Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
Processo:
736/03.4TOPRT.P2.S1
Nº Convencional: 3ª SECÇÃO
Relator: SOUSA FONTE
Descritores: RECURSO PENAL
RESPOSTA
DESENTRANHAMENTO
PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO
PARECERES
ADMISSIBILIDADE DE RECURSO
ESGOTAMENTO DO PODER JURISDICIONAL
PRESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO CRIMINAL
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO
ÂMBITO DO RECURSO
DUPLA CONFORME
CONFIRMAÇÃO IN MELLIUS
CONCURSO DE INFRACÇÕES
CONCURSO DE INFRAÇÕES
TRÂNSITO EM JULGADO
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
OMISSÃO DE PRONÚNCIA
PERDA DE VANTAGENS
PENA ÚNICA
MEDIDA CONCRETA DA PENA
PLURIOCASIONALIDADE
FUNDAMENTAÇÃO
CORRUPÇÃO
PECULATO
ADMINISTRADOR JUDICIAL
Data do Acordão: 11/23/2016
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: RECURSO PENAL
Decisão: NEGADO PROVIMENTO
Área Temática:
DIREITO PROCESSUAL PENAL - APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO - ACTOS PROCESSUAIS ( ATOS PROCESSUAIS ) - PROVA / MEIOS DE PROVA - SENTENÇA ( NULIDADES ) - RECURSOS.
Doutrina:
- Alberto dos Reis, “Código de Processo Civil”, Anotado, Vol. 5 (Reimpressão, 1981), 113 e ss..
- Antunes Varela, Miguel Bezerra e Sampaio e Nora, Manual de Processo Civil, 368, 666, 686, nota 3.
- Batista Machado, “Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador”, 173, 227, 245 e ss..
- Figueiredo Dias, Direito Penal, As Consequências Jurídicas do Crime, (1993), 291, 232; Direito Penal – Parte Gera”, Tomo I, 2.ª edição, 81 e 84; Direito Processual Penal, Primeiro Volume (1974), 150 e ss..
- Germano Marques da Silva, Curso de Processo Penal, II (1993),161.
- Gomes Canotilho e Vital Moreira, CRP – “Constituição da República Portuguesa”, Anotada”, Volume I, 4.ª Edição Revista, 418, 516, 522/523.
- Ireneu Cabral Barreto, “A Convenção…”, 99.
- João Conde Correia, Em “Studia Iuridica”, 44, 87.
- José António Barreiros, “Sistema e Estrutura do Processo Penal Português, I, 189.
- “Jornadas de Direito Processual Penal, O Novo Código de Processo Penal”, CEJ, 211, 384.
- Karl English, Introdução ao Pensamento Jurídico, 6.ª edição, 279/280.
- Karl Larenz, Metodologia da Ciência do Direito (Fundação Calouste Gulbenkian), 432.
- Magistrados do Ministério Público do Distrito judicial do Porto, “Código De Processo Penal”, Comentários e notas Práticas, (2009), 428.
- Maia Gonçalves, “Código de Processo Penal”, Anotado e Comentado, Livraria Almedina, 1972, 566; “Código de Processo Penal”, Anotado e Comentado, 17.ª edição – 2009, 422.
- Oliveira Ascensão, O Direito, Introdução e Teoria Geral – Uma Perspectiva Luso Brasileira, 357.
- Oliveira Ascensão, O Direito, Introdução e Teoria Geral, 438.
- Paulo Pinto de Albuquerque, Comentário do “Código de Processo Penal”, 4.ª edição, 2011, 460/462.
- Santos Cabral, no “Código de Processo Penal”, Comentado, 2016 – 2.ª Edição Revista, 645.
- Simas Santos e Leal Henriques , “Código de Processo Penal”, Anotado, I Volume, 3.ª edição (2008), 1089.
- Taipa de Carvalho, Direito Penal, Parte Geral – Questões Fundamentais, 83 e 84.
Legislação Nacional:
CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGO 9.º.
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC): - ARTIGOS 138.º, 613.º, N.º1, 628.º.
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL (CPP): - ARTIGOS 5.º, N.º 2, AL. A), 97.º, Nº 2, 105.º, N.º 1 E 104.º, N.º 1, 165.º, 379.º, N.º 1, ALS. A) E C), 2.ª PARTE, 400.º, N.º1, ALS. C), E) E F), 410.º, N.º 2, 411.º, N.º 6, 413.º, N.º 1, 425.º, N.º 4, 432.º, N.º 1, AL. C).
Jurisprudência Nacional:
DECISÕES/ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

-DE 27.10.2010, P.º N.º 72/06.4GACBT.G1.S1-5.ª SECÇÃO.
-DE 05.12.2012, P.º N.º 704/10.0PVLSB.L1.S1-3.ª SECÇÃO.
-DE 30.10.2001, P.º N.º 1645/01-3.ª, E DE 08.01.2003, P.ºN,º 4221/02-3.ª SECÇÃO.
-DE 22.10.2008, P.º N.º 215/08, DE 27.05.2009, P.º N.º 484/09 E DE 08.10.2015, P.º N.º 18068/11.2TDPRT.P1.S1, DA 3.ª SECÇÃO.
-DE 18.02.2009, P.º N.º 102/09, E DECISÃO SUMÁRIA DE 04.03.2009, P.º N.º 492/09.
-DE 19.03.2009, P.º N.º 383/09, DE 07.07.2009, P.º N.º 2554/04.3TBACB.C1.S1, DE 18.05.2011, P.º N.º 37/09.4PBVCD.P1.S1, DE 18.01.2012, P.º 306/10.0JAPRT.P1, DE 29.03.2012, P.ºS NºS 18/10.5GBBTNV.C1.S1 E 334/04.5IDPRT.P1.S1, DE 12.07.2012, P.º N.º 657/08.4GAVCD.P1.S1, DE 24.10.2012, P.º N.º 748706.3TASTR.E1.S1, DE 05.12.2012, P.º 11453/10.9TDLSB, DE 17.01.2013, P.º N.º 219/11.9JELSB, DE 06.02.2013, P.º 195/10.5GCFIG.C1.S1, DE 27.02.2013, P.º Nº 1/00.9TELSB-C1.P1.S1, DE 14.03.2013, P.º 1759/07.0TALRA.C1.S1, DE 21.03.2013 P.º N.º 422/02.2SJPRT.P1.S1. E DE 30.10.2013, P.º N.º 806/09.5JAPRT.
-DE 22.01.2009, P.º N.º 2833/08, DE 24.02.2011, P.º N.º 23/08.1PECTB.C1.S1 E DE 26.06.2013, P.º N.º 298/10.PAMTJ.L1.S1, TODOS DA 5.ª SECÇÃO.
-DECISÃO SUMÁRIA DE 25.09.2013, PROFERIDA NO P.º N.º 831/12.9PBVCT.G1.S1.
-DE 25.02.2015, P.º N.º 74/12.1JACBR.C1.S1, E DE 12.11.2015, P.º N,º 823/12.8JACBR.C1.S1.
-DE 02.11.2011, P.º N.º 811/06.3TDLSB-D.L1.S1.
-DE 08.03.2012, P.º N.º 625/06.0PELSB.L2.S1.
-DE 26.02.2014, P.º N.º 851/08.8TAVCT.G1.S1.
*
ASSENTO N.º 2/82, DE 16.04.1982, PUBLICADO NO D.R., I SÉRIE, DE 18.06.1982.
ACÓRDÃO DE FIXAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA N.º 4/2009, DE 18.02.2009, DR., I SÉRIE, DE 19 DE MARÇO.

-*-

ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL:

-N.ºS 171/2000, DE 22 DE MARÇO DE 2000, PUBLICADO NO DR. II SÉRIE, DE 25.10.2000,
424/2009, DE 14.08.2009, 419/2010, DE 09.11.2010 E 589/2011, DE 30.11.2011.
-N.º 591/2012, DE 5.12.2012, POSIÇÃO QUE CONFIRMOU EM PLENÁRIO, NO ACÓRDÃO DE 04.06.2013, PUBLICADO NO D.R., 2.ª SÉRIE, DE 30 DO MESMO MÊS, 23815 E SEGS..

-DE 25.03.2015, P.º N.º 1101/09.6PGLRS.L1.S1.
-DE 25.06.2015, P.º N.º 814/12.9JACBR.S1.
-DE 10.12.2015, P.º N.º 269/13.0JAFAR.E1.S1, QUE CITA OS ACÓRDÃOS DE 26.02.2014, P.º N.º 851/08.8TAVCT.G1.S1 E DE 25.06.2015, P.º N.º 814/12.9JACBR.S1.
-DE 18.05.2016, P.º N.º 653/14.2TDLSB.E1.S1.
-DE 11.02.09, P.º 113/09-3.ª; DE 04.03.09, P.º 160/09-3ª; DE 25.03.09, P.º 486/09-3.ª; DE 16.04.09, P.º 491/09-5.ª; DE 29.04.09, P.º 391/09-3.ª; DE 07.05.09, P.º 108/09-5.ª; DE 27.05.09, P.º 384/07.0GDVFR.S1-3.ª E DE 23.06.10, P.º N.º 1/07.8ZCLSB.L1.S1-3ª.
- DE 30.06.2011, P.º N.º 479/09.5JAFAR.E2.S1, UM DOS MUITOS INVOCADOS NO ACÓRDÃO DE 26.10.2016, P.º Nº 58/13.2PEVIS.C1.S1-3.ª SECÇÃO.
-DE 11.04.2012, P.º N.º 3969/07.5TDLSB.L1.S1 (TAMBÉM REFERIDO NAQUELE ACÓRDÃO DE 26.10.2016).
-DE 25.09.2008, P.º 809/08-5.ª SECÇÃO, DE 31.01.2012, P.º N..º 171/05.0TADPDL.L2.S1, DE 05.12.2012, P.º N.º 704/10.0PVLSB.L1.S1, E DE 06.02.2013, P.º N.º 93/09.7TBBGC.P1.S1, ESTES DA 3.ª SECÇÃO.
-DE 29.03.2012, P.º N.º 316/07.5GBSTS.S1-3.ª; DE 26.04.2012, P.º N.º 70/08.3ELSB.L1.S1-5.ª; DE 21.06.2012, P.º N.º 778/06.8G....I.S1-5.ª; DE 05.07.2012, P.ºS N.ºS 246/11.6SAGRD.S1 E 145/06.SPBBRG.S1; DE 15.11.2012, P.º N.º 178/09.8PQPRT-A.P1.S1,DE 14.03.2013, P.º N.º 287/12.6TCLSB, DE 30.04.2013, P.º N.º 11/09.0GASTS.S1, DE 13.05.2013, P.º N.º 392/10.3PCCBR.C2.S1, E DE 06.03.2014, P.º N.º 352/10.4PGOER.S1, DE 10.09.2014, P.º N.º 223/10.4SMPRT.P1.S1, DE 18.02.2016, P.º N.º 2927/13.0TAMAI.P1.S1 E DE 17.03.2016, P.º N.º 1180/10.2JAPRT.P1.S1.
-DE 29.06.2014, P.º N.º 2390/06.2TAFAR.E2.S1-5.ª SECÇÃO.
Sumário :
I  -   Nos termos dos arts. 411.º, n.º 6 e 413.º, n.º 1, do CPP, os sujeitos processuais afectados pela interposição do recurso são notificados para, querendo, responderem no prazo aí fixado, não prevendo a lei, nesta fase da “tramitação unitária” do recurso, no tribunal a quo, qualquer outra intervenção dos sujeitos processuais, seja o recorrente, seja o “recorrido” – o que se compreende, porquanto recorrente e “recorrido” já tiveram oportunidade para se pronunciarem sobre o objecto do recurso interposto. De outro modo, a admitir-se resposta do recorrente à resposta do “recorrido”, iríamos possivelmente ter de permitir nova resposta deste e assim sucessivamente.
II -  Ainda que se defendesse a posição de que o arguido tem de ser o último a intervir no processo para se poder pronunciar e contraditar todos os argumentos jurídicos a eles trazidos, nem assim procede a argumentação dos recorrentes porque, embora a lei não preveja, não admita, uma resposta do recorrente à resposta do MP à sua motivação, em que este suscitou a irrecorribilidade de parte da decisão impugnada, nem por isso ficou prejudicado o seu direito de contraditar essa tese. Os recorrentes tiveram essa possibilidade, por ocasião da resposta permitida pelo n.º 2 do art. 417.º do CPP, oportunidade que os arguidos J e A aproveitaram, pronunciando-se sobre a questão. Tal não significa que, no caso, as respostas devam ser desentranhadas, porquanto, na resposta ao parecer do MP, onde a mesma questão foi abordada, se remeteram, nesse particular, em parte, para o teor daquelas respostas, dando-as aí por reproduzidas.
III -      Nos termos do art. 165.º, do CPP, os pareceres jurídicos podem ser sempre juntos até ao encerramento da audiência. Contrariamente à junção de documento, o parecer pode ser sempre junto nessa fase, mesmo que o ofertante tenha tido antes a possibilidade de o juntar. Não se suscitam dúvidas de que a audiência a que se refere o n.º 1 do art. 165.º do CPP é a audiência de discussão e julgamento em 1.ª instância, pelo que, estabelecendo o n.º 3 do mesmo preceito que aos pareceres é aplicável esse regime, tendo em conta o prescrito no n.º 2 do art. 9.º do CC, impõe-se a conclusão de que as referidas peças só poderão ser juntas até ao encerramento dessa audiência. Mais, o CPP conferiu ao sistema de recursos uma tendencial autonomia relativamente ao processo civil, rompendo com a tradição que havia geminado os recursos penais e cíveis, pelo que, existindo norma própria no processo penal quanto a esta matéria, não há fazer apelo ao regime processual civil.
IV -      Nos termos do art. 613.º, n.º 1, do CPC, proferida a sentença (leia-se acórdão), fica imediatamente esgotado o poder jurisdicional do juiz quanto à matéria da causa. O que significa que o segundo acórdão proferido pelo tribunal da relação - em que declarou a prescrição do procedimento criminal quanto a alguns dos crimes – foi proferido quando já estava esgotado o seu poder jurisdicional, o que o torna nulo e de nenhum efeito, nos termos do art. 425.º, n.º 4, do CPP, por referência ao art. 379.º, n.º 1, al. c), 2.ª parte, do CPP. E, não se diga em contrário, que a prescrição é de conhecimento oficioso, porquanto o conhecimento dessa questão pressupõe poder para julgar, que a relação, que interviera como instância de recurso, já havia esgotado.
V - O STJ vem entendendo e decidido, de forma pacífica, que, para efeitos da conjugação do regime dos recursos com o art. 5.º, n.º 2, al. a), do CPP, o regime aplicável é o que vigorar na data em que foi proferida a decisão da 1.ª instância, independentemente das suas vicissitudes e da data em que se iniciou o processo – porque é aí que, pela primeira vez, se verificaram no processo, em concreto, os pressupostos do exercício do direito ao recurso -, salvo se lei posterior a essa fase processual se mostrar mais favorável ao recorrente (cf. a fundamentação do AFJ 4/2009).
VI -      Tal princípio não pode sofrer derrogação pela circunstância de o primeiro acórdão ter sido parcialmente invalidado por nele terem sido detectados vícios previstos no n.º 2 do art. 410.º do CPP, uma vez que essa invalidade não o torna processualmente inexistente, de forma a excluí-lo do próprio processo, destruindo todos os efeitos que lhe são próprios. O acto nulo tem existência jurídica, embora defeituosa, ainda que o vício seja insanável. O primeiro acórdão proferido nos autos ocorreu em 05-01-2009, sendo nessa data que, pela primeira vez, se verificaram no processo os pressupostos do exercício do direito ao recurso. Pelo que a versão da al. e) do n.º 1 do art. 400.º do CPP aplicável, no caso, é a fixada pela Lei 48/2007, por ser a que vigorava na data em que foi proferida a decisão da 1.ª instância.
VII – A norma contida na al. e) do n.º 1 do art. 400.º do CPP (na redacção que saiu da reforma de 2007, Lei 48/2007, de 29-08, em vigor desde 15-09) deve ser interpretada no sentido de que a recorribilidade para o STJ das decisões que apliquem penas privativas de liberdade está dependente do facto de as mesmas penas se inscreverem no catálogo da al. c) do n.º 1 do art. 432.º do CPP, ou seja, serem superiores a 5 anos. Ou seja, não é admissível recurso de acórdãos da relação, proferidos em recurso, que apliquem pena de prisão não superior a 5 anos, de forma inovadora, depois de o arguido ter sido absolvido na primeira instância, ou que, agravando a pena aí aplicada, a fixam em medida não superior a esse limite.
VIII - Continuamos a aplicar a norma da al. e), como o vínhamos fazendo com o significado que lhe vínhamos atribuindo antes da publicação da Lei 20/2013, agora confortados com o sentido que entendemos o legislador lhe entendeu outorgar. Com efeito, não vemos nem concluímos que, no momento actual, os adeptos da orientação jurisprudencial divergente, estejam obrigados, em razão da simples publicação daquela lei, a mudar de orientação e a aplicar a situações abrangidas pelo regime decorrente da Lei 48/2007, a tese por nós propugnada.
IX -      Quanto à al. f) do n.º 1 do art. 400.º do CPP (na redacção que lhe foi dada pela Lei 48/2007 e outra alteração não foi entretanto publicada), na esteira da jurisprudência maioritária, que a confirmação não pressupõe a coincidência ou identidade absoluta entre as duas decisões, mas apenas a sua identidade essencial. Por isso que, no caso de condenação, se verifica confirmação (in mellius), quando o tribunal da relação, sem alterar substantivamente a decisão sobre a matéria de facto, desagrava a responsabilidade do arguido, absolvendo-o de um dos crimes por que ia condenado, desagrava a imputação penal, desqualificando o tipo agravado para o tipo simples do mesmo crime, reduz uma das penas parcelares e, em consequência, reduz a pena única.
X - No caso de concurso de crimes, o recurso para o STJ de acórdão da relação que confirme decisão da 1.ª instância apenas é admissível relativamente aos crimes punidos com prisão superior a 8 anos e/ou relativamente às questões sobre pressupostos do próprio concurso e da formação da pena única, quando esta também ultrapassa aquele limite. Quer dizer: a decisão do tribunal sobre essas questões, não sendo susceptível de recurso ordinário, transita em julgado nos termos do art. 628.º, do CPC, ou depois de transitada em julgado a decisão sobre eventual reclamação deduzida, v.g. por ter sido arguida a sua nulidade ou, não tendo havido reclamação, no prazo de 10 dias fixado nos termos dos arts. 120.º, n.º 1 e 105.º, n. 1, do CPP.
XI -      Também no caso de aplicação da al. e) do n.º 1 do art. 400.º a decisão da relação proferida em recurso que haja recaído sobre um concurso de crimes, só admite recurso para o STJ quanto às penas parcelares e única, não confirmadas, superiores a 5 anos de prisão. O mesmo é dizer que relativamente aos crimes parcelares e a todas as questões com eles conexas que, inovatoriamente ou por agravação das cominadas pela 1.ª instância, o tribunal da relação puna com prisão até 5 anos, não são susceptíveis de apreciação pelo STJ.
XII – Face à interpretação que demos às referidas als. e) e f) do n.º 1 do art. 400.º do CPP, o presente recurso é inadmissível relativamente a todos os crimes parcelares, porque as respectivas penas, quando confirmadas ou reduzidas, são todas inferiores a 8 anos de prisão e porque, das que foram agravadas, nenhum atinge os 5 anos de prisão - quanto ao arguido J – e as penas que foram agravadas não ultrapassa nenhuma delas os 5 anos de prisão e a que foi reduzida é inferior a 8 anos de prisão (reformatio in mellius) – quanto aos arguidos A e M. Mas é admissível quanto à discussão da pena única, porque foi agravada e ultrapassa os 5 anos de prisão quanto a todos os arguidos (relembrando que o segundo acórdão foi julgado nulo).
XIII – Quanto à invocação, para efeitos de determinação da pena única, da prescrição, à data da apresentação do recurso, do procedimento criminal pelos crimes de corrupção activa para acto ilícito relacionados com as falências em que intervieram como liquidatários judiciais os co-arguidos, importa dizer que o acórdão recorrido, pronunciando-se expressamente sobre a questão, julgou não prescrito o procedimento criminal por esses crimes. O acórdão recorrido não sendo recorrível na parte em que conheceu dos crimes parcelares, transitou em julgado, quanto a esses segmentos, logo que, nos termos do art. 628.º, do CPC, decorreu o prazo para eventual reclamação, prazo esse de 10 dias, nos termos dos arts. 105.º, n.º 1 e 104.º, n.º 1, do CPP, este com referência ao art. 138.º, do CPC. Tendo o acórdão recorrido transitado em julgado, não é possível sindicar e/ou modificar essa decisão.
XIV – O mesmo valendo para a impugnação quanto às vantagens julgadas perdidas, isto é, verifica-se caso julgado. De qualquer modo, a perda de vantagens, na medida em que não pressupõe a prática de um crime, assume a natureza de sanção não penal, e, como assim, a decisão sobre essa matéria, na medida em que não está condicionada pela verificação dos pressupostos dos crimes acusados e por que o arguido vem a ser condenado, designadamente os relativos à determinação da medida da pena, é autónoma relativamente ao objecto da acusação. Como assim, a decisão aqui impugnada, porque não pôs termo à causa criminal, sempre cairia na previsão da al. c) do n.º 1 do art. 400.º do CPP, não sendo, por isso, susceptível de recurso para o STJ.
XV – Quanto à invocada nulidade decorrente de alteração substancial dos factos, o tribunal da relação pronunciou-se sobre a questão, inexistindo pois qualquer omissão de pronúncia, tendo apenas o tribunal decidido em termos não coincidentes com a pretensão dos recorrentes. De qualquer modo, tratando-se de uma decisão interlocutória é como tal insusceptível de recurso para o STJ (arts. 432.º, n.º 1, al. c) e 400.º, n.º 1, al. c), do CPP, esta na redacção da reforma de 2007). Embora o tribunal da relação tenha conhecido, no acórdão recorrido, de todas as questões suscitadas no recurso para si interposto, isso não significa que os respectivos segmentos decisórios tenham de ter o mesmo tratamento em matéria de recorribilidade.
XVI – O conjunto dos factos praticados indica a gravidade do ilícito global perpetrado, sendo decisiva para a sua avaliação a conexão e o tipo de conexão que entre os factos concorrentes se verifique; por sua vez, na avaliação da personalidade – unitária – do agente relevará, sobretudo, a questão de saber se o conjunto dos factos é reconduzível a uma tendência criminosa, ou tão-só a uma pluriocasionalidade que não radica na personalidade, só no primeiro caso se justificando atribuir à pluralidade de crimes um efeito agravante dentro da moldura penal conjunta. Relevo especial na operação terá ainda o juízo sobre o efeito previsível da pena no comportamento futuro do agente (exigências de prevenção especial de socialização).
XVII – Fundamentação incompleta ou deficiente não é o mesmo que falta de fundamentação ou omissão de pronúncia e só estas são susceptíveis de integrar as nulidades previstas nas als. a) e c) do n.º 1 do art. 379.º do CPP, aplicável ao acórdão recorrido por força do disposto no art. 425.º, n.º 4, ambos do CPP, improcedendo, assim, a invocada nulidade do acórdão recorrido.
XVIII – As exigências de prevenção geral, considerando o tipo e o contexto dos crimes cometidos (corrupção e peculato), são muito elevadas. A conduta dos arguidos J e M é altamente censurável, pelo especial dever de, consideradas as funções que desempenhavam como liquidatários/administradores judiciais, recusarem veementemente os subornos propostos pelo co-arguido A e até de os denunciar. O mesmo se diga da conduta do arguido A, por não se sentir inibido de propor os negócios pretendidos a ume elevado número de liquidatários/administradores de insolvência. Todos agiram com dolo directo e intenso. A gravidade do ilícito global é também elevada face aos proveitos que retiraram de tal actividade e pelo largo período de tempo em que essa actividade se desenvolveu.
XIX -   Face à persistência e frequência com os crimes foram praticados está afastada a consideração de terem sido fruto de simples pluriocasionalidade, fazendo os arguidos dessa actividade autêntica profissão. Assim, tudo ponderado, quanto aos arguidos M e A mantêm-se as penas únicas aplicadas, a cada um, de 5 anos e 10 meses de prisão. Quanto ao arguido J, para além do maior número de crimes que praticou, os maiores proveitos que deles tirou e o maior lapso de tempo que durou a sua actividade, tem ainda contra si a circunstância de possuir antecedentes criminais, pelo que terá de ser mais severamente punido. Contudo, entende-se que é adequada a pena de 6 anos de prisão, em lugar da pena de 8 anos de prisão aplicada pelo acórdão recorrido.
Decisão Texto Integral:

            Acordam na Secção Criminal do Supremo Tribunal de Justiça

            1. Relatório

No processo em epígrafe, responderam, com outros, perante o Tribunal Colectivo da 4ª Vara Criminal do Porto, os arguidos

– AA, nascido em ........, em 000000, filho de BB e CC, casado, economista, residente na Rua ............ ......., .............., Vila do Conde;

– DD, nascido em Souto de ........, Aguiar da Beira, em 00000, filho de EE e de FF, casado, empresário, residente na ........,...,.. Porto; e

– GG, nascido em S...... (S. Jorge), Guimarães, em 000000, filho de HH e de II, casado, economista, residente na R......, Casa ...., ......., Vila Nova de Famalicão.

1.1. Pelo acórdão de 05.01.2009 (fls. 37443 e segs.), o Tribunal Colectivo decidiu:

1.1.1. Condenar os referidos Arguidos nos termos seguintes [transcrevemos a partir do relatório do acórdão recorrido]:

«AA …,

como autor direto e imediato e em concurso real, pela prática, em coautoria com os arguidos DD e JJ:

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falênciam M.......);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al.  c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência J.....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência I...L...;

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência D.....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência A....M....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência M....T...;

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência S.....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 3 (três) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência C.....C....A....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência R.....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses prisão (falência E....A...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência D...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falência A..A...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falência M...G...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falência F.T. F...B...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falência T...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência S....I.....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência A.........);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) e 3 (três) meses de prisão (falência C...C...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) e 3 (três) meses de prisão (falência C...D.....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) e 3 (três) meses de prisão (falência C...D.....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) e 3 (três) meses de prisão (falência J..M...R...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) e 3 (três) meses de prisão (falência M......);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) e 3 (três) meses de prisão (falência Supermercados G....);

- de um crime de peculato de uso, p. e p. no art. 376º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 3 (três) meses de prisão (falência Supermercados G....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) e 3 (três) meses de prisão (falência I....);

- de um crime de peculato de uso, p. e p. no art. 376º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) meses de prisão (falência I....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falênciaS.......);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) e 3 (três) meses de prisão (falência M....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no ar. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência C.....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência A...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência A...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência F...T....F....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência A...S...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência M...S.... e esposa);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falência A...M..R...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falênciaM...J...S.... Ldª);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falência Z....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. no art. 372º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falência C...C...);

- em co-autoria com o arguido KK, pela prática,

- de um crime de peculato de uso, p. e p. no art. 376º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 7 (sete) meses de prisão (falência C.....C....A....);

- de um crime de peculato de uso, p. e p. no art. 376º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) meses de prisão (falência T.....);

- de um crime de peculato de uso, p. e p. no art. 376º nº 1 e artº 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) meses de prisão (falência M......);

- de um crime de peculato de uso, p. e p. no art. 376º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 9 (nove) meses de prisão (falência Supermercados G....);

- de um crime de peculato de uso, p. e p. no art. 376º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 6 (seis) meses de prisão (falência I....);

- de um crime de peculato de uso, p. e p. no art. 376º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 3 (três) meses de prisão (falência A...M..R...);

- …

Em cúmulo jurídico, foi o arguido AA condenado na pena única de 18 (dezoito) anos de prisão.

DD, …

em coautoria, nos termos do artº 28º do Código Penal, com a arguida DD e os arguidos/liquidatários:

em coautoria com o arguido AA, pela prática,

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência N.....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência J...T....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência I...L...;

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência D.....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência A....M....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência M....T...;

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência S.....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 3 (três) anos de prisão (falência C.....C....A....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência R.....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência E....A...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência D...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência A..A...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência M...G...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência F.T. F...B...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência T...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência S....I.....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência A.........);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falência C...C...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falência C...D.....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falência C...D.....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falência J..M...R...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falência M......);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falência Supermercados G....);

- de um crime de peculato de uso, p. e p. nos arts. 376º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 4 (quatro) meses de prisão (falência Supermercados G....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falência I....);

- de um crime de peculato de uso, p. e p. no art. 376º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 3 (três) meses de prisão (falência I....;

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falênciaS.......);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falência M....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência C....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falênciaA...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência A...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência F...T....F....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 meses de prisão (falência A...S....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência M...S.... e esposa);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falência A...M..R...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falênciaM...J...S.... Ldª);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falência Z..);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1, 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) e 9 (nove) meses de prisão (falência C...C...);

Em co-autoria com o arguido KK, pela prática,

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência F....L.....),

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência H...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência P..);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 3 (três) meses de prisão (falência T...F....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência M...R...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falênciaL....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falênciaR.....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência A...T....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência G....M...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência G...G...

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência A.....C.....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano de prisão (falência C...V....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 3 (três) meses de prisão (falência S........);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência LL e esposa);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência Confecções E....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência MM e esposa);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) de prisão (falência C....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 3 (três) meses de prisão (falência NN e esposa);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência I......);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 3 (três) meses de prisão (falência OO);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência M...;

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 3 (três) meses de prisão (falência A.....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência PP e esposa);

Em coautoria com o arguido QQ nos termos do artº 28º do Código Penal, pela prática,

- de um crime de corrupção ativa, p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência P...);

- de um crime de corrupção ativa, p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência N....);

- de um crime de corrupção ativa, p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência C.....P....);

- de um crime de corrupção ativa, p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano de prisão (falência C.....F....);

Em co-autoria com o arguido RR, nos termos do artº 28º, do Código Penal, pela prática,

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência A....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência N...S..);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falênciaN...V..);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. nos arts. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 3 (três) anos de prisão (falência C...S..,.);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência N.....C.........);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência M....C....);

Em coautoria com o arguido SS, nos termos do artº 28º, do Código Penal, pela prática,

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 3 (três) meses de prisão (falência V...N...);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência A..);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência C....T....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência M....E....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência C...A....);

Em coautoria com o arguido TT, nos termos do artº 28º, do Código Penal, pela prática,

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) de prisão (falência C......);

- de crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 3 (três) anos de prisão (falência L.....);

- de crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falência C....);

Em coautoria com o arguido UU, nos termos do artº 28º, do Código Penal, pela prática,

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do C. Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência E....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do C. Penal, na pena de 1 (um) ano e 8 (oito) meses de prisão (falência V.....);

Em coautoria com o arguido VV, nos termos do artº 28º, do Código Penal, pela prática,

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do C. Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência N.....);

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do C. Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência F...T..;

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do C. Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência E...B....);

Em coautoria com a arguida XX, nos termos do artº 28º, do Código Penal, pela prática,

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º, nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (falência A...;

Em coautoria com o arguido ZZ, nos termos do artº 28º, do Código Penal, pela prática, corrupçao ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º, nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência M...M...);

Em coautoria com o arguido AAA, nos termos do artº 28º, do Código Penal, pela prática,

- de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. no art. 374º, nº 1 e 386º, nº 1 c) do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 3 (três) meses de prisão (falência A....);

Em coautoria com o liquidatário BBB, nos termos do artº 28º, do Código Penal, pela prática,

- de um crime de corrupção ativa, p. e p. pelo artº 374º, nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão (Falência D...A.... e esposa);

- …

Em cúmulo jurídico, foi o arguido DD condenado na pena única de 17 (dezassete) anos de prisão.

GG, ….

Em coautoria com os arguidos DD e JJ e em concurso real, pela prática,

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência F....L.....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência H...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falência P..);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência T...F....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falência M...R...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) e 3 (três) meses de prisão (falênciaL....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falênciaR.....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência A...T....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência G....M...);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão (falência G........G.......);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência A.....C.....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 6 (seis) de prisão (falência C...V....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência S........);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência LL e esposa);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 3 (três) anos de prisão (falência Confecções E....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência MM e esposa);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão (falência C....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência NN e esposa);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência I......);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência OO);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência M...;

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 1 (um) ano e 9 (nove) meses de prisão (falência A.....);

- de um crime de corrupção passiva para ato ilícito p. e p. no art. 372º nº 1 e 386º, nº 1, al. c), do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão (falência PP e esposa);

- …

Em cúmulo jurídico, foi o arguido GG condenado na pena única de 14 (catorze) anos e 6 (seis) meses de prisão»;

1.1.2. Decidiu, ainda, o mesmo acórdão:

«… não aplicar a presunção prevista nos artigos 7º, 8º e 9º da Lei nº 5/2002, de 11/01, tendo-se levantado o arresto decretado sobre os bens e valores descritos a folhas 35.868 a 35.872, com exceção dos saldos das contas bancárias, sendo o levantamento do arresto decretado pelos despachos proferidos a fls. 36.657 e 36.832»;

«Em aplicação do disposto no nº 1 do artigo 111º do Código Penal, declarou… perdido a favor do Estado todo o saldo da conta bancária nº 0000000, cujos titulares são os arguidos KK e AA, da agência de G....., Maia, do Banco Português do Atlântico»; e

«nos termos do dos nºs 1 e 4 do mesmo artigo 111º do Código Penal, foram declarados perdidos a favor do Estado os saldos bancários aprendidos ou, no caso de não estarem apreendidos valores suficientes, foram condenados, em substituição da perda, a pagar ao Estado os respetivos valores os seguintes condenados:

- o arguido AA a quantia de € 743.714,14 (setecentos e quarenta e três mil setecentos e catorze euros e catorze cêntimos),

- os arguidos DD [e JJ] (S...) a quantia de € 3.715.954,61 (três milhões e setecentos e quinze mil novecentos e cinquenta e quatro euros e sessenta e um cêntimos),

- o arguido GG a quantia de € 236.360,11 (duzentos e trinta e seis mil trezentos e sessenta euros e onze cêntimos)…».

1.2. Inconformados com o assim decidido, o Ministério Público, os referidos Arguidos e outros co-Arguidos interpuseram recurso para o Tribunal da Relação do Porto que, pelo acórdão de 07.07.2010 (fls. 42374), deliberou [voltamos a transcrever do relatório do acórdão em recurso]:

«a)- (…) negar provimento ao recurso intercalar interposto conjuntamente pelos arguidos DD e JJ, relativo a decisões proferidas na sessão de julgamento de 19/12/2008;

b)- (…);

c)- (…) conceder parcial provimento ao recurso interposto conjuntamente pelos arguidos DD e JJ, relativo à decisão proferida em 22/1/2009 e, consequentemente, alterar essa decisão, prorrogando o prazo de 20 dias de interposição de recurso previsto no art. 411 nº 1 do CPP, por mais 13 dias (em vez dos 10 dias concedidos), ordenando que lhes seja restituída a multa que pagaram (ao abrigo do art. 145 do CPC) pela interposição do recurso conjunto do acórdão;

d)- (…) conceder parcial provimento ao recurso do acórdão interposto pelo Ministério Público (na parte em que esta Relação, revogando em parte a decisão da 1ª instância, considerou válidas conversações telefónicas acima identificadas relativas ao caso “G.....”), ficando prejudicado o conhecimento das demais questões suscitadas ainda relativas a escutas telefónicas;

e)- (…) negar provimento ao recurso do acórdão interposto pelo Ministério Público, quanto à impugnação da matéria de facto relativa ao caso “G....“ e, consequentemente, no que se relaciona com essa falida, manter a decisão da 1ª instância;

f)- (…) conceder parcial provimento aos recursos do acórdão interpostos pelos recorrentes/arguidos AA, …, DD, …, …,GG, … (…) e, consequentemente, ordenar, nos termos do disposto nos arts. 410º, nº 2-a), b) e c) e 426º nº 1 do CPP, o reenvio do processo para novo julgamento (cf. art. 426º-A do CPP), com vista a serem supridos os vícios apontados, …, proferindo-se a final novo acórdão;

g)- (…) negar provimento às demais questões que foram concretamente apreciadas (v.g sobre a alegada perda de eficácia da prova, sobre escutas telefónicas e efeito à distância), em relação aos recursos do acórdão dos respetivos arguidos/recorrentes;

h)- no mais, face ao determinado reenvio do processo, [declarar] prejudicado o conhecimento das demais questões suscitadas pelos recorrentes, que não foram apreciadas em concreto, relacionadas com os recursos da decisão final proferida pela 1ª instância”.

