceder legalmente, por força do art.° 4°, n.° 3 do Decreto-Lei n.° 93/2015, de 29 de maio. A questão central que aqui se coloca cifra-se em dilucidar e decidir se, tendo em conta o disposto nas cláusulas 9ª e 10ª, respetivamente, dos contratos de fornecimento de água e de recolha de efluentes outorgados entre o A. e a R., este Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela é competente para conhecer a presente ação ou se, tal como invocado pela R., essa competência é do tribunal arbitral. As cláusulas 9ª do contrato de fornecimento de água e 10ª do contrato de recolha de efluentes, de resto absolutamente iguais, dispõem de cláusula arbitral nos seus respetivos nº.s 2 que reza o seguinte: “No caso de não ser possível uma solução negociada e amigável nos termos previstos no número anterior, cada uma das partes poderá a todo o momento recorrer a arbitragem, nos termos dos números seguintes.” E tal cláusula é completada por um n.° 3 que estipula que ao tribunal arbitrai poderão ser submetidas todas as questões relativas à interpretação ou execução dos contratos, “com exceção das respeitantes à faturação emitida pela Sociedade e ao seu pagamento ou falta dele”. Pelo que, a resposta a dar à questão colocada pelo R. passa por saber se na situação sub judice se está perante um litígio que incide sobre a interpretação ou execução de obrigações emergentes dos contratos de fornecimento de água e de recolha de efluentes em causa ou se estamos perante um litígio meramente respeitante a questões envolvendo faturação e pagamento. Assim, e antes do mais, importa referir que o Tribunal não desconhece as decisões do Tribunal Central Administrativo Norte que consideraram não ser de aplicar a cláusula arbitral no âmbito de ações intentadas pela A., ao abrigo de contratos idênticos (desde logo quanto ao objeto) e versando situações fáctico-jurídicas de contornos equiparáveis e até, em diversos casos, similares - cf. Acórdãos do Tribunal Central Administrativo Norte de 15.05.2014 (proc. n.° 52/13.5BEMDL), de 06.03.2015 (proc. n.° Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela 36/12.9BEMDL), de 20.03.2015 (proc. n.° 442/11.6BEMDL) e de 04.12.2015 (proc. n.° 434/11.5BEMDL). No entanto, salvo o devido respeito por tais decisões, que é muito, a verdade é que este Tribunal não sufraga aquele entendimento, como infra se explicitará, acolhendo — por com ela concordar em pleno - a mais recente jurisprudência sobre esta matéria e de que é exemplo paradigmático o Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de 13.12.2018 (proc. n.° 0450/11.7BECTB). De acordo com esta jurisprudência, que se subscreve, uma cláusula arbitral apenas deve ser rejeitada pelos tribunais estaduais se for manifesto e incontroverso que o litígio não se situa no seu campo de aplicação, uma vez que é ao próprio tribunal arbitral que compete pronunciar-se, em primeira linha, sobre a sua própria competência. Tal é o que resulta do art.° 18°, n.° 1 da Lei da Arbitragem Voluntária, aprovada pela Lei n.° 63/2011, de 14 de dezembro (correspondente ao art.° 21°, n.° 1 da anterior Lei n.° 31/86, de 29 de agosto), que dispõe o seguinte: “O tribunal arbitral pode decidir sobre a sua própria competência, mesmo que para esse fim seja necessário apreciar a existência, a validade ou a eficácia da convenção de arbitragem ou do contrato em que ela se insira, ou a aplicabilidade da referida convenção.” Como refere o Supremo Tribunal Administrativo, “De acordo com o princípio consagrado no artigo 18o, n° 1, da LAV, segundo o qual incumbe prioritariamente ao tribunal arbitrai pronunciar-se sobre a sua própria competência, os tribunais judiciais só deverão rejeitar a exceção dilatória de preterição de tribunal arbitral, deduzida por uma das partes, determinando o prosseguimento do processo perante a jurisdição estadual, quando seja manifesto e incontroverso que a convenção arbitral é inválida, ineficaz ou inexequível ou que o litígio, de forma ostensiva, se não situa no respetivo âmbito de convenção (...)” - cf. Acórdão de 13.12.2018 (proc. n.