1.3. Recebido o processo, o Tribunal da 1ª Instância realizou nova audiência de discussão e julgamento, no decurso da qual, entendendo ter ocorrido uma alteração não substancial de factos descritos na pronúncia, comunicou tal alteração aos Arguidos e concedeu-lhes prazo para prepararem as respetivas defesas (despacho de fls. 44924/45059 [ocorreu erro de paginação: depois de fls. 46614, segue-se fls. 44639-A]).

O arguido GG, apresentou-a a fls. 45081.

O arguido DD, a fls. 45118 e segs.

A final, foi proferido o acórdão de 12.07.2013 (fls. 45381/46537; volumes 156 a 159) que decidiu: [continuamos a transcrever a partir do relatório do acórdão recorrido]:

«1) Declaram inexistir qualquer nulidade respeitante à busca realizada no edifício onde estava instalada a “S...N...L...”, sito na R..........., nº ..... no Porto.

2)...

3) Absolvem os arguidos AA, …, GG, DD dos crimes de participação económica em negócio, previstos e punidos pelas disposições conjugadas dos artigos 377º, nº 1 e art. 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, que lhes foram imputados.

4) Relativamente ao arguido AA:

5) Absolvem o arguido AA dos crimes de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, por referência às falências de “N..............”, “I...L...”, “Malhas D.....”, “A....M...” e “S....F...T... de S.....”.

6) Declaram extinto, por prescrição, o procedimento criminal movido contra o arguido AA quanto à prática de um crime de corrupção passiva para ato lícito, na forma consumada, tudo nos termos das disposições conjugadas dos artigos 373º, nº 1, 386º, nº 1, alínea c), 118º, nº 1, alínea c) e 121º, nº 3, todos do Código Penal de 95, por referência à falência de “Fiação de Tecidos J. F...B...”.

7) Declaram extinto, por prescrição, o procedimento criminal movido contra o arguido AA quanto à prática, como autor material e na forma consumada, de dois crimes de corrupção passiva para ato ilícito, nos termos das disposições conjugadas dos artigos 420º, nº 1, 437º, nº 1, alínea c), 117º, nº 1, alínea b) e 120º, nº 3, do Código Penal de 82, por referência às falências de “S....I.....” e “Fábricas A.........”.

8) Condenam o arguido AA pela prática, em autoria material, na forma consumada e em concurso efetivo:

9) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano de prisão (falência “J...T.... de Malhas);

10) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano de prisão (falência de “M....T....”);

11) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência de “CCA-C.....C....A....”);

12) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência de “S................. R.....”);

13) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “E....A...”);

14) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência de “Fábrica de Malhas D...”);

15) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência de “A..A...”);

16) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência de “M...C...M....”);

17) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência de “T...”);

18) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “C...C... & C.ª”);

19) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “C...D.....”);

20) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “C...D.....”);

21) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “...C...M....”);

22) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 8 meses de prisão (falência de “M......”);

23) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “Supermercados G....”);

24) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “I....”);

25) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “S......”);

26) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “M....”);

27) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “DDD);

28) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “EEE & C.ª”);

29) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “Fábrica de Calçado Z..”);

30) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência de “Fábrica de C...C...”);

31) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 5 meses de prisão (falência de “C....”);

32) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 5 meses de prisão (falência de “A...”);

33) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 5 meses de prisão (falência de “A...”);

34) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 5 meses de prisão (falência de “F....”);

35) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 5 meses de prisão (falência de “A...S....R.... e mulher”);

36) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 5 meses de prisão (falência de “III e mulher”);

37) Condenam também o arguido AA pela prática, em coautoria material (com o arguidoKK), na forma consumada e em concurso efetivo, de um crime de peculato, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 375º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do CP de 95, na pena de 3 anos de prisão (por referência às falências de “CCA”, “T.....”, “M......”, “Supermercados G....”, “I....” e “DDD”).

38) Condenam ainda o arguido AA pela prática, em coautoria material (com os arguidos DD e DD), na forma consumada e em concurso efetivo, de dois crimes de peculato, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 375º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do CP de 95, por referência às falências de “Supermercados G....” e “I....”, nas penas de 1 ano e 2 meses de prisão e 1 ano e 1 mês de prisão, respetivamente.

39) Em cúmulo jurídico de tais penas parcelares, condenam o arguido AA na pena única de 7 anos e 6 meses de prisão.

75) Relativamente ao arguido GG:

76) Absolvem o arguido GG da prática dos crimes de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, por referência às falências de “A.....” e “Al......

77) Condenam o arguido GG pela prática, em autoria material, na forma consumada e em concurso efetivo:

78) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência “F....L.....”);

79) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência “Empresa Industrial das H...”);

80) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 2 meses de prisão (falência “P.. M.....”);

81) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (falência “T...F....”);

82) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 4 meses de prisão (falência “RR....F....– Artes Gráficas”);

83) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 4 meses de prisão (falência “L......);

84) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência “R.......”);

85) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 4 meses de prisão (falência “Construções G....M...”);

86) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 4 meses de prisão (falência “G....G.....;

87) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 4 meses de prisão (falência “C...C...”);

88) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 4 meses de prisão (falência “Â...V....);

89) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 4 meses de prisão (falência “MM e mulher”);

90) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 2 meses de prisão (falência “S........”);

91) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 4 meses de prisão (falência “JJJ e mulher”);

92) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência “C....”);

93) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 2 anos de prisão (falência “M....I....”);

94) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência “NN e mulher”);

95) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência “I......”);

96) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência “OO”);

97) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 2 meses de prisão (falência “MA....”);

98) – de um crime de corrupção passiva para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 372º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal, na pena de 1 ano e 3 meses de prisão (falência “KKK e mulher”).

99) Em cúmulo jurídico de tais penas parcelares, condenam o arguido GG na pena única de 5 anos de prisão, cuja execução se decide suspender por igual período temporal, mediante a condição de o arguido proceder ao pagamento ao Estado do montante equivalente ao benefício ilicitamente obtido (€ 206.837,38), no mesmo prazo da suspensão, a que acresce a obrigação de sujeição a regime de prova, mediante um plano individual de readaptação social a elaborar pela DGRS, nos termos do disposto nos artigos 50°, 51°, n° 1, alínea c), 53° e 54°, do CP, na redação da Lei n° 59/2007, de 4/9 (regime que se afigura em concreto mais favorável ao arguido – art. 2°, n° 4, do CP).

136) Relativamente aos arguidos DD [e JJ]:

137) Declaram extinto, por prescrição, o procedimento criminal movido contra os arguidos DD e JJ quanto à prática, como coautores materiais e na forma consumada, de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, nos termos das disposições conjugadas dos artigos 423°, n° 1, 437 n° 1, alínea c), 117°, n° 1, alínea b) e 120°, n° 3, do Código Penal de 82, por referência às falências em que interveio como liquidatário judicial o arguido AA.

138) Absolvem os arguidos do crime de corrupção ativa para ato ilícito por referência à falência de “AZ..”, que lhes foi imputado (e de qualquer outro crime não expressamente contemplado no presente dispositivo).

139) Condenam os arguidos DD e JJ pela prática, em coautoria material, na forma consumada e em concurso efetivo:

140) – de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 374º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal (95), na pena de 2 anos e 3 meses de prisão (cada um deles), relativamente às falências atrás descritas, nas quais interveio como liquidatário judicial o arguido QQ;

141) – de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 374º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal (95), na pena de 2 anos e 8 meses de prisão (cada um deles), relativamente às falências atrás descritas, nas quais interveio como liquidatário judicial o arguido GG;

142) – de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 374º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal (95), na pena de 2 anos e 3 meses de prisão (cada um deles), relativamente às falências atrás descritas, nas quais interveio como liquidatário judicial o arguido C.....F....;

143) – de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 374º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal (95), na pena de 2 anos de prisão (cada um deles), relativamente às falências atrás descritas, nas quais interveio como liquidatário judicial o arguido TT;

144) – de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 374º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal (95), na pena de 1 ano e 4 meses de prisão (cada um deles), relativamente às falências atrás descritas, nas quais interveio como liquidatário judicial o arguido UU;

145) – de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 374º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal (95), na pena de 1 ano e 5 meses de prisão (cada um deles), relativamente às falências atrás descritas, nas quais interveio como liquidatário judicial o arguido LLL;

146) – de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 374º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal (95), na pena de 7 meses de prisão (cada um deles), relativamente à falência de “CCC e mulher”, na qual interveio como liquidatário judicial o arguido BBB (entretanto falecido);

147) – de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 374º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal (95), na pena de 7 meses de prisão (cada um deles), relativamente à falência atrás descrita, na qual interveio como liquidatário judicial o arguido ZZ;

148) – de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 374º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal (95), na pena de 10 meses de prisão (cada um deles), relativamente à falência atrás descrita, na qual interveio como liquidatário judicial o arguido MMM;

149) – de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 374º, nº 1 e 386º, nº 1, alínea c), do Código Penal (95), na pena de 1 ano e 6 meses de prisão (cada um deles), relativamente às falências atrás descritas, nas quais interveio como liquidatário judicial o arguido VV.

150) Condenam, ainda, cada um dos arguidos DD e JJ pela prática, em coautoria material, na forma consumada e em concurso efetivo com os restantes ilícitos, de dois crimes de peculato, p. e p. pelas disposições conjugadas dos artigos 375º, nº 1, 386º, nº 1, alínea c) e 28º, todos do Código Penal, nas penas de 1 ano e 2 meses de prisão e de 1 ano e 1 mês de prisão, por referência às falências de “Supermercados G....” e “I....”, respetivamente.

151) Em cúmulo jurídico de tais penas parcelares, condenam cada um dos arguidos DD e JJ na pena única de 5 anos de prisão, cuja execução se decide suspender por igual período temporal, mediante a condição, contudo, de os arguidos procederem ao pagamento ao Estado, cada um deles, do montante de € 1.000.000,00 (um milhão de euros) – valor decorrente da redução equitativa do montante do benefício ilicitamente obtido –, no mesmo prazo da suspensão, a que acresce a obrigação de sujeição a regime de prova, mediante um plano individual de readaptação social a elaborar peia DGRS, nos termos do disposto nos artigos 50°, 51°, n° 1, alínea c), 53° e 54°, do CP, na redação da Lei n° 59/2007, de 4/9 (regime que se afigura em concreto mais favorável aos arguidos – art. 2°, n° 4, do CP).

Quanto à matéria da perda alargada (liquidações efetuadas pelo Ministério Público ao abrigo da Lei nº 5/2002), decidem os juízes que compõem o tribunal colectivo:

a) Pelos fundamentos atrás expostos, julgam improcedente a aplicação do regime da perda alargada previsto na Lei nº 5/2002, de 11-01, aos arguidos AA,…, DD, JJ,…;

b) Em consequência, ordenam o levantamento do arresto de bens ordenado nos autos ao abrigo do disposto no art. 10º, nº 1, da Lei nº 5/2002, de 11-01.

Quanto à matéria da perda das vantagens dos crimes (art. 111º do Código Penal), decidem os juízes que compõem o tribunal colectivo:

a) …;

b) Pelos fundamentos atrás expostos, nos termos do disposto no art. 111º, nºs 1 e 4, do Código Penal, condenam os arguidos a seguir identificados no pagamento ao Estado, em substituição da perda de vantagens, dos seguintes valores:

- O arguido AA, a quantia de € 384.058,87 (trezentos e oitenta e quatro mil cinquenta e oito euros e oitenta e sete cêntimos);

- O arguido DD, a quantia de € 1.000.000,00 (um milhão de euros);

- …;

- O arguido GG, a quantia de € 206.837,38 (duzentos e seis mil oitocentos e trinta e sete euros e trinta e oito cêntimos);

c) O pagamento das quantias atrás referidas será efectuado através das quantias monetárias apreendidas nos presentes autos e, eventualmente, através da execução dos bens dos arguidos também apreendidos nos autos, mantendo-se, portanto, esta medida cautelar na medida da necessidade do mencionado pagamento.

…».

1.3.1. No decurso desta segunda audiência de julgamento, realizada na sequência do reenvio decretado, o arguido DD [e JJ], interpôs dois recursos intercalares (fls. 46191 e 46234) para impugnar as decisões constantes das actas das sessões da audiência de julgamento de 21/5/2012 (fls. 45935/37) e de 30/05/2012 (fls. 46070), em que foi admitida a audição do depoimento gravado de duas testemunhas falecidas entre a 1ª e 2ª audiência.

Interpôs, ainda [também com a co-arguida JJ], um terceiro recurso intercalar (fls. 46191) para impugnar o despacho de 11/6/2012 (fls. 46.181), ditado para a acta, que indeferiu a arguição da irregularidade da audição da gravação dos depoimentos das referidas testemunhas (FFF e GGG).

Tais recursos foram recebidos para subirem a final, nos próprios autos, como consta dos despachos de fls. 46492 e 46534  

1.3.2. Por sua vez, o arguido AA interpôs recurso (fls. 46769) do despacho proferido em 11/9/2013 (fls. 46.589) que indeferiu a arguição da irregularidade do acórdão final, por não incluir os factos que indicou, alegadamente julgados provados ou não provados no primeiro acórdão da 1ª Instância (o acórdão de 5/1/2009), e que não foram postos em causa por qualquer recurso – razão por que, em relação aos mesmos, estaria esgotado o poder jurisdicional da 1ª Instância, quando proferiu o seu segundo acórdão.

O recurso foi recebido para subir nos próprios autos, com efeito devolutivo  (fls. 46833 e 48733).

1.3.3. Do acórdão final, interpuseram recurso para o Tribunal da Relação do Porto, além de outros,

o Ministério Público (fls. 46.930 e segs.);

o arguido GG (fls. 47.073 e segs.);

o arguido DD [e JJ] (fls. 47.304 e segs.) e

o arguido AA (fls. 47.856 e segs.).

1.3.4. Sobre estes recursos decidiu o acórdão recorrido, de 30.09.2015 (fls. 49887 e segs.) do modo seguinte [transcrevemos o respectivo dispositivo]:

«Pelo exposto, acordam os Juízes desta 1ª Secção Criminal do Tribunal da Relação do Porto em:

3.1.1 - negar provimento aos três recursos intercalares interpostos pelos arguidos DD [e JJ] (os três primeiros deduzidos na fase pós reenvio dos autos), respeitantes à admissibilidade da valoração de dois depoimentos prestados na 1ª audiência de julgamento em 1ª instância, por depoentes entretanto falecidos;

3.1.2 - negar provimento ao recurso intercalar interposto pelo arguido AA, respeitante à alegada violação de caso julgado parcial;

3.2 - …;

3.3 - julgar parcialmente procedente o recurso interposto pelo arguido GG:

3.3.1 - na parte em que pediu a sua absolvição, por falta de prova, no que se refere ao crime de corrupção passiva para ato ilícito, previsto e punido pelo artigo 372º nº 1 do Código Penal na versão introduzida pelo Decreto-Lei 48/95, de 15 de Março,  por factos conexos com a falência de “S........”, do qual vai absolvido;

3.3.2 - na parte em que impugnou a sua condenação pelo crime de corrupção passiva para ato ilícito, previsto e punido pelo artigo 372º nº1 do Código Penal na versão introduzida pelo Decreto-Lei 48/95, de 15 de Março,  por factos conexos com a falência de “JJJ e mulher”, pelo qual vai agora condenado na pena parcelar de 1 (um) ano e 2 (dois) meses de prisão;

3.3.3 - na parte respeitante à perda de vantagens a favor do Estado, reduzindo-se agora a sua condenação a pagar, a esse título, o valor de 196.861,42 € (cento e noventa e seis mil oitocentos e sessenta e um euros e quarenta e dois cêntimos);

3.4 - julgar parcialmente procedente o recurso interposto pelos arguidos DD [e JJ]:

3.4.1 - na parte em que requereram a redução do valor da perda de vantagens a favor do Estado, reduzindo-se equitativamente a condenação de cada um dos mesmos a pagar, a tal título, a quantia de 900.000,00 € (novecentos mil euros);

3.4.2 - na parte em que impugnaram a sua condenação (e as penas respetivas)  quanto aos 2 (dois) crimes de peculato previstos e punidos pelo artigo 375º nº1 do Código Penal, condenando agora cada um dos dois arguidos nas penas parcelares de 1 (um) ano e 1 (um) mês de prisão (factos da falência de “Supermercados G....”) e de 1 (um) ano de prisão (I....);

3.4.3 - julgar tal recurso improcedente quanto ao demais requerido;

3.5.1 [sic] - julgar parcialmente procedente o recurso principal interposto pelo arguido AA, na parte em que impugnou a sua condenação (e as penas respetivas) quanto aos 2 (dois) crimes de peculato previstos e punidos pelo artigo 375º nº1 do Código Penal, cometidos em coautoria com os arguidos DD e JJ, condenando-o agora nas penas parcelares de 1 (um) ano e 1 (um) mês de prisão (factos da falência de “Supermercados G....”) e de 1 (um) ano de prisão (falência de “I....”);

3.5.2 - declarar extinto, por prescrição, o procedimento criminal no que respeita aos dois crimes de corrupção passiva para ato ilícito, previstos e punidos pelo artigo 372º, nº1, do Código Penal, versão de 1995, imputados ao arguido AA, por referência às falências de J.C. Têxtil de Malhas e de M.... T...., absolvendo este arguido dos referidos crimes e revogando as respetivas penas parcelares aplicadas em 1ª instância;

3.6 - julgar parcialmente procedente o recurso interposto pelo Ministério Público e, em consequência:

3.6.1 - revogar o segmento do acórdão recorrido que declarou extinto, por prescrição, o procedimento criminal movido contra os arguidos DD [e JJ] quanto à prática, como coautores materiais e na forma consumada, de um crime de corrupção ativa para ato ilícito, nos termos das disposições conjugadas dos artigos 423°, n° 1, 437 n° 1, alínea c), 117°, n° 1, alínea b) e 120°, n° 3, do Código Penal de 82, por referência às falências em que interveio como liquidatário judicial o arguido AA, condenando agora os referidos arguidos como coautores de um crime de corrupção ativa para ato ilícito previsto e punido pelo artigo 372º nº1 do Código Penal, na versão de 1995, sendo a arguida JJ… e o arguido DD na pena parcelar de 3 (três) anos e 2 (dois) meses de prisão;

3.6.2 - …

3.6.3 - condenar ainda o arguido DD nas seguintes penas parcelares por crimes de corrupção ativa para ato ilícito, previstos e punidos pelo artigo 374º, nº1 do Código Penal (versão de 1995), com referência aos liquidatários judiciais aliciados:

- (QQ) – 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão;

- (GG) – 2 (dois) anos e 11 (onze) meses de prisão;

- (RR) – 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão;

- (TT) – 2 (dois) anos e 3 (três) meses de prisão;

- (UU) – 1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão;

- (SS) – 1 (um) ano e 7 (sete) meses de prisão;

- (BBB, entretanto falecido) – 9 (nove) meses de prisão;

- (AAA) – 9 (nove) meses de prisão;

- (ZZ) – 1 (um) ano de prisão;

- (VV) – 1 (um) ano e 8 (oito) meses de prisão;

3.6.4 - operando o cúmulo jurídico de todas as 13 penas parcelares, condenar o arguido DD na pena única de 5  (cinco) anos e 10 (dez) meses de prisão;

3.6.5 - agravar as penas parcelares aplicadas ao arguido AA relativamente aos seguintes dois crimes de corrupção passiva própria, previsto e punido pelo artigo 372º, nº1 do Código Penal, versão 1995:

- conexo com a falência de M...C...M...., para 1 (um) ano e 8 (oito) meses de prisão;

- conexo com a falência de Fábrica de Tecidos da F...., para 2 (dois) anos de prisão;

3.6.6 - operando o cúmulo jurídico de todas as penas parcelares, condenar o arguido AA na pena única de 8 (oito) anos de prisão;

3.6.7- condenar agora o arguido GG na pena única de 5 (cinco) anos e 10 (dez) meses de prisão;

3.6.8 - …;

3.6.9 - …;

3.6.10 - …;

3.6.11 - quanto ao demais requerido, julgar improcedente o recurso do Ministério Público;

3.7 - confirmar o douto acórdão recorrido em tudo o demais aí decidido».

1.3.5. Proferido este acórdão,

1.3.5.1. o arguido DD [e JJ], pediu (fls. 50.524), esclarecimentos «e, sendo caso disso (em função do sentido dos esclarecimentos prestados), a correspondente correção do acórdão», relativamente ao modo como foi apurado «o valor que os arguidos, ora requerentes, (alegadamente) obtiveram, a título de rendimentos do capital, e (alegadamente) integraram no seu património, e que serviu de base à sua decisão» – pedidos que o Tribunal da Relação julgou «totalmente» improcedentes pelo acórdão de 25.11.2015 (fls. 50678).

Por sua vez,

1.3.5.2. o arguido AA alegando que, entretanto, haviam prescrito mais quatro dos crimes por que estava condenado (os crimes de corrupção passiva para acto ilícito relativos aos processos de falência Curtumes P...S...R....., E......, Malhas D... e C.....C....A....), pediu (fls. 51796) a correção da pena conjunta aplicada.

O Tribunal da Relação proferiu, então, novo acórdão, o de 16.03.2016 (fls. 51859), em que considerou que «os correspondentes prazos de prescrição do procedimento criminal completaram-se, quanto aos 4 crimes ocorridos no âmbito das 4 falências agora referenciadas, em 30/1/2016 (já 4 meses depois de ter sido proferido o acórdão desta Relação de 30/9/2015)» declarou «prescritos os quatro crimes cometidos no âmbito das falências de Curtumes P...S...R....., E..A..., Malhas D... e C.....C....A...., por extinção dos procedimentos criminais respetivos, e, consequentemente, [revogou] a condenação do arguido AA nas quatro penas parcelares correspondentes».

Depois, reformulando o dispositivo condenatório do acórdão de 30.09.2015, consignou que [transcrevemos, uma vez mais, o decidido]:

«O arguido AA encontra-se agora condenado nas seguintes penas parcelares:

- quanto aos crimes· de corrupção passiva para ato ilícito, previstos e punidos pelo artigo 372°, n° 1, do Código Penal, por referência a cada um dos processos de falência elencados:

(…)

- A....A... - 1 ano e 3 meses de prisão;

- M...C...M.... - 1 ano e 8 meses de prisão;

- T... - 1 ano e 3 meses de prisão;

- C...C... & C.ª - 1 ano e 6 meses de prisão;

- C...D..... -1 ano e 6 meses de prisão;

- C...D.....- 1 ano e 6 meses de prisão;

- J....M....R.... - 1 ano e 6 meses de prisão;

- M...... - 1 ano e 8 meses de prisão;

- Supermercados G.... - 1 ano e 6 meses de prisão;

- I....- 1 ano e 6 meses de prisão;

-S....... - 1 ano e 6 meses de prisão;

- M.... - 1 ano e 6 meses de prisão;

- A...M..R... - 1 ano e 6 meses prisão;

- EEE & Comp.ª, Lda - 1 ano e 6 meses de prisão;

- Fábrica de Calçado Z.. - 1 ano e 6 meses de prisão;

- Fábrica de C...C... - 1 ano e 6 meses de prisão;

- C.... - 1 ano e 5 meses de prisão;

-A... - 1 ano e 5 meses de prisão;

- A... - 1 ano e 5 meses de prisão;

- F.... - 2 anos de prisão;

- HHH e mulher - 1 ano e 5 meses de prisão;

- III e mulher - 1 ano e 5 meses de prisão;

- quanto ao crime de peculato, previsto e punido pelo artigo 375°, nº 1, do Código Penal, integrado pelos factos ilícitos descritos nas falências de "C.....C....A....", "T...l", "M......", "G....", "I...." e A...M..R..., e praticado em coautoria material com o arguido KK: 3 anos de prisão;

- quanto aos crimes de peculato, previstos e punidos pelo artigo 375°, nº 1, do Código Penal, praticados, em coautoria material, com os arguidos DD e JJ, e por referência às falências de "Supermercados G...." e "I....": 1 ano e 1 mês de prisão e 1 ano de prisão, respetivamente.

Deste modo, a moldura penal do cúmulo tem o limite mínimo de 3 anos de prisão e o limite máximo de 25 anos de prisão - ou seja, o máximo legal, sendo certo que a somadas penas parcelares é presentemente de 38 anos de prisão.

Após a eliminação de mais quatro das penas parcelares ocasionada pela prescrição do procedimento criminal referente aos respetivos crimes, embora os limites da moldura penal a levar em conta no cúmulo jurídico se mantenham inalterados por força da limitação legal do limite máximo, há que considerar algum desagravamento.

Estão em causa, agora, 25 penas parcelares de prisão, ainda que sendo a maior delas de 3 anos de prisão.

Os critérios jurisprudenciais adiantados no acórdão de 30/9/2015 mostram-se, no caso, de algo complexa aplicação, visto que o máximo legal da pena única continua a ser ainda muito largamente ultrapassado (em 13 anos) pela soma das penas em concurso.

Não ocorrendo a circunstância do grande lapso de tempo já decorrido, a pena única a aplicar ao arguido não deveria ser inferior a 9 anos de prisão.

Mesmo subtraindo ao máximo legal (25 anos) os 3 anos da pena parcelar mais grave e dividindo o resultado bonificado (22) por 4, encontra-se a correspondência 'mínima' a um quarto das penas restantes (5,5 anos), que se deve adicionar ao referido mínimo, perfazendo 8 anos e meio.

No entanto, para manter alguma proporcionalidade relativamente à pena de 8 anos de prisão aplicada no acórdão de 30/9/2015, acordam os Juízes desta 1ª Secção Criminal do Tribunal da Relação do Porto em condenar, agora, o arguido AA na pena única de 7 (sete) anos de prisão» (realce nosso).

1.4. Inconformados, interpuseram recurso para o Supremo Tribunal de Justiça do acórdão do Tribunal da Relação, os arguidos:

1.4.1. GG (fls. 50698; admitido pelo despacho de fls. 51798) que concluiu a motivação nos seguintes termos:

«A – DA PRESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO CRIMINAL

I A Veneranda Relação decidiu que o crime de corrupção só se consuma, para efeitos de início de contagem do prazo de prescrição do procedimento criminal, na data do último pagamento feito pelo corruptor ao corrompido.

II – A ser assim, tendo o último pagamento ao Recorrente sido feito em 20 de Dezembro de 2001, a prescrição do procedimento ainda não ocorreu.

III – O Recorrente entende que tal tese carece de fundamento legal, defendendo uma interpretação extensiva inaceitável e ilegal da letra e do espirito da lei, configurando um atropelo efectivo pela legalidade ordinária e constitucional, ofendendo violenta e arbitrariamente os direitos de defesa dos arguidos, pelo que a decisão de julgar não prescrito o procedimento criminal é errada e contrária à lei, por violação das normas dos Art. 118º, 119º e 120º do C.P.

IV – Nos termos do disposto no Art. 373º do CP, o crime consuma-se, nomeadamente, no momento em que o corrompido aceita a vantagem indevida ou a sua promessa.

V – E, nos termos do disposto no Art. 119º, nº 1, o prazo de prescrição inicia-se na data em que o facto criminoso se tiver consumado.

VI – Esta data da consumação do crime será a data em que a leiloeira foi efectiva e expressamente indicada pelo liquidatário no primeiro processo de insolvência, já que esta indicação seria sempre um indício seguro de que a proposta corruptora teria sido aceite.

VII – Conforme consta dos autos, a primeira vez que o Recorrente indicou a S... para coadjuvar a venda de activos ocorreu no processo de falência da empresa EMPRESA INDUSTRIAL DAS H..., LDA, em 12 de Junho de 1996.

VIII – Ou seja, há mais de 18 anos, pelo que está assim prescrito o procedimento criminal contra o Recorrente pelos crimes que lhe foram imputados e pelos quais foi condenado, prescrição esta que aqui expressamente se invoca e alega para todos os efeitos legais.

B – DA ALTERAÇÃO DOS FACTOS DA PRONÚNCIA: SUBSTANCIAL OU NÃO SUBSTANCIAL?

IX – A Veneranda Relação decidiu julgar improcedente a nulidade alegada pelo Recorrente, tendo decidido que a factualidade acrescentada/modificada pela 1ª Instância não se traduz numa alteração substancial dos factos da pronúncia.

X - Fundamenta-se no facto de que tais factos acrescentados, para além de não configurarem a imputação aos arguidos de crimes diversos, nem qualquer agravação das sanções aplicáveis, também não desfiguram nem desvirtuam a identidade dos factos históricos descritos na pronúncia.

XI – O Recorrente não se conforma com esta douta decisão, entendendo que a mesma é errada e contrária à lei, violadora também do disposto naquele Art. 379º do CPP.

XII – Com as alterações introduzidas verifica-se desde logo que não há coincidência dos sujeitos do crime: onde antes era o arguido DD e os liquidatários, agora são os Arguidos DD e JJ e os liquidatários.

XIII - Por outro lado, onde antes na base do crime estava um “pacto” entre os leiloeiros e os liquidatários, agora é uma “proposta” dos leiloeiros aos liquidatários.

XIV – Onde antes o crime dos liquidatários seria permitir que a leiloeira cobrasse comissões ilícitas aos compradores, agora o crime consubstancia-se e consuma-se em propor a leiloeira ao juíz, ao síndico ou à comissão de credores.

XV – O Tribunal reconheceu expressamente que aquele facto histórico básico da pronúncia (a cobrança ilegal de comissões aos adquirentes de bens das massas falidas), afinal, não é crime.

XVI – Não sendo crime a cobrança de comissão pelo leiloeiro, não se vislumbra como poderia ser crime o facto do liquidatário, tendo conhecimento de tal cobrança de comissão, tenha anuído na mesma com a contrapartida de receber parte dela.

XVII – Assim e ao contrário do sustentado no Douro Acórdão ora em crise, embora se tenha mantido o mesmo tipo legal de crime imputado na pronúncia (corrupção passiva para a prática de acto ilícito), a alteração de factos decidida pelo tribunal foi determinante para que o Recorrente tenha sido condenado por factos diversos dos descritos na pronúncia.

XVIII – Esta alteração dos factos é ilegal e inválida, por violação do disposto no art. 358º do CPP, não podendo por isso ser tomada em conta para a condenação do Arguido.

C- DO CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO PARA EFEITOS PENAIS

XIX – Decidiu a Veneranda Relação que os liquidatários judiciais são abrangidos no conceito legal de funcionário para efeitos penais, confirmando o entendimento da 1ª Instância.

XX – Os Senhores Desembargadores, concordando com alguma Doutrina e alguma Jurisprudência que citam, fazem uma verdadeira interpretação extensiva e analógica da aln. d) do nº 1 do Art. 386º do CP, com a qual o Recorrente se não conforma, entendendo que a mesma é errada, destituída de fundamento de facto e de direito e contrária à Lei, por violação dos princípios gerais de direito penal, nomeadamente o princípio da legalidade e a proibição geral do recurso à analogia estabelecidos no Artigo 1º do Código Penal.

XXI – Entende ainda o Arguido que a interpretação que o Tribunal faz da norma da alínea c) do nº 1 daquele Art. 386º do CPP é inconstitucional, por violação directa e necessária do disposto no Art. 29º da Constituição da República, inconstitucionalidade esta que aqui vai expressamente alegada e invocada para todos os efeitos legais.

XXII – O Arguido entende que o sentido em que o tribunal interpretou o Art. 386º do Código Penal, de forma a incluir o liquidatário judicial no conceito de funcionário é profundamente errado e contrário ao espírito e à letra daquela disposição legal, que foi assim directa e necessariamente violada.

XXIII – Não sendo possível, como não é, enquadrar as funções do Recorrente neste tipo de agente, daí decorre que este não pode ter cometido o crime por foi condenado, que é típico e natural dos funcionários públicos.

XXIV – De resto, a atribuição de poderes jurisdicionais aos gestores e liquidatários judiciais traduzir-se-ia numa violação do princípio constitucional da reserva de jurisdição.

XXV – Por não desempenharem nem participarem no desempenho de funções jurisdicionais que lhes estão vedadas pela Constituição, os gestores e os liquidatários judiciais não são «funcionários» para efeitos da lei penal.

D – DO CRIME DE CORRUPÇÃO PRÓPRIA OU IMPRÓPRIA (PARA A PRÁTICA DE FACTO LÍCITO)

XXVI – Entendeu a Veneranda Relação julgar improcedente o fundamento de recurso de que, in casu, os liquidatários teriam praticado o crime de corrupção passiva para acto lícito, uma vez que, tendo à sua disposição variadas leiloeiras autorizadas a operar no mercado, escolheram aquelas que lhe prometeram partilhar as comissões de venda, quando podiam e deviam não o ter feito, tomando por isso uma decisão diversa da que tomariam se a gratificação (ou a respetiva promessa) não tivesse ocorrido.

XXVII – O Recorrente não se conforma com o Douto Acórdão, também nesta parte, entendendo que a decisão é errada e contrária à lei, por violação do Art. 373º do CP.

XXVIII – A Veneranda Relação confunde o conceito de “mercadejar do cargo” com o acto visado com a peita.

XXIX – Havendo suborno, poderá verificar-se, simplesmente, o tipo legal de crime de corrupção e só depois é que se poderá aferir se essa corrupção do funcionário foi ou seria para a prática de um acto ilícito ou lícito, contrário ou não aos deveres do cargo, nos termos do Art. 373º do CP.

XXX – O Tribunal não sabe – nem pode legitimamente concluir – se o Recorrente teria ou não tomado as mesmas decisões de indicar a S... para leiloeira dos activos das massas falidas, independentemente de ter havido ou não repartição de comissões ou a promessa da mesma.

XXXI – Sendo assim, então o Recorrente teria sido subornado, ou teria aceitado o suborno ou a sua promessa (consistente na repartição das comissões cobradas aos adquirentes), a troco de indicar a S... para proceder à alienação dos activos das massas falimentares que lhe incumbia administrar, ou seja, a corrupção do Recorrente destinar-se-ia à prática, por este, de um acto lícito, por não contrário aos deveres do cargo.

XXXII – Este tipo legal de crime, previsto no Art. 373º, nº 2 do CP, é punível com a pena de 1 a 5 anos e, a ser assim, o procedimento criminal contra o Recorrente prescreveu, prescrição esta que aqui vai expressamente invocada e alegada para todos os efeitos legais.

D [repetido no original] – DO CRIME CONTINUADO

XXXIII – Quanto a esta questão, decidiu a Veneranda Relação confirmar a decisão da 1ª Instância, ignorando totalmente os argumentos alegados pelo Recorrente contra aquela mesma decisão, nomeadamente a sua actuação em consequência de uma única resolução e a verificação de circunstâncias exteriores facilitadoras da repetição dos actos supostamente criminosos. 

XXXIV – Quanto ao requisito da resolução única, a própria acusação/pronúncia imputava aos arguidos o estabelecimento de um pacto criminoso inicial, ou seja, ter-se-á tratado de uma resolução única: um pacto, um acordo entre os leiloeiros e os liquidatários.

XXXV – Depois, a tese acusatória passou a ser a de que os leiloeiros apresentaram uma proposta aos liquidatários de repartição de comissões cobradas aos adquirentes dos activos das massas, a troco de que aqueles os escolhessem para coadjuvar as vendas daqueles activos, proposta esta que terá sido aceite, ou seja uma única resolução criminosa: uma proposta dos leiloeiros e sua aceitação pelos liquidatários.

XXXVI – Quanto às circunstâncias exteriores, era e é prática generalizada e comummente aceite que as leiloeiras cobram comissões aos adquirentes dos bens das massas falidas, comissão esta que repartiam posteriormente com os liquidatários e, quando o Arguido iniciou a sua actividade como liquidatário, já aquela prática existia há várias dezenas de anos, pelo que a tal “circunstância exterior” já existia e estava totalmente instalada e institucionalizada.

XXXVII – Por conseguinte, o Recorrente, a ser condenado, teria sempre de o ser nos termos do disposto no Art. 30º, nº 2 do C.P , pela prática de um único crime de corrupção, na forma continuada, pelo que o Douto Acórdão deverá, nesta parte, ser revogado.

VI [como no original] – DA AGRAVAÇÃO DA PENA E REVOGAÇÃO DA SUSPENSÃO DA SUA EXECUÇÃO.

XXXVIII – Decidiu a Veneranda Relação agravar a pena aplicada pela 1ª Instância ao Recorrente em 10 meses e decidiu ainda revogar a suspensão da sua execução, condenando-o por isso na pena única de 5 anos e 10 meses de prisão efectiva.

XXXIX – O Tribunal de 1ª Instância, para fixar a pena de 5 anos de prisão que aplicou ao Recorrente pela alegada prática de 21 crimes de corrupção passiva para acto ilícito teve em consideração, precisamente, a análise conjunta dos factos, a personalidade do Recorrente e valorizou o facto deste ter sido um administrador das massas falidas zeloso e competente.

XL – Na decisão de suspensão da execução da pena, o Tribunal atendeu às necessidades, extremamente atenuadas, de prevenção geral e especial e ao tempo já decorrido sobre a alegada prática dos factos criminosos.

XLI – Passaram-se já mais de 18 anos sobre a prática dos factos e mais de 15 anos sobre a data em que os mesmos se tornaram públicos e foram amplamente publicitados na imprensa.

XLII – É um facto público e notório, amplamente divulgado e conhecido que a situação descrita nos autos e que levou à acusação e condenação dos liquidatários e leiloeiros, não sofreu qualquer alteração substancial e, hoje como sempre, os actuais administradores das massas insolventes continuam a indicar e a contratar os serviços de leiloeiras para procederam à alienação dos activos das massas, actividade pela qual estas cobram comissões sobre o preço a pagar pelos adquirentes.

XLIII – O Recorrente, conforme foi dado por provado, é economista de profissão, pai de família, vivendo do seu trabalho e levando uma vida cumpridora e conforme ao direito, perfeitamente integrado no seu meio e na sociedade e deixou a actividade de administração de massas insolventes.

XLIV – Não existem por isso quaisquer motivos ou fundamentos, de ordem de prevenção geral ou de prevenção especial, que possam justificar o agravamento da pena e a revogação da suspensão da execução.

XLV – Deve assim o Douto Acórdão nesta parte ser revogado, mantendo-se a decisão da 1ª Instância.

Nestes termos e nos mais de Direito que V.Exªs doutamente suprirão, deve o presente recurso ser admitido e merecer provimento e, a final:

a) ser declarada a prescrição do procedimento criminal ou, assim se não entendendo,

b) ser declarada a nulidade do Acórdão recorrido por via das alterações substanciais ilegalmente efectuadas aos factos da pronúncia ou, assim se não entendendo,

c) ser decidida a questão do liquidatário ser ou não ser funcionário para efeitos penais, com a consequente absolvição do Recorrente e, se também assim se não entender,

d) Ser julgado que as condutas do Recorrente configuram o tipo legal de crime de corrupção imprópria (para a prática de acto lícito), com todas as consequências legais, nomeadamente de prescrição do procedimento criminal ou, se ainda assim se não entender

e) Ser julgada a conduta do Recorrente como um único crime de corrupção, na forma continuada, com todas as consequências legais.

f) A manter-se o julgado, deve ser revogada a pena de prisão efectiva de 5 anos e 10 meses determinada pela Veneranda Relação, mantendo-se o decidido na 1ª Instância».

1.4.2. DD (fls 50762-A, 50787/51391, cujas conclusões – de que retiramos as notas de rodapé – corrigiu (fls. 51651 e 51654), tendo o recurso sido admitido, com essas corecções, pelo despacho de fls. 51784.

Juntou com a motivação (fls. 51392) um parecer subscrito pelos Senhores Professores Costa Andrade e Cláudia Maria Cruz Santos.

São do seguinte teor as conclusões, depois de rectificadas:

«DA NULIDADE DA DECISÃO PROFERIDA PELO TRIBUNAL DE 1.ª INSTÂNCIA, EM 12 DE JULHO DE 2013, (i) POR CONSIDERAÇÃO DE FACTOS QUE SE TRADUZEM EM ALTERAÇÃO SUBSTANCIAL FACE AO OBJECTO PROCESSUAL CONFIGURADO NA DECISÃO INSTRUTÓRIA; (ii) POR CONSIDERAÇÃO DE FACTOS QUE SE TRADUZEM EM ALTERAÇÃO SUBSTANCIAL FACE AO OBJECTO PROCESSUAL CONFIGURADO NO ACORDÃO DO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO QUE DETERMINOU O REENVIO PARCIAL DOS AUTOS PARA NOVO JULGAMENTO, (iii) E POR, NALGUNS CASOS, OS FACTOS NOVOS CONSIDERADOS SE ENCONTRAREM EXCLUÍDOS DO ÂMBITO DE COGNIÇÃO DO TRIBUNAL A QUO; (iv) BEM COMO DA NULIDADE DO ACÓRDÃO RECORRENDO POR OMISSÃO DE PRONÚNCIA

1. A decisão do Tribunal de 1.ª instância proferida no dia 12 de Julho de 2013 veio a considerar provados factos que consubstanciam alteração substancial face aos factos que constavam da Acusação e da Decisão Instrutória.

2. A prolação de uma decisão de reenvio – como aquela que foi proferida nestes autos em 9 de Julho de 2010 – não implica a postergação do princípio da vinculação temática dos autos ao Despacho de Acusação ou à Decisão Instrutória, nem gera uma regra diferenciada, face à que consta do disposto no artigo 359.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, no sentido segundo o qual do novo julgamento poderão resultar factos que constituam alteração substancial face ao Despacho de Acusação ou à Decisão Instrutória.

3. Atento o referido nas conclusões precedentes, a decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância, no dia 12 de Julho de 2013, ostenta a nulidade cominada no artigo 379.º, n.º 1, alínea b), do Código de Processo Penal, nulidade que, para todos os efeitos legais, o Arguido DD deixou expressamente arguida no seu recurso e aqui reitera.

4. Acresce que todos os factos que não se enquadram no objecto processual definido pela decisão de reenvio encontravam-se excluídos do âmbito de cognição do Tribunal de 1.ª instância, pelo que a sua consideração na decisão proferida no dia 12 de Julho de 2013 resulta na nulidade desta última, nos termos do disposto no artigo 379.º, n.º 1, alínea c), do Código de Processo Penal, nulidade que o Arguido DD alegou, para todos os efeitos legais, no seu recurso e aqui reitera.

5. Por seu turno, as partes da decisão firmada pelo Tribunal a quo em 12 de Janeiro de 2009 que não foram objecto de impugnação em sede dos recursos interpostos, transitaram em julgado. Sendo que as alterações factuais assumidas pelo Tribunal de 1.ª instância na decisão proferida em 12 de Julho de 2013 que colidem com as partes da decisão de 12 de Janeiro de 2009 que se encontrem a coberto de caso julgado, geram a nulidade da decisão proferida no dia 12 de Julho de 2013, nos termos do disposto no artigo 379.º, n.º 1, alínea c) parte final, do Código de Processo Penal. Nulidade que o Arguido também invocou, para todos os efeitos legais, no recurso que apresentou dessa decisão, e aqui reitera.

6. A validade da decisão sob recurso tem, in casu, de contar com três limites: a) o limite imposto pela Acusação/Pronúncia; b) o limite imposto pelo âmbito do reenvio; c) o limite imposto pelos factos antes provados e não provados e não colocados em causa por recursos da primeira decisão da 1.ª instância.

7. Todas as alterações que contendam com a configuração dos elementos essenciais do facto punível não poderão ter o tratamento processual previsto no artigo 358.º, do Código de Processo Penal, sob pena de a decisão final vir a incorrer na nulidade prevista no artigo 379.º, n.º 1, alínea b), do mesmo Código.

8. Note-se que o Arguido, em nenhum momento, se conformou com a qualificação da alteração factual que lhe foi comunicada pelo Tribunal a quo em 22 de Fevereiro de 2013 (alteração essa qualificada como “possível” e como “não substancial”), tendo reagido a tal alteração e à qualificação que à mesma coube.

9. Só com a prolação da decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância, no dia 12 de Julho de 2013, é que a nulidade resultante do disposto nos artigos 1.º, alínea f), 359.º, n.º 1, e 379.º, n.º 1, alínea b), todos do Código de Processo Penal, se materializou.

ALTERAÇÃO INTRODUZIDA NO PONTO 13, DOS FACTOS DADOS COMO PROVADOS PELO ACÓRDÃO DA 4.º VARA CRIMINAL DO PORTO DE 12 DE JANEIRO DE 2009

10. De acordo com a Decisão Instrutória, o Arguido DD (e a Arguida JJ), conjuntamente com outros Arguidos responsáveis pela gestão de leiloeiras, teriam acordado obter benefícios indevidos à custa das massas falidas, no âmbito de processos para cuja liquidação tais leiloeiras fossem nomeadas, nomeação essa a levar a cabo pelos liquidatários com os quais os Arguidos se propunham dividir os proventos económicos que resultassem da liquidação das massas falidas.

11. De referir ainda que, na óptica da Decisão Instrutória, a actuação imputada ao Arguido DD (e à Arguida JJ) teria lesado as massas falidas (rectius, os credores) e era o Arguido DD (e a Arguida JJ) quem exercia influência sobre os funcionários judiciais, que influenciariam os juízes titulares dos processos de falência no sentido da nomeação dos liquidatários com quem o Arguido DD (e a Arguida JJ) já tinha previamente acordado na repartição dos proventos que viessem a resultar da liquidação.

12. No acórdão proferido em 12 de Janeiro de 2009 pelo Tribunal de 1.ª instância, nomeadamente ponto 13 da matéria de facto provada, do elenco da factualidade provada, não se faz qualquer referência à existência de qualquer pacto prévio entre a Arguida JJ e o Arguido DD.

13. A alteração introduzida no ponto 13, da matéria de facto provada, na decisão proferida no dia 12 de Julho de 2013, é da maior relevância, porquanto diferentemente do que sucedia na redacção do ponto 13, dos factos dados como provados no Acórdão da 4.ª Vara Criminal do Porto de 12 de Janeiro de 2009, contra todas as advertências constantes da decisão de reenvio e ao arrepio da prova produzida, inclui a Arguida JJ num suposto acordo prévio com o Arguido DD, e refere que o Arguido DD proporia aos liquidatários a repartição dos proventos que obteria com a liquidação das massas falidas, o que condicionaria os liquidatários no exercício das suas funções, violando estes, em consequência desse “condicionamento”, os seus deveres funcionais.

14. Face ao que constava da Decisão Instrutória, por um lado, deixámos de ter qualquer referência aos funcionários judiciais, os quais, supostamente, seriam os destinatários da “abordagem” do Arguido DD, e, por outro lado, no que diz respeito ao acto-fim, este deixou de ser o pagamento dos serviços aos leiloeiros em desacordo com as regras constantes do artigo 34.º, do Código das Custas Judiciais, através do pagamento de comissões, em prejuízo das massas falidas.

15. Face à decisão de reenvio, temos a “novidade” consubstanciada no suposto pacto prévio entre a Arguida JJ e o Arguido DD e a referência a um acto-fim que, correspondendo a uma das alternativas nesse tocante apontadas pelo Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 9 de Julho de 2010 é, justamente, a alternativa que, nessa sede, se referia não corresponder a qualquer ilícito.

16. Por seu turno, no ponto 30, dos factos dados como provados na decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância, no dia 12 de Julho de 2013, concluiu o Tribunal a quo que: “Em data não concretamente apurada, mas anterior a Março de 1995, em execução do plano previamente gizado entre os arguidos DD e JJ, descrito no ponto 13), o arguido DD propôs ao Arguido AA que este escolhesse a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular nos autos de liquidação dos activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilhando, em contrapartida, quaisquer proveitos que a S... ou os arguidos viessem a auferir, designadamente os valores recebidos dos adjudicatários ou compradores desses bens, a título de comissões.”

17. A alteração referida na conclusão anterior é replicada, nos seus exactos termos, a propósito dos supostos acordos firmados entre o Arguido DD e os liquidatários AA (vide o ponto 30, dos factos provados) QQ (vide o ponto 442, dos factos provados); GG (vide o ponto 543, dos factos provados); RR (vide o ponto 826, dos factos provados); TT (vide o ponto 896, dos factos provados); UU (vide o ponto 1026, dos factos provados); LLL (vide o ponto 1048, dos factos provados); BBB (vide o ponto 1109, dos factos provados); AAA (vide o ponto 1120, dos factos provados); MMM (vide o ponto 1130, segunda parte, dos factos provados); e VV (vide o ponto 1156, dos factos provados).

18. Relativamente a cada um dos liquidatários, refere-se que os actos que lhes são imputados se fundaram no conhecimento das “propostas” referidas nos pontos 442, 543, 826, 896, 1026, 1109, 1120, 1130 e 1156, da matéria de facto.

19. Tal alteração corporiza um novo facto, o qual consistiria numa nova forma de actuação dos Arguidos JJ e DD, através de um facto novo situado a montante dos factos típicos, por forma a estabelecer a ligação entre a Arguida JJ e estes factos, razão pela qual tal alteração deverá ser tida como substancial.

20. Face ao que se encontrava referido na Decisão Instrutória e na primeira decisão da 4.ª Vara Criminal do Porto, os actos imputados ao Arguido DD (e à Arguida JJ) deixaram de prosseguir a remuneração em condições mais vantajosas do que aquelas que decorreriam da sua actividade profissional normal, para passarem a visar a intervenção da S... na liquidação do património das falidas.

21. Com a alteração da redacção do novo ponto 13), da matéria de facto dada como provada no acórdão de 12 de Janeiro de 2009, o Tribunal a quo altera, igualmente, o teor do anterior ponto 14), dessa mesma matéria, donde constava, imediatamente a seguir ao ponto 13), o seguinte: “A S... propunha-se dividir com esses liquidatários parte da comissão cobrada aos compradores dos bens da massa falida, de forma a garantir a continuação das relações entre as partes.”

22. Também quanto a este ponto, estamos perante alterações substanciais de factos: num caso por alteração do agente de uma acção que, à luz da Decisão Instrutória e da decisão de 12 de Janeiro de 2009, era configurada como tipicamente relevante e, por outro lado, temos uma alteração quanto ao próprio modo de manifestação da conduta típica.

23. Todas as alterações referidas, ao terem sido contempladas na decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância no dia 12 de Julho de 2013, redundam na nulidade desta, nulidade essa que se funda no disposto no artigo 1.º, alínea f), 359.º, n.º 1 e 379.º, n.º 1, alínea b), do Código de Processo Penal, e que, para todos os efeitos legais, o Arguido invocou no seu recurso, e, nesta sede, reitera.

EM CONCRETO, E NO QUE DIZ RESPEITO ÀS ALTERAÇÕES FACTUAIS QUE SE REFEREM ÀS FALÊNCIAS T...F...., CONSTRUÇÕES A...V...., E...B.... E P... MALHAS:

24. No que diz respeito aos factos relativos à falência “T...F....”, e ao contrário do que resultava da Decisão Instrutória, o Arguido DD (e a Arguida JJ) teria intervindo na compra dos bens que integravam as verbas 1 a 11, da massa falida, tendo (aparentemente) recebido de GGG 1.000.000$00, sendo que tal montante teria correspondido a um prejuízo para a falência.

25. Para além disso, a descrição da conduta típica deixa de ter na sua centralidade a S..., para passar a referir-se aos Arguidos DD e JJ, ao que acresce a circunstância de cobrar comissão sobre a venda dos bens da falida não poder equivaler a causar prejuízo à falida.

26. Esta nova factualidade, correspondendo a uma actuação inteiramente diversa daquela que estava imputada à S... (e não aos Arguidos DD e JJ), não poderá deixar de ser tida como alteração substancial de factos, tendo tal alteração sido considerada na decisão final, a mesma ostenta a nulidade resultante do disposto nos artigos 1.º, alínea f), 359.º, n.º 1 e 379.º, n.º 1, alínea b), do Código de Processo Penal, nulidade que, para todos os efeitos legais, o Arguido DD invocou no seu recurso, e aqui reitera.

27. Por outro lado, atendendo ao âmbito da decisão de reenvio, no que diz respeito a este processo de falência, ter-se-á de concluir que nenhuma das questões formuladas nas pp. 832 a 835, do Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, logra obter resposta.

28. Sendo certo, também, que a alteração consistente na imputação aos Arguidos DD e JJ de um prejuízo causado à massa falida ultrapassa o âmbito das questões formuladas no reenvio, pelo que tal questão está excluída do âmbito de cognição deste Tribunal, razão pela qual a decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância, no dia 12 de Julho de 2013, ostenta, também por aqui, a nulidade cominada no artigo 379.º, n.º 1, alínea c), parte final, do Código de Processo Penal, nulidade que, para todos os efeitos legais, se deixou expressamente invocada no recurso apresentado pelo Arguido DD, e agora se reitera.

29. No que diz respeito aos factos relativos à falência “Construções Â...V...., face ao que constava da Decisão Instrutória, deixa de referir-se que a S... fora nomeada coadjuvante na liquidação do património da falida, para passar a referir-se que a S... interveio na negociação dos bens que integravam esse património “à margem do processo de falência”.

30. Passa a referir-se, igualmente, que o Arguido GG teria anuído a que a S... interviesse na negociação dos bens da falida porque sabia que os Arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos decorrentes da intervenção da S... na negociação, por qualquer forma, dos bens das falidas.

31. Esta alteração não poderá deixar de ser considerada uma alteração substancial de factos, na medida em que atribui aos Arguidos uma actuação completamente diversa daquela que constava da Decisão Instrutória, sendo a suposta contrapartida também diversamente qualificada.

32. Neste sentido, tal alteração não podia, nos termos do disposto nos artigos 1.º, alínea f), 359.º, n.º 1 e 359.º, n.º 1, 379.º, n.º 1, alínea b), do Código de Processo Penal, ter sido contemplada na decisão proferido pelo Tribunal de 1.ª instância no dia 12 de Julho de 2013, o que, tendo, afinal, sucedido, importa a sua nulidade, nulidade que o Arguido DD invocou, para todos os efeitos legais, no seu recurso, e agora reitera.

33. Em face de terem sido dados como não provados os pontos 132 a 134 da matéria de facto não provada (não tendo essa parte da decisão de 12 de Janeiro de 2009 sido impugnada, encontrando-se, por isso, a coberto de caso julgado), concluiu o Tribunal da Relação do Porto que inexistiam razões para que o Tribunal de 1.ª instância tivesse dado como provada a obtenção, por parte da S..., de um lucro de 120.000$00, suposto lucro esse que, agora volta a ser assumido.

34. Todavia, esse suposto lucro surge referido nos pontos 638, 650, 660, 672, 745, 780, da matéria de facto provada, como tendo sido obtido pela S..., quando tal matéria foi dada como não provada, nos pontos 132 a 134, do Acórdão da 4.ª Vara Criminal do Porto de 12 de Janeiro de 2009 – matéria que, sublinhe-se, não foi objecto de qualquer impugnação, encontrando-se, por isso, a coberto de caso julgado.

35. Uma vez que tal matéria se encontra escudada pelo trânsito em julgado que recaiu sobre os pontos 132 a 134, dos factos dados como não provados no primeiro Acórdão proferido pela 4.ª Vara Criminal do Porto, a contemplação da mesma na decisão proferida no dia 12 de Julho de 2013 é causa geradora da nulidade cominada no artigo 379.º, n.º 1, alínea c), segunda parte, do Código de Processo Penal, a qual, para todos os efeitos legais, foi invocada pelo Arguido DD no seu recurso, e aqui se reitera.

36. A consideração, como não provada, da matéria constante do ponto 141 implica que, no que diz respeito à matéria referida no ponto 670, dos factos provados, o mínimo que pode divisar-se é uma contradição – que também inquina a decisão proferida em 12 de Julho de 2013 pelo Tribunal de 1.ª instância.

37. Relativamente à falência “E...B....”, resultava do ponto 1380, dos factos dados como provados no Acórdão da 4.ª Vara Criminal, de 12 de Janeiro de 2009, que a S... não fora nomeada coadjuvante da venda. Essa alteração, face ao que constava da Decisão Instrutória já era, per se, substancial.

38. Todavia, a decisão proferida no dia 12 de Julho de 2013 afirmou que o Arguido DD negociou bens da falida fora do respectivo processo.

39. Acresce que a suposta contrapartida, neste caso, deixou de referir-se à nomeação da S... como coadjuvante da venda, para passar a ter por objecto a permissão da intervenção da S... na negociação dos activos.

40. Esta alteração não poderá, por isso, deixar de ser qualificada como alteração substancial, já que está em causa a completa alteração da conduta imputada, transmutando-a em realidade absolutamente diversa, pelo que a mesma, e ante a oposição do Arguido à sua inclusão no objecto destes autos, não poderia ser considerada na decisão a proferir (por força do disposto nos artigos 1.º, alínea f), 359.º, n.º 1, do Código de Processo Penal), sob pena de existir a nulidade resultante do disposto no artigo 379.º, n.º 1, alínea b), do mesmo Código, nulidade que o Arguido deixou expressamente invocada, para todos os efeitos legais, e aqui reitera.

41. No que concerne aos factos relativos à falência da “P... Malhas”, as alterações efectuadas nos pontos 447 a 452 da matéria de facto provada, que se prendem com a referência ao conhecimento, por parte de QQ, da suposta intenção de o Arguido DD (e a Arguida JJ) com ele partilhar os ganhos resultantes das liquidações de activos em que tivesse intervenção e de o montante que lhe teria sido entregue ter servido de contrapartida da proposta que teria feito à Comissão de Credores, no sentido de a S... proceder à venda dos bens da falida, são da maior relevância, uma vez que da Decisão Instrutória não constava tal referência, dizendo-se apenas que, a dada altura, o Arguido QQ teria recebido “a sua parte no negócio”, sem nunca se especificar, todavia, que “negócio” seria esse.

42. Estas alterações reconfiguram completamente a conduta imputada ao Arguido DD (e à Arguida JJ), não constituindo uma mera concretização do que constava da Decisão Instrutória, pelo que a mesma não poderá deixar de ser tida como alteração substancial de factos, nos termos do disposto no artigo 1.º, alínea f) e 359.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, sendo que, não tendo dado o Arguido DD o seu acordo à sua inclusão no objecto destes autos, a mesma não poderia ser considerada na decisão final, sob pena de existir a nulidade cominada no artigo 379.º, n.º 1, alínea b), do Código de Processo Penal, que se deixou expressamente arguida, para todos os efeitos legais, no recurso apresentado pelo Arguido DD, e aqui se reitera.

43. No âmbito das falências “Supermercados G....” e “I....”, encontram-se assentes, por não terem sido objecto de impugnação na sequência da prolação do Acórdão da 4.ª Vara Criminal do Porto, de 12 de Janeiro de 2009, os factos que, nessa decisão, foram dados como provados nos pontos 1493 a 1501.

44. Assim sendo, as alterações constantes dos pontos 313 e 314, onde se refere o suposto recebimento de quantias, por parte dos Arguidos DD e JJ, a título de sinal, consubstanciam alterações que não são consentidas pela preclusão resultante do trânsito em julgado dos pontos 1493 a 1501, dos factos dados como provados no Acórdão da 4.ª Vara Criminal do Porto, de 12 de Janeiro de 2009, razão pela qual a consideração dos mesmos na decisão proferida no dia 12 de Julho de 2013 redunda, também, na nulidade resultante do disposto no artigo 379.º, n.º 1, alínea c), segunda parte, do Código de Processo Penal, nulidade que, para todos os efeitos, se deixou expressamente arguida no recurso apresentado pelo Arguido DD, e aqui se reitera.

45. No que diz respeito à falência “Supermercados G....”, não obstante as advertências e o âmbito do reenvio, e que constam de pp. 997 e 998, do Acórdão de reenvio, o que é certo é que as alterações factuais introduzidas não só não dão resposta a muitas das questões formuladas na decisão de reenvio, como surgem, a nosso ver, desamparadas de qualquer prova sustentada no que concerne à determinação dos supostos proveitos obtidos pelo Arguido DD.

46. Era, pois, necessário, referir quando é que tais montantes deram entrada na(s) conta(s) titulada(s) pelos Arguidos, que tipo de aplicação financeira as teve por objecto e o montante efectivamente produzido em juros.

47. Sem estes elementos, obviamente, não se vê como possa sustentar-se a imputação ao Arguido DD de responsabilidade criminal, seja por qualquer uma das modalidades de crime de peculato, seja por qualquer outra infracção penal, como adiante melhor se verá.

48. No que diz respeito aos factos relativos à falência “I....”, valem quanto a esta falência os aspectos já focados quanto à falência “Supermercados G....”, no que concerne à preclusão resultante do trânsito em julgado de parte do objecto do processo, relativamente aos factos constantes dos pontos 1493 a 1501, do Acórdão da 4.ª Vara Criminal do Porto de 12 de Janeiro de 2009, e no que à falta de resposta às questões abarcadas pelo reenvio, que, (também) quanto a esta falência, eram formuladas naquela decisão e quanto à prescrição do eventual crime em causa, com a mesma conclusão, a saber, a nulidade da decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância, no dia 12 de Julho de 2013, com fundamento no disposto no artigo 379.º, n.º 1, alínea c), segunda parte, do Código de Processo Penal.

DA INADAMISSIBILIDADE DA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA GIZADA PELO TRIBUNAL A QUO NO ACÓRDÃO RECORRENDO:

                A alteração substancial de factos da pronúncia

49. Contrariamente ao sustentado pelo Tribunal a quo, e tomando em consideração tudo quanto se explicará adiante, não poderá deixar de concluir-se que o poder de cognição do Tribunal de 1.ª instância, quando do novo julgamento e da prolação da decisão de 12 de Julho de 2013, estava efectivamente limitado tanto pela decisão de reenvio, como pelos factos dados por provados e não provados na decisão de 12 de Janeiro de 2009 que não foram impugnados, o que, como melhor se deixou explicado supra, conduz inevitavelmente à conclusão de que a decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância, no dia 12 de Julho de 2013, é nula, por força da aplicação conjugada dos artigos 1.º, alínea f), 359.º, n.º 1, e 379.º, n.º 1, alínea b), todos do Código de Processo Penal.

50. Mas, mesmo que assim não se entenda, o que não se admite nem se concede e apenas por cautela e dever de patrocínio se equaciona, ainda assim, sempre teria de concluir-se que no caso sob escrutínio, e por comparação única e exclusiva com a Decisão de Pronúncia, ocorreu uma alteração substancial dos factos, geradora de nulidade da decisão proferida no dia 12 de Julho de 2013, pelo menos, quanto aos pontos 13 e 14 da matéria de facto dada por provada.

51. Com referência ao ponto 13 da matéria de facto dada por provada, por comparação com a Decisão de Pronúncia: por um lado, na decisão proferida no dia 12 de Julho de 2013, deixou de existir qualquer referência aos funcionários judiciais, os quais, supostamente, seriam os destinatários da “abordagem” do Arguido DD, para que influenciassem os juízes titulares dos processos de falência no sentido da nomeação dos liquidatários com quem os Arguidos DD e JJ já tinham previamente acordado na repartição dos proventos que viessem a resultar da liquidação, passando essa abordagem do Arguido DD (e da Arguida JJ) a ser feita directamente aos liquidatários judiciais a quem este proporia a repartição dos proventos que obteria com a liquidação das massas falidas;

52. E, por outro lado, na decisão proferida no dia 12 de Julho de 2013, os actos imputados ao Arguido DD (e à Arguida JJ) deixaram de prosseguir a remuneração em condições mais vantajosas do que aquelas que decorreriam da sua actividade profissional normal, para passarem a visar a escolha e a intervenção da S... na liquidação do património das falidas.

53. Com referência ao ponto 14 da matéria de facto dada por provada, e, novamente, por comparação com a Decisão de Pronúncia, verifica-se que de acordo com a versão dos factos constante da decisão proferida no dia 12 de Julho de 2013, por um lado, passam a ser os Arguidos DD e JJ, e não a S... como se dizia na Pronúncia, a propor a repartição de quaisquer valores que viessem a auferir no âmbito da liquidação do património das falências com os liquidatários;

54. Por outro lado, a decisão proferida no dia 12 de Julho de 2013, ao invés de se falar em partilha de comissões (por parte da S...), passa a falar em “propostas” endereçadas pelo Arguido DD a cada um dos liquidatários.

55. Termos em que, não tendo dado o Arguido o seu acordo à inclusão de qualquer uma destas alterações de factos no objecto destes autos, a mesma não poderia ter sido, como foi, considerada na decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância no dia 12 de Julho de 2013, gerando assim a nulidade desta nos termos do disposto no artigo 379.º, n.º 1, alínea b), do Código de Processo Penal, pelo que, também neste tocante, deverá o Acórdão recorrendo ser revogado e substituído por outro que declare a mencionada nulidade, para todos os efeitos legais.

Da nulidade do Acórdão do Tribunal da Relação recorrendo por omissão de pronúncia

56. O Arguido DD invocou de forma expressa, clara e objectiva, nos termos e para os efeitos do disposto nos artigos 1.º, alínea f), 359.º, n.º 1, e 379.º, n.º 1, alínea b), do Código de Processo Penal, nas conclusões (xxvii) a (lv) do seu recurso, a nulidade da decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância, no dia 12 de Julho de 2013, decorrente da alteração substancial dos factos relativos: (i) à falência “T...F....”, (ii) falência “Construções Â...V...., (iii) falência “E...B...., e (iv) falência “P... Malhas.

57. Sucede, porém que o Tribunal a quo não se pronunciou, em parte alguma do Acórdão recorrendo, sobre tais nulidades efectivamente suscitadas pelo Arguido, nulidades essas que, como não poderia deixar de ser, consubstanciam questões processuais (de direito) relevantes para a decisão da causa, e com grandes implicações na responsabilidade penal do Arguido DD, pelo que o Acórdão recorrendo sempre estará ferido de nulidade, nos termos dos artigos 379.º, n.º 1, alínea c), e 425.º, n.º 4, do Código de Processo Penal, nulidade essa que agora se argúi para todos os efeitos legais.

A nulidade por violação da decisão de reenvio - Por excesso de pronúncia

58. É falso que o Arguido DD não tenha conseguido autonomizar o alegado excesso de pronúncia por violação da decisão de reenvio daqueloutro excesso que resultaria da preclusão ou aquisição processual dos factos fixados na decisão do Tribunal de 1.ª instância proferida no dia 12 de Janeiro de 2009. O que se comprova facilmente através da análise comparativa dos vícios de excesso de pronúncia invocados pelo Arguido DD, no seu recurso, a propósito da matéria de facto relativa à falência “T...F....”, e da matéria de facto relativa à falência “Construções Â...V...., a pp. 53 e pp. 59, respectivamente.

59. No primeiro, o Arguido alega que o Tribunal de 1.ª instância decidiu para além do âmbito de cognição imposto pela decisão de reenvio, e que, por isso, a decisão está ferida de nulidade, ao passo que no segundo, o Arguido argui a nulidade da decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância, no dia 12 de Julho de 2013, também por excesso de pronúncia, mas, desta feita, resultante da decisão e consequente alteração de factos já transitados em julgado.

60. Assim sendo, impõe-se a revogação do Acórdão recorrendo, e a sua substituição por outro que declare a nulidade da decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância, no dia 12 de Julho de 2013, nos termos do disposto no artigo 379.º, n.º 1, alínea c), do Código de Processo Penal.

A nulidade por violação da decisão de reenvio - Por omissão de pronúncia

61. O Tribunal da Relação do Porto na decisão de reenvio não determinou a repetição total do julgamento quanto a todos os crimes pelos quais os Arguidos não haviam sido absolvidos, de outra forma, em relação a esses crimes, por ter diagnosticado diversas nulidades e vícios que inquinavam a decisão de 1.ª instância, chamou o Tribunal de 1.ª instância a pronunciar-se novamente mas apenas sobre determinadas questões que elencou, de forma exaustiva na decisão de reenvio, e que, por isso, careciam obrigatoriamente, e nos termos da Lei, de uma resposta por parte do Tribunal de 1.ª instância, independentemente do sentido da resposta.

62. O Tribunal de 1.ª instância, desrespeitando a decisão de reenvio, não deu resposta a todas essas questões que compunham a decisão de reenvio, nomeadamente, não deu resposta às questões formuladas a pp. 997 e 998, do Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 9 de Julho de 2010, referentes às falências “Supermercados G....” e “I....”, motivo pelo qual o Arguido alegou a nulidade da decisão por total omissão de pronúncia, e não por omissão de pronúncia num determinado sentido.

63. Assim sendo, não pode senão improceder a argumentação do Tribunal a quo, impondo-se, consequentemente, a revogação do Acórdão recorrendo, e a sua substituição por outro que declare a nulidade da decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância, no dia 12 de Julho de 2013, nos termos do disposto no artigo 379.º, n.º  1, alínea c), do Código de Processo Penal.

A nulidade por violação do “caso julgado parcial

64. É falso, e não decorre da Lei, nem encontra acolhimento nos princípios estruturais do processo penal português (nomeadamente, princípios da cindibilidade do recurso, da economia processual e do máximo aproveitamento dos actos), que em todos os casos em que o reenvio tenha por objecto questões de facto relativas à determinação da responsabilidade penal do Arguido (“questão da culpabilidade”), por contraposição a questões de facto relativas à determinação da sanção, o reenvio será sempre total, mesmo quando, como sucede no caso dos presentes autos, o Tribunal de reenvio circunscreva o poder de cognição do tribunal inferior a determinadas questões de facto, expressamente enunciadas na decisão de reenvio

65. O artigo 426.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, determina que, sempre que, por existirem os vícios referidos nas alíneas do n.º 2 do artigo 410.º do Código de Processo Penal, não for possível decidir da causa, o tribunal de recurso reenvie o processo para novo julgamento, sendo que, o novo julgamento pode incindir sobre a totalidade do objecto do processo ou sobre questões concretamente identificadas na decisão de reenvio.

66. O Tribunal de reenvio assume, assim, uma função delimitadora do objecto do novo julgamento, limitando, desta forma, o poder decisório do tribunal inferior, que não poderá nunca, por seu livre arbítrio, conhecer para além de tal objecto, atenta a cadeia hierárquica que se estabelece entre ambos e a íntima conexão entre o decidido nas instâncias, dada a decorrência lógica entre a solução a alcançar.

67. Nestes termos, in casu, e por estarmos perante um caso de reenvio parcial, atenta a dita fundação delimitadora do Tribunal da Relação do Porto, enquanto Tribunal de reenvio, uma primeira conclusão se impõe: o Tribunal de 1.ª instância, enquanto Tribunal inferior, estava, sob pena de nulidade, por excesso de pronúncia, limitado ao objecto processual nos exactos termos em que o mesmo foi definido na decisão de reenvio.

68. Mas conclui-se ainda que todos os factos que, tendo sido dados por provados ou por não provados na decisão do Tribunal de 1.ª instância, proferida no dia 12 de Julho de 2013, não foram objecto de impugnação, e/ou que o Tribunal de recurso, no âmbito do conhecimento oficioso, não considerou viciados nos termos do disposto no artigo 410.º, n.º 2, do Código de Processo Penal, e, por isso, não foram enquadrados nas mencionadas questões formuladas pelo Tribunal de recurso, encontravam-se também excluídos do âmbito de cognição do Tribunal de 1.ª instância, formando-se quanto a eles, aquilo que a doutrina e jurisprudência italianas apelidam de “caso julgado progressivo”.

69. E não se tente alegar, por não fazer qualquer sentido, que sempre os poderia alterar oficiosamente nos termos do artigo 410.º, n.º 2, do Código de Processo Penal, porquanto essa é uma faculdade que a lei confere, como não poderia deixar de ser, exclusivamente ao Tribunal de recurso, e que nos casos em que exista reenvio não se transfere para o Tribunal de 1.ª instância.

70. Assim sendo, impõe-se a conclusão de que a decisão do Tribunal de 1.ª instância, proferida no dia 12 de Julho de 2013, se encontra ferida de nulidade, por excesso de pronúncia (379.º, n.º 1, alínea c), do Código de Processo Penal), nos termos supra melhor alegados, devendo, em consequência, ser revogado, neste tocante, o Acórdão recorrendo, substituindo-se por outro que declare a mencionada nulidade, para todos os efeitos legais.

DA IMPUTAÇÃO AOS ARGUIDOS DA PRÁTICA DE ONZE CRIMES DE CORRUPÇÃO PARA ACTO ILÍCITO, NA MODALIDADE RESULTANTE DO DISPOSTO NOS ARTIGOS 374.º, N.º 1, E 386.º, N.º 1, ALÍNEA C), DO CÓDIGO PENAL

71. Os poderes de facto que podem fundar, em abstracto, a prática de um crime de corrução, têm de ser poderes que o agente (passivo) detenha por força do seu cargo.