° 0450/11.7BECTB). No mesmo sentido, importa ainda ter em consideração a jurisprudência que tem vindo a ser formada pelo Supremo Tribunal de Justiça sobre esta questão. De acordo com este Supremo Tribunal, “Importa começar por definir claramente os parâmetros dentro dos quais incumbirá ao Supremo exercer os seus poderes cognitivos quanto à apreciação da substância da exceção dilatória de preterição de tribunal arbitral voluntário, deduzida pela R.- não podendo olvidar-se que, sendo os tribunais arbitrais constitucionalmente configurados como «tribunais» - isto é, como entidades dotadas das características de independência e imparcialidade que caracterizam o núcleo essencial da função jurisdicional, a que compete definir o direito nas concretas situações litigiosas entre particulares - não poderá deixar de lhes estar reservada uma relevante parcela da jurisdição, abrangendo, desde logo e em primeira linha, a aferição da sua própria competência, emergente do legítimo exercício da autonomia privada pelos interessados, consubstanciada na convenção de arbitragem. Tal implica que, ao apreciar a referida exceção dilatória, devam os tribunais judiciais atuar com reserva e contenção, de modo a reconhecer ao tribunal arbitral prioridade na apreciação da sua própria competência, apenas lhes cumprindo fixar, de imediato e em primeira linha, a competência dos tribunais estaduais para a composição do litígio que o A. lhes pretende submeter quando, mediante juízo perfunctório, for patente, manifesta e insuscetível de controvérsia séria a nulidade, ineficácia ou inaplicabilidade da convenção de arbitragem invocada (justificando-se então, por evidentes razões de economia e celeridade, e face à evidência da questão, a imediata definição da competência para dirimir o litígio, de modo a dispensar a prévia instalação e pronúncia do tribunal arbitral sobre os pressupostos da sua própria competência). (...) Aderindo inteiramente a esta orientação, considera-se que ao STJ apenas cumprirá, ao apreciar a presente revista, determinar se é manifesto e insuscetível de controvérsia séria e consistente a não aplicabilidade da convenção de arbitragem estipulada à relação contratual litigiosa — devendo, pelo contrário, em caso de dúvida fundada sobre o âmbito da referida convenção, serem as partes remetidas 'para o tribunal arbitral a que atribuíram competência 'para solucionar o litígio.” - cf. Acórdão de 10.03.2011 (proc. n.° 5961/09.1TVLSB.L1.S1). Isto posto, analisados os autos, é desde já possível concluir que, no caso vertente, não é manifesto nem incontroverso que o litígio aqui posto esteja excluído do âmbito da cláusula arbitral, como seria necessário para a improcedência da invocada exceção de incompetência absoluta que vem suscitada pelo R.. Vejamos então, principiando pela interpretação da cláusula arbitral em causa, de acordo com a teoria da impressão do destinatário consagrada no art.° 236°, n.° 1 do Código Civil (CC), com vista ao subsequente enquadramento do presente litígio no escopo de aplicação de tal cláusula. A cláusula arbitral atribui ao tribunal arbitral todas as questões relativas à interpretação ou execução dos contratos, excecionando apenas da respetiva aplicação “as questões respeitantes à faturação emitida pela Sociedade e ao seu pagamento ou falta dele” [cf. pontos 2. e 3. do probatório]. Naturalmente que a esmagadora maioria das questões atinentes à interpretação ou execução dos contratos em causa nos autos terão reflexo na faturação a emitir ao abrigo dos mesmos. Por esse mesmo motivo, não podem considerar-se excluídas de tal cláusula todas as questões de interpretação e de execução que incidam sobre a faturação, sob pena de se esvaziar totalmente o sentido útil da cláusula arbitral. Por outro lado, uma tal interpretação não se coaduna com o espírito da cláusula, que pretende excluir da arbitragem questões de mero pagamento, certamente que pelo facto de constituírem questões pontuais e de menor complexidade. Assim sendo, o sentido que se impõe extrair das cláusulas arbitrais apostas nos contratos aqui em causa, considerando a teoria da impressão do destinatário consagrada no art.° 236°, n.° 1 do CC - cf. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 12.11.2019 (proc. n.