72. A Lei, taxativamente, atribuía, quer, no âmbito do período de vigência do C.P.E.R.E.F. – designadamente, em função do disposto nos artigos 134.º, n.º 3, e 181.º, n.º 2, desse Código – quer no âmbito do período de vigência do Decreto-Lei n.º 177/86, de 2 de Julho – que alterou, designadamente, o disposto no artigo 1246.º, n.º 1 e 1247.º, n.º 2, do Código de Processo Civil – a competência para a escolha da modalidade da venda e a possibilidade de intervenção de leiloeiras no processo de liquidação de massas falidas ao síndico e à comissão de credores.

73. Isto significa que a competência legal para a prática dos supostos actos-fim referidos nos pontos 30, 442, 543, 826, 896, 1026, 1048, 1109, 1120, 1130 e 1156, dos factos dados como provados, não assistia aos administradores/liquidatários judiciais, ou seja,

74. A possibilidade de escolha e intervenção de leiloeiras no processo de liquidação das massas falidas era um acto que dependia da decisão, ou do síndico (no regime anterior ao C.P.E.R.E.F.) ou da comissão de credores (no regime resultante do C.P.E.R.E.F.), pelo que não pode considerar-se tal possibilidade dependente da actuação do administrador ou liquidatário judicial.

75. Os actos-fim dos crimes de corrupção podem ser actos (legal ou factualmente) compreendidos na esfera de actuação dos funcionários, mas inexistirá crime de corrupção quando o acto-fim (i) se encontre excluído das competências legais do funcionário ou (ii) seja materialmente impossível ao funcionário levar o acto-fim a cabo, designadamente porque não lhe assiste competência legal para o efeito.

76. Admitir que o funcionário poderia ser corrompido independentemente de ter ou não competência legal (e tendo em linha de conta que os poderes de facto relevantes nesta sede apenas assistem a quem tem a competência legal) implicaria a admissibilidade de crimes de corrupção sem objecto de acção, situação que, em todo o caso, consubstanciaria tentativa impossível de corrupção, não punível, nos termos do disposto no artigo 23.º, n.º 3, segunda parte, do Código Penal.

77. Um funcionário pode, efectivamente, aceitar uma peita para praticar um acto excluído da sua competência legal. Mas, nessas situações, pratica o acto e este é nulo, do ponto de vista do Direito Administrativo, sendo que, da óptica do Direito Penal, a eventual censura que um tal acto possa merecer poderá apenas ser através da imputação do crime de usurpação de funções.

78. Não pode considerar-se – porque tal não resultou demonstrado – que o Arguido tivesse condicionado o exercício de funções por parte dos Arguidos administradores ou liquidatários judiciais, uma vez que a possibilidade de escolha e intervenção da S... na liquidação do património das massas falidas se encontravam arredadas dos poderes que a Lei assinalava a estes últimos Arguidos.

79. Contra isso não se argumente que, “por regra”, o síndico e as comissões de credores aprovavam as sugestões dos administradores ou liquidatários judiciais, na medida em que a competência legal, quanto a tais questões, se encontrava assinalada àqueles órgãos do processo falimentar.

80. Quando muito, o administrador ou liquidatário judicial poderia propor a escolha da S... para coadjuvá-lo na venda dos activos das falidas, mas não é esse o suposto facto ilícito visado nos pontos 30, 442, 543, 826, 896, 1026, 1048, 1109, 1120, 1130 e 1156, dos factos dados como provados.

81. Não pode assumir-se que a concordância dos órgãos dos processos falimentares era um “dado adquirido” no momento em que teriam tido lugar os factos aludidos nos pontos 30, 442, 543, 826, 896, 1026, 1048, 1109, 1120, 1130 e 1156 da matéria de facto dada como provada, nem que qualquer sugestão dos administradores e liquidatários judiciais fosse aceite acriticamente por aqueles órgãos.

82. O Tribunal a quo (na esteira, de resto, da decisão do Tribunal de primeira instância) deixou sem resposta a questão formulada na decisão de reenvio a propósito da escolha e da intervenção da S... nos processos falimentares, questão essa que visava determinar como é que os Arguidos logravam obter a concordância prévia dos síndicos e das comissões de credores à intervenção das leiloeiras, questão cuja formulação ilustra a percepção do Tribunal da Relação do Porto no sentido de o suposto acto visado se encontrar excluído do feixe de competências e poderes legais dos administradores e liquidatários judiciais.

83. Ainda que pudesse entender-se que a proposta que fosse formulada ao síndico ou à comissão de credores, no sentido da intervenção da S... na liquidação do património das falidas consubstanciaria um poder de facto, o que é certo é que tal eventual poder sempre seria irrelevante, para efeitos de imputação dos crimes de corrupção, já que o mesmo não assistia a quem tinha competência legal para a prática do acto.

84. Por outro lado, a assumpção, por parte do Tribunal a quo, de que os montantes pagos aos Arguidos administradores e liquidatários judiciais constituíam contrapartidas encontra um obstáculo nos factos dados como provados nos pontos 1144) a 1154), referentes à falência “AZ..”, na qual o montante (exactamente nos mesmos termos em que foram pagos todos os montantes em causa nestes autos) não teve por destinatário o liquidatário judicial que escolheu a S... para intervir nesse processo, mas uma liquidatária judicial que o substituiu (a Dra. XX).

85. O caso “AZ..” permite, assim, lançar a dúvida acerca da validade da conclusão do Tribunal a quo, na parte em que atribuiu a montantes pagos nos exactos termos em que foi pago o montante referido no ponto 1153), dos factos dados como provados, a natureza de contrapartidas do acto de escolha da S....

86. Nalguns casos referidos na decisão recorrenda – designadamente nos casos das falências “C....T....” e “C...A....”, não chegou, sequer, a determinar-se por que razão foram entregues os montantes pecuniários referidos nos pontos 1086 e 1106, da matéria de facto dada como provada.

87. Não sendo, afinal, o que se refere nesses pontos da matéria de facto diverso daquilo que se afirma nos pontos 30, 442, 543, 826, 896, 1026, 1048, 1109, 1120, 1130 e 1156, fica sem explicação a razão pela qual nestes se concluiu que a entrega de montantes pecuniários consubstanciaria contrapartida dos actos aí referidos.

88. Para que possa, validamente, sustentar-se a existência de “condicionamento” da actuação do funcionário, é imperioso que se demonstre que acto diverso daquele que foi por ele praticado teria tido lugar se a actuação do corruptor não tivesse tido lugar.

89. No caso vertente, não se faz qualquer referência ao acto (diverso) que teria sido praticado se a conduta imputada ao Arguido não se tivesse verificado, o que significa que a conclusão do Tribunal a quo, no sentido da actuação “condicionada” dos Arguidos administradores e liquidatários judiciais não tem sustentação.

90. Essa circunstância implica que nem possa ter-se por demonstrada a existência do vício de desvio de poder, o que apenas teria sustentação se fosse identificada a preterição de uma determinada actuação, face àquela que teve lugar, alterando-se, por isso, o critério decisório do funcionário.

91. Em todo o caso se diga que, a ter havido corrupção, esta sempre teria sido para acto lícito, atendendo a que a diferenciação entre a corrupção para acto lícito e a corrupção para acto ilícito reside na invalidade/ilicitude substanciais do acto-fim.

92. Refira-se ainda que, em face do teor dos pontos 1257) a 1276), 1306, 1313) e 1314), dos factos dados como provados, surge uma dúvida mais do que legítima, no sentido de ter sido possível a escolha e intervenção da S... nos processos de falência, mesmo em face do que resulta dos pontos 30, 442, 543, 826, 896, 1026, 1048, 1109, 1120, 1130 e 1156.

93. Do teor dos pontos 1257) a 1276), 1306, 1313) e 1314), dos factos dados como provados resulta que foi a capacidade de trabalho do Arguido e o seu conhecimento das técnicas comercias que motivaram a escolha da S..., pelo que não poderia ver-se nessa escolha qualquer “condicionamento”, ao mesmo tempo que ficaria arredada a possibilidade de ser imputado o dolo ao Arguido.

94. Estas circunstâncias, aliadas à inexistência de demonstração de que as entidades e órgãos competentes dos processos falimentares teriam decidido diversamente conduzem, necessariamente, à insusceptibilidade de imputação ao Arguido de qualquer crime de corrupção.

95. Por outro lado, a referência aos momentos em que ocorreram os factos referidos nos pontos 30, 442, 543, 826, 896, 1026, 1048, 1109, 1120, 1130 e 1156, da matéria de facto dada como provada, momentos que correspondem à consumação dos supostos crimes.

96. Assim, e tendo em conta o lastro temporal abarcado por tais factos, importa ter presente que, na versão original do Código Penal de 1982, resultante do Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro, maxime, em resultado do que então se dispunha no artigo 423.º, n.º 1, a corrupção activa imprópria era penalmente atípica, situação que se manteve até ao dia 1 de Outubro de 1995.

97. Em face da forma como o Tribunal a quo manteve a delimitação factual, ou se considera que a delimitação factual feita na decisão de 12 de Julho de 2013 e agora mantida não é suficiente, por excessivamente ampla e vaga, para cumprir os requisitos legais da decisão judicial; ou se considera que, em face dessa amplitude e dos concretos períodos temporais em causa, bem como da vigência do Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro, sempre terá de se aplicar este último; seja porque a referida indefinição temporal tem que equivaler a um non liquet, valorando-se pro reo, rectius, pro libertatis, por estar em causa uma questão não propriamente de facto, mas de regime legal determinado por um facto – o tempo; seja porque estaríamos na presença de um caso de aplicação do regime mais favorável, directamente ou por analogia, nos termos do disposto no artigo 2.º, n.º 4, do Código Penal.

98. Ainda quando se entendesse – e não vemos como - que o suposto acto visado pelo Arguido seria passível de ser configurado como ilícito, sendo-lhe, consequentemente, imputável o crime de corrupção activa para acto ilícito, na modalidade sancionada pelos artigos 423.º, n.º 1 e 420.º, n.º 1, ambos do Código Penal, na versão introduzida pelo Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro, sempre seria de concluir, atendendo a que a moldura penal abstractamente aplicável era entre 1 a 6 anos e multa de 50 a 150 dias, e ao que então se dispunha nos artigos 117.º, n.º 1, alínea a), 118.º, n.º 1 e 120.º, n.º 3, do Código Penal, na redacção resultante do Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro, a maior parte das infracções já se encontraria prescrita.

99. Ainda que pudesse entender-se que o Arguido teria oferecido contrapartidas aos Arguidos administradores e liquidatários judiciais, sempre deveria entender-se que, a haver crimes de corrupção, estes seriam para acto lícito.

100. Ora, situando-se a possibilidade de escolha e intervenção da S... entre os poderes discricionários das entidades e dos órgãos competentes dos processos de falência, e não tendo sido demonstrado, em nenhum dos casos, que outra decisão teria sido tomada, não se vê como possa concluir-se que estamos perante casos de corrupção para acto ilícito.

101. Por outro lado, ao assumir o Tribunal a quo que os casos de corrupção para acto lícito correspondem àqueles em que o funcionário não se deixa influenciar pelo suborno, está a assumir que não existe crime de corrupção que não seja para acto ilícito.

102. Em qualquer crime de corrupção, seja este para acto lícito ou ilícito, o funcionário deixa a sua actuação ser influenciada pelo suborno, razão pela qual, em qualquer dessas modalidades, ocorre um “mercadejar com o cargo” ou um “desvio de poder.”

103. A diferença fundamental entre as duas referidas modalidades de corrupção – sublinhada, de resto, na decisão que determinou o reenvio dos autos para novo julgamento e aturadamente analisada no Parecer dos Senhores Professores Manuel da COSTA ANDRADE e Cláudia Maria CRUZ SANTOS junto ao presente  recurso – reside no acto visado pelo suborno, sendo que da ilicitude da recompensa não deriva, ipso factum, a ilicitude da finalidade a que a mesma se destina.

104. Neste sentido, os casos de corrupção própria distinguir-se-ão dos casos de corrupção imprópria consoante a finalidade visada com o suborno seja ilícita ou lícita.

105. Ora, no caso em apreço, a finalidade visada com o suposto suborno era não só consentida pelo quadro à data dos factos (desde logo, pelo que então se dispunha no artigo 134.º, n.º 3, do C.P.E.R.E.F.) como era admitida pela latitude da discricionariedade conferida ao funcionário.

106. Assim, mesmo que pudessem ter-se por verificados, in casu, todos os elementos típicos, em cada uma das onze situações sancionadas, do crime de corrupção activa, sempre se teria de reconhecer que estaríamos perante crimes de corrupção activa imprópria (ou para acto lícito).

107. Interpretação diversa das normas penais contidas nos artigos 372.º, n.º 1 e 374.º, n.º 1, ambas do Código Penal, na versão resultante do Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, no sentido segundo o qual a prática de um acto contido nos poderes discricionários do funcionário que haja actuado motivado pela promessa do pagamento de um suborno se traduz na prática de crimes de corrupção para acto ilícito, sempre redundará em norma materialmente inconstitucional, por violação do princípio da legalidade criminal, vertido no artigo 29.º, n.º 1, primeira parte, da Constituição da República Portuguesa, inconstitucionalidade que, para todos os efeitos legais, se deixa expressamente invocada.

108. Em função do exposto – e por consequência – deveria ter sido declarada a prescrição do procedimento criminal relativamente a todos os ilícitos passíveis de serem qualificados como crimes de corrupção activa imprópria, em função do que, à data dos factos, se dispunha no artigo 374.º, n.º 2, do Código Penal.

109. Em nenhum dos casos analisados nestes autos se concluiu – ao contrário do que se afirma na decisão recorrenda – que a S... aumentou o preço dos bens vendidos, tendo subtraído uma fracção desse preço, para pagar aos liquidatários.

110. Por outro lado, também nunca se demonstrou que as comissões cobradas pela S... o fossem em excesso, para além daquilo que resultaria do pagamento dos serviços prestados, pagamento que, em todos os casos, foi suportado pelos adquirentes dos bens, não onerando, por isso, as massas falidas.

111. Ainda, até 1 de Janeiro de 2002 era atípica a situação em que o oferecimento de uma vantagem patrimonial visava a criação de um “clima de permeabilidade”, com vista à prática de actos conformes com os deveres do cargo.

112. No caso vertente, atendendo às datas em que, supostamente, teria sido oferecida a contrapartida, não estava ainda determinado ou era, pelo menos, de difícil verificação, o facto visado, pelo que, a ter havido contrapartidas, as mesmas teriam visado a criação de um “clima de permeabilidade”, situação privada de relevância criminal até 1 de Janeiro de 2002, data em que entrou em vigor a Lei n.º 108/2001, de 28 de Novembro.

113. Todos os supostos acordos firmados entre o Arguido e os Arguidos liquidatários judiciais são situados em momentos muito anteriores à entrada em vigor da norma penal constante do artigo 373.º, n.º 2, do Código Penal, razão que inviabiliza a tipicidade penal desses supostos acordos, referidos nos pontos 30, 442, 543, 826, 896, 1026, 1048, 1109, 1120, 1130 e 1156, da matéria de facto dada como provada.

Da prescrição do procedimento criminal movido contra o Arguido DD (e contra a Arguida JJ) quanto à prática de um crime de corrupção activa (para acto ilícito), por referência às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA – procedência do recurso do Ministério Público

A irrelevância, para efeitos de consumação do crime de corrupção activa, do pagamento posterior à promessa de vantagens

114. O crime de corrupção activa, tanto de acordo com a configuração constante do artigo 374.º, n.º 1, do actual Código Penal, como de acordo com a configuração que assumia à data dos factos, nos termos do disposto no artigo 323.º do Código Penal, na sua versão originária, não pode ser qualificado como “crime de consumação continuada”. 

115. Porque: “Em primeiro lugar, corresponde, sem fundamento dogmático e, porventura pior, sem fundamento legal, à criação de uma nova categoria (a do «crime de consumação continuada») que desfavorece o arguido, em manifesta violação desde logo, do princípio da legalidade”.

116. Em segundo lugar: “ao limitar ao mínimo os elementos do tipo objectivo dos crimes de corrupção, o legislador fê-lo seguramente para facilitar a punição, alargando o âmbito de aplicação da norma (como bem se referiu no Acórdão em análise)”

117. Em terceiro lugar: “Não pode, portanto, justificar-se um prazo tão excepcionalmente longo de prescrição do procedimento criminal invocando-se a antecipação da consumação relativamente a actos posteriores e vir depois sustentar-se que, afinal, enquanto tais actos ocorrerem se vai prolongando a consumação.

118. “Finalmente, cumpre recordar o próprio teor literal do artigo 374.º do CP (e, logo aí, nesse primeiro momento, encontraria o aplicador argumento bastante para afastar o entendimento que acabou por acolher): a norma incriminadora contempla duas condutas típicas (“der ou prometer”), previstas de forma alternativa precisamente por se achar que comportam o mesmo desvalor (rectius, cada uma delas comporta, por si só, o desvalor suficiente para que ocorra a consumação, sendo que esta se dará, por isso mesmo, no momento em que a primeira delas se verifique)”.

119. Assim, no crime de corrupção activa, após o oferecimento da promessa de vantagens, o pagamento que vier a ter lugar é irrelevante para efeito de consumação do crime em questão, não podendo sustentar-se que tais supostos pagamentos seriam ainda uma “continuação” da execução do crime.

120. Com efeito, o crime de corrupção activa para acto ilícito é um crime de execução instantânea, na medida em que a sua consumação se dá num de dois momentos: ou no momento em que a vantagem é prometida ao funcionário, ou, nas situações em que não há promessa prévia e a conduta típica se cinge à entrega da vantagem, no momento em que tal entrega ocorre.

121. Que é assim decorre, desde logo, da literalidade da norma incriminadora da corrupção activa, onde a conduta típica, desde a versão originária do Código Penal de 1982, assenta numa relação de alternatividade entre “dar” ou “prometer”, pelo que a conduta que primeira ou unicamente se verificar é idónea a esgotar o preenchimento da factualidade típica e a determinar a consumação do crime, contando-se a partir daí o prazo de prescrição.

122. Essas duas condutas típicas (“der ou prometer”) têm um sentido de ilicitude absolutamente equivalente (daí que o Legislador as tenha colocado numa relação de perfeita alternatividade), sendo que, no momento em que a primeira delas se verifique o tipo penal se mostra exaurido e, consequentemente, ocorre a consumação.

123. Essa alternatividade também decorre da configuração dos crimes de corrupção activa e passiva como crimes autónomos.

124. A corrupção activa é um crime formal e não um crime de resultado, pelo que a aceitação (e, por maioria de razão) a entrega da vantagem ao funcionário não é necessária à consumação do crime de corrupção activa.

125. O Legislador de 1982 fez centrar a imputação do crime em questão apenas no desvalor da acção do agente activo, sendo, pois, irrelevante o desvalor do resultado.

126. Assim, e tendo em linha de conta que a corrupção activa é um crime de execução livre, carece de qualquer propósito a alusão ao último acto do iter criminis, razão pela qual, atenta a identidade, do ponto de vista da ilicitude e a alternatividade perfeita entre as duas condutas típicas, a consumação dar-se-á no momento em que o bem jurídico é ferido, sendo que o bem jurídico tutelado pela norma incriminadora da corrupção activa para acto ilícito é a “autonomia intencional do Estado” e não o valor ou interesse porventura afectado pela conduta do funcionário a quem se dirige a peita, pelo que tal crime se consuma no acto e no exacto momento em que a disponibilidade para “comprar” o acto do cargo chega ao conhecimento do funcionário, seja sob a forma de “promessa”, seja sob a forma de “dádiva”.

127. Ainda quando pudesse entender-se que os factos descritos no ponto 30 dos factos provados são penalmente relevantes, sempre teria de concluir-se que teria sido nesse momento que o suposto crime de corrupção activa se teria consumado, por via do exaurimento do tipo.

128. É no momento da “promessa” que se mercadeja o cargo, que importa não só o término do tempus delicti mas, igualmente, o esgotamento total do tipo.

129. Tudo o que se passa após o momento em que se mercadeja o cargo, nomeadamente a eventual entrega de vantagem posterior à promessa, é completamente irrelevante para efeitos da completude do ilícito material típico.

130. In casu, e de acordo com a matéria de facto dada por provada, ao Arguido DD é imputada apenas uma proposta a cada liquidatário judicial, não existe, por isso, sequer, quanto a cada liquidatário judicial, qualquer pluralidade de ilícitos de modo a poder ficcionar-se a unidade criminosa como, de resto, pressupõe a figura do crime continuado.

131. Assim, de nada vale, pois, pretender o Tribunal a quo classificar os crimes de corrupção activa como crimes de consumação continuada (ainda que não o faça expressamente), para justificar que a consumação dos mesmos se dê apenas no momento em que é entregue a última vantagem indevida, e que, por conseguinte, apenas nessa data tenha início a contagem do prazo de prescrição do procedimento criminal, nos termos do artigo 119.º, n.º 1, do Código Penal de 1995.

132. E isto porque, por um lado, como se viu, a configuração típica dos crimes de corrupção activa, vertida na Lei penal saída do Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro (lei aplicável à data dos factos) – e bem assim, a configuração típica dos crimes de corrupção activa, vertida na Lei penal saída do Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março –, o impede, ao prever que a mera promessa, independentemente de qualquer acção do funcionário (seja esta de repúdio, seja de aceitação), é suficiente para a consumação dessas infracções.

133. Mas também porque, por outro lado, o artigo 119.º, n.ºs 2 e 4, do Código Penal, que descreve as situações consideradas especiais no que respeita ao início da contagem do prazo de prescrição do procedimento criminal não contempla os crimes de execução continuada, pelo que a criação de tal categoria sempre implicaria a violação do princípio da legalidade.

134. Nestes termos, e tomando em consideração tudo quanto ficou dito, quanto ao crime de corrupção activa alegadamente praticado pelo Arguido DD (e pela Arguida JJ), por referência às falências em que interveio o liquidatário judicial AA, de acordo com o que foi dado por provado no ponto (30) da matéria de facto fixada, e para o caso de se entender que o que aí foi dado por provado tem relevância criminal, o que apenas por dever de patrocínio se equaciona, sem admitir nem conceder, não poderá deixar de concluir-se que o momento da sua consumação terá ocorrido “em data anterior a Março de 1995”, por ser esse o momento em que a promessa foi recepcionada pelo referido liquidatário judicial,

135. Pelo que, será também esse, de acordo com o disposto no artigo 119.º do Código Penal, o momento em que se inicia a contagem do respectivo prazo de prescrição.

Do prazo de prescrição aplicável ao procedimento criminal movido contra o Arguido DD (e contra a Arguida JJ) quanto à prática de um crime de corrupção activa (para acto ilícito), por referência às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA

136. Tomando por certo que a factualidade em causa a ser subsumível ao crime de corrupção activa sempre seria para acto lícito, como se viu supra, e tendo em linha de conta que o Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, que veio criminalizar a corrupção activa para acto lícito, só entrou em vigor no dia 1 de Outubro de 1995, nenhuma dúvida resta quanto à irrelevância criminal de tal factualidade, motivo pelo qual não se coloca qualquer questão atinente à prescrição do respectivo procedimento criminal.

137. Diga-se ainda que, mesmo que se entendesse que o suposto acto visado pelo Arguido DD seria passível de ser configurado como ilícito, sendo-lhe, consequentemente, imputável o crime de corrupção activa para acto ilícito, na modalidade sancionada pelos artigos 423.º, n.º 1, e 420.º, n.º 1, ambos do Código Penal, na versão introduzida pelo Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro, sempre seria de concluir, atendendo a que a moldura penal abstractamente aplicável era entre 1 a 6 anos e multa de 50 a 150 dias, e ao que então se dispunha nos artigos 117.º, n.º 1, alínea b), 118.º, n.º 1, 119.º, n.º 2, e 120.º, n.º 3, do Código Penal, que o dito crime se encontraria prescrito, pelo menos, desde Março de 2013.

138. No que diz respeito aos factos aludidos nos pontos (75)/(76), (121)/(122), (204)/(205), (249)/(250) e (274)/(275) da matéria de facto provada, mesmo que encontrassem suporte na prova documentada nos autos, ainda assim, não poderiam, pelas razões apontadas supra, relevar para a aferição do momento da consumação do suposto crime de corrupção activa e, consequentemente, também não poderiam relevar para a determinação do termo a quo da contagem do prazo de prescrição do procedimento criminal.

139. Termos em que, deve o Acórdão recorrendo, neste tocante, ser revogado e substituído por outro que declare a prescrição do procedimento criminal movido contra o Arguido DD (e contra a JJ) quanto à prática, em co-autoria material com a Arguida JJ, de um crime de corrupção activa para acto ilícito, por referência às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA.

140. Interpretação diversa, no sentido segundo a qual o prazo de prescrição do crime de corrupção activa previsto e sancionado nos artigos 420.º, n.º 1, e 423.º, n.º 1, do Código Penal de 1982, na versão resultante do Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro, é aferido, nas situações em que à promessa de vantagem se segue a efectiva entrega da mesma ao funcionário, a partir do momento em que a entrega tenha ocorrido, por força da aplicação das regras relativas ao momento da consumação das infracções penais resultantes do disposto nos artigos 118.º, n.º 2, alíneas b) e c), do mesmo Decreto-Lei, sempre redundará em normas materialmente inconstitucionais, por violação dos artigos 2.º, 13.º, 18.º, n.º 2, 27.º, n.º 1, 29.º, n.º 1, e 30.º, n.º 3, da Constituição da República Portuguesa, devendo tal inconstitucionalidade ser aferida à luz da redacção que ao último dos referidos preceitos foi conferida pela Revisão Constitucional de 1982 ou, caso assim não se entenda, pela versão resultante da Revisão Constitucional de 1997.

141. Da mesma forma que, interpretação diversa, no sentido segundo o qual o prazo de prescrição do crime de corrupção activa previsto e sancionado pelo artigo 374.º, n.º 1, com referência ao disposto no artigo 372.º, do Código Penal, na versão resultante do Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, nas situações em que à promessa de vantagem se siga a efectiva entrega da mesma ao funcionário, se conta a partir do momento em que tal entrega tenha ocorrido, com fundamento no disposto nos artigos 118.º, n.º 1, alínea b), 119.º, n.º 1, 120.º, n.º 1, alínea b) e n.º 3, 121.º, n.º 1, alíneas a), b) e d) e n.ºs 2 e 3, todos desta versão do Código Penal, sempre redundará em normas materialmente inconstitucionais, por violação dos artigos 2.º, 13.º, 18.º, n.º 2, 27.º, n.º 1, 29.º, n.º 1, e 30.º, n.º 3, da Constituição da República Portuguesa, devendo tal inconstitucionalidade ser aferida à luz da redacção que ao último dos referidos preceitos foi conferida pela Revisão Constitucional de 1982 ou, caso assim não se entenda, pela versão resultante da Revisão Constitucional de 1997.

Da prescrição do procedimento criminal movido contra o Arguido DD (e contra a Arguida JJ) quanto à prática dos crimes de corrupção activa (para acto ilícito), por referência às falências em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos RR, MMM, GG e UU – questão decidida pela primeira vez pelo Tribunal da Relação, no Acórdão recorrendo

142. Quanto ao momento da consumação dos crimes de corrupção activa imputados ao Arguido, por referência às falências em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos RR, MMM, GG e UU, dá-se por reproduzido tudo quanto se disse supra, no sentido de que nos casos em que existe promessa prévia à entrega da vantagem, a consumação dá-se com a tomada de conhecimento, por parte do funcionário, dessa mesma promessa, independentemente de este aceitar essa promessa e de vir a verificar-se a atribuição efectiva de vantagem.

143. Quanto ao concreto prazo de prescrição dos procedimentos criminais, para além de tudo quanto se deixou dito, e tendo por certo que, como melhor se explicou, os factos em causa nos autos nunca seriam aptos a preencher a conduta típica do crime de corrupção activa para acto ilícito:

144. À excepção do crime de corrupção activa imputado ao Arguido DD (e à Arguida JJ), por referência às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido RR, relativamente ao qual, atenta a data de consumação do crime (“em data não concretamente apurada, mas anterior a 11 de Outubro de 1995”), e a aplicação do regime mais favorável, sempre se imporia concluir pela irrelevância penal da conduta do Arguido DD, na medida em que a criminalização da corrupção activa para acto lícito só ocorreu com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, no dia 1 de Outubro de 1995,

145. Para os restantes crimes imputados aos Arguido DD (e à Arguida JJ), por referência às falências em que intervieram os demais liquidatários judiciais, importa fazer notar que, ainda que à data da consumação dos mesmos já se encontrasse criminalizada no ordenamento jurídico português a corrupção activa para acto lícito, atenta a moldura penal então prevista para esse crime, por força do disposto no artigo 118.º, n.º 1, alínea d), do Código Penal, onde se prevê que a prescrição do procedimento criminal se dá, nos casos em que a moldura penal abstractamente aplicável seja inferior a um ano de prisão, dois anos após a consumação dos factos, correndo o ano de 2015 (e tendo-se o último dos crimes consumado em 2000) há muito que se verificou a prescrição do procedimento criminal de todos os crimes de corrupção activa para acto lícito imputados ao Arguido DD.

146. Note-se ainda que mesmo que se entendesse que os factos em análise no caso dos autos são subsumíveis ao crime de corrupção activa para acto ilícito – o que não se admite nem se concede –, e que, por isso, e nos termos do disposto nos artigos 118.º, n.º 1, alínea b), e 374.º do Código Penal, o prazo de prescrição do procedimento criminal seria de 10 anos, ainda assim, os referidos procedimentos criminais já se encontrariam prescritos, prescrição essa que, embora fosse de conhecimento oficioso, expressamente se invocou para todo os efeitos legais, e aqui se reitera.

147. Quanto ao crime de corrupção activa alegadamente praticado pelo Arguido DD (e pela Arguida JJ), por referência às falências em que interveio o liquidatário judicial RR, de acordo com o que foi dado por provado no ponto (826) da matéria de facto fixada, e para o caso de se entender que o que aí foi dado por provado tem relevância criminal, o que apenas por dever de patrocínio se equaciona, sem admitir nem conceder, o momento da sua consumação terá ocorrido no dia 11 de Outubro de 1995, por ser esse o momento em que a promessa foi recepcionada pelo referido liquidatário judicial, pelo que, nos termos do disposto nos artigos 118.º, n.º 1, alínea b), 119.º, n.º 1, 120.º, n.º 2, 121.º, n.º 3, e 374.º, todos do Código Penal de 1982, na redacção resultante do Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, redacção essa vigente à data dos factos, o respectivo procedimento criminal prescreveu, na pior das hipóteses, no dia 11 de Outubro de 2013.

148. Quanto ao crime de corrupção activa alegadamente praticado pelo Arguido DD (e pela Arguida JJ), por referência às falências em que interveio o liquidatário judicial MMM, de acordo com o que foi dado por provado no ponto (1130) da matéria de facto fixada, e para o caso de se entender que o que aí foi dado por provado tem relevância criminal, o que apenas por dever de patrocínio se equaciona, sem admitir nem conceder, o momento da sua consumação terá ocorrido no dia 29 de Abril de 1996, por ser esse o momento em que a promessa foi recepcionada pelo referido liquidatário judicial, pelo que, nos termos do disposto nos artigos 118.º, n.º 1, alínea b), 119.º, n.º 1, 120.º, n.º 2, 121.º, n.º 3, e 374.º, todos do Código Penal de 1982, na redacção resultante do Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, redacção essa vigente à data dos factos, o respectivo procedimento criminal prescreveu, na pior das hipóteses, no dia 29 de Abril de 2014.

149.. Quanto ao crime de corrupção activa alegadamente praticado pelos Arguido DD (e pela Arguida JJ), por referência às falências em que interveio o liquidatário judicial GG, de acordo com o que foi dado por provado no ponto (543) da matéria de facto fixada, e para o caso de se entender que o que aí foi dado por provado tem relevância criminal, o que apenas por dever de patrocínio se equaciona, sem admitir nem conceder, o momento da sua consumação terá ocorrido no dia 12 de Junho de 1996, por ser esse o momento em que a promessa foi recepcionada pelo referido liquidatário judicial, pelo que, nos termos do disposto nos artigos 118.º, n.º 1, alínea b), 119.º, n.º 1, 120.º, n.º 2, 121.º, n.º 3, e 374.º, todos do Código Penal de 1982, na redacção resultante do Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, redacção essa vigente à data dos factos, o respectivo procedimento criminal prescreveu, na pior das hipóteses, no dia 12 de Junho de 2014.

150. Quanto ao crime de corrupção activa alegadamente praticado pelo Arguido DD (e pela Arguida JJ), por referência às falências em que interveio o liquidatário judicial UU, de acordo com o que foi dado por provado no ponto (1026) da matéria de facto fixada, e para o caso de se entender que o que aí foi dado por provado tem relevância criminal, o que apenas por dever de patrocínio se equaciona, sem admitir nem conceder, o momento da sua consumação terá ocorrido no dia 23 de Junho de 1996, por ser esse o momento em que a promessa foi recepcionada pelo referido liquidatário judicial, pelo que, nos termos do disposto nos artigos 118.º, n.º 1, alínea b), 119.º, n.º 1, 120.º, n.º 2, 121.º, n.º 3, e 374.º, todos do Código Penal de 1982, todos do Código Penal de 1982, na redacção resultante do Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, redacção essa vigente à data dos factos, o respectivo procedimento criminal prescreveu, na pior das hipóteses, no dia 23 de Junho de 2014.

151. Nestes termos, e por tudo quanto ficou até agora dito, deve o Acórdão recorrendo ser revogado e substituído por outro que declare, de imediato, a prescrição dos referidos procedimentos criminais, daí cabendo retirar todos os efeitos legais, nomeadamente no que respeita às penas aplicadas.

152. Termos em que, deve o Acórdão recorrendo, neste tocante, ser revogado e substituído por outro que declare a prescrição do procedimento criminal movido contra o Arguido DD (e contra a JJ) quanto à prática, em co-autoria material com a Arguida JJ, de um crime de corrupção activa para acto ilícito, por referência às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA.

153. Interpretação diversa, no sentido segundo a qual o prazo de prescrição do crime de corrupção activa previsto e sancionado nos artigos 420.º, n.º 1, e 423.º, n.º 1, do Código Penal de 1982, na versão resultante do Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro, é aferido, nas situações em que à promessa de vantagem se segue a efectiva entrega da mesma ao funcionário, a partir do momento em que a entrega tenha ocorrido, por força da aplicação das regras relativas ao momento da consumação das infracções penais resultantes do disposto nos artigos 118.º, n.º 2, alíneas b) e c), do mesmo Decreto-Lei, sempre redundará em normas materialmente inconstitucionais, por violação dos artigos 2.º, 13.º, 18.º, n.º 2, 27.º, n.º 1, 29.º, n.º 1, e 30.º, n.º 3, da Constituição da República Portuguesa, devendo tal inconstitucionalidade ser aferida à luz da redacção que ao último dos referidos preceitos foi conferida pela Revisão Constitucional de 1982 ou, caso assim não se entenda, pela versão resultante da Revisão Constitucional de 1997.

154. Da mesma forma que, interpretação diversa, no sentido segundo o qual o prazo de prescrição do crime de corrupção activa previsto e sancionado pelo artigo 374.º, n.º 1, com referência ao disposto no artigo 372.º, do Código Penal, na versão resultante do Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, nas situações em que à promessa de vantagem se siga a efectiva entrega da mesma ao funcionário, se conta a partir do momento em que tal entrega tenha ocorrido, com fundamento no disposto nos artigos 118.º, n.º 1, alínea b), 119.º, n.º 1, 120.º, n.º 1, alínea b) e n.º 3, 121.º, n.º 1, alíneas a), b) e d) e n.ºs 2 e 3, todos desta versão do Código Penal, sempre redundará em normas materialmente inconstitucionais, por violação dos artigos 2.º, 13.º, 18.º, n.º 2, 27.º, n.º 1, 29.º, n.º 1, e 30.º, n.º 3, da Constituição da República Portuguesa, devendo tal inconstitucionalidade ser aferida à luz da redacção que ao último dos referidos preceitos foi conferida pela Revisão Constitucional de 1982 ou, caso assim não se entenda, pela versão resultante da Revisão Constitucional de 1997.

DA IMPUTAÇÃO AO(S) ARGUIDO(S) DE DOIS CRIMES DE PECULATO, NA MODALIDADE PREVISTA NO ARTIGO 375.º, N.º 1, DO CÓDIGO PENAL

A falta de preenchimento do tipo objectivo do crime de peculato proprio sensu

155. A norma incriminadora do peculato próprio sensu não prevê, como conduta típica, a permissão do funcionário para que terceiro se aproprie de bens alheios que lhe tenham sido entregues, que estejam na sua posse ou que lhe sejam acessíveis, em razão das suas funções mas antes prevê, no que aqui interessa, a apropriação pelo funcionário em “proveito próprio ou de outra pessoa”.

156. E, não se pense que a ausência de previsão, no n.º 1 do artigo 375.º do Código Penal, da permissão do agente intraneus para que o agente extraneus se aproprie, se trata de uma lacuna fruto da imprevisão do Legislador, uma vez que não existe paralela omissão na previsão da norma incriminadora do crime de peculato de uso, no artigo imediatamente seguinte (cfr. 376.º, n.º 1, do Código Penal).

157. Acontece que na tese sufragada na decisão do Tribunal de 1.ª instância proferida nos presentes autos, no dia 12 de Julho de 2013, são os Arguidos DD e JJ quem supostamente se apropria dos montantes relativos às reservas de negócio das falências “Supermercados G....” e “I....”.

158. Ao Arguido AA limitava-se o Tribunal de 1.ª instância a imputar a qualidade de funcionário e a suposta “permissão” concedida aos Arguidos DD e JJ para que se apropriassem desses montantes.

159. Justamente por isso, e porque da aplicação do artigo 28.º, n.º 1, do Código Penal não resulta a comunicação da conduta típica do crime ao agente intraneus, alegou o Arguido DD (e a Arguida JJ) no seu recurso que, não tendo sido praticada a conduta típica do crime de peculato proprio sensu pelo agente intraneus, pois que não se pode confundir a apropriação pelo funcionário em benefício de terceiro com a permissão do funcionário que propícia a acção de terceiro, nunca poderia o referido crime ser-lhe imputado, o que, consequentemente, levaria à sua absolvição, ou quando muito, à condenação do mesmo pela prática do crime de peculato de uso, cujo respectivo procedimento criminal se encontrava (e encontra) já prescrito.

Do novo entendimento, propugnado pelo Tribunal a quo no Acórdão recorrendo, quanto ao preenchimento, in casu, da conduta típica do crime de peculato proprio sensu,

160. O Tribunal a quo, contrariamente ao que sucedia na decisão do Tribunal de 1.ª instância, proferida no dia 12 de Julho de 2013, imputa agora ao Arguido AA (e não aos Arguidos DD e JJ) a apropriação dos valores relativos às reservas de negócio referentes às falências “Supermercados G....” e “I....”, em benefício dos Arguidos DD e JJ.

161. De outra sorte, o objecto de apropriação dos crimes de peculato pelos quais o Arguido DD (e a Arguida JJ) é condenado passa a ser o montante dos juros alegadamente auferidos com o depósito de tais valores nas suas contas bancárias.

Da não apropriação das quantias relativas às reservas de negócio pelo Arguido AA

162. De acordo com a matéria de facto provada nos presentes autos, o Arguido AA nunca se apropriou das quantias relativas às reservas de negócio.

163. E isto porque: as referidas quantias foram entregues directamente pelos proponentes aos Arguidos DD e JJ, que as mantiveram na sua esfera de gozo e disponibilidade, até à sua devolução, o que é dado por provado nos pontos 314 e 332 da matéria de facto. Sendo que, em nenhum momento as referidas quantias integraram a esfera de gozo e disponibilidade do Arguido AA.

164. Mais, nenhum dos factos dados por provados demonstra, ou sequer indicia, qualquer comportamento expresso ou concludente, por parte do Arguido AA, no sentido de querer fazer suas as referidas quantias, ainda que em benefício dos Arguidos DD e JJ (nem as regras da experiência e senso comum apontam nesse sentido), ou seja, não resulta demonstrada a “inversão do título de posse”, o que sempre seria necessário, uma vez que no crime de peculato a apropriação assume-se como elemento do tipo objectivo, e, por isso, carece de ser demonstrada por actos objectivos e reveladores de que o agente está a dispor da coisa como se fosse sua.

165. “O consentimento para que terceiros disponham do bem”, neste caso, para que os Arguidos DD e JJ utilizassem as quantias referentes às reservas de negócio, apesar de poder ser considerado um “acto próprio de quem age como proprietário” não consubstancia, só por si, um acto objectivamente idóneo e revelador de que o Arguido AA dispunha das referidas quantias como se fossem suas, i.e. com animus domini.

Da irrelevância, para o preenchimento da conduta típica do crime de peculato, previsto e punido no artigo 375.º, n.º 1, do Código Penal, da apropriação das quantias relativas às reservas de negócio pelo Arguido AA

166. Mas, mais, e com muito maior importância, note-se que, ainda que assim não fosse, i.e., mesmo que se pudesse considerar que o Arguido AA, em momento temporal não circunscrito pelo Tribunal a quo, se apropriou das referidas quantias relativas às reservas de negócio – o que apenas por mera cautela e dever de patrocínio se equaciona, sem admitir nem conceder – atento o facto de a condenação dos Arguidos ter agora por base a apropriação, pelos Arguidos DD e JJ, dos juros alegadamente obtidos por estes através do depósito dessas quantias em contas à ordem, e não as próprias quantias, as quais foram entretanto integralmente devolvidas, nenhuma relevância assume a suposta apropriação do Arguido AA das quantias relativas às reservas de negócio, para efeitos do preenchimento da conduta típica do crime de peculato previsto no artigo 375.º, n.º 1, do Código Penal.

167. Contanto que, o bem cuja apropriação por parte do funcionário se afigura relevante para efeitos de preenchimento da conduta típica do crime de peculato, será, naturalmente aquele que é determinante para efeitos da consumação do crime, i.e., aquele que é objecto do crime, in casu, o montante dos juros que os Arguidos DD e JJ obtiveram,

168. O que teria de ser demonstrado, no Acórdão recorrendo, era a apropriação por parte do Arguido AA, que era quem, à data dos factos, detinha a qualidade de funcionário, ainda que em benefício dos Arguidos DD e JJ, dos montantes referentes aos juros auferidos com o depósito das referidas quantias em contas à ordem.

169. No entanto, tal demonstração não acontece (nem sequer é tentada): o Tribunal a quo não imputa a apropriação dos juros ao Arguido AA, o que o Tribunal a quo imputa ao Arguido AA é a permissão da cobrança, da detenção por período alargado e do depósito em contas pessoais das quantias relativas às reservas de negócio pelos Arguidos DD e JJ e, consequentemente, a disponibilização consciente aos Arguidos DD e JJ das ferramentas para que estes se apropriassem, eles próprios, dos juros resultantes da aplicação de tais quantias (cfr. pp. 1103 do Acórdão recorrendo), conduta esta que, como se viu, não está tipificada e não demonstra qualquer apropriação por parte do Arguido AA.

Da não apropriação das quantias relativas aos juros pelo Arguido AA

170. Diga-se ainda que esta conduta omissiva/permissiva por parte do Arguido AA jamais seria apta a demonstrar qualquer apropriação, por parte deste, relativamente aos juros – nem isso o Tribunal a quo alega –, porquanto, a tudo quanto já se disse acerca da necessidade de demonstração do animus domini do Arguido AA através de actos objectivamente idóneos e concludentes, que, in casu, não ficou demonstrado, porquanto o mesmo nunca teve tão-pouco o domínio do facto, acresce que, tal como expressamente se reconhece no Acórdão recorrendo, nem sequer é líquido que o Arguido AA “soubesse que exata utilização seria dada a essas quantias pelos arguidos DD e JJ” (cfr. pp. 1103 do Acórdão recorrendo), impondo-se, por isso, a absolvição do Arguido DD.

Da irrelevância, para o preenchimento da conduta típica do crime de peculato, previsto e punido no artigo 375.º, n.º 1, do Código Penal, da apropriação das quantias relativas aos juros pelo Arguido DD

171. Ainda que os Arguidos DD e JJ se tivessem apropriado das referidas quantias relativas aos juros, esta conduta seria irrelevante, pela sua atipicidade, para o preenchimento da conduta típica do crime de peculato, visto que: (i) nenhum dos referidos Arguidos detinha, à data dos factos, a qualidade de funcionário; (ii) o artigo 28.º, n.º 1, do Código Penal, em caso algum, ofereceria sustentáculo à comunicabilidade da própria conduta ilícita ao agente intraneus, e (iii) como se viu, o facto de o Arguido AA (alegadamente) ter disponibilizado (sem disso sequer ter conhecimento – se é que isso é possível) as ferramentas indispensáveis para que os Arguidos DD e JJ se apropriassem dos referidos juros em seu proveito, não preenche a conduta típica do crime de peculato proprio sensu, previsto no artigo 375.º, n.º 1, do Código Penal.

Da insuficiência para a decisão de condenação pelos crimes de peculato da matéria de facto provada, por falta de demonstração da apropriação pelo Arguido DD do montante referente aos juros – vício da decisão do Tribunal da Relação

172. Mas, ainda que assim não fosse, i.e., ainda que se entendesse relevante para o preenchimento da conduta típica do crime de peculato, a apropriação das quantias relativas aos juros pelo Arguido DD, o que não se admite nem se concede, e apenas por cautela de patrocínio se equaciona, sempre se teria de concluir que não foram dados por provados factos que demonstrem a apropriação pelo Arguido DD (e pela Arguida JJ) das quantias referentes aos juros.

173. Com efeito, não consta do elenco de factos provados qualquer elemento que permita suportar a apropriação pelo Arguido DD (e pela Arguida JJ) dos referidos juros.

174. Na realidade, nos factos dados por provados no Acórdão recorrendo, somente se refere que o Arguido DD (e a Arguida JJ) auferiu os mencionados juros e confundiu-os no seu património, o que não é o bastante para demonstrar a apropriação de um bem fungível como o dinheiro.

175. Verifica-se, assim, nos termos do disposto no artigo 410.º, n.º 2, alínea a), do Código de Processo Penal, um caso típico de insuficiência para a decisão da matéria de facto, a qual implica, necessariamente, a absolvição do Arguido DD, pois é com base justamente na apropriação dos juros que o Arguido é condenado pela prática de dois crimes de peculato, nos termos do disposto no artigo 375.º, n.º 1, do Código Penal.

176. Neste sentido, a interpretação do Tribunal a quo, no sentido segundo o qual o preenchimento da factualidade típica da incriminação constante do artigo 375.º, n.º 1, do Código Penal, quando estejam em causa bens fungíveis, nomeadamente dinheiro, se basta com a mera confusão dos mesmos no património do agente, redunda em norma materialmente inconstitucional, em razão da violação do princípio do Estado de Direito democrático e do princípio da legalidade criminal, previstos, respectivamente, nos artigos 2.º e 29.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa, inconstitucionalidade que se deixa expressamente invocada para todos os efeitos legais.

Da não verificação, in casu, da violação de um dever de entrega das quantias recebidas a título de reservas de negócio

177. Acresce que, não se verificou, in casu, a violação de um dever de entrega das quantias recebidas a título de reservas de negócio, uma vez que as mesmas não pertenciam às massas falidas, ficando assim prejudicada a “apropriação ilegítima” que é elemento típico do crime de peculato.

178. A decisão do Tribunal de 1.ª instância, em violação da decisão de reenvio, concluiu ser irrelevante que os montantes em causa tivessem sido recebidos a título de “sinal” ou de “reserva de negócio”, defendendo que a entrega dos mesmos deveria, logo, ter sido feita, por pertencerem à massa falida, e não se pronunciou sobre a questão, também colocada na decisão de reenvio, de saber se os referidos montantes recebidos pelo Arguido DD vieram a ser integrados no preço ou devolvidos ao respectivo candidato a adquirente.

179. Ainda que, em sede de Direito, o Tribunal de 1.ª instância viesse a considerar irrelevante o apuramento dessas questões, não se sentindo vinculado nem coarctado na sua liberdade de decisão pela apreciação feita, nesse campo de estrita juridicidade, pela decisão do Tribunal da Relação do Porto, não lhe competia todavia, alterar o sentido da decisão do Tribunal da Relação do Porto, no que se refere ao âmbito factual que justificou o reenvio.

180. Por efeito do recurso do Arguido DD, veio o Tribunal a quo, em substituição daquela que era tarefa do Tribunal de 1.ª instância, esclarecer que os referidos montantes foram (alegadamente) entregues a título de “adiantamentos de pagamento do preço acordado”, todavia, nada – absolutamente nada – refere quanto à vinculação ou não das massas falidas e/ou dos proponentes à celebração dos respectivos negócios. O que se impunha.

181. Assim sendo, da análise do que ficou sobre esse assunto dito na decisão proferida pelo Tribunal de 1.ª instância em 12 de Julho de 2013, importa fazer notar que estando em causa a alienação de imóveis, contrato sujeito a forma escrita nos termos do artigo 410.º, n.º 2, do Código Civil, e tomando em consideração que nenhum documento escrito foi assinado, só com a outorga do contrato promessa ou escritura pública de compra e venda, passariam as verbas entregues a título de reservas de negócio a pertencer à massa falida; até lá continuariam a pertencer ao proponente que, se assim o entendesse, poderia exigir a sua restituição.

182. Depois, atente-se que a S..., representada pelo Arguido DD, não poderia, nos termos do disposto no artigo 134.º, n.ºs 2 e 3, do C.P.E.R.E.F. então em vigor, e na qualidade de coadjuvante em que interveio na venda, substituir o liquidatário e representar a massa falida, pelo que nenhum compromisso poderia ter sido assumido em representação da massa falida.

183. Por fim, também carece de qualquer fundamento a invocação do disposto nos artigos 145.º e 185.º, nº 1, do C.P.E.R.E.F., porquanto essas normas só se aplicam às hipóteses em que a massa falida tenha algum direito sobre qualquer verba.

184. Ora, se as massas falidas e/ou os proponentes não ficavam vinculados à celebração dos negócios, e, consequentemente, não existia a obrigação de restituição imediata às massas falidas das quantias recebidas a título de reservas de negócio, porquanto essa obrigação só nasceria no momento da celebração do contrato de promessa ou da escritura de compra e venda, por maioria de razão, não existia a obrigação de restituição às massas falidas dos frutos dessas mesmas quantias, os juros,

185. Pelo que, não obstante os crimes de peculato serem agora imputados aos Arguidos com base na suposta apropriação ilegítima dos juros, e não das referidas quantias, a verdade é que, tomando em consideração tudo o que ficou dito, não pode deixar de se concluir que, ainda que se considere que os Arguidos se apropriaram dos juros, jamais se poderia considerar que essa apropriação foi ilegítima, o que sempre implicará a absolvição.

Da subsunção dos factos, quando muito, à conduta típica do crime de peculato, previsto e punido no artigo 375.º, n.º 3, do Código Penal (já prescrito)

186. Ainda que se considerasse preenchido tal requisito – deverem ser as quantias recebidas a título de reserva de negócio entregues à massa falida, e consequentemente, os juros também – os factos fixados pelo colectivo, quando muito, integrariam, dois crimes de peculato, na modalidade prevista e punida pelo artigo 375.º, n.º 3, do Código Penal, o que apenas meramente à cautela se equaciona, sem nunca admitir ou conceder.

187. In casu, o Arguido AA não fez, em momento algum, suas as referidas quantias relativas às reservas de negócio das falências “Supermercados G....” e “I....” limitou-se, com a sua conduta permissiva – e incumprindo o dever de zelo e guarda a que estava adstrito, por ser representante da entidade vendedora dos bens, é certo –, a desviá-las temporariamente do fim a que se destinavam, alegadamente permitindo que os Arguidos DD e JJ as utilizassem, o que se equipara, em tudo e para todos os efeitos, a um empréstimo.

188. Apesar de poder considerar-se que tal consentimento, a ter existido, constitui um acto próprio do proprietário, a verdade é que tal acto, isoladamente considerado, não se traduz necessariamente na inversão do título da posse e no exercício do animus domini, na medida em que tal consentimento pode ter sido dado sem qualquer intenção de apropriação,

189. Pelo que, na medida em que nada nos autos permite concluir, nem isso ficou provado, que o Arguido AA actuou com animus domini e não com animus alieno nomine tenendi, impunha-se concluir, por aplicação do princípio do in dubio pro reo, que o Arguido AA, ao permitir que os Arguidos dd e JJ utilizassem as referidas quantias actuou animus alieno nomine tenendi, desviando-as temporariamente da sua finalidade, o que se traduziu numa mera compressão do direito de propriedade, e que, a consubstanciar a prática de algum crime, sempre seria o crime de peculato previsto no artigo 375.º, n.º 3, do Código Penal.

190. E, note-se, que o facto de os Arguidos DD e JJ terem alegadamente obtido juros com o depósito temporário das referidas quantias nas contas pessoais, em nada invalida o que se acaba de dizer, porquanto o recebimento dos juros, que, de resto, acontece em quase todos os casos de empréstimo em que o bem emprestado é dinheiro, é apenas uma consequência do ilícito e a quantia recebida a esse título, por aplicação do disposto no artigo 111.º, n.º 2, do Código Penal, acabaria por ser entregue ao Estado, na medida em que se tratava de uma vantagem auferida com a prática de um eventual ilícito.

191. Interpretação diversa, no sentido segundo a qual a permissão do funcionário para que terceiros depositem temporariamente em contas pessoais dinheiros que este se encontra obrigado a guardar e Z....r, havendo restituição integral desses dinheiros, não se encontra abrangida no âmbito da conduta típica do artigo 375.º, n.º 3, do Código Penal, sempre que os terceiros, com os mencionados depósitos temporários, aufiram juros, redundaria em norma materialmente inconstitucional, por violação do princípio da igualdade, consagrado no artigo 13.º da Constituição da República Portuguesa, inconstitucionalidade essa que, para todos os efeitos legais, se deixa, desde já, arguida.

Do diminuto valor dos montantes apropriados

192. Ainda que se entendesse que os factos em causa nos presentes autos não são subsumíveis ao tipo de ilícito disposto no artigo 375.º, n.º 3, do Código Penal, e que os juros (alegadamente) auferidos pelos Arguidos DD e JJ com o depósito das quantias referentes às reservas de negócio não são uma consequência do crime, mas sim o seu objecto, e ainda que decorresse da matéria de facto dada por provada que o Arguido DD (e a Arguida JJ) se apropriou dos mesmos, o que apenas por dever de patrocínio se equaciona, sem admitir nem conceder, jamais poderiam os Arguidos DD e JJ ter sido condenados com base no n.º 1 do citado preceito, atento o diminuto valor dos juros que (alegadamente) auferiram, o que sempre implicaria a aplicação do n.º 2 do referido preceito legal.

193. Nos valores agora apurados pelo Tribunal a quo (a saber: 73.279$00 e 23.052$00), não foi tomado em consideração, tal como se alerta no documento elaborado pela testemunha NNN, de fls. 45.199 e ss., e que serviu de base ao Acórdão recorrendo: (i) o imposto devido ao Estado, em sede de IRS, que, nos termos do disposto no artigo 74.º, n.º 1, e n.º 3, alínea a), do Código de IRS, na redacção que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.º 25/98, de 10 de Fevereiro, à data dos factos, estava fixado em 20% do montante dos juros; (ii) a taxa correspondente ao período durante o qual o capital remunerado com juros permaneceu nas contas dos Arguidos (de outra forma, foi tomada em consideração uma taxa média por referência a um lapso de tempo superior àquela permanência); (iii) e a dependência e oscilação das taxas de juro aplicadas conforme os saldos médios da(s) conta(s) à ordem.

194. Incorrendo, desta forma, o Tribunal a quo em erro manifesto, que decorre do próprio Acórdão recorrendo, nos termos do disposto no artigo 410.º, n.º 2, alínea c), do Código de Processo Penal, quanto a todos os pontos mencionados na conclusão precedente, sendo que quanto ao primeiro ponto incorreu também em erro de Direito.

195. Pelo que, fica a dúvida, que cremos, insanável quanto ao montante exacto dos juros auferidos, que tiveram por causa exclusiva as quantias relativas às reservas de negócio, o que determina necessariamente uma decisão absolutória, ou, quando muito, e porque os mesmos nunca poderiam ser fixados em valor superior a 8.044$23 (relativamente à falência “Supermercados G....”) e 14.942$70 (relativamente à falência “I....”), no sentido da subsunção dos factos apenas ao disposto no artigo 375.º, n.º 2, do Código Penal.

196. Sendo que, nesse último caso, que apenas subsidiariamente se equaciona, tomando em consideração que os factos neste tocante em apreço ocorreram no ano de 2000, o respectivo procedimento criminal prescreveu, na pior das hipóteses, em 2011, nos termos da aplicação conjugada do artigo 118.º, n.º 1, alínea c), do artigo 119.º, n.º 1, e 121.º, n.º 3, todos do Código Penal, na redacção em vigor à data da prática dos factos.

197. Deverá, pois, declarar-se extinto por prescrição o procedimento criminal pela prática dos crimes de peculato previsto no artigo 375.º, n.º 2, do Código Penal, caso se entendam que os factos em causa nos presentes autos alguma relevância penal assumem.        

Da (in)existência de dolo

198. A afirmação da tipicidade subjectiva do crime de peculato exige, inelutavelmente, por parte dos arguidos, o conhecimento e a vontade tendente à realização da totalidade dos elementos constitutivos do tipo de ilícito objectivo, sendo que tanto o conhecimento como a vontade do agente têm sempre de resultar de factos concretos e objectivos, não podendo presumir-se da simples verificação do elemento objectivo do tipo.

Da não verificação do elemento subjectivo no Arguido AA

199. Nos casos de comparticipação, como é o caso dos autos, o referido dolo terá de existir quanto ao agente intraneus, isto é, quanto ao Arguido AA, o que não se verificou.

200. Com efeito, no que diz respeito à apropriação, enquanto elemento constitutivo do facto típico, nada nos autos permite concluir que o Arguido AA, no momento em que alegadamente permitiu que o Arguido DD recebesse directamente dos proponentes os valores relativos aos “adiantamentos de pagamento do preço acordado”, sabia já que esses valores iriam ser depositados nas contas à ordem dos Arguidos DD e JJ e que, atendendo às características individuais de remuneração dessas contas bancárias, renderiam juros, e ainda que os Arguidos DD e JJ iriam integrar os referidos juros no seu património e dispor deles como se fossem seus.

201. Da mesma forma, quanto à ilegitimidade da apropriação, enquanto elemento constitutivo do facto típico, também não existe nos autos qualquer materialidade fáctica que sustente que o Arguido AA soubesse que os montantes relativos às reservas de negócio pertenciam à massa falida, e que, consequentemente, deveriam ingressar no património da massa falida, mesmo antes de ter sido celebrado qualquer escritura de compra e venda, ou mesmo qualquer contrato promessa.

202. Tão-pouco resulta da materialidade fáctica existente nos autos que o Arguido AA soubesse que os negócios celebrados exclusivamente pela leiloeira S... pudessem vincular esta última. Pelo contrário, resulta de pp. 922 da decisão proferida no dia 12 de Julho de 2013 que o Arguido AA “considerava que a massa falida não se obrigava com o recebimento das quantias pagas pelos proponentes”.

203. E muito menos ainda resulta da materialidade fáctica dada por provada nos presentes autos que o Arguido AA soubesse que os montantes relativos aos juros auferidos pelos Arguidos DD e JJ pertenciam à massa falida, e que, consequentemente, deveriam ingressar no património da massa falida.

204. Acrescenta-se que, estivesse o Tribunal a quo na dúvida quanto ao conhecimento ou desconhecimento, por parte do Arguido AA, de tais elementos, e não havendo factos concretos que permitissem ao Tribunal a quo esclarecer tal dúvida, por força do disposto no artigo 32.º, n.º 2, da Constituição da República Portuguesa, que consagra o princípio da presunção de inocência, e que em sede probatória tem como consequência que o non liquet vale, necessariamente, favor rei, só poderia o Tribunal a quo ter optado por presumir o desconhecimento.

205. Assim sendo, e por constituir momento essencial na imputação do facto ao agente, a falta de tipicidade subjectiva, rectius, a ausência de dolo na (alegada) comissão do crime de peculato determina, em absoluto, a impossibilidade de imputar qualquer responsabilidade jurídico-penal ao Arguido AA e, por consequência, aos Arguidos DD e JJ – mesmo que objectivamente fosse possível, o que já se viu não ser.

Da falta de dolo do Arguido DD (e, bem assim, da Arguida JJ)

206. O Arguido DD (e, bem assim, a Arguida JJ) não sabia nem representou como possível, como, aliás, demonstra a ausência de factos dados por provados nesse sentido, que: (i) os montantes referentes às reservas de negócio pertencessem às massas falidas e que, como tal, deveriam ser depositados nas contas respectivas (isso mesmo decorre de pp. 1101 e 1102 do Acórdão recorrendo); (ii) que as massas falidas ficassem vinculadas por negócios celebrados sem qualquer intervenção de legal representante das mesmas; (iii) que os juros, fruto do depósito daquelas quantias, que apenas foram auferidos atendendo às características individuais de remuneração das suas contas bancárias, pertencessem às massas falidas.

207. Ora, se assim é, não pode, em consequência, considerar-se existir, no caso dos presentes autos, o (indispensável) momento intelectual do dolo, já que inexistem factos provados que sustentem o conhecimento do Arguido DD (e da Arguida JJ) no que concerne a elementos típicos – neste caso, a ilegitimidade da apropriação – essenciais ao preenchimento do tipo incriminador contido no n.º 1 do artigo 375.º do Código Penal.

Da alegada co-autoria entre os Arguidos DD (e JJ) P...e AA

208. Não se descortina, em nenhuma das referidas decisões judiciais, qualquer referência factual (e menos ainda, qualquer indicação sobre o momento em que a mesma tenha ocorrido) no que diz respeito à suposta existência de qualquer acordo entre os Arguidos DD e JJ, por um lado, e o Arguido AA, por outro (elemento subjectivo da co-autoria), sendo que também não é assumido, em nenhuma das referidas decisões judiciais, que estes tenham executado conjuntamente os factos supostamente ilícitos (elemento objectivo da co-autoria).

Da não verificação, in casu, do elemento subjectivo da co-autoria

209. A co-autoria implica, entre o mais, um acordo sobre a execução do facto típico.

210. Pelo que, sempre teria o Tribunal a quo de averiguar se o suposto acordo, entre os Arguidos AA, DD e JJ, foi celebrado e em que termos o foi, nomeadamente se teria ou não por objecto uma apropriação ilegítima dos juros referentes às reservas de negócio supostamente pertencentes às massas falidas.

211. Sucede, porém, que quanto à apropriação dos montantes referentes aos juros, que é, neste momento, aquilo que verdadeiramente se imputa, não há um único facto dado por provado que faça referência a qualquer actuação conjunta, muito menos à existência de um acordo, dos Arguidos DD e JJ e AA.

212. Sendo que, idêntica omissão se verifica quanto à existência de um acordo para a apropriação das quantias referentes às reservas de negócio.

213. Pelo que, não havendo um acordo prévio ou coevo à execução do facto punível (apropriação dos montantes relativos aos juros) entre os Arguidos DD e JJ e o Arguido AA, fica arredada, imediatamente, a possibilidade de imputação da co-autoria, o que constitui mais um elemento a militar no sentido da absolvição.

Da não verificação, in casu, do elemento objectivo da co-autoria

214. Para que a co-autoria possa ser imputada, para além da consciência multilateral de colaboração, tem de existir por parte de todos os co-autores um contributo para a execução do facto típico.

215. No caso dos autos, não pode defender-se ter existido qualquer contributo material directo do Arguido AA para a execução dos alegados crimes de peculato, que tiveram por objecto a apropriação das quantias relativas aos juros, já que como explicado supra, o Arguido nunca teve o domínio do facto e, mais grave, nunca teve sequer conhecimento do facto, como decorre expressamente do Acórdão recorrendo.

216. E, adverte-se desde já à cautela, seria inaceitável imputar ao Arguido AA uma “co-autoria negligente” na prática de um facto que é ao mesmo tempo imputado a título de dolo aos Arguidos DD e JJ

217. Nestes termos, não podem os Arguidos DD e JJ e o Arguido AA ser considerados co-autores dos crimes de peculato, na modalidade prevista e punida pelo artigo 375.º, n.º 1, do Código Penal;

218. Não podendo ser considerados co-autores e estando indemonstrada qualquer outra forma de comparticipação, não é aplicável o n.º 1, do artigo 28.º, do Código Penal, e, consequentemente não é extensível a qualidade de funcionário aos Arguidos DD e JJ.

219. Assim sendo, o Arguido DD teria de ser absolvido da prática dos dois crimes de peculato pela qual foi condenado.

Da prescrição do procedimento criminal, no que ao eventual do crime de peculato previsto no artigo 375.º, n.º 3, do Código Penal, diz respeito – e também no que diz respeito a um eventual crime de abuso de confiança

220. Não obstante, e sempre por prudência e cautela de patrocínio, nunca concedendo, foi por várias vezes, e por diversos fundamentos, referido que a matéria factual constante dos autos, a integrar algum tipo de ilícito, sempre seria apenas o tipo de ilícito consagrado no n.º 3, do artigo 375.º, do Código Penal.

221. Ora, tomando em consideração que os factos agora em apreço ocorreram no ano de 2000, o respectivo procedimento criminal prescreveu, na pior das hipóteses, em 2011, nos termos da aplicação conjugada do artigo 118.º, n.º 1, alínea c), do artigo 119.º, n.º 1, e 121.º, n.º 3, todos do Código Penal, na redacção em vigor à data da prática dos factos.

222. Deverá, pois, declarar-se extinto por prescrição o procedimento criminal pela prática dos referidos crimes de peculato caso se entendam que os factos em causa alguma relevância penal assumem.

223.E prescrito estará também um eventual crime comum de abuso de confiança, como melhor se refere no Parecer de Direito junto a esta motivação, a pp. 75.

DAS MEDIDAS DAS PENAS PARCELARES E DO CÚMULO JURÍDICO

224. A decisão do Tribunal a quo agravou a decisão do Tribunal de primeira instância, não só no que se refere às penas parcelares aplicadas aos supostos crimes de corrupção activa para acto ilícito, aditando-lhe ainda mais um desses crimes, em resultado da revogação da decisão do Tribunal de primeira instância, na parte em que declarou a prescrição dos factos relativos às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA, ao mesmo tempo que aumentou em 10 meses a pena unitária anteriormente aplicada.

225. Assim, à elevação das penas parcelares (em 3 meses, nos casos das falências em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos QQ, GG, RR e TT e em 2 meses, nos casos das falências em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos UU, LLL, BBB, AAA e ZZ) somou-se a pena de 3 anos e dois meses de prisão aplicada aos factos relativos às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA e as duas penas parcelares aplicadas aos supostos crimes de peculato (1 ano e 1 mês de prisão, no que diz respeito aos factos relativos à falência “Supermercados G....” e 1 ano de prisão, no que diz respeito aos factos relativos à falência “I....”).

226. Operando o cúmulo jurídico das 13 penas parcelares (11 referentes aos crimes de corrupção activa para acto ilícito e duas referentes aos crimes de peculato), decidiu o Tribunal da Relação do Porto condenar o Arguido DD na pena única de 5 anos e 10 meses de prisão.

227. Com a elevação da pena unitária em dez meses, perfazendo 5 anos e 10 meses de prisão, foi revogada, igualmente, a suspensão da execução da pena na sua execução, condicionada ao pagamento, no decurso do período de suspensão, do montante declarado perdido a favor do Estado, anteriormente decidida pelo Tribunal de primeira instância.

228. Todavia, o agravamento das penas parcelares não implicava, necessariamente, o agravamento da pena unitária, mas apenas a alteração dos limites mínimo e máximo desta última.

229. Ainda que as penas parcelares aplicadas pelo Tribunal a quo não merecessem reparo, sempre a pena unitária o mereceria, porque, na sua determinação, o Tribunal a quo não levou em consideração os critérios que decorrem do disposto no artigo 77.º, n.º 1, do Código Penal.

230. A dosimetria das penas (quer das parcelares, quer da unitária) não pode ser desligada da forma como o Tribunal a quo decidiu aspectos relativos ao enquadramento jurídico dos factos, entre eles, o momento da consumação dos supostos crimes de corrupção activa para acto ilícito e a consequente determinação do momento a partir do qual começou a correr o prazo de prescrição do respectivo procedimento criminal.

231. E tal é assim na medida em que não pode aplicar-se penas a crimes prescritos.

232. A medida concreta da pena é determinada, no seu máximo inultrapassável, pela medida da culpa, sendo que, dentro desse limite máximo, aquela é determinada no interior de uma moldura de prevenção geral positiva, cujo limite superior é oferecido pelo ponto óptimo de tutela de bens jurídicos e o limite inferior é constituído pelas exigências mínimas de defesa do ordenamento jurídico.

233. Dentro desta moldura penal, a medida concreta da pena é encontrada em função de exigências de prevenção especial, em regra positiva ou de socialização, excepcionalmente negativa ou de intimidação ou segurança individuais.

234. A prevenção geral negativa não constitui finalidade autónoma da pena criminal.

235. A prevenção geral positiva deve ter por referência o disposto no artigo 18.º, n.º 2, da Constituição da República Portuguesa, o que redunda na afirmação da necessidade de protecção de bens jurídicos, tendo em linha de conta o princípio da necessidade da pena.

236. Esse princípio impõe a determinação de uma medida óptima da pena, na qual a prevenção geral positiva não pode valer de forma ilimitada ou absoluta, designadamente sobrepondo-se a considerações que se prendam com a finalidade de prevenção especial, assentes na pessoa do agente da infracção.

237. A medida óptima da tutela de bens jurídicos não permite, per se, determinar com exactidão o quantum concreto da pena a aplicar, já que, abaixo dessa medida óptima, encontrar-se-ão com frequência outras que, correspondendo integralmente às necessidades de tutela dos bens jurídicos, importam para o agente da infracção um sacrifício menor (designadamente, da sua liberdade), permitindo, em função desse sacrifício que ao agente é imposto através da inflicção da pena, encontrar um ponto mínimo, no qual, reduzido esse sacrifício ao máximo, resulte ainda alcançável a aludida medida óptima de protecção de bens jurídicos.

238. Na fixação da medida concreta da pena concorre o princípio da proporcionalidade, por forma a que a pena invada o menos possível a esfera de liberdade do indivíduo, e na medida do estritamente necessário a assegurar as finalidades da pena.

239. Ainda que possa entender-se que os crimes em causa carecem de uma particular reafirmação do seu potencial punitivo, outras circunstâncias há, associadas a este caso, que recomendam que as penas a aplicar ao Arguido sejam fixadas com parcimónia.

240. Com efeito, o Arguido (i) não apresenta antecedentes criminais; e (ii) revela uma adequada inserção sócio-profissional e familiar e há ainda a considerar (iii) o largo (larguíssimo) período de tempo decorrido desde os factos, factores que diminuem substancialmente a necessidade da punição, como, aliás, havia concluído, e bem, o Tribunal de primeira instância.

241. Tais factores são relevantíssimos para aferir da personalidade do Recorrente, da sua conduta anterior e posterior aos factos, e da sua preparação para manter uma conduta lícita (cf., nomeadamente, alíneas d), e) e f), do n.º 2, do artigo 71.º, do Código Penal) e nenhum deles foi objecto de consideração na decisão recorrenda.

242. O Arguidonão exerce actividade profissional como leiloeiro desde 2002, exercendo actualmente a actividade de assessoria e gestão que presta a sociedades de que é accionista, auferindo pela mesma um rendimento anual de cerca de € 60.000,00.

243. O Arguidoé casado com a Arguida JJ, usufruem de uma saudável e estável união conjugal, num contexto de adequada inserção familiar e têm dois filhos menores a seu cargo, revelando preocupação e investimento relativamente ao seu processo educativo, e fazendo do bem-estar destes um dos seus objectivos primordiais de vida.

244. Decorreram quase 14 anos desde os últimos factos imputados ao Arguido, o que corresponde, efectivamente, a um extenso período de tempo, que implica o esbatimento considerável de quaisquer exigências de prevenção, quer geral, quer especial.

245. O Arguido já foi sujeito a dois julgamentos pelos mesmos factos, tendo o segundo deles resultado de decisão de reenvio firmada pelo Tribunal da Relação do Porto de 9 de Julho de 2010.

246. Estes factores e estas circunstâncias são extremamente relevantes para efeitos da determinação da medida das penas, esbatendo substancialmente as necessidades de punição, tal como o são também para efeitos de aferição dos pressupostos necessários à suspensão da execução da pena.

247. O Legislador vem seguindo um caminho de valorização da ressocialização do Arguido em liberdade, sempre que as circunstâncias do caso o permitam e recomendem – como aqui sucede –, o que não deixa de ser sintomático para o caso vertente.

248. O Tribunal a quo afirma que o Arguido (e a Arguida JJ) teriam tido um papel “percursor ou desencadeante” da actuação dos Arguidos liquidatários, usando tal suposta circunstância como fundamento para a agravação das penas parcelares.