° 8927/18.7T8LSB-A.L1.S1) -, é o de que são subtraídas à arbitragem as questões que apenas digam respeito a faturação (v.g. questões relativas ao apuramento pontual dos valores) ou pagamento. Aqui chegados, importa agora determinar a natureza da questão aqui em litígio. Para tanto, há que atender aos articulados apresentados pelas partes, sendo de relevar em particular a causa de pedir e o pedido constantes da p.i. - neste sentido, vd. Acórdãos do Tribunal da Relação de Guimarães de 09.07.2015 (proc. n.° 1100/12.0TVPRT.G1) e de 08.03.2012 (proc. n.° 1387/11.5TBBCL-B.G1). Entende este Tribunal que, estando em causa a incompetência absoluta do tribunal por preterição de tribunal arbitral e já não a aferição de competência em razão da matéria, da hierarquia, do valor, do território e da nacionalidade, o tribunal não se encontra adstrito apenas à análise da petição inicial, conforme decorreria da aplicação das normas relativas à fixação da competência previstas no art.° 5°, n.° 1 do ETAF e no art.° 38°, n.° 1 da Lei da Organização do Sistema Judiciário (LOSJ). Com efeito, o art.° 5°, n.° 1 do ETAF, ao determinar que a fixação da “competência dos tribunais da jurisdição administrativa e fiscal” ocorre no momento da propositura da ação, refere-se à competência em razão da matéria, cujo âmbito tal diploma visa delimitar. Entende-se que esta norma, que confere estabilidade à determinação do tribunal competente por parte do autor, não deve ser convocada para a determinação da competência em virtude da cláusula arbitral, uma vez que, nesta última situação - ao contrário do que sucede nas demais situações em que possa existir dissidência entre as partes quanto ao tribunal competente -, existe o direito subjetivo da outra parte a um determinado foro, emergente da cláusula arbitral subscrita por ambas as partes. Donde, entende este Tribunal ser de afastar a aplicação dos suprarreferidos preceitos legais, devendo os contornos do litígio ser apurados nos termos em que resultam dos principais articulados apresentados pelas partes - neste sentido, vd. Acórdãos do Tribunal da Relação de Guimarães de 09.07.2015 (proc. n.° 1100/12.0TVPRT.G1) e de 08.03.2012 (proc. n.° 1387/11.5TBBCL-B.G1). Na presente ação, a A. vem peticionar o pagamento de valores por si faturados ao R., e respetivos juros, correspondentes a serviços de abastecimento de água e de recolha e tratamento de efluentes ao abrigo do contrato de concessão da exploração e gestão do sistema multimunicipal de abastecimento de água e de saneamento de Trás-os-Montes e Alto Douro celebrado entre e o Estado Português e a extinta sociedade «Águas (...), S.A.» (a que a A. sucedeu) e dos contratos de fornecimento de água e de recolha de efluentes celebrados entre o R. e aquela sociedade. E, segundo sustenta, tais serviços, tendo sido prestados e faturados, não foram integralmente pagos pelo R.. Por seu turno, vem o R. invocar diverso circunstancialismo, o que evidencia que a vexata quaestio não reside na mera faturação e pagamento dos ditos serviços. Com efeito, invoca que a A. não vem assegurando o adequado tratamento da água, tendo sido detetados, por repetidas vezes e no ano a que se reportam as faturas em cobrança, incumprimentos suscetíveis de colocar em causa a saúde pública, nomeadamente quanto aos níveis de alumínio, arsénio e manganês presentes na água, assim como de bactérias coliformes e de PH. Mais refere que tais factos foram levados ao conhecimento da A. e consubstanciam, em seu entender, um incumprimento do contrato. Afigura-se, assim, que a causa de pedir dos autos, tal como resumida, pode efetivamente considerar-se como uma questão atinente à interpretação ou execução do contrato e não como consubstanciando uma mera questão atinente à faturação emitida pela A. ou ao pagamento de faturas por parte do R.. Ainda que a A. venha intentar a presente ação com base nas faturas por si emitidas, a verdade é que o litígio existente entre as partes refere-se à validade da interpretação dos contratos feita pela A. e que suportou a emissão das mesmas, bem como as consequências de factos atinentes à respetiva execução, não se tratando aqui de discutir a correção