249. Refere ainda que a circunstância de a moldura penal da corrupção passiva para acto ilícito ter como limites mínimo e máximo 1 e 8 anos de prisão, de acordo com a redacção do artigo 372.º, do Código Penal resultante do Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, sendo a corrupção activa para acto ilícito, de acordo com a versão do artigo 374.º, n.º 1, do Código Penal resultante do mesmo diploma legal, punida com uma pena entre 6 meses e 5 anos, a moldura pena inferior da corrupção activa não teria impedido o Tribunal de primeira instância de fixar penas parcelares mais elevadas ao Arguido (e à Arguida JJ), quando comparadas com as penas parcelares aplicadas aos Arguidos liquidatários judiciais condenados por corrupção passiva. Esta circunstância, de acordo com o Tribunal a quo, espelharia “o maior peso relativo da inicial pertinaz e organizada acção dos referidos leiloeiros”.

250. Quanto a este aspecto o Tribunal a quo interpreta a decisão do Tribunal de primeira instância como se este Tribunal tivesse considerado relevante, na distinção das penas parcelares aplicadas aos Arguidos liquidatários judiciais, por um lado, e ao Recorrente, por outro, uma circunstância que já relevaria do tipo penal (corrupção activa).

251. Se pudesse ser essa a interpretação da decisão do Tribunal de primeira instância, no que diz respeito à fixação das penas parcelares relativas aos crimes de corrupção activa, isso significaria que aquele Tribunal teria violado o princípio da proibição da dupla valoração.

252. O princípio da proibição da dupla valoração tem consagração expressa no artigo 71.º, n.º 2, do Código Penal, proémio, onde se prevê que: “Na determinação concreta da pena o tribunal atende a todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo de crime, depuserem a favor do agente ou contra ele (…)”

253. O Tribunal a quo, ao interpretar (validando-as e delas retirando consequências) as supostas razões que estariam por detrás da aplicação de penas parcelares mais elevadas ao Recorrente, quando comparadas com as penas parcelares dos Arguidos liquidatários judiciais, incorre numa violação do princípio da proibição da dupla valoração, na medida em que, no tipo penal em questão, a acção típica consiste numa de duas (“der ou prometer”), onde vai, evidentemente, ínsita a ideia segundo a qual há uma actuação (activa) do corruptor que não pode – por estar acolhida no tipo penal – relevar, sem violação do princípio vertido no artigo 71.º, n.º 2, do Código Penal, no momento de determinação da medida da pena.

254. Mas o Tribunal a quo foi ainda mais longe ao afirmar que, por comparação ao caso da Arguida JJ, o caso do Arguido demandaria uma agravação de todas as penas parcelares, em razão da diferenciação das circunstâncias em que actuaram.

255. Se alguma consequência jurídica poderia decorrer da diferenciação dessas duas situações, seria a insusceptibilidade de ser imputada à Arguida JJ a co-autoria dos factos imputados ao Recorrente, na medida em que não tomou parte directa na respectiva execução, não podendo pretender-se que à primeira razão sustentada pelo Tribunal a quo (que vimos ser juridicamente insustentável, porque viola o princípio da proibição da dupla valoração) para a elevação das penas parcelares aplicadas ao Recorrente, se some outra, que não pode ter a consequência pretendida pelo Tribunal a quo.

256. O Tribunal a quo não procedeu à análise individualizada das razões pelas quais, em cada um dos conjuntos de factos que entendeu subsumir aos onze crimes de corrupção activa para acto ilícito, a pena concretamente aplicada deveria ser x ou y, acolhendo-se em considerações de natureza genérica neste domínio, elegendo o critério do montante das supostas vantagens obtidas como a razão da variação das diversas penas parcelares e prescindindo de aferir, como impõe a norma vertida no artigo 71.º, n.º 1, do Código Penal, a culpa do agente e as exigências de prevenção que a cada caso concreto caberiam.

257. As únicas considerações (de natureza genérica) que o Tribunal a quo teceu, em matéria de determinação da medida das penas parcelares, a pp. 1146-1147, da decisão recorrenda coincidem exactamente com as razões invocadas a pp. 1167, da mesma decisão, para efeitos de fundamentação da pena unitária aplicada, o que consubstancia clara inversão metodológica e jurídica.

258. Não consta nem da decisão do Tribunal de primeira instância, nem da decisão recorrenda, na parte das decisões em que uma e outra se pronunciaram acerca da dosimetria das penas parcelares e da pena unitária, qualquer demonstração efectiva dos montantes que, em cada caso concreto, haviam sido auferidos, e, bem assim, os critérios de variação na medida das penas parcelares usados, em função de cada montante concreto.

259. A única alusão feita na decisão recorrenda a um valor concreto (mas que nem é real, baseando-se numa mera suposição) consta do primeiro parágrafo de pp. 1149, onde refere que, em resultado da intervenção da S... nos processos falimentares em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA, este último teria obtido lucros no montante de € 384.058,87, “a que corresponderão proveitos para os Arguidos DD e JJ nunca inferiores ao dobro, isto é, 768.117,74 euros.”

260. O Tribunal a quo não explicou como chegou ao valor que considera ter sido auferido pelo Arguido AA (e que não poderia fundar a determinação da pena concreta a ser imposta ao Recorrente), afirmando (não se sabe com fundamento em que razões) que os lucros do Arguido e da Arguida JJ seriam “nunca inferiores ao dobro”

261. Se o Tribunal a quo tivesse feito uma simples soma dos valores referidos nos casos que entendeu subsumíveis à prática de crimes de corrupção activa para acto ilícito, teria chegado a algumas conclusões surpreendentes, tais como: (i) a pena parcelar aplicada aos casos em que interveio como liquidatário judicial o Arguido LLLfoi fixada em 1 ano e 7 meses de prisão, quando os montantes auferidos nesses casos foram menos de metade dos montantes auferidos nos casos em que interveio como liquidatário judicial o Arguido UU (tendo, nesse caso, sido aplicada uma pena de 1 ano e 6 meses de prisão) e menos de um terço dos montantes auferidos nos casos em que interveio como liquidatário judicial o Arguido VV (tendo, quanto a estes casos, sido aplicada uma pena de 1 ano e 8 meses de prisão); (ii) isto significa – bastando, para o efeito, fazer uma mera operação de somar – que as penas parcelares, com fundamento no critério dos montantes auferidos, pecam por evidente excesso no caso das falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido SS; (iii) nos casos em que figuraram como liquidatários judiciais os Arguidos BBB e AAA, assiste-se, igualmente, a algo insólito: a pena parcelar aplicada foi exactamente a mesma (9 meses), sendo a diferença dos proventos obtidos superior, em mais de um milhão de escudos, no caso (único) ocorrido na falência em que era liquidatário judicial BBB.

262. O critério do montante dos proventos obtidos – sem embargo das incongruências que a aplicação do mesmo demonstra – não é critério aceitável, na medida em que os montantes em questão resultam, na sua quase totalidade, da remuneração da S..., sendo certo que, desde a alteração de factos promovida pelo Tribunal de primeira instância, no decurso do segundo julgamento, o facto supostamente ilícito deixou de ser a cobrança das comissões, mas a sua repartição com os Arguidos liquidatários judiciais.

263. A decisão limita-se a decalcar a decisão do Tribunal de primeira instância – que já havia feito uma análise genérica, e não concreta, como se impunha, no que diz respeito à determinação de cada uma das penas parcelares - agravando as penas concretamente aplicadas aos factos que este entendeu subsumíveis aos crimes de corrupção activa para acto ilícito, o que torna a omissão de fundamentação das penas parcelares (que já se verificava na decisão do Tribunal de primeira instância) especialmente grave.

264. Neste sentido, na parte em que procedeu ao agravamento das penas parcelares aplicadas aos supostos crimes de corrupção activa para acto ilícito, ostenta a decisão recorrenda nulidades, por falta de fundamentação e omissão de pronúncia, nulidades essas previstas, respectivamente, nas alíneas a) e c), do artigo 379.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, e que se deixam expressamente arguidas.

265. Em todo o caso, deverá ser revogada a pena parcelar aplicada ao caso em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA (e que, como vimos, viu o respectivo procedimento criminal prescrito antes de Março de 2013, já que a que a consumação do suposto crime se deu “antes de Março de 1995”, atento o ponto 30, dos factos dados como provados).

266. Os factos relativos às falências em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos GG, RR, UU e ZZ viram, igualmente, os respectivos procedimentos criminais prescritos, respectivamente, em 12 de Junho de 2014, 11 de Outubro de 2013, 23 de Junho de 2014 e 29 de Abril de 2014, em função do teor dos pontos 543, 826, 1026 e 1130 dos factos dados como provados.

267. Assim, este Tribunal deverá, em consequência da declaração de prescrição relativamente a tais factos, revogar as penas parcelares aplicadas relativamente aos factos, subsumidos pelo Tribunal a quo à previsão do crime de corrupção activa para acto ilícito, no que diz respeito aos casos em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos AA, GG, RR, UU e ZZ.

268. Feita a análise da medida da culpa do Arguido e determinadas as exigências (muitíssimo diminutas) de prevenção que relativamente ao mesmo se verificam, as penas parcelares aplicadas pelo Tribunal a quo aos demais crimes deverão ser reformuladas, prescindindo-se, pelas razões expostas, dos critérios diferenciadores assumidos pelo Tribunal a quo, e nivelando-se as mesmas próximo do ponto mínimo da moldura penal (6 meses de prisão).

269. Por seu turno, no que diz respeito às penas parcelares aplicadas aos factos que o Tribunal a quo entendeu subsumir à previsão do crime de peculato, na modalidade resultante do disposto no artigo 375.º, n.º 1, do Código Penal (uma pena de 1 ano e 1 mês de prisão, no que diz respeito aos factos ocorridos no âmbito da falência “Supermercados G....” e uma pena de 1 ano de prisão, relativamente aos factos ocorridos no âmbito da falência “I....”), assiste-se à completa omissão dos fundamentos subjacentes a tais graduações, razão pela qual, neste tocante, ostenta a decisão recorrenda nulidade, em razão de falta absoluta de fundamentação, nos termos do disposto no artigo 379.º, n.º 1, alínea c), do Código de Processo Penal, nulidade essa que se deixa expressamente arguida.

270. Da articulação do trecho do artigo 77.º, n.º 1, do Código Penal, no qual se faz alusão a uma “pena única” com o disposto no n.º 2, do mesmo artigo, onde se determina o procedimento tendente à determinação do quantum dessa pena, resulta que o modelo de determinação da consequência jurídica aplicável às situações de concurso efectivo de infracções é o da pena única, na modalidade de pena unitária.

271. Os modelos conhecidos de determinação da pena aplicável ao concurso efectivo de infracções reconduzem-se aos seguintes: (i) o modelo de acumulação material, no qual o juiz determina a medida concreta da pena cabível a cada um dos crimes que integram o concurso, aplicando uma pena que resulta da soma aritmética das penas parcelares e (ii) o modelo da pena única, assente na consideração unitária da pessoa ou da personalidade do agente, que conhece duas modalidades (a) a modalidade da pena unitária, em que o julgador prescinde de determinar a pena cabível a cada um dos crimes que integram o concurso, como se estes se diluíssem num único crime, cuja pena aplicável seria determinada em função de critérios relevantes da culpa e das exigências de prevenção e (b) a modalidade da pena conjunta, na qual as penas parcelares aplicadas a cada um dos crimes que integram o concurso são convertidas ou transformadas numa pena que é determinada em função da análise conjunta dos factos e da personalidade do agente.

272. No sistema de pena conjunta, a determinação da pena única pode ser feita por referência a dois modelos distintos: (a) de acordo com um modelo de absorção, em que a pena única é determinada em função da pena parcelar mais elevada concretamente aplicada ou (b) de acordo com um modelo de exasperação, nos termos do qual a pena única resulta da agravação (em razão da pluralidade de crimes) da pena parcelar mais elevada, sendo que o efeito agravante resultante do concurso será tanto menor quanto maior for o número de crimes.

273. Do disposto artigo 77.º, n.ºs 1 e 2, do Código Penal, resulta que o nosso modelo penal adopta um sistema de pena unitária, determinada através de um cúmulo jurídico, tendo este por limite mínimo a pena parcelar mais elevada e por limite máximo a soma aritmética de todas as penas parcelares, resultando a graduação, dentro desse intervalo, da análise global dos factos e da personalidade do agente.

274. O sistema de pena unitária, obtida através de um cúmulo jurídico impõe, ao Julgador a determinação prévia das penas parcelares, de acordo com as regras gerais de determinação da pena, como se de uma situação de crime singular se tratasse, o que decorre da consagração legal do modelo da pena, já que, antes de o Julgador proceder a uma avaliação conjunta dos factos e da personalidade do agente, terá de determinar as penas de cada um dos crimes que integram o concurso, na medida em que tais penas fundamentam a pena deste último.

275. O passo seguinte consistirá na determinação da moldura penal do concurso, a qual, na formulação resultante do disposto no artigo 77.º, n.º 2, do Código Penal, tem como limite máximo a soma das penas concretamente aplicadas aos vários crimes, não podendo ultrapassar 25 anos (…) e como limite mínimo a mais elevada das penas concretamente aplicadas aos vários crimes.”

276. Em terceiro lugar, o Tribunal deverá determinar a pena unitária do concurso, “(…) seguindo os critérios gerais da culpa e da prevenção (artigo 71.º, do C.P.) e o critério especial, segundo o qual na medida da pena serão considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente (artigo 77.º, n.º 1, 2.º parte, do C.P.). Critério especial que garante a observância do princípio da proibição da dupla valoração (…)”.

277. Finalmente, o Tribunal tem o “poder-dever” de substituir a pena unitária por uma pena de substituição, aplicando, para o efeito, as regras em matéria de escolha da pena resultantes do disposto no artigo 70.º, do Código Penal.

278. Na fixação da pena unitária, o Tribunal a quo recorreu a um modelo matemático, baseado na aplicação de um algoritmo, invocando um estudo da autoria do Exmo. Senhor Conselheiro CARMONA DA MOTA.

279. De acordo com CARMONA DA MOTA, esse algoritmo deveria contar com as seguintes regras formais:

(i) A representação das penas singulares na pena unitária seria, em regra, parcial, apenas se justificando que esta se aproximasse ou atingisse a soma material das penas parcelares nos casos em que todas as penas singulares correspondam a crimes de gravidade e a sua soma material se contenha dentro dos limites da moldura penal abstracta dos crimes concorrentes;

(ii) A pena unitária só deverá conter-se no seu limite mínimo ou em limite próximo ao mínimo nos casos de grande disparidade entre a gravidade do crime mais grave e a gravidade dos demais;

(iii) Nos demais casos (isto é, sempre que os limites mínimo e máximo da pena unitária distem significativamente), a representação das penas menores na pena unitária não deve exceder um terço do seu peso quantitativo conjunto;

(iv) Para efeitos de determinação da pena unitária, o tratamento da “pequena criminalidade” deveria divergir do tratamento da “média criminalidade”, divergindo, por seu turno, o tratamento dessa última da “criminalidade muito grave”, por forma a que a pena unitária de um concurso (ainda que com um número elevado de crimes) de crimes de menor gravidade não pudesse confundir-se com a pena unitária atribuída a um concurso de crimes de maior gravidade

(v) A medida da pena unitária só deverá atingir o seu limite máximo absoluto em casos extremos, razão pela qual o efeito repulsivo ou compressor desse limite máximo deveria ser, proporcionalmente, tanto maior quanto maior o limite mínimo imposto pela parcelar mais grave e maior o somatório das demais penas parcelares.

280. Todavia, a aplicação desse algoritmo – contra a qual existe sólida doutrina e jurisprudência, que entendem que as regras constantes do artigo 77.º, n.ºs 1 e 2, do Código Penal não admitem a intervenção de critérios matemáticos na fixação da pena unitária, nem sequer destinados a ajustar o limite máximo da moldura da pena unitária, previamente à aplicação dos critérios resultantes daquelas disposições legais – não seguiu os pressupostos enunciados no estudo de CARMONA DA MOTA, invocado na decisão recorrenda.

281. A decisão recorrenda desconsiderou a circunstância de o algoritmo pode ser influenciado pela ponderação dos restantes quatro critérios enunciados por CARMONA DA MOTA, pelo que o mesmo não corresponde a qualquer regra taxativa ou amplamente sedimentada pela Jurisprudência.

282. O argumento da variabilidade, em concreto, do algoritmo, permite evidenciar aquilo que o próprio Conselheiro CARMONA DA MOTA assume, não pode haver um algoritmo previamente determinado para cada caso concreto.

283. O algoritmo proposto por CARMONA DA MOTA– e as regras que enuncia para a respectiva determinação, em concreto – afastam a ideia, patente na decisão recorrenda, da aplicação, sem qualquer análise casuística, de um algoritmo determinado à partida, tendente a resolver as dificuldades emergentes da determinação da pena unitária.

284. Por outro lado, a determinação, em concreto, de um algoritmo é relativizada por CARMONA DA MOTA, ao assumir que a mesma corresponde a uma visão “pessoal” sua, tendente a identificar um “terceiro termo de referência” entre a pena parcelar mais elevada do concurso e a soma aritmética das penas parcelares concretamente aplicáveis, por forma a que seja identificado um intervalo dentro do qual a tarefa do julgador resulte facilitada.

285. Apesar de serem identificados, na decisão recorrenda, os perigos “generalizadores e redutores” que, para a actividade do Julgador, podem resultar da aplicação dos critérios formais avançados por CARMONA DA MOTA, o que é certo é que, na determinação da pena, o Tribunal a quo lançou mão do terceiro critério formal apontado por CARMONA DA MOTA (isto é, apenas da enunciação do algoritmo, somando à pena parcelar mais elevada (3 anos e 2 meses de prisão, aplicada aos factos relativos às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA) ¼ das restantes, tendo concluído que, de tal operação, resultaria uma pena unitária próxima dos 8 anos de prisão (que, feitas as contas, de acordo com a aplicação do algoritmo, nem está correcta, pecando por excesso num ano).

286. Como o Tribunal a quo não procedeu à análise global dos factos – incumprindo, dessa forma, a regra que resulta do disposto no artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, do Código Penal – acaba por fundar a pena unitária aplicada apenas no critério estritamente matemático enunciado pelo Conselheiro CARMONA DA MOTA, prescindindo da análise dos restantes quatro, isto é, não analisa: (i) se os crimes em concurso têm “gravidade” semelhante ou diversa, nem se a soma material das penas parcelares se contém ou não dentro da moldura penal abstracta dos crimes concorrentes (com o que prescinde de aferir da verificação do primeiro critério enunciado no estudo do Conselheiro CARMONA DA MOTA); (ii) não afere da existência ou não de uma grande disparidade entre a gravidade do crime mais grave e os demais; (iii) omite qualquer pronúncia acerca da existência de uma grande disparidade entre os limites mínimo e máximo da pena unitária, que, de acordo com o terceiro critério enunciado pelo Conselheiro CARMONA DA MOTA, é condição necessária para a aplicação do algoritmo (o que se traduz na soma de ¼ das penas parcelares menos elevadas à pena parcelar mais elevada); (iv) não tece quaisquer considerações sobre o tipo de criminalidade em causa, por forma a que o quarto critério enunciado pelo Conselheiro CARMONA DA MOTA possa ter aplicação e (v) omite qualquer referência ao quinto dos critérios enunciados.

287. Neste sentido, a decisão recorrenda expõe-se, não só às críticas que, em geral, podem ser dirigidas aos critérios enunciados pelo Conselheiro CARMONA DA MOTA para efeitos de determinação do quantum da pena unitária, como reconhece apenas, de entre os vários critérios por este enunciados, aquele que mais polémica tem suscitado e que é, de entre todos, e como vimos, o mais relativizado (posto que pode implicar a soma à pena parcelar mais elevada de fracções completamente diversas das restantes penas em concurso, dessa forma influenciado a pena unitária) pelo referido Conselheiro.

288. Assim sendo, a decisão recorrenda, no que tange ao procedimento seguido para a determinação da medida da pena unitária, não pode, de forma alguma, aceitar-se.

289. No que tange à aplicação do algoritmo – que, como vimos, surge desligada da análise de qualquer dos restantes quatro critérios enunciados pelo Conselheiro CARMONA DA MOTA, no estudo citado na decisão recorrenda – o primeiro obstáculo que a mesma enfrenta consiste no seguinte: ao somar-se à mais grave das penas parcelares ¼ das restantes penas que integram o concurso, a determinação da pena unitária deixa de ser feita por referência à regra de acumulação (jurídica) resultante do disposto no artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, do Código Penal, para assentar num modelo de agravação, em que cada uma das penas parcelares menos graves é, de acordo com uma determinada fracção, tida em conta como circunstância agravante da pena parcelar mais elevada.

290. A aplicação de um algoritmo, nestas situações, para além de violar as regras de determinação da pena única que resultam do disposto no artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, do Código Penal, permite suscitar as seguintes questões (as quais, sublinhe-se, não são escamoteadas no estudo da autoria do Conselheiro CARMONA DA MOTA): a que propósito e com que justificação se somaria uma fracção de ½, de 1/3 ou de ¼ ou outra das penas parcelares à pena concretamente mais elevada? Que razões justificam a diferença dessas fracções?

291. Uma solução deste género lançaria o completo arbítrio no processo de determinação da pena unitária, o que não pode deixar de sublinhar-se, já que, do estudo do Conselheiro CARMONA DA MOTA decorre que tal procedimento visaria atalhar às disparidades a que se assistiria na fixação das penas unitárias.

292. Tais critérios de determinação da pena unitária não correspondem à regra da acumulação que determina a construção de um limite máximo abstracto do cúmulo, resultante da soma aritmética das penas parcelares concretamente aplicadas e de um limite mínimo, que corresponde à mais elevada das penas singulares em concurso.

293. Por outro lado, a adopção do algoritmo elimina, na prática, as hipóteses em que a pena única possa ser fixada no limite mínimo da pena unitária (que corresponde à pena parcelar mais elevada aplicada aos crimes em concurso) já que, independentemente da fracção das penas parcelares menos elevadas que for aplicada, se tal fracção se somar, necessariamente, à pena parcelar mais elevada, a pena unitária deixa de poder corresponder ao limite mínimo (a mais elevada das penas em concurso).

294. Este argumento demonstra que o recurso a um algoritmo introduz, na determinação da pena unitária, um sentido agravador resultante do concurso, que a consagração do sistema de pena unitária quis, evidentemente, proibir.

295. Ainda que se defenda – como parece defender o Conselheiro CARMONA DA MOTA – que a função do algoritmo reside na identificação de um “terceiro termo” que auxilie o Julgador no esteitamento do intervalo entre o limite mínimo e o limite máximo da pena unitária, o que é certo é que, ainda assim, o limite mínimo da pena unitária seria na prática erradicado, já que a pena seria fixada, algures, entre o limite mínimo (mas nunca podendo corresponder a este, por força do “ajustamento” a fazer, por forma a ir de encontro ao “terceiro termo” resultante da aplicação do algoritmo) e esse “terceiro termo”.

296. Tal solução violaria, ostensivamente, a regra segundo a qual a medida concreta da pena única tem como limite mínimo a pena parcelar concretamente mais grave e, como limite máximo, a soma aritmética de todas as penas que integram o concurso, claramente assumida, no artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, do Código Penal, como regra fundamental na determinação da pena unitária.

297. Contra uma tal solução entendemos valerem, na íntegra, as reservas que, historicamente, foram formuladas relativamente à hipótese de as penas (singulares ou em concurso) serem determinadas com referência ao “meio” da pena (significando esse «meio» a pena concretamente cabível ao caso ou o limite máximo “reajustado”), porque o que tal solução implicava era – como implica a adopção do algoritmo – a alteração da regra legal que estabelece o intervalo da pena.

298. Em face da redacção da segunda parte, do artigo 77.º, n.º 1, do Código Penal, ao juiz está vedada a possibilidade de, antes de proceder à aplicação, em concreto, dos factores legais que permitem estabelecer a dosimetria da pena, fixar um “ponto” determinado, no intervalo dado pela norma aí contida, quer esse “ponto” seja feito corresponder à pena concretamente aplicável (situação em que nos parece evidente que se prescinde, em toda a linha, dos critérios que permitem dosear as penas) ou ao mesmo seja atribuída a função de “reajuste” do limite máximo abstractamente aplicável.

299. Qualquer dessas soluções viola a regra, patente no artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, do Código Penal, nos termos da qual a pena unitária é aferida dentro de um intervalo cujo limite mínimo corresponde à pena parcelar mais elevada das infracções em concurso e cujo limite máximo corresponde à soma aritmética de todas as penas parcelares aplicadas, em função na análise global dos factos e da personalidade do agente.

300. Se antes da consideração global dos factos e da personalidade do agente que neles se exprime, se procede a uma operação aritmética tendente a fixar um “ponto” que há-de configurar o limite máximo da pena unitária, é evidente que o sistema de determinação da medida concreta da pena, tal qual gizado pelo artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, do Código Penal, fica, irremediavelmente, comprometido.

301. Da aplicação dos critérios enunciados pelo Conselheiro CARMONA DA MOTA resulta ainda um problema adicional e da maior relevância teórica e prática: por via dessa aplicação, os critérios relativos à personalidade (unitária, por referência aos factos) e à imagem global destes últimos ficam reduzidos a um papel “residual”, na medida em que, onde tais critérios deveriam, em primeira linha, ser convocados para ser encontrada a medida concreta da pena unitária, é aplicado um critério matemático.

302. A adopção de um tal modelo implica que se prescinda de interligar os factos e de conexioná-los uns com os outros, de modo a obter-se um sentido do conjunto em termos de ilicitude global e de culpa referida ao todo, conjugando-os com a personalidade única e unitária do agente, sendo que, em nome da igualdade das penas, prescinde-se de saber quais são, em concreto, os factos cometidos e as circunstâncias em que foram praticados, tudo se reconduzindo a apurar quais os crimes em jogo, por referência às disposições legais atinentes e às penas aplicadas, para efeitos de se somarem, segundo uma dada proporção/compressão, à pena parcelar mais elevada.

303. A isto acresce que também se faz praticamente tábua rasa das características da personalidade do agente, em termos de revelar ou não tendência para a prática de crimes ou de determinado tipo de crime, devendo a pena única reflectir essa diferença em termos substanciais.

304. Mesmo que a fórmula matemática possa fornecer um mínimo, um máximo e uma média, a variação entre eles pode ser muito pequena e, para além disso, os dados fornecidos são sempre produto de um cálculo aritmético, incompatível com a avaliação complexa da personalidade de um determinado agente.

305. Por outro lado, não se nos afigura correcta a afirmação de António Artur RODRIGUES DA COSTA, no estudo em que contraria a fórmula de determinação da medida da pena unitária proposta por CARMONA DA MOTA, segundo a qual a determinação da pena unitária com recurso a um algoritmo se traduz, geralmente, em penas unitárias mais baixas.

306. Tal circunstância pode ou não ocorrer, sendo certo que, a partir do momento em que se prescinde de aferir o ponto, no intervalo traçado pelo artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, do Código Penal, para onde deve convergir a pena concreta, em função da avaliação global (ou da imagem global dos factos) e da personalidade unitária do agente, fica-se, pura e simplesmente, sem saber qual a pena que, em concreto, seria aplicada se acaso o algoritmo não fosse chamado a desempenhar a função que o legislador reservou, a título exclusivo, àqueles dois critérios.

307. Tal critério de determinação da medida da pena, se facilita, de forma evidente, a tarefa do Julgador, não garante (rectius, não pode afirmar-se que, em concreto, garanta) qualquer benesse ao agente, traduzida na fixação da pena num ponto inferior àquele que resultaria da aplicação directa dos critérios a que se alude no artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, do Código Penal, o que é, de resto, evidenciado pela erradicação do limite mínimo da pena unitária, em resultado da aplicação de um algoritmo.

308. Também fica por demonstrar que tal critério permita, efectivamente, a uniformização das penas aplicadas pelos Tribunais portugueses, já que só pode falar-se em uniformização quando se prescinda de aferir a imagem global dos factos que, em concreto, o Julgador tem de valorar e a personalidade unitária do agente que através deles se manifesta.

309. É em função da imagem global dos factos e da personalidade do agente nos mesmos revelada que a medida da pena dever ser fixada, não sendo, por isso, admissíveis a aplicação de quaisquer critérios (matemáticos ou de outra natureza) que reduzam aqueles parâmetros a aspectos meramente residuais, destinados a afinar uma pena previamente determinada em razão de critérios estritamente matemáticos.

310. Assentando o sistema de determinação da pena na constatação de que há apenas um agente e uma pluralidade de factos (e de penas), é fundamental na identificação da medida dessa pena a análise do contributo de cada ilícito típico praticado, numa análise não atomística, mas global, e que obriga a olhar para o conjunto dos factos e para a possível conexão que entre eles possa estabelecer-se, relacionando-os com a personalidade do agente.

311. Daí que a pena haja de ser determinada em duas etapas: em primeiro lugar, determinando-se e justificando-se cada pena parcelar e, em segundo lugar, determinando-se e justificando-se a pena única, processos em que intervêm critérios de natureza distinta, relevando, na medida da pena única, o desvalor global e final (quer de ilícito, quer de culpa), por forma a que a pena estabeleça uma dupla unidade de relação: por um lado, entre os próprios factos e, por outro, entre estes e a personalidade do agente, por forma a que resulte identificada a forma como essa personalidade se exprime ou não nos factos.

312. Na valoração, em concreto, desses dois aspectos, o propósito da uniformização perde o seu sentido, pois que cada caso de determinação da pena unitária terá características únicas.

313. Só assim pode afirmar-se que a pena unitária corresponde a um ilícito (e a uma culpa) globais – sendo certo que este ilícito e esta culpa se diferenciam, por força do princípio da proibição da dupla valoração, do ilícito e da culpa que relevam de cada um dos factos, que integram cada um dos ilícitos isoladamente considerados, desde logo porque incidem sobre todos os factos que integram o concurso e porque na respectiva avaliação intercede a personalidade unitária do agente.

314. Nada disto ocorrerá se a pena for fixada com referência a um algoritmo, na medida em que da aplicação do algoritmo não decorre qualquer análise da relação entre os factos que integram o concurso, centrando-se numa relação (aritmética) estabelecida entre as várias penas parcelares em concurso, passando a pena unitária a centrar-se nas consequências jurídicas atribuídas a cada um dos factos em concurso, e não à relação (factual) que entre os mesmos possa estabelecer-se, perdendo, por isso, de vista, desde logo, a análise do desvalor global resultante dos crimes em concurso.

315. A adopção de um tal procedimento de determinação da pena cria ainda um risco evidente – e que entendemos ter-se materializado na decisão recorrenda – porquanto as regras matemáticas tornam o procedimento tão fácil que a aplicação (ainda que residual) dos critérios enunciados no artigo 77.º, n.º 1, do Código Penal pode ficar reduzida a quase nada.

316. E, de facto, a decisão recorrenda, ao enveredar por um tal critério na determinação da pena – que, como vimos, se traduz na violação das regras de determinação da pena unitária – não só se expõe, em concreto, a todas as críticas que a sua adopção suscita, como, por confiar num critério (relativamente ao qual, como vimos, o Tribunal a quo não deixou de suscitar algumas reservas) excessivamente formalizado, prescindiu de proceder à análise dos factos e da interligação entre estes e, bem assim, da personalidade do Arguido, o que se traduziu numa decisão não só errada, como omissa quanto à fundamentação dos critérios de determinação da medida da pena resultantes do disposto no artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, do Código Penal.

317. E a fundamentação da decisão recorrenda, na parte em que se pronuncia acerca da pena unitária, resume-se à identificação dos limites mínimo e máximo da pena do concurso, em ambos sendo consideradas as penas parcelares aplicadas a factos que já viram prescrito o respectivo procedimento criminal.

318. Assim, foi determinado como limite mínimo da pena unitária a pena de 3 anos e 2 meses de prisão, aplicada aos factos em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA e como limite máximo 22 anos e 8 meses de prisão.

319. Nenhum dos referidos limites está, salvo o devido respeito, correctamente determinado.

320. O limite mínimo (sem prejuízo do que acima ficou dito a propósito da forma como foram determinadas as penas parcelares) teria de corresponder à pena parcelar mais elevada.

321. Ora, tendo em linha de conta que os factos referentes às falências em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos AA, GG, RR, UU e ZZ viram o respectivo procedimento criminal prescrito, as mesmas não podem relevar na determinação, nem do limite mínimo, nem do limite máximo abstractamente aplicável ao concurso.

322. A prescrição do procedimento criminal, uma vez declarada – circunstância que obsta ao exercício do jus puniendi, e que é de conhecimento oficioso, em qualquer estádio do processo - não pode senão implicar a extinção do procedimento criminal (isso mesmo decorre do proémio do artigo 118.º, n.º 1, do Código Penal), o que constitui, evidentemente, circunstância impeditiva da aplicação de qualquer pena, quer parcelar, quer unitária.

323. As penas parcelares prescritas não podem integrar o cúmulo jurídico.

324. Assim, a pena parcelar a ser considerada na determinação do limite mínimo da pena unitária seria, atento o disposto no artigo 77.º, n.º 2, segunda parte, do Código Penal, teria de ser a pena aplicada aos factos relativos às falências em que interveio como liquidatário o Arguido QQ, isto é, a pena de 2 anos e 6 meses de prisão.

325. Relativamente ao limite máximo do cúmulo, assiste-se a duas circunstâncias que não podem deixar de enfatizar-se: (i) por um lado, consideram-se relevantes para o cômputo desse limite máximo penas aplicadas a factos relativamente aos quais o procedimento criminal se encontrava, à data da prolação da decisão recorrenda, prescrito (a saber, as penas parcelares aplicadas aos factos relativos às falências em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos AA, GG, RR, UU e ZZ, aos quais foram, respectivamente, aplicadas as penas parcelares de 3 anos e 2 meses de prisão, 2 anos e 11 meses de prisão, 2 anos e seis meses de prisão, 1 ano e seis meses de prisão e 1 ano de prisão) e, por outro lado, mesmo considerando todas as penas parcelares, incluindo as aplicadas aos factos em que se verificava já a prescrição do procedimento criminal, a soma aritmética das mesmas não está, salvo o devido respeito, correctamente determinada.

326. A soma aritmética de todas as penas consideradas na decisão recorrenda (incluindo, sublinhe-se, aquelas que não deveriam ter sido aplicadas, em razão da prescrição do procedimento criminal) não corresponde à pena de 22 anos e 8 meses de prisão, mas sim a uma pena de 20 anos e 8 meses de prisão.

327. Todavia, atenta a natureza e as consequências processuais decorrentes da prescrição, as penas aplicadas aos factos relativos às falências em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos AA, GG, RR, UU e ZZ sempre haveriam de ser suprimidas da operação arimética tendente a identificar o limite máximo da pena unitária, o que implicaria que nessa soma passassem a ser consideradas (na pior das hipóteses e não considerando este Supremo Tribunal existirem as razões invocadas para o abaixamento das penas relativas aos crimes de corrupção não prescritos) apenas as seguintes penas parcelares: (i) uma pena de 2 anos e seis meses de prisão, em razão da condenação pela prática de um crime de corrupção activa para acto ilícito, na modalidade prevista e punida pelos artigos 374.º, n.º 1 e 386.º, n.º 1, alínea c), do Código Penal, relativamente às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido QQ; (ii) uma pena de dois anos e três meses de prisão, em razão da condenação pela prática de um crime de corrupção activa para acto ilícito, na modalidade prevista e punida pelos artigos 374.º, n.º 1 e 386.º, n.º 1, alínea c), do Código Penal, relativamente às falências em que interveio como liquidatário judicial o TT; (iii) uma pena de um ano e sete meses de prisão, em razão da condenação pela prática de um crime de corrupção activa para acto ilícito, na modalidade prevista e punida pelos artigos 374.º, n.º 1 e 386.º, n.º 1, alínea c), do Código Penal, relativamente às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido LLL; (iv) uma pena de nove meses de prisão, em razão da condenação pela prática de um crime de corrupção activa para acto ilícito, na modalidade prevista e punida pelos artigos 374.º, n.º 1 e 386.º, n.º 1, alínea c), do Código Penal, relativamente à falência em que interveio como liquidatário judicial BBB; (v) uma pena de nove meses de prisão, em razão da condenação pela prática de um crime de corrupção activa para acto ilícito, na modalidade prevista e punida pelos artigos 374.º, n.º 1 e 386.º, n.º 1, alínea c), do Código Penal, relativamente à falência em que interveio como liquidatário judicial o Arguido ZZ; (vi) uma pena de um ano e seis meses de prisão, em razão da condenação pela prática de um crime de corrupção activa para acto ilícito, na modalidade prevista e punida pelos artigos 374.º, n.º 1 e 386.º, n.º 1, alínea c), do Código Penal, relativamente às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido VV; (vii) uma pena de 1 ano e 1 mês de prisão, em razão da condenação, em concurso efectivo com os restantes ilícitos, pela prática de um crimes de peculato, na modalidade prevista e punida pelos artigos 375.º, n.º 1 e 386.º, n.º 1, alínea c) e 28.º, todos do Código Penal, por referência à falência “Supermercados G....” e (viii) uma pena de 1 ano de prisão, em razão da condenação, em concurso efectivo com os restantes ilícitos, pela prática de um crimes de peculato, na modalidade prevista e punida pelos artigos 375.º, n.º 1 e 386.º, n.º 1, alínea c) e 28.º, todos do Código Penal, por referência à falência “I....”.