daquela faturação e o pagamento, ou não, dos valores cobrados, mas os pressupostos que estiveram na base da sua emissão e, por isso, a interpretação que deve ser feita dos contratos bem como os termos da sua execução. Assim sendo, a verdade é que não é possível concluir-se que a não aplicabilidade da cláusula arbitral à questão em litígio é manifesta e insuscetível de controvérsia, devendo por esse motivo proceder totalmente a invocada incompetência por preterição da cláusula arbitral. Conclui, assim, este Tribunal pela absolvição do R. da presente instância por verificação de exceção dilatória de incompetência absoluta por preterição de tribunal arbitral, nos termos dos artºs. 14°, n.° 2 do CPTA e 96°, alínea b), 278°, n.° 1, alínea a), 576°, nºs. 1 e 2, e 577°, alínea a) do CPC (…)”. Espraiada a fundamentação vertida na decisão judicial recorrida, adiante-se, desde já, que o assim decidido não é de manter. Na verdade, sobre a questão decidenda convocada no presente recurso jurisdicional, e que prende ora a nossa atenção, pronunciou-se já reiteradamente este Tribunal Central Administrativo Norte, de entre outros, nos processos nº.s. 52/13.3BEMDL, 442/11.6BEMDL, 0036/12.9BEMDL, 28/16.9BEMDL, 429/15.0BEMDL, 430/15.3BEMDL, 579/18.0BECBR, 17/15.0BEMDL, 491/19.6BEMDL, 500/19.9BEMDL, E 354/17.0BEMDL, ocorrendo uma uniformidade de jurisprudência. A questão ou uma das questões levadas a conhecimento no âmbito dos referidos processos foi a é exatamente a mesma que é agora colocada pela Recorrente em relação ao presente recurso jurisdicional, ou seja, a questão de saber se de saber se a sentença recorrida errou no julgamento ao considerar que não está em causa nos autos a resolução de um conflito respeitante a questão de faturação, mas antes um conflito inerente à interpretação e execução de contratos celebrados entre as partes identificados nos autos, e que assim, tal litígio não integra a exceção prevista nas cláusulas compromissórias da convenção arbitral ínsitas nos contratos, carecendo o T.A.F de Mirandela de competência para o conhecimento da presente ação. Assim, tendo presente o princípio da economia de meios, passaremos a transcrever as partes mais significativas da argumentação expendida no aresto tirado no processo n.º 491/19.6BEMDL, que adotamos como modelo, procedendo às devidas e necessárias adaptações ao caso dos autos. “ (…) “3.2. Adiante-se que a sentença recorrida errou no julgamento que efetuou, ao considerar que não está em causa nos autos a resolução de um conflito respeitante a questão de faturação, mas antes um conflito inerente à interpretação e execução de contratos celebrados entre as partes identificados nos autos, e que assim, tal litígio não integra a exceção prevista nas cláusulas compromissórias da convenção arbitral ínsitas nos contratos, carecendo o TAF de Mirandela de competência para o conhecimento da presente ação. Como resulta do atrás referido, entendemos que o artigo 5.º do ETAF é igualmente aplicável para efeitos de determinação da competência absoluta discutida nos autos (preterição, ou não, da cláusula arbitral) e, assim, por referência ao momento da propositura da ação, não se vislumbrando razões para, nestes casos, tal competência não ser aferida e fixada, como as demais, em atenção ao objeto e à causa de pedir configurados na Petição inicial. Posto o que, para aferir da competência para julgar a presente ação, o TAF de Mirandela devia ter apenas em consideração o pedido e a causa de pedir constantes da Petição inicial apresentada pela ora Recorrente, e não, como aconteceu, em função dos elementos de facto e de direito que o Réu, em sede de defesa, carreou para os autos. Neste seguimento, olhando ao pedido e à causa de pedir da presente ação, a pretensão sub judice prende-se com questão relativa à invocada falta de pagamento pelo Réu de parte do montante de faturas emitidas pela Autora por serviços prestados àquele no âmbito dos contratos de fornecimento de água e recolha de efluentes celebrados entre as partes, identificadas na Petição inicial e juntas aos autos. Com efeito, conforme resulta da Petição inicial a Autora, aqui Recorrente, alega, em suma, que é a entidade gestora do sistema multimunicipal de abastecimento de água e de saneamento do Norte de Portugal, constituída pelo Decreto-Lei n.