328. Somando estas penas parcelares (as únicas que, sublinhe-se, não têm por pressuposto da respectiva aplicação factos relativamente aos quais o respectivo procedimento criminal já se encontrava prescrito, à data em que a decisão recorrenda foi proferida) obteríamos um limite máximo da pena unitária correspondente a 11 anos e 7 meses de prisão.

329. A decisão recorrenda ostenta, assim, no que diz respeito às operações tendentes à identificação dos limites mínimos e máximos do concurso de penas, salvo o devido respeito, os seguintes erros: (i) erro aritmético na soma material das penas que entendeu deverem relevar, nos termos do disposto no artigo 77.º, n.º 2, primeira parte, do Código Penal, para a determinação do limite máximo da pena unitária, mesmo considerando os factos relativamente aos quais, já à data da prolação dessa decisão, havia ocorrido prescrição do respectivo procedimento criminal, tendo determinado uma pena de 22 anos e 8 meses de prisão, quando essa soma aritmética determinaria uma pena de 20 anos e 8 meses de prisão; (ii) considerou corresponder ao limite mínimo da pena unitária, para efeitos do disposto no artigo 77.º, n.º 2, segunda parte, do Código Penal, a pena aplicada aos factos relativos às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA quando, atenta a circunstância de, relativamente a tais factos, se encontrar já prescrito o respectivo procedimento criminal (sendo que idêntica conclusão seria de extrair relativamente aos factos ocorridos no âmbito das falências em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos GG, RR, UU e ZZ), a pena parcelar a considerar, para esse efeito, teria de ser a pena aplicada aos factos ocorridos no âmbito das falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido QQ(2 anos e 6 meses de prisão); (iii) fez incluir na soma aritmética das penas parcelares penas aplicadas aos factos relativamente aos quais se havia já verificado a prescrição do respectivo procedimento criminal (os mesmos factos referidos no ponto anterior), quando a procedência da prescrição teria implicado que essa soma aritmética (no pressuposto de se manterem as penas parcelares) correspondesse, não a 22 anos e 8 meses de prisão (valor no qual está ínsito o erro de cálculo referido em (i) supra), mas a 11 anos e 7 meses de prisão.

330. Assim, o intervalo dentro do qual a pena unitária deveria ter sido fixado teria como limite mínimo 2 anos e 6 meses de prisão e como limite máximo 11 anos e 7 meses de prisão.

331. Na fixação (com os erros identificados supra) da medida concreta da pena unitária, o Tribunal a quo ateve-se, para além do já amplamente debatido critério aritmético, a duas circunstâncias: ao lapso de tempo decorrido desde a data dos factos e ao anterior bom comportamento do Recorrente, que não tem antecedentes criminais, concluindo, todavia, que tais circunstâncias “não constituem motivos suficientes para que se reduza a pena única a 5 anos de prisão, como ocorreu na primeira instância, até porque não se deve omitir que os factos fazem passar a imagem de que foram a afoiteza, a habilidade e a argúcia negocial mal direccionadas deste arguido que deram azo a que ocorresse um aliciamento tão “eficaz” e sistemático dos liquidatários judiciais envolvidos. Entende-se, assim, que a pena aplicada pelo Tribunal recorrido foi, assim, neste caso, demasiado branda (embora, note-se, partindo de pressupostos menos gravosos para o arguido, ao nível das penas parcelares), pelo que se fixará em 5 anos e 10 meses de prisão a pena única a aplicar ao arguido DD, nessa medida se dando parcial provimento a esta parte do recurso do Ministério Público (pois, além do mais, tal pena não pode ser suspensa na sua execução).”

332. Ora, no que diz respeito às circunstâncias em questão, a respectiva consideração para efeitos de determinação do quantum da pena unitária está vedada, atendendo a que essas mesmas circunstâncias já haviam sido consideradas em sede de determinação (e com vista ao respectivo agravamento, face ao que resultava da decisão do Tribunal de primeira instância) das penas parcelares.

333. O princípio da proibição da dupla valoração constitui um princípio basilar em sede de determinação da pena aplicável, radicando no princípio segundo o qual se assiste, nesta matéria, a uma separação entre as funções do Legislador (que, na sequência da configuração dos vários tipos penais, estatui uma moldura penal abstracta) e do Julgador (que fica inibido de, na determinação do quantum exacto da pena, considerar circunstâncias que o legislador arvorou a elementos do tipo, restando-lhe apenas a ponderação de circunstâncias excluídas do tipo, o que terá de fazer em função da graduação do ilícito, da intensidade do dolo e da culpa reveladas nos factos), não deixa de projectar-se nas circunstâncias agravantes dos tipos penais-base e, igualmente, no momento em que a pena unitária decorrente do concurso de infracções haja de ser determinada.

334. Em todos os referidos casos, o princípio da proibição da dupla valoração obedece, efectivamente, à mesma finalidade: impedir que as mesmas circunstâncias sejam valoradas em cada estádio de determinação da pena, prevenindo-se, assim, a produção de um efeito multiplicador que a Lei penal pretende impedir.

335. Assim sendo, não poderia o Tribunal a quo ter voltado a considerar, na determinação da pena unitária, a mesma circunstância que já havia fundado a decisão, no sentido de elevar as penas parcelares relativas aos crimes de corrupção para acto ilícito que foram imputados ao Arguido.

336. A este problema acresce um outro: nesta parte da decisão recorrenda assiste-se à omissão de qualquer referência às circunstâncias que, nos termos do disposto no artigo 77.º, n.º 1, segunda parte (onde se prevê que, “[n]a determinação da medida da pena são considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente[.]”) devem ser atendidas para efeitos de determinação dessa mesma pena.

337. De uma análise conduzida pelos critérios veiculados pelo artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, do Código Penal, poderia ter resultado uma leitura global dos factos e uma análise da personalidade do Arguido, que teria permitido que o Tribunal a quo tivesse procedido à graduação da pena unitária.

338. Não tendo tal análise sido feita, não pode, pois, entender-se que a pena unitária aplicada corresponda aos critérios legais a aplicar na sua determinação (isto sem prejuízo do que já referimos supra quanto à metodologia usada  pelo Tribunal a quo para determinar o quantum da pena unitária).

339. No que diz especificamente respeito à personalidade do Recorrente, o Tribunal a quo deveria ter tido em linha de conta dois aspectos: por um lado, o teor do ponto 1338, dos factos dados como provados, do qual decorre que o mesmo tem uma evidente apetência para a actividade comercial (tendo, aliás, deixado a actividade de leiloeiro na sequência do presente processo, tendo de reorientar a sua vida profissional para outras actividades) e que, sobretudo, denota capacidade para se orientar de acordo com padrões de obediência ao Direito.

340. A isto acresceria ainda o seguinte: dos pontos 1276, 1313, 1314 e 1338, dos factos dados como provados decorre a verdadeira razão pela qual a S... era chamada a participar – com a anuência das comissões de credores e dos demais intervenientes nos processos falimentares – na liquidação do património das massas falidas: a postura negocial, a capacidade de trabalho do Arguido e o seu conhecimento das técnicas comerciais geravam (e geraram, efectivamente) mais lucros para as massas falidas, comparativamente ao que se teria verificado caso as vendas dos activos destas últimas tivessem ocorrido através de negociação particular.

341. Analisada, por um lado, a personalidade do agente e, por outro, as razões pelas quais, comprovadamente, a S... teve intervenção em cada procedimento falimentar, chegar-se-ia à conclusão segundo a qual os factos, globalmente analisados, não revelam qualquer “carreira criminosa” por parte do Arguido.

342. Todavia, o Tribunal a quo não faz qualquer análise deste género, bastando-se a fixação da medida da pena unitária aplicada ao Arguido pelo Tribunal a quo com a afirmação da suposta brandura da pena unitária aplicada pelo Tribunal de primeira instância.

343. Não tendo o Tribunal a quo analisado, a este propósito, as exigências de prevenção que o caso eventualmente reclamasse, tal suposta brandura não permitiria nunca sustentar a elevação da medida dessa pena, o que redunda, evidentemente, na nulidade da decisão recorrenda.

344. Nesse sentido, e porque a decisão recorrenda, na parte em que procedeu à determinação da medida concreta da pena unitária imposta ao Recorrente, inobservou quaisquer dos critérios (análise global dos factos e projecção da personalidade do agente nos mesmos) dos quais o artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, faz depender tal determinação, ao mesmo tempo que silencia qualquer referência, no que diz respeito às exigências de prevenção, revogando, para além disso, a decisão anterior, quer no que diz respeito à medida concreta da pena unitária, o que, in casu, gerou a impossibilidade de suspensão na respectiva execução, anteriormente decretada, não pode senão concluir-se que, neste tocante, a decisão recorrenda padece de nulidade, quer por falta de fundamentação, quer em razão de omissão de pronúncia.

345. Caso este Supremo Tribunal entenda que cabe censura penal aos factos dados como provados, e caso entenda que deve reformular o cúmulo jurídico determinado pelo Tribunal a quo, na determinação do quantum da pena unitária, deverão ser tomadas em linha de conta as seguintes circunstâncias:

346. Na hipótese de este Tribunal configurar os crimes de corrupção imputados ao Arguido como crimes de corrupção para acto ilícito, deverá ter em linha de conta que, à data da apresentação deste recurso, encontra-se prescrito o procedimento criminal, no que diz respeito aos factos relativos às falências em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos AA, GG, RR, UU e ZZ.

347. Isto significa que, ainda que fossem mantidas as penas parcelares imputadas aos restantes crimes, teríamos uma moldura do concurso que teria como limite mínimo a pena parcelar aplicada aos factos relativos às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido QQ(2 anos e 6 meses de prisão) e como limite máximo (resultante da soma aritmética de todas as penas parcelares) 11 anos e 7 meses de prisão.

348. Atenta esta moldura abstracta da pena unitária, e ponderados os factores de determinação da medida concreta da pena unitária previstos no artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, do Código Penal, teríamos de concluir que a personalidade do agente não revela qualquer propensão criminosa, sendo certo que, da análise global dos factos não pode retirar-se qualquer sentido de ilicitude e de culpa globais, compatíveis com a aproximação da pena concreta ao limite superior da moldura penal unitária.

349. A pena unitária, assente num modelo de cúmulo jurídico e não de acumulação material de penas parcelares, permite que, na fixação daquela, sejam consideradas circunstâncias que, acompanhando os crimes, e não podendo, todavia, relevar para efeitos de imputação de crime continuado, diminuem sensivelmente a culpa do agente, o que implica que, na fixação da pena unitária, a acumulação de crimes, não possa, per se, relevar como critério agravante.

350. A imposição, constante do artigo 77.º, n.º 1, do Código Penal, no sentido de ser tida em linha de conta a imagem global dos factos e a personalidade do agente na fixação da pena concreta, pode determinar que, assistindo-se a uma diminuição progressiva da culpa, à medida que os diversos crimes que integram o concurso vão tendo lugar, a fixação da pena unitária concreta possa convergir para o limite mínimo da moldura abstracta dessa pena (que corresponde, nos termos do disposto no artigo 77.º, n.º 2, segunda parte, do Código Penal, à pena mais elevada em concurso), aproximando-se da pena unitária que teria aplicação caso se tratasse de crime continuado (que corresponde, nos termos do disposto no artigo 79.º, n.º 1, do Código Penal, à pena aplicável à conduta mais grave que integra a continuação).

351. Tal circunstância implica que – embora não vigorando no nosso ordenamento jurídico, em matéria de concurso de penas, a regra da absorção – nos casos em que haja atenuação sensível da culpa, a pena unitária do concurso pode aproximar-se, ou até coincidir com a pena que seria aplicável caso existisse crime continuado, pena essa que corresponde (no confronto das regras previstas nos artigos 77.º, n.º 2, primeira parte e 79.º, n.º 1, ambos do Código Penal) ao limite mínimo da pena unitária aplicável em situações de concurso efectivo.

352. No caso vertente constata-se, efectivamente, uma diminuição sensível da culpa do Arguido, constatável por duas vias: por um lado, porque, atentos os factos dados como provados nos pontos 1276, 1313, 1314 e 1338, a intervenção da S... teve como justificação a maximização dos resultados da liquidação das massas falidas e, por outro outro lado, a absolvição do Recorrente, no que diz respeito aos factos ocorridos no âmbito da falência “AZ..”, em que interveio como liquidatária judicial XX, permite evidenciar algo que tem de relevar ao nível dos demais casos em que não foi proferida decisão absolutória: é que, nesse caso, tendo sido entregue um montante pecuniário à liquidatária, que nem havia sido a liquidatária originariamente nomeada para o processo, fica por explicar como poderia pretender-se que a entrega de montantes pecuniários visava “recompensar” os liquidatários judiciais (que, sublinhe-se, nem tinham poderes para nomear terceiros coadjuvantes do processo falimentar, carecendo, para o efeito, de decisão da comissão de credores ou do síndico) pela escolha da S... como coadjuvante do processo de liquidação.

353. Não pode, assim, pretender-se que o grau de culpa, não obstante a acumulação material de ilícitos imputados pelo Tribunal a quo, seja, in casu, directamente proporcional a tal acumulação.

354. A reiteração de determinada actuação, quando coexista com factores que permitam (como cremos ser o caso, em função das circunstâncias aludidas supra) diminuir sensivelmente a culpa, não pode deixar de implicar um abaixamento da pena que deverá, in casu, aproximar-se do limite mínimo da moldura abstracta dessa pena, ou seja, 2 anos e 6 meses de prisão.

355. No caso vertente, e após o Tribunal de primeira instância ter, fundamentadamente, aplicado ao Arguido uma pena unitária de cinco anos, suspendendo-a na sua execução, mediante a condição do pagamento das quantias declaradas perdidas, o Tribunal a quo, bastando-se com a afirmação genérica, a pp. 1167, sétimo parágrafo, segundo a qual o decurso de um largo período de tempo desde a prática dos factos e a ausência de antecedentes criminais do recorrente, não constituiriam motivos para a fixação da pena unitária nos termos em que a mesma resultou da decisão do Tribunal de primeira instância, concluiu que tal pena seria demasiado “branda”.

356. Neste trecho da decisão recorrenda, o Tribunal a quo não teve qualquer consideração pelos factores de prevenção especial – que estabelecem um limite à fixação da pena - desconsiderando completamente o facto de o Arguidoter deixado de exercer a actividade profissional de leiloeiro em 2002 e o facto de, actualmente, ter a sua vida profissional e pessoal estabilizada, o que reduz ao mínimo as exigências de prevenção especial.

357. Em função do que ficou exposto supra, a propósito da fixação da medida da pena unitária, entendemos que, em nenhum caso, esta deverá ser fixada em limite superior a cinco anos de prisão, devendo, em todo o caso, a pena que vier a ser aplicada ser suspensa na respectiva execução, nos mesmos termos que haviam sido já decididos pelo Tribunal de primeira instância, na medida em que tal decisão asseguraria, de forma esgotante, as finalidades de punição que ao presente caso cabem.

358. Não obstante o Tribunal a quo em nada ter relevado as exigências de prevenção especial, o que é certo é que uma correcta aferição das mesmas, nos termos expostos supra, sempre deporia no sentido, quer da fixação da pena unitária em medida muito inferior à que resulta da decisão recorrenda (eventualmente coincidindo, como vimos, com a pena parcelar mais elevada), quer da suspensão dessa pena na sua execução.

359. São, assim, várias as razões que recomendam a suspensão da pena de prisão que vier a ser aplicada ao Recorrente, a saber (i) o alargado período de tempo já decorrido desde a prática dos factos – localizados no intervalo de tempo decorrido entre os anos de 1995 e 2002; (ii) a ausência de antecedentes criminais; (iii) a inserção sócio-profissional e familiar do Recorrente; e (iv) a circunstância de o Arguidoter dois filhos menores a seu cargo.

360. Impõe-se ainda realçar a circunstância de ter decorrido um largo período de tempo desde a prática dos factos, no decurso do qual enfrentaram dois julgamentos sucessivos, sem que o Arguidotenha reatado a sua actividade supostamente criminosa, o que é sintomático do juízo de prognose favorável à sua socialização, fazendo antever uma mínima probabilidade de regresso ao delito, potenciada pelo efeito dissuasor da própria pena de suspensão, donde resulta a adequação e proporcionalidade da aplicação da pena de substituição de suspensão da execução da pena de prisão.

361. Nestes termos, e mesmo que a pena unitária que vier a ser fixada ao Arguidose eleve para além dos 2 anos e 6 meses de prisão, entendemos que, pelas razões expostas, essa pena nunca deverá ultrapassar os cinco anos de prisão, sendo que, independentemente do quantum que vier a ser determinado, a pena a aplicar deverá ser suspensa na sua execução, eventualmente nos exactos termos em que o foi pelo Tribunal de primeira instância.

DA PERDA DE VANTAGENS

362. O Arguido foi condenado, pelo Tribunal de primeira instância, ao abrigo do disposto nos n.ºs 1 e 4, do artigo 111.º, do Código Penal, no pagamento ao Estado da quantia de € 1.000.000,00 (um milhão de euros), em substituição da perda de vantagens supostamente auferidas não só com a prática dos crimes de peculato e corrupção activa para acto ilícito, pelos quais foi também condenado, como pelas vantagens auferidas pela prática do crime de corrupção activa para acto ilícito, do qual fora absolvido (e que lhe era imputado em razão dos factos ocorridos no âmbito das falências em que interviera como liquidatário judicial o Arguido AA).

363. De acordo com a decisão do Tribunal de primeira instância – que aplicara ao Arguido uma pena unitária de cinco anos de prisão, suspensa na respectiva execução, por igual período – a suspensão da pena fora condicionada ao pagamento, no decurso do prazo dessa suspensão, do montante de € 1.000.000,00.

364. Na decisão recorrenda, a pena unitária foi elevada para 5 anos e dez meses de prisão, razão pela qual a pena deixou de ser suspensa na execução, nos termos decididos anteriormente pelo Tribunal de primeira instância.

365. Isto não significa que, não obstante o Tribunal a quo ter reduzido o montante da perda em € 100.000,00, condenando o Arguido no pagamento de € 900.000,00, a decisão recorrenda tenha sido favorável ao Arguido. Não o foi, efectivamente, porque o montante declarado perdido a favor do Estado continua a ser elevadíssimo – e, sobretudo, não é estabelecida qualquer relação concreta entre os factos supostamente ilícitos e o montante declarado perdido –, sendo certo que, com a revogação da suspensão, evidentemente que, a manter-se este trecho da decisão recorrenda, a mesma se traduz numa situação mais gravosa para o Arguido, na medida em que terá de proceder ao pagamento do montante em questão, assim que estes autos transitem em julgado.

366. A decisão recorrenda, quanto ao aspecto da perda de vantagens, corrigiu alguns erros da decisão do Tribunal de primeira instância, mas, nem por isso, pode aceitar-se as conclusões a que, neste tocante, chega, nem o montante concretamente declarado perdido.

367. Todos os factos objecto destes autos ocorreram em data muito anterior àquela em que a nova redacção do artigo 111.º, n.º 2, do Código Penal, entrou em vigor (1 de Março de 2011, de acordo com o disposto no artigo 4.º, da Lei n.º 32/2010, de 2 de Setembro), pelo que a possibilidade de perdimento – verificados que estivessem todos os pressupostos necessários para o efeito, que não estão – sempre teria de deixar de fora as vantagens indirectas, atento o disposto no artigo 2.º, n.ºs 1 e 4, do Código Penal.

368. No artigo 111.º, n.º 4, do Código Penal, dispõe-se o seguinte: “Se a recompensa, os direitos, coisas ou vantagens referidos nos números anteriores não puderem ser apropriados em espécie, a perda é substituída pelo pagamento ao Estado do respectivo valor.”

369. A perda de vantagens a favor do Estado depende da verificação cumulativa do pressuposto formal (prática de um facto ilícito criminal) e do pressuposto subjectivo (necessidade de prevenção).

370. O Tribunal a quo, para poder determinar correctamente a perda de vantagens a favor do Estado, teria necessariamente de, por um lado, demonstrar a prática, pelo Arguido, de factos criminalmente ilícitos, e, por outro lado, demonstrar que a perda de vantagens do Arguido se impunha por necessidades de prevenção e isso não foi feito na decisão recorrenda.

371. Os factos dados como provados na decisão em sede de matéria de facto não são susceptíveis de integrar nem o tipo legal do crime de peculato, nem o tipo legal do crime de corrupção activa para acto ilícito, pelo que, não poderá deixar de ser proferida, nos presentes autos, decisão absolutória dos Arguidos, o que, por sua vez, conduzirá, necessariamente, à não verificação do pressuposto formal da perda de vantagens.

372. Ainda que estivesse verificado, in casu, o pressuposto formal da perda de vantagens – que repita-se, não está –, não poderia aplicar-se de imediato e automaticamente, sem necessidade de qualquer outra justificação acrescida, o regime da perda de vantagens, na medida em que ficaria por demonstrar a verificação do pressuposto subjectivo, i.e., as necessidades de prevenção que, eventualmente, ao caso coubessem.

373. Assim, o Tribunal a quo não demonstrou na decisão recorrenda que a aplicação, ao caso dos presentes autos, do regime de perda de bens resultante do disposto nos artigos 111.º e 112.º, do Código Penal, preveniria futuras lesões dos bens jurídicos protegidos pelas normas incriminadoras em que baseou a condenação dos Arguidos e que garantiria, para o futuro, a conservação da motivação dos Arguidos e da comunidade em geral pelas normas violadas, reforçando, por esta via, o padrão de comportamento legalmente exigido e restabelecendo a validade contrafáctica dessas mesmas normas,

374. Razão pela qual a aplicação do regime de perda de vantagens, nos termos que constam da decisão recorrida, carece de fundamentação, pois que não se encontram justificados, à luz do caso concreto, os pressupostos de que depende necessariamente a sua aplicação, quanto às supostas vantagens obtidas quer pela alegada prática dos crimes de corrupção activa para acto ilícito, quer pela alegada prática dos crimes de peculato proprio sensu, o que se salda na nulidade da decisão recorrenda, nos termos do disposto no artigo 379.º, n.º 1, alíneas a) e c), do Código de Processo Penal, nulidade que, para todos os efeitos legais, se deixa expressamente arguida.

375. Existe uma profunda diferença entre o regime da perda de instrumentos e produtos do crime, previsto no artigo 109.º, do Código Penal e o regime da perda de vantagens, acolhido no artigo 111.º, do Código Penal, diferença essa que explica as razões pelas quais, na redacção do artigo 109.º, do Código Penal, vigente à data dos factos, se prescindisse da existência de uma decisão penal condenatória para efeitos de declaração de perda de instrumentos e produtos do crime, mas que essa circunstância não fosse replicada no regime de perda de vantagens previsto no artigo 111.º, do mesmo Código (também na redacção e vigor à data dos factos).

376. Assim, assistindo-se à prescrição do procedimento criminal, poderia, ainda assim, determinar-se a perda de objectos e produtos do crime, mas já não das respectivas vantagens.

377. Atendendo à prescrição, nesta data, do procedimento criminal, no que diz respeito aos factos ocorridos no âmbito das falências em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos AA, GG, RR, UU e ZZ, não poderia ter-se promovido qualquer perda de vantagens, devendo o montante em cujo pagamento o Arguido foi condenado ser proporcionalmente reduzido, em função dessa circunstância.

378. Mesmo que assim não se entenda e se considere que estão reunidos todos os pressupostos de que depende a aplicação do regime da perda de vantagens a favor do Estado, previsto nos artigos 111.º e 112.º, do Código Penal – o que por mera hipótese de raciocínio se equaciona, sem conceder –, o valor das vantagens sempre deveria ser reduzido, tendo em linha de conta a seguinte circunstância.

379. Deverá ainda ser subtraído ao montante declarado perdido, os proventos supostamente auferidos no âmbito das falências “C......”, “A....”, “C...S...., “A...D...S....” e “M....I....”, na medida em que, na decisão acerca da matéria de facto refere-se que os valores apurados foram “contabilizados” e que as comissões foram “ficcionadas”, o que sempre colocaria a dúvida (que, obviamente, teria de ser resolvida em favor dos Arguidos, não se determinando, nestes casos, qualquer perda de vantagens) sobre se, efectivamente, as mais-valias “contabilizadas” foram efectivamente geradas e a que título o foram (isto é, se ainda pode entender-se que as mesmas resultaram, de forma imediata, dos supostos ilícitos típicos).

380. Por esta razão deveria o Tribunal a quo suprimir do quantum final os montantes “contabilizados”, mas relativamente aos quais inexista prova do respectivo recebimento, isto quer no que se refere aos factos com fundamento nos quais foram imputados ao Arguido crimes de corrupção activa para acto ilícito, quer no que diz respeito aos factos com fundamento nos quais lhe foram imputados crimes de peculato.

381. Relativamente ao impacto da revogação da decisão no sentido da prescrição do procedimento criminal, relativo aos factos em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA, é preciso sublinhar o seguinte: a configuração actual do regime da perda de vantagens decorre, em larga medida, das alterações que o Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, introduziu nesta matéria.

382. Sucede que, no que diz respeito aos factos ocorridos no âmbito das falências em que interveio o liquidatário judicial AA, a consumação (pelas razões já explanadas supra) do suposto crime de corrupção activa para acto ilícito teria de situar-se, atento o teor do ponto 30) da matéria de facto dada como provada, em data anterior a Março de 1995.

383. Ora, atendendo a que o Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março, nos termos do que se dispunha no seu artigo 13.º, entrou em vigor apenas em 1 de Outubro de 1995, impõe-se concluir que o regime de perda de vantagens que lhe possa, eventualmente, ser aplicável, sempre seria o que resultava do Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro, que aprovou a versão originária do Código Penal de 1982.

384. O regime de perda de vantagens resultante da versão originária do Código Penal de 1982 era significativamente diverso daquele que passou a vigorar após a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março.

385. E essa diferença radica num ponto essencial: é que, nos termos do que se dispunha no artigo 109.º, da versão originária do Código Penal de 1982, a perda de vantagens dependia, não da prática de um ilícito típico, mas da prática de um crime.

386. De acordo com o regime de perda de vantagens que, em função da data constante do ponto 30), dos factos dados como provados, aplicável aos factos relativos às falências em que interveio como liquidatário judicial o Arguido AA (desde logo, por força do disposto no artigo 2.º, n.ºs 1 e 4, do Código Penal), era mister que a perda de vantagens tivesse por causa a prática de um crime e não apenas de um ilícito típico.

387. Tomando em consideração que estão já prescritos os procedimentos criminais dos crimes de corrupção activa para acto ilícito pelos quais o Arguido foi condenado, no âmbito das falências em que foi liquidatário judicial o Arguido AA, não pode ter lugar, em função da Lei penal aplicável a tais factos, qualquer declaração de perda e é quase unanimemente aceite, na doutrina e jurisprudência, que o regime da perda de vantagens previsto nos artigos 111.º e 112.º do actual Código Penal se baseia exclusivamente em necessidades de prevenção,

388. A verdade é que tal afirmação não podia ser feita na vigência do Código Penal de 1982.

389. Esta diferença implica o seguinte, caso se considere que a infracção em causa viu o respectivo procedimento criminal prescrito, não poderá haver lugar à perda das vantagens relativas a tais factos – as quais teriam, por isso, de ser subtraídas ao quantum determinado pelo Tribunal a quo - na medida em que sempre estaríamos perante uma condição negativa de punibilidade ou, se se preferir, um impedimento da pena (a prescrição).

390. Sendo a punibilidade um elemento essencial do conceito de crime – desde logo por força do disposto no artigo 1.º, do Código Penal – teríamos que a prescrição, enquanto obstáculo a essa punibilidade, sempre redundaria na conclusão no sentido da inexistência de crime e, por consequência, na insusceptibilidade de aplicação do regime de perda de vantagens.

391. Remontando os factos em causa a data anterior a Março de 1995, por recurso às regras de aplicação da Lei penal no tempo, concretamente por recurso ao disposto no artigo 2.º, n.ºs 1 e 4, do Código Penal, sempre se dirá ser o artigo 109.º do Código Penal de 1982 aplicável ao caso sub judice,

392. E, por essa razão, não havendo condenação dos Arguidos pelo crime de corrupção activa para acto ilícito, por estar verificada uma condição negativa de punibilidade (a prescrição), não poderá ser aplicável o regime da perda de vantagens a favor do Estado às “vantagens” alegadamente auferidas com os crimes de corrupção activa para acto ilícito cujo procedimento criminal já prescreveu, referentes aos processos de falência em que foi liquidatário judicial o Arguido AA.

393. Há um aspecto fundamental, com impacto na quantificação do quantum da perda, que se prende com a circunstância de o Tribunal de primeira instância ter configurado o suposto facto ilícito como consistindo na “escolha” da S... para intervir no processo de liquidação dos activos das massas falidas.

394. Se o quantum da perda foi aferido, na sua quase totalidade, por referência às comissões cobradas pela S... nesses processos, então os montantes em questão resultam, na sua quase totalidade, da remuneração da S..., remuneração essa que, desde a alteração de factos promovida pelo Tribunal de primeira instância, no decurso do segundo julgamento, foi considerada lícita.

395. Não pode pretender-se que, montantes cuja percepção, na sua maioria, foi, à luz da decisão do Tribunal de primeira instância, considerada lícita, decisão que não foi alterada pelo Tribunal a quo, possam, afinal, relevar para efeitos de determinação do quantum da perda.

396. E não se diga que a S... apenas obteve determinados proventos porque foi escolhida, pois, uma coisa sempre seria a sua remuneração pelos serviços prestados (e documentados nos autos), a qual é intangível, tendo, aliás, sido já declarada lícita, outra, bem distinta, os ganhos que, para além das comissões, possa ter auferido e que, possam, por isso, desde que constituindo resultado directo dos factos, possam ser objecto de perda.

397. A decisão recorrenda nada concretiza nesta matéria, mas, evidentemente que ao montante da perda sempre terão – pelas razões expostas – de ser subtraídas todas as verbas que se tenham destinado à remuneração da S...».

Requereu a realização de audiência, «destinada a analisar as quetões abordadas nos capítulos II.D.c), III.,IV., V., VI., VII do presente recurso» (as conclusões corrigidas não foram estruturadas desse modo; aqueles números correspondem às novas conclusões 56 a 60 (II.D.c), 71 a 135 (III), 136 a 154 (IV), 155 a 223 (V), 224 a 361 (VI) e 362 e segs (VII).

1.4.3. AA, fls. 51479 que terminou as respectivas alegações com as seguintes conclusões:

«1) - Toda a matéria considerada não provada no 1º acórdão da 1ª instância, bem como os factos aí considerados provados sob os nºs. 610 a 625, 1.460, 1.462 a 1.466, 1.473, 1.474 e 1.478 a 1.486 deverá ser incluída na decisão sobre matéria de facto;

2) - O administrador de falência e o liquidatário judicial não são funcionários, para efeitos da lei penal, pelo que nunca o recorrente poderá ser condenado pelos crimes de corrupção para acto ilícito e peculato;

3) - Deverá ser considerado prescrito o procedimento criminal contra o recorrente no que respeita  aos alegados crimes de corrupção passiva para acto ilícito, cometidos nos casos das falências das seguintes empresas:S......., Curtumes P...S...R....., E....A..., Malhas D..., M...C...M.... e C.....C....A....;

4) - Os administradores de falência como os administradores judiciais não tinham poderes, quer de direito, quer de facto para praticarem o acto - fim para que tinham sido, alegadamente, corrompidos e que justificavam as peitas, alegadamente, pagas: escolherem ou imporem a S.N.L. como coadjuvante na venda dos patrimónios das massas falidas;

5) - Tendo a  corrupção passiva como base o mercadejar do cargo por parte do funcionário, a não existência de acto – fim praticado por este implica a não verificação da corrupção;

6) - Dado o regime vigente na versão original do Código Penal de 1195 [1995, naturalmente], aplicável aos factos em questão nos autos, não eram puníveis as dádivas realizadas com a finalidade de criar um clima de permeabilidade;

7) - Sendo a S.N.L. a melhor leiloeira do mercado, como é que se poderá afirmar que o recorrente estava a mercadejar com o cargo sempre que a indicou, acto que, segundo o acórdão recorrido, estava dentro dos seus poderes;

8) - Não tendo mercadejado com o cargo, tendo as suas decisões respeitado os deveres do mesmo, nunca o recorrente poderia ser condenado por corrupção passiva para acto ilícito, mas sim e quando muito, o que não se concede, somente por corrupção passiva para acto lícito;

9) - O acordo dado como provado no ponto 30 é totalmente impossível, a não ser que se tivesse dado como provado que o recorrente tinha formas e modos de ultrapassar os poderes do síndico e da comissão de credores, ou se provasse que estas entidades não fiscalizavam a actividade daquele;

10) - Da matéria dada como provada, nenhum facto consta que explique como é que os administradores de falência e os liquidatários judiciais conseguiam obter a prévia concordância dos síndicos e das comissões de credores na escolha das leiloeiras, sendo certo que o recorrente não o fazia à revelia de tais entidades;

11) - O facto de grande parte das comissões auferidas pela S.N.L., não terem sido contabilizadas, para efeitos do alegado pagamento de peitas ao recorrente também demonstra a inexistência de qualquer acordo na sequência da proposta dada como provado no ponto 30;

12) - A intervenção da leiloeira com a firma A LEI... Ldª. em processos de falência em que o recorrente era liquidatário judicial, já depois de ter sido efectuada a proposta dada como provada no ponto 30 e de a S.N.L. o ter coadjuvado noutras falências, demonstra a inexistência de qualquer acordo com DD;

13) - Há erro notório na apreciação da prova no que respeita ao facto 30, dado como provado e em todos aqueles que se dá como provado que o recorrente fez intervir a S.N.L. por saber que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção daquela empresa;

14) - Há erro notório na apreciação da prova quanto aos factos provados nºs. 75, 76, 89, 90, 97, 98, 105, 106, 121 a 127, 137 a 139, 152 a 154, 163 a 165, 204 a 210, 219 a 221, 229 a 231, 239 a 241, 247 a 251, 268 a 270, 271 a 277, 293 a 295, 323 a 325, 342 a 344, 352 a 354, 359 a 363, 368 a 371, 377 a 380, 389 a 392, 414 a 417, 424 a 427 e 433 a 436 todos eles relativos aos alegados pagamentos efectuados ao recorrente;

15) - Há erro notório na apreciação da prova relativamente aos factos provados nºs. 68, 224, 244, 259, 285, 346, 356, 365, 374, 383, 394, 403 e 410, pois não há prova que comprove ter sido o recorrente a escolher como modalidade da venda a negociação particular e a recorrer aos serviços da S.N.L., para efeitos de coadjuvação na venda;

16) - O recorrente, a ter cometido algum, cometeu um único crime de corrupção que se consumou no momento em que aceitou a proposta de DD, o que, a ter sucedido, aconteceu entre Março de 1995 e 24 de Maio do mesmo ano;

17) - Caso, assim não se entenda, o que não se concede, sempre deverá aplicar-se aos crimes de corrupção para acto ilícito, o regime do crime continuado, pois verificam-se os pressupostos objectivos e subjectivos a tanto necessários;

18) - O recorrente nunca cometeu nenhum crime de peculato, tendo, quando muito cometido crimes de peculato de uso;

19) - Nos casos de peculato, cometidos em co-autoria com KK e relativos às falências de C.....C....A...., T...., DDD e M...... deverá o recorrente ser absolvido, pois nunca actuou o dolo.