º 93/2015, de 29 de maio, tendo sucedido nos direitos e obrigações das sociedades extintas, a partir do dia 30 de junho de 2015, no que ora interessa das “Águas de Trás os Montes e Alto Douro, S.A.”, sem necessidade de qualquer formalidade – cfr. n.ºs 3 e 4, do artigo 4.º do referido diploma legal – de cujo sistema municipal de abastecimento de água e de saneamento foi utilizador originário o Município de Bragança; sendo que por força do n.º 4 da Cláusula 36.ª do Contrato de Concessão celebrado entre a Autora e o Estado Português, os contratos de fornecimento celebrados entre os utilizadores municipais e as concessionárias extintas, às quais a sociedade ÁGUAS (...) sucedeu, manter-se-ão em vigor, até que sejam substituídos por outros – o que ainda não sucedeu no que respeita ao Município de Bragança – transmitindo-se a posição contratual daquelas concessionárias para a ora concessionária. Assim, e no âmbito do cumprimento e execução de todos os contratos referidos, assim como dos dispositivos legais identificados, a Autora forneceu ao Réu os serviços de abastecimento de água e de saneamento – recolha e tratamento de efluentes, tendo faturado e cobrado os preços que foram legalmente estabelecidos. Mais propriamente durante o ano de 2017 e 2018, a Autora forneceu ao Réu, serviços de abastecimento de água para consumo público, saneamento – recolha e tratamento de efluentes, sendo que, pelo fornecimento destes serviços, emitiu e enviou ao Réu, que as recebeu, 20 faturas referentes aos serviços prestados que identifica e junta, tendo este apenas pago parcialmente o valor das mesmas, recusando-se a pagar, apesar de interpelada para o efeito, os montantes identificados que perfazem um total de € 312.586,45 (trezentos e doze mil, quinhentos e oitenta e seis euros e quarenta e cinco cêntimos), o qual é devido, acrescido dos respetivos juros à taxa comercial legal em vigor, vencidos e vincendos até efetivo e integral pagamento. Pelo que peticiona que relativamente às faturas de serviços, emitidas e não pagas, seja o Réu condenado a pagar à Autora “a quantia de € 312.586,45 (trezentos e doze mil, quinhentos e oitenta e seis euros e quarenta e cinco cêntimos), acrescida de juros de mora vencidos, que à presente data perfazem o total de € 29.115,74 (vinte e nove mil, cento e quinze euros e setenta e quatro cêntimos), e dos vincendos até efetivo e integral pagamento, bem como em custas e procuradoria.” Termos em que, o que o Recorrente pretende com a propositura da presente ação é o reconhecimento da existência de faturação não paga e, em consequência, a condenação do Réu a pagar-lhe a quantia em causa, nada mais sendo pedido. Donde, diversamente do que foi decidido pelo Tribunal a quo, a ação dos autos respeita a “faturação emitida pela Sociedade e ao seu pagamento ou falta dele”, cabendo a mesma na exceção prevista nas cláusulas 9.º e 10.ª, respetivamente do contrato de fornecimento de água e do contrato de recolha de efluentes identificados nos autos, com a consequência do respetivo julgamento se encontrar subtraído à jurisdição do tribunal arbitral. No mesmo sentido, versando situações fáctico-jurídicas de contornos idênticos e, em alguns casos, similares já se pronunciaram diversas vezes os Tribunais Superiores desta jurisdição – cf. Acórdãos do STA, de 03.12.2015, P.º 0911/15, de 14.01.2016, P.º 0914/15, do TCAN de 15.05.2014, P.º 52/13.5BEMDL, de 06.03.2015, P.º 36/12.9BEMDL, de 20.03.2015, P.º 442/11.6BEMDL, de 22.05.2015, P.º 1849/12.7BEBRG, de 04.12.2015, P.º 434/11.5BEMDL e de 05.02.2016, P.º 438/11.8BEMDL, in base de dados da DGSP; e Acórdãos do TCAN, de 31.10.2019, P.º. 578/18.0BECBR e de 27.11.2020. P.º 28/16.9BEMDL não disponíveis in base de dados da DGSP. Podendo ler-se no Acórdão do STA, de 03.12.2015, proferido no P.º 0911/15, que: “É exato que os números «supra» transcritos das cláusulas 9.ª e 10.ª apontavam para que «todas as questões relativas à interpretação ou execução» dos ditos contratos pudessem ser submetidas «ao tribunal arbitral». Todavia, os n.ºs 3 das cláusulas excetuavam, desse todo, as questões «respeitantes à faturação emitida pela Sociedade e ao seu pagamento ou falta dele» hipótese em que o «foro competente» seria o judicial”. Acresce que, ainda que Tribunal a quo pudesse concluir, por reporte à contestação, que os presentes autos não respeitam a questão de faturação de per se, suscitando questões que se prendem com a interpretação e execução dos contratos, designadamente, com a forma de cálculo das tarifas e aplicação de custos adicionais não acordados, seria o mesmo competente para o conhecimento da ação. É que, o facto da questão de saber se são devidas as quantias faturadas pela Recorrente, cujo pagamento foi peticionado, poder implicar a interpretação dos contratos ao abrigo do qual as faturas foram emitidas e a análise do modo como os mesmos devem ser executados “(…) não significa, (…), que a questão submetida ao Tribunal deixe de ser, indubitavelmente, uma questão de faturas na medida em que é precisamente esse pagamento que a Recorrente pretende obter com a instauração da presente ação». – cfr. Acórdão do TCAN de 31.10.2019. E como vimos, a Recorrente, com a ação que instaurou, pretende apenas o pagamento da quantia peticionada na sequência do alegado incumprimento de pagamento de parte das faturas elencadas na Petição inicial, vencidas e emitidas ao Município Réu, acrescidas dos respetivos juros de mora. Pelo que, face ao pedido e à causa de pedir constantes da Petição inicial, diversamente do que entendeu o Tribunal a quo, a presente ação é enquadrável na exceção à sujeição a arbitragem contida nas cláusulas 9.º e 10.ª, respetivamente do contrato de fornecimento de água e do contrato de recolha de efluentes, identificados nos autos, sendo os tribunais administrativos competentes para o seu conhecimento (…)”. Examinando o teor do aresto ora transcrito, verifica-se, sem qualquer margem para dúvida, que o mesmo versa sobre a questão trazida a estes autos. Na verdade, escrutinado o libelo inicial, facilmente se apreende que a “causa petendi” dos autos respeita à faturação emitida pela Autora e não paga pelo Réu, tendo aquela instaurado a presente ação com vista a obter o seu pagamento. Não se vislumbra, nem descortina, qualquer argumento de natureza jurídica ou prática para inverter a direção seguida no referido processo, assomando a mesma, a nosso ver, como a mais concordante e consentânea com o bloco legal aplicável ao caso versado nos autos. Nesta esteira, ponderada a doutrina ali evidenciada, inteiramente transponível para o caso em apreço, ressalvadas as particularidades do caso concreto, e, não se vê razão para dela divergir, dada a bondade da solução adotada, cujo sentido perfilhamos por completo, entendemos ser forçosa a conclusão que funciona in casu a exceção prevista no n.º 3 das cláusulas 9ª e 10ª do Contrato de Fornecimento e do Contrato de Recolha identificados nos autos, não sendo, por isso, o conhecimento do presente litígio de submeter ao tribunal arbitral. Deste modo, não tendo sido este o caminho trilhado na sentença recorrida, é mandatório concluir que esta é merecedora da censura que a Recorrente lhe dirige. Consequentemente, impõe-se conceder provimento ao presente recurso jurisdicional, devendo revogar-se a sentença recorrida e ordenar-se a baixa dos autos ao T.A.F. de Mirandela para os seus ulteriores termos. Ao que se provirá em sede de dispositivo. * * IV – DISPOSITIVO Nestes termos, acordam em conferência os juízes da Secção do Contencioso Administrativo deste Tribunal, de harmonia com os poderes conferidos pelo artigo 202º da CRP, em CONCEDER PROVIMENTO ao recurso jurisdicional “ sub judice”, revogar a decisão judicial recorrida e determinar a baixa dos autos ao Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela para prosseguimento dos mesmos, se a tal nada mais obstar. * Custas pelo Recorrido, ficando este, porém, exonerado do pagamento da taxa de justiça que seria devida pelo impulso processual nesta instância de recurso, por não ter contra-alegado.* Registe e Notifique-se. * * Porto, 05 de março de 2021,Ricardo de Oliveira e Sousa João Beato Helena Ribeiro |