20) - No caso de peculato, cometido em co-autoria com KK e relativo à falência de T...l, deverá o recorrente ser absolvido por ausência de dolo e por haver sentença transitada em julgado a julgar as contas apresentadas como boas, que se impõe mesmo ao tribunal com competência para conhecer da causa penal;

21) - No caso de peculato, cometido em co-autoria com KK e relativo à falência de Supermercados G...., o recorrente só poderá ser condenado, quando muito, por peculato de uso já que foi devolvido à massa falida não só o capital como os juros resultantes da disponibilidade do mesmo;

22) - Nos casos de peculato, cometidos em co-autoria com DD e JJ e relativos às falências de Supermercados G.... e I...., deverá o recorrente ser absolvido, pois o crime nunca se verificou, uma vez que as verbas que estiveram na posse daqueles arguidos não pertenciam à massa falida;

23) - Mesmo que assim não se entenda, o que não se concede, continuará a impor-se a absolvição, pois os arguido não actuaram com dolo, uma vez que nunca tiveram consciência de que as referidas verbas poderiam pertencer às massas falidas;

24) - Nos casos em que forem julgados prescritos crimes, não poderá ser aplicada ao recorrente qualquer perda de vantagens;

25) - Para o caso de não merecerem provimento as conclusões anteriores, o que não se concede, as penas parcelares aplicadas deverão ser corrigidas, aplicando-se 1 ano de prisão por cada caso de corrupção para acto ilícito, reduzindo-se, igualmente, para dois a pena de prisão relativa aos peculatos cometidos em co-autoria com KK;

26) - Caso assim suceda, o que não se concede, depois de efectuado o cúmulo jurídico, deverá ser uma pena de 5 anos, suspensa na sua execução, mas condicionada à obrigação de entregar ao Estado as vantagens obtidas com os crimes cometidos, será mais do que suficiente para satisfazer as medidas de prevenção geral que o caso recomenda;

27) - A aplicação, nos presentes autos de qualquer pena ao recorrente será inconstitucional, por violação do disposto no artigo 20º, nº 4 da Lei Fundamental, segundo o qual todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objecto de decisão em prazo razoável, o que se mostra violado nos presentes autos, uma vez que o recorrente foi constituído arguido há mais de treze anos.

Nestes termos e nos mais de direito e pelo muito que V. Exas., como sempre proficientemente suprirão, deverá ser provido o presente recurso, com todas as consequências legais».

1.4.3.1. o arguido AA interpôs ainda (fls. 51968) recurso do acórdão de 16.03.2016 (cfr. 1.3.5.2., supra), admitido pelo despacho de fls. 51975, de 10.05.2016, cuja motivação culminou com as seguintes conclusões:

«A) - O critério que conduziu à determinação da pena única é quase matemático, esquecendo aspectos essenciais, que deveriam ter sido levados em conta e conduzido a uma pena muito menor;

B) - O arguido encontra-se perfeitamente integrado na sociedade;

C) - Tem mais de 70 anos;

D) - Estando o recorrente reintegrado só se poderia justificar uma pena tão grave, como a que foi aplicada, como forma de responder às necessidades de prevenção geral;

E) - Já mediaram, quase quinze anos entre últimos factos cometidos e a data em que se está a condenar o arguido, pelo que as necessidades de prevenção geral a não serem nulas são, evidentemente, muito diminutas;

F) - Assim, a aplicação, em cúmulo jurídico, de uma pena de cinco anos de prisão, suspensa na sua execução, mas condicionada à obrigação de entregar ao Estado as vantagens obtidas com os crimes pelos quais foi condenado, será mais do que suficiente para satisfazer as medidas de prevenção geral e especial, que o caso recomenda.

Nestes termos e nos mais de direito e pelo muito que V. Exas., como sempre proficientemente suprirão, deverá ser provido o presente recurso, com todas as consequências legais».

1.4.4. O Senhor Procurador-geral Adjunto respondeu em conjunto aos recursos interpostos do acórdão principal pelos três Recorrentes (fls. 51834), concluindo:

«a) Que não deve ser admitido o RECURSO interposto pelos arguidos AA, GG e DD, relativamente aos crimes e às penas parcelares, em todos e qualquer dos casos, inferiores a 5 anos de prisão, por essas decisões serem, nessa parte, irrecorríveis para o STJ (artº 414º nº 2 do CPP);

b) E que deve[m] ser confirmada[s] as penas únicas de:

                - AA: 8 [oito] anos de prisão;

- GG: 5 [cinco] anos e 10 [dez] meses de prisão

- DD: 5 [cinco] anos e 10 [dez] meses de prisão;

que, em cúmulo jurídico, foram aplicadas a cada dos arguidos, negando-se, nessa parte, em que a decisão é recorrível, provimento aos recursos, por essas penas se revelarem justas e adequadas».

Quanto ao recurso interposto pelo arguido AA do acórdão de 16.03.2018 concluiu (fls. 51996) que o mesmo deve ser rejeitado «por se verificar causa que devia ter determinado a sua não admissão [seja, por via dos arts. 414º, nº 2, 417º, nº 6, alínea b) do CPP, seja nos termos dos arts. 400º, nº 1, alínea f) e 432º, alínea b), ambos do CPP]».

1.4.5. Notificado da resposta do Senhor Procurador-geral Adjunto do Tribunal da Relação às motivações dos recursos interpostos do acórdão principal (o de 30.09.2015), o arguido DD respondeu nos termos constantes de fls. 51896 e concluiu que «… – tendo presente que não há qualquer limitação legal ao âmbito do Recurso tal qual configurado pelo ora Requerente – todas as questões jurídicas suscitadas nesse recurso terão de ser analisadas pelo Supremo Tribunal de Justiça, sob pena de prolação de decisão nula, nos termos do disposto no artigo 379.º, n.º 1, alínea c), primeira parte, do Código de Processo Penal, sem prejuízo das já invocadas inconstitucionalidades».

E a fls. 52022, ainda como resposta à resposta do Senhor Procurador-geral Adjunto, entendeu, sem prejuízo de quanto foi, nessa sede, por si alegado, juntar pareceres de direito subscritos pelos Senhores Professores Germano Marques da Silva e Damião da Cunha.

Em 04.07.2016, já depois de o processo ter subido ao Supremo Tribunal de Justiça e de a Senhora Procuradora-geral Adjunta ter emitido o seu parecer, o arguido DD requereu, fls. 52126, a junção aos autos de uma “Adenda” ao parecer do Senhor Professor Damião Cunha, já referida nos pontos 21 e segs. do requerimento de fls. 52022 que, diz, por lapso não foi então junta.

1.4.6. Também o arguido AA, notificado da resposta do Ministério Público veio «exercer o direito ao contraditório» (fls. 51960), concluindo que, «sendo admissível o recurso, inexistindo qualquer limitação legal ao âmbito do mesmo, tal como foi configurado pelo recorrente, todas as questões suscitadas no mesmo terão de ser apreciadas pelo Supremo Tribunal de Justiça».  

1.4.7. Recebido o processo no Supremo Tribunal de Justiça, a Senhora Procuradora-geral Adjunto emitiu o parecer de fls. 52104 em que:

1.4.7.1. Sob a epígrafe “Questões prévias” entende que devem ser desentranhados dos autos: 

– as respostas que os arguidos DD e AA apresentaram à resposta do Ministério Público, pois «[desconhece] quais os fundamentos legais que permitiram tais respostas pois não resultam do disposto no art. 416.º e 417.º do CPP, nem que esteja estabelecido qualquer prazo»;

os «dois pareceres doutrinários» apresentados pelo arguido DD em 21.06.2016 (cfr. 1.4.5., supra) por terem sido «apresentados completamente fora de prazo».

1.4.7.2. Quanto ao mais, conclui:

«– O recurso do arguido GG deverá ser rejeitado parcialmente, por ser irrecorrível quanto ás penas parcelares de prisão segundo a jurisprudência e o disposto nos arts. 400. nº 1 f) e 432º n1 b) do CPP e ser negada a sua procedência quanto à pena única.

– O recurso do arguido DD também deverá ser rejeitado parcialmente, por ser irrecorrível quanto às penas parcelares de prisão segundo a jurisprudência e o disposto nos arts. 400. nº 1 e) e f) e 432º n1 b) do CPP e ser negada a sua procedência quanto à pena única.

Se também muito eventualmente vierem [a] ser conhecidas as alteradas penas de prisão por co-autoria dos crimes de corrupção activa por acto ilícito, mas apenas por vir a ser considerado/decidido aplicável a anterior redacção da al. e) do nº 1 do artº 400º do CPP, deverá no entanto o recurso não merecer provimento neste segmento bem como a medida da pena  única.

– O recurso do arguido AA deverá ser rejeitado por ser irrecorrível quanto às penas parcelares e pena única de prisão segundo a jurisprudência e o disposto nos arts. 400º. nº 1 e) e f) e 432º n1 b) do CPP ou ser parcialmente rejeitado quanto aos 20 crimes de corrupção passiva por acto ilícito e quanto aos três crimes de peculato e eventualmente a pena única.

Se após ser declarada a extinção por prescrição de um dos crimes só também muito eventualmente poderá ser conhecido o crime e a pena que foi aumentada, mas apenas se for aplicável a anterior redacção da al.e) do nº 1 do artº 400º do CPP, devendo no entanto não merecer provimento neste segmento e consequentemente a pena única».

1.4.8. Cumprido o disposto no artº 417º, nº 2, do CPP, 

1.4.8.1 o arguido AA veio dizer (fls. 52154):

a) – Relativamente ao promovido desentranhamento da sua resposta à resposta do Ministério Público do Tribnal da Relação à motivação do seu recurso, que, tendo este aí suscitado uma questão nova, a da recorribilidade do acórdão impugnado – questão nova porque o seu recurso fora recebido «in totum» –, «sempre o recorrente tinha fundamento legal para a discutir com base no disposto no artigo 3° do Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente ao processo penal».

            b) – Relativamente à «irrecorribilidade de grande parte da decisão», que o recurso deverá ser apreciado na totalidade, porquanto a versão do CPP aplicável ao recurso é a resultante da Reforma de 2007 (Lei 48/2007, de 29 de Agosto) e não a decorrente da Reforma de 2013 (Lei 20/2013, de 21 de Fevereiro).

Argumenta, em síntese, que o acórdão a considerar para efeitos «de consolidação do sistema de recursos», é o primeiro acórdão proferido pelo Tribunal da 1ª Instãncia, em 12.01.2009, e não o de 12.07.2013, proferido em consequência do reenvio parcial decretado pelo acórdão de 09.07.2009 do Tribunal da Relação. O reenvio, afirma, «não transfere, nem pode transferir, o momento em que se consolidaram, na esfera jurídica do requerente, os direitos que tinha quanto a recursos, ou seja a de ter dois graus de recurso, que lhe passaram a assistir desde que, em 12 em Janeiro de 2009 foi proferida a 1ª decisão de 1ª instância». Cita, em apoio desta tese, a doutrina dos acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 20 de Maio e de 22 de Outubro de 2008.

E conclui: «a alínea e) do nº. 1 do artigo 400° do Código de Processo Penal, na redacção que lhe foi dada pela Lei 48, 2007, de 29 de Agosto, não impede o recurso interposto pelo requerente, dado que tal normativo só impede o recurso para o S.T.J.  «de acórdãos proferidos, em recurso, pela relações, que apliquem pena não privativa de liberdade». Por outro lado, a alínea f) do nº 1 do mesmo artº 400º também não tem aqui aplicação porque, embora o acórdão recorrido não tenha aplicado pena de prisão superior a 8 anos, «pois … apenas foi condenado numa pena única de oito anos de prisão (posteriormente, em novo acórdão… a pena única … foi diminuída para sete anos de prisão) …não confirmou a decisão da 1ª Instância, antes a modificou, diminuindo e aumentando penas – a pena conjunta foi agravada e algumas das penas parcelares foram alteradas, umas diminuídas, outras agravadas.

c) – Relativamente à pretendida redução do objecto do recurso à questão da pena conjunta, que são «questões totalmente diferentes a da admissibilidade do recurso e a do seu âmbito, como, aliás se vê do próprio Código de Processo Penal, que as trata em locais diferentes… a regra no que respeita ao âmbito do recurso é a de que este abrange toda a decisão, como resulta inequivocamente no n°. 1 do artigo 402° do Código de Processo Penal, sendo certo que a lei impõe que os efeitos do mesmo aproveitem não só ao recorrente, mas também aos restantes sujeitos processuais, a não ser que seja fundado em motivos estritamente pessoais. Por outro lado, resulta do artigo 403° do Código de Processo Penal que apenas o recorrente poderá limitar o âmbito do recurso, sendo, todavia, certo que o Tribunal superior está obrigado a retirar as consequências da procedência do recurso assim configurado, a toda a decisão tomada… A tudo isto acresce, ainda, que tendo sido posta em causa a pena única aplicada, sempre o Supremo Tribunal de Justiça terá competência para se pronunciar sobre as penas parcelares aplicadas, pois são estas que determinam a pena única …».

Invoca a este propósito os pareceres dos Senhores Professores Germano Marques da Silva e Damião Cunha «juntos aos autos pelo co-arguido DD».

d) – Por último, esclarece que «a não ser nos casos em que invoca o disposto no artigo 410° do Código de Processo Penal não pretende ver discutida a matéria de facto, como parece decorrer do parecer, nomeadamente do ponto 3.4.2.1 do parecer do M. P .O que o recorrente afirma é que os factos provados não permitem que seja condenado como foi, nomeadamente pelo crime de corrupção para acto ilícito.Ora, a aplicação das normas jurídicas e a adequação das mesmas aos factos provados contem-se dentro dos poderes do Supremo Tribunal de Justiça que, como é sabido, só decide de direito».

1.4.8.2. Por sua vez, o arguido DD argumentou (fls. 52163):

            a) – Quanto à sua resposta à resposta do Senhor Procurador-geral Adjunto à motivação do seu recurso, que ela se justifica «pela circunstância de, em sede de Resposta do M.P. aos vários Recursos interpostos da decisão proferida pelo Tribunal da Relação de Porto em 30 de Setembro de 2015, ter sido suscitada, pela primeira vez, a questão da eventual irrecorribilidade de parte significativa desta decisão (com incidência directa no caso particular do ora Recorrente) e após ter sido proferido, em 5 de Fevereiro, despacho de admissão do Recurso, que o admitira sem quaisquer limitações quanto ao objecto que nele era configurado», razão por que se justificava «plenamente o exercício do contraditório quanto a tal questão…».

                b) – Quanto à junção dos pareceres depois daquela sua resposta, a justificação é substancialmente a mesma: «tais Pareceres jurídicos foram pedidos e juntos aos autos após o momento em que tal questão foi, pela primeira vez, suscitada». Não pode, por isso, «entender-se que tais Pareceres “foram apresentados completamente fora de prazo” … – não obstante não ser referido no Parecer sob resposta qual o fundamento legal em que se estriba tal entendimento –, pois parece-nos evidente que a norma legal contida no artigo 165.º, n.º 3, do C.P.P. não tem aplicação ao caso». Cita, a propósito Paulo Pinto de Albuquerque em “Comentário do Código de Processo Penal à luz da Constituição da República e da Convenção dos Direitos do Homem, 4ª Edição, fls. 461/462.

            E conclui, a propósito destas duas questões, inexistir qualquer razão para que quer aquela sua resposta quer os dois pareceres que depois dela juntou sejam desentranhados dos autos, tanto mais que lhe bastaria remeter-se para a referida resposta e para os dois Pareceres jurídicos, «para que as questões que o Exmo. Senhor Procurador-Geral-Adjunto vem suscitar no Parecer que subscreve tivessem resposta cabal»;

                c) – Quanto à «lei processual aplicável, em matéria de (ir)recorribilidade, ao caso vertente», por razões substancialmente idênticas às aduzidas pelo co-arguido AA, conclui, como este, por um lado, que «a decisão do Tribunal de primeira instância, para efeitos de consolidação do sistema de recursos aplicável aos autos e, igualmente, para efeitos de fixação do direito do ora Requerente a aceder aos Tribunais superiores, é aquela que foi proferida em 12 de Janeiro de 2009», por outro, que a versão da alínea e) do nº 1 do artº 400º aqui aplicável é a resultante da Reforma de 2007, razão por que o recurso que interpôs «poderia ter abrangido todas as questões jurídicas [nele] suscitadas … e não apenas (…) as questões suscitadas pela “agravação das penas de prisão aplicadas por autoria dos crimes de corrupção activa para acto ilícito e consequente pena única [.]”, conforme se afirma no ponto 2.6., do Parecer».

            Referindo-se ao «âmbito de cognição do Supremo Tribunal de Justiça» e ao «âmbito da recorribilidade» do acórdão recorrido, sustenta que a recorribilidade da decisão não se confunde com o «objecto possível do recurso que dela possa ser interposto – matéria regulada pelos arts. 402º e 403º do CPP. Por isso que «se tais normas [as das alíneas e) e f) do nº 1 do artº 400º do CPP] limitam o acesso ao Supremo Tribunal de Justiça, traçando um elenco de decisões irrecorríveis, nada permitem concluir quanto ao poder de cognição desse Tribunal, nas situações em que o acesso à respectiva jurisdição está garantido, por não se enquadrarem em qualquer das excepções à recorribilidade previstas no artigo 400.º, n.º 1, do Código de Processo Penal». O recurso por si interposto, prossegue, «abrange a totalidade da decisão proferida, atenta a regra constante do artigo 402.º, n.º 1, do Código de Processo Penal», tanto mais que «a expressão “pena de prisão” – no singular – tal qual consta, quer da alínea e), quer da alínea f), do artigo 400.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, não pode deixar de referir-se ou à pena (singular) aplicada nos casos em que a condenação abrange uma única infracção ou à pena única nas situações em que houver pluralidade de infracções», o que significa que «é por referência ao conteúdo decisório – no seu todo – que é aferida a admissibilidade do recurso para o Supremo Tribunal de Justiça». Cita, em apoio da sua tese, os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 17.09.2009, Pº nº 207/08.2GDGMR.S1, de 7.10.2009, Pº nº n.º 611/07.3GFLLE.S1 e de 24.03.2011, Pº nº 322/08.0TARGR.L1.S1, todos da 3ª Secção.

E conclui: «Em suma, a interpretação que pretende excluir do âmbito do recurso as penas parcelares, em situações em que estas não excedam cinco anos de prisão ou oito anos de prisão (nos casos de dupla conforme), não só viola, como vimos, o âmbito de cognição que o Código de Processo Penal, nos termos do disposto no artigo 434.º, atribui ao Supremo Tribunal de Justiça, sendo também contrária à letra da Lei (designadamente, o disposto no artigo 400.º, n.º 1, alíneas e) e f) e 432.º, n.º 1, alínea b), do mesmo Código), razão pela qual uma tal interpretação não pode deixar de ferir os princípios do Estado de Direito democrático, da restrição mínima de direitos, liberdades e garantias, da garantia de acesso aos tribunais, do princípio da legalidade criminal e do direito ao recurso, com consagração expressa nos artigos 2.º, 18.º, n.º 2, 20.º, n.º 1, 29.º, n.º 1 e 32.º, n.º 1, todos da Constituição da República Portuguesa e no artigo 6.º, n.º 1, da Convenção Europeia dos Direitos do Homem».

«As questões de subsunção dos factos dados como provados a cada uma das incriminações não podem ter-se por excluídas do objecto do Recurso, já que, como vimos, nenhuma limitação a tal conhecimento pode sustentar-se, nem no artigo 400.º, n.º 1, alíneas e) e f), nem nos artigos 432.º, n.º 1, alínea b), nem, finalmente, no artigo 434.º, do Código de Processo Penal … a [que] acresce o facto de a imposição de penas (únicas ou parcelares) depender, necessariamente, da discussão acerca da (ir)relevância típica das condutas às quais foram impostas e, antes disso, da análise sobre a procedência de nulidades processuais invocadas»; «qualquer interpretação, isolada ou conjugada, das normas legais vertidas nos artigos 400.º, n.º 1, alíneas e) e f), 432.º, n.º 1, alínea b) e/ou 434.º, do Código de Processo Penal, no sentido de excluir as nulidades processuais e as questões jurídicas de natureza substantiva invocadas no Recurso interposto da decisão deste Tribunal de 30 de Setembro de 2015 sempre redundará em norma materialmente inconstitucional, em razão da violação dos princípios do Estado de Direito democrático, da restrição mínima de direitos, liberdades e garantias, do direito de acesso aos tribunais, do princípio da legalidade e do direito ao recurso, com consagração expressa nos artigos 2.º, 18.º, n.º 2, 20.º, n.º 1, 29.º, n.º 1 e 32.º, n.º 1, todos da Constituição da República Portuguesa, inconstitucionalidade que, para todos os efeitos legais, se deixa expressamente invocada», além de que «redundaria, igualmente, em violação da garantia do acesso à jurisdição que resulta do artigo 6.º, n.º 1, da Convenção Europeia dos Direitos do Homem».

d) – Quanto «às várias prescrições do procedimento criminal invocadas», tratando-se de «questão … [que] assume contornos especialmente vincados, pois a prescrição do procedimento criminal “(…) torna impossível (…) o procedimento criminal (…) e, por essa via, a aplicação de uma qualquer sanção (…)”, circunstância que torna a sua consideração imprescindível no momento de analisar-se (ou de reanalisar-se) a imposição da pena… [que] «é de conhecimento oficioso em qualquer instância em que o processo se encontrar» e que surgiu pela primeira vez nos autos, ou na sequência da decisão do acórdão recorrido que julgou procedente, nessa parte, o recurso do Ministério Público (casos em que interveio como liquidatário o co-arguido AA), ou em sede de alegações orais na audiência perante o Tribunal da Relação (factos em que intervieram como liquidatários judiciais os Arguidos RR, ZZ, GG e UU), não se lhe pode negar o direito a um grau de recurso, como garante o artº 32º, nº 1, da CRP.

                e) – O mesmo conclui quanto à perda das vantagens, «cuja eventual exclusão do objecto do recurso terá as mesmas consequências apontadas supra no que diz respeito às demais questões jurídicas emergentes da qualificação feita dos factos dados como provados e da prescrição do procedimento criminal».

Em suma: «tendo presente que não há qualquer limitação legal ao âmbito do Recurso tal qual configurado pelo ora Requerente – todas as questões jurídicas suscitadas nesse recurso terão de ser analisadas pelo Supremo Tribunal de Justiça, sob pena de prolação de decisão nula, nos termos do disposto no artigo 379.º, n.º 1, alínea c), primeira parte, do Código de Processo Penal, sem prejuízo das já invocadas inconstitucionalidades».

1.5. Como requerido pelo arguido DD, realizou-se audiência, nos termos do artº 423º do CPP, no decurso da qual o Recorrente e o Ministério Público reiteraram as posições que sobre as diversas questões suscitadas haviam defendido.

2.Tudo visto, cumpre decidir.

2.1. Questões suscitadas pelos Recorrentes

São as conclusões que encerram a motivação que definem o objecto do recurso – arts. 412º, nº 1, do CPP e 635º, nº 4, do CPC.

Identifiquemos, então, em função do teor das conclusões das respectivas motivações, quais as questões que cada um do Recorrentes submete ao exame do Supremo Tribunal de Justiça.

2.1.1. Pelo arguido GG:

a) a prescrição do procedimento criminal pelos crimes por vem condenado;

b) o erro de julgamento do Acórdão recorrido por ter julgado improcedente a arguição da nulidade da decisão da 1ª Instância e entendido que a «factualidade [por esta] acrescentada/modificada» não se traduziu em alteração substancial dos factos da pronúncia». Essa decisão do Tribunal da Relação, afirma, «é errada e contrária à lei [e] violadora também do … Artº.379º do CPP»;

c) a qualidade de funcionário, para efeitos penais, do gestor/liquidatário judicial;

d) a qualificação da sua conduta como constituindo a prática de crimes de corrupção para a prática de acto ilícito, cujo procedimento criminal, de resto, está prescrito;

e) a eventual prática de um único crime de corrupção, na forma continuada;

f) a medida da pena conjunta.

 2.1.2. O arguido DD[1]:

a) A nulidade do acórdão da 1ª Instância, «bem como a nulidade do acórdão recorrendo» (ou «a revogação do Acórdão recorrendo, e a sua substituição por outro que declare a nulidade da decisão proferida pelo Tribunal de 1ª Instância»?) – cfr. as conclusões 60, 63, e 70;

b) a imputação de 11 crimes crimes de corrupção activa para acto ilícito, a maior parte dos quais já prescritos;

c) a imputação de dois crimes de peculato  e a sua prescrição;

d) as penas parcelares:

                        – devem ser revogas, por ter prescrito o procedimento criminal, as penas relativas às falências em que intervieram como liquidatários judiciais os arguidos AA, GG, RR, UU e ZZ;

                        – as restantes, aplicadas por cada um dos crimes de corrupção, deverão ser «reformuladas, … nivelando-se as mesmas próximo do ponto mínimo da moldura penal (6 meses de prisão);

                        relativamente às penas parcelares aplicadas pelo crime de peculato, a «decisão recorrenda» é nula por «falta absoluta de fundamentação»;

            e) a pena conjunta, mesmo quando as parcelares não sejam alteradas.

            f) a perda de vantagens não podia ter sido decretada por não se verificarem os respectivos pressupostos, formal (os factos julgados provados não são susceptíveis de integrar os crimes de corrupção activa para acto ilícito ou de peculato) e subjectivo (as necessidades de prevenção que ao caso coubessem). De qualquer modo, o seu valor sempre teria de ser reduzido.

 2.1.3. O arguido AA:

a) a inclusão, na decisão sobre a matéria de facto, dos factos que identifica, julgados provados e não provados pelo 1º acórdão da 1ª Instância;

b) a qualidade de funcionário, para efeitos penais, do administrador/liquidatário judicial;

 c) a prescrição do procedimento criminal referente às falências que identifica, com a consequente impossibilidade de lhe ser «aplicada qualquer perda de vantagens»;

d) o erro notório na apreciação da prova relativamente aos diversos factos que identifica;

e) a impossibilidade de ser condenado por corrupção passiva para acto ilícito; quando muito, o que não concede, por corrupção para acto lícito;

de qualquer modo, a ter cometido algum crime, cometeu um único crime de corrupção, quando aceitou a proposta do co-arguido DD, consumado entre Março e 24 de Maio de 1995:

f) não cometeu qualquer crime de peculato; quando muito cometeu crimes de peculato de uso.

g) as penas parcelares deverão ser corrigidas.

h) a pena conjunta deve ser reduzida para 5 anos, suspensa na sua execução, condicionada à obrigação de entregar as vantagens obtidas.

h) No recurso que interpôs do acórdão de 16.03.2016, contesta a medida da pena conjunta

Em resumo, são as seguintes as questões suscitadas pelos Recorrentes:

            I – a nulidade do acórdão recorrido (ou a sua revogação?);

            II – a prescrição do procedimento criminal pelos crimes por que os Arguidos foram ou deviam ter sido condenados

            III – a qualidade de funcionário do gestor ou do liquidatário judiciais para efeitos da lei penal;

IV – a qualificação dos factos provados (constituem o crime de corrupção para acto ílicito ou para acto lícito? constituem o crime de peculato? estamos em presença de um crime continuado? )   

V a medida das penas parcelares;

VI – a medida da pena conjunta;

VII – a perda de vantagens (arguido DD).

2.2. JULGAMENTO/FUNDAMENTAÇÃO

2.2.1. Vamos naturalmente começar o nosso julgamento pela apreciação das questões prévias suscitadas pelos Magistrados do Ministério Público do Tribunal a quo e do Supremo Tribunal de justiça.

2.2.1.1. Do desentranhamento das respostas dos arguidos DD e AA à resposta do Ministério Público e dos «pareceres doutrinários» que o arguido DD juntou a essa sua resposta.

 Como vimos em 1.4.5. e 1.4.6., supra, cada um dos arguidos DD e AA juntou ao processo uma resposta à resposta conjunta do Ministério Público do Tribunal da Relação às suas motivações.

E vimos também que o arguido DD, cerca de 2 meses depois dessa sua resposta à resposta do Senhor Procurador-geral Adjunto, juntou aos autos dois pareceres, um do Senhor Professor Germano Marques da Silva, o outro do Senhor Professor José Manuel Damião Cunha e, decorridos mais 13 dias, juntou uma «adenda» ao parecer do segundo, com a justificação de que, por lapso, não foi junta com o mesmo, muito embora tivesse já sido referida no requerimento que o ofereceu.

 Alegam, no essencial, para justificar essas respostas, que, tendo a questão prévia da irrecorribilidade de parte do acórdão da Relação sido ali suscitada pela primeira vez no processo, tinham o direito de exercer o contraditório em relação a essa questão.

A Senhora Procuradora-geral Adjunta é de parecer (cfr. 1.4.7.1., supra) que as referidas peças processuais devem ser desentranhadas dos autos: as respostas à resposta, porque desconhece os fundamentos legais que as admitem, «pois não resultam do disposto no art. 416º e 417º do CPP»; os «pareceres, por terem sido «apresentados completamente fora de prazo».

Como anotamos em 1.4.8.1. e 1.4.8.2., supra, os Recorrentes, na resposta permitida pelo nº 2 do artº 417º, reiteraram a anterior argumentação.

Relativamente à junção dos pareceres, o arguido DD argumenta, além do mais, como também atrás dissemos, que, embora a Senhora Procuradora-geral Adjunta não indique o fundamento legal da sua pretensão, parece-lhe que a norma do artº 165º, nº 3, do CPP, não tem aplicação ao caso.

Vejamos, então.

2.2.1.1.1. Quanto ao pretendido desentranhamento das respostas dos Arguidos à resposta do Ministério Público do Tribunal da Relação.

O artº 32º, nº 5, da CRP afirma que a audiência de julgamento e os actos instrutórios que a lei determinar estão subordinados ao princípio do contraditório.

Para Gomes Canotilho e Vital Moreira[2] o princípio do contraditório, «relativamente aos destinatários… significa: (a) dever e direito de o juiz ouvir as razões das partes (da acusação e da defesa) em relação aos assuntos sobre os quais tenha de proferir uma decisão; (b) direito de audiência de todos os sujeitos processuais que possam vir a ser afectados pela decisão, de forma a garantir-lhes uma influência efectiva no desenvolvimento do processo; (c) em particular, direito do arguido de intervir no processo e de se pronunciar e contraditar todos os testemunhos, depoimentos ou outros elementos de prova ou argumentos jurídicos trazidos ao processo, o que impõe designadamente que ele seja o último a intervir no processo» [sublinhado nosso; citam, a propósito, os Acórdãos do Tribunal Constitucional nºs 54/87, de 10.02.87, Pº nº 118/86, relatado por Vital Moreira[3], e 154/87, de 06.05.1987[4]]; (d) proibição [de condenação?] por crime diferente do da acusação, sem o arguido ter podido contraditar os respectivos fundamentos (…)».

Como já ensinava Figueiredo Dias[5] muito antes da vigência da Constituição que nos rege, o princípio do contraditório deve respeitar a todo o decurso do processo, impedindo que nele se tome qualquer decisão que atinja o estatuto jurídico de uma pessoa sem que esta tenha oportunidade de se fazer previamente ouvir». Modernamente, prossegue, «a necessidade de [lhe] dar maior fixidez e concretização», levou a conferir-lhe «verdadeira autonomia substancial perante o princípio da verdade material e perante o direito de defesa do arguido – … –, através da sua concepção como princípio ou direito de audiência; como… oportunidade conferida a todo o participante processual de influir, atrvés da sua audição pelo tribunal, no decurso do processo» conteúdo com que ganhou direito a ser tido, em alguns países e, agora, também entre nós, como autónomo princípio jurídico-constitucional. E, quanto «ao âmbito dos titulares do direito de audiência», assinala que, «legitimado ao seu exercício, não deverá estar só o arguido, mas todo aquele participante no processo (seja qual for a veste em que intervenha) relativamente ao qual deva o juiz tomar qualquer decisão que pessoalmente o afecte: e daí que sejam titulares possíveis deste direito no processo penal, além, do arguido, v.g. o MP…».

Pois bem.

Nos termos dos arts. 411º, nº 6 e 413º, nº 1, do CPP, os sujeitos processuais afectados pela interposição do recurso são notificados para, querendo, responderem no prazo aí fixado, não prevendo a lei, nesta fase da “tramitação unitária” do recurso, no tribunal a quo, qualquer outra intervenção dos sujeitos processuais, seja o recorrente, seja o «recorrido» – o que se compreende, porquanto recorrente e “recorrido” já tiveram oportunidade para se pronunciarem sobre o objecto do recurso interposto. De outro modo, a admitir-se resposta do recorrente à resposta do “recorrido”, iríamos possivelmente ter de permitir nova resposta deste e assim sucessivamente.

No caso dos autos, os recursos para o Supremo Tribunal de Justiça foram interpostos pelos arguidos GG, DD e AA. E foi o Ministério Público, único sujeito processual eventualmente afectado pela interposição, que foi notificado para responder, e respondeu nos termos que deixámos apontados. Por isso que o princípio do contraditório foi respeitado e satisfeito.

Alegam, todavia, os arguidos AA e DD que, tendo a questão da irrecorribilidade de parte do acórdão da Relação sido suscitada pela primeira vez no processo na resposta do Ministério Público, tinham o direito de exercer o contraditório em relação a essa questão. O arguido AA invoca ainda o regime do artº 3º do CPC, «aplicável subsidiariamente ao processo penal».    

Ora, ainda quando se entenda que a doutrina do Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 29.06.2014, Pº nº 2390/06.2TAFAR.E2.S1-5ª Secção[6], não é aqui aplicável porque, aí, o recorrente não era o arguido, e se abrace a doutrina acima referida que impõe que o arguido seja o último a intervir no processo para se poder pronunciar e contraditar todos os argumentos jurídicos a ele trazidos, nem assim procede a argumentação dos Recorrentes.

E não procede porque, embora a lei não preveja, não admita, uma resposta do recorrente à resposta do Ministério Público à sua motivação, em que este suscitou a irrecorribilidade de parte da decisão impugnada, nem por isso ficou prejudicado o seu direito de contraditar essa tese. Os Recorrentes tiveram essa possibilidade, desde logo por ocasião da resposta permitida pelo nº 2 do artº 417, oportunidade que, aliás, os arguidos AA e DD aproveitaram, pronunciando-se sobre a questão. E mesmo que a Senhora Procuradora-geral Adjunta do Supremo Tribunal de Justiça se tivesse limitado a apor o seu visto – situação em que não teriam sido notificados nos termos daquele preceito, nem assim ficaria arredada a possibilidade de serem os últimos dos intervenientes processuais a pronunciarem-se sobre a questão. Bastava para tanto que requeressem, como o DD requereu, o julgamento dos seus recursos em audiência, nos termos do artº 411º, nº 5 e 419º, nº 3, do CPP, atento o disposto, designadamente no nº 4 do artº 423º do mesmo Código que, no caso, o Supremo Tribunal de Justiça cumpriu, como consta da respectiva acta.

Concluimos, pois, que o Código de Processo Penal não prevê, não admite, que o recorrente, ainda que seja o arguido, responda à resposta do Ministério Público à sua motivação em que suscitou a inadmissibilidade (total ou parcial, não interessa) do seu recurso, sem que isso determine ou conduza à violação do princípio do contraditório.

Tal não significa, porém, considerando os termos da fundamentação desta conclusão, que, no caso concreto, as respostas dos recorrentes DD e AA devam ser desntranhadas, porquanto, na resposta ao parecer da Senhora Procuradora-geral Adjunta, onde a mesma questão foi abordada, se remeteram, nesse particular, em parte, para o teor daquelas respostas, dando-as aí por reproduzidas.

Termos em que, não obstante aquela conclusão, decidimos não ordenar o desentranhamento dessas peças processuais, por considerarmos ter sido o seu conteúdo integrado nas respostas permitidas pelo nº 2 do artº 417º.

2.2.1.1.2. Quanto ao desentranhamento dos «dois pareceres doutrinários» que o arguido DD juntou cerca de dois meses depois da sua resposta à resposta do Ministério Público.

A Senhora Procuradora-geral Adjunta alega que os ditos pareceres foram «apresentados completamente fora de prazo».

O Recorrente, por sua vez, alega que os pareceres, porque tratam de «questões que se prendem com o âmbito de cognição do Supremo Tribunal de Justiça, no que diz respeito ao recurso [por si] interposto… foram pedidos e apresentados após o momento em que tal questão foi, pela primeira vez, suscitada».

Em sua opinião, a norma do nº 3 do artº 165º do CPP não tem aplicação ao caso sub judice, como entende Paulo Pinto de Albuqerque, em anotação ao referido preceito[7], quando «ressalva do respectivo âmbito de aplicação os pareceres jurídicos que incidam sobre questões relativas à sentença recorrida que sejam juntos ao recurso».    

Pois bem.

A Senhora Procuradora-geral Adjunta não indicou realmente o preceito legal em que estribou a conclusão de que os pareceres foram «apresentados completamente fora de prazo».

Admitimos, no entanto, que teve presente o disposto no nº 3 daquele artº 165º, do seguinte teor:

«O disposto nos números anteriores é correspondentemente aplicável a parecers de advogados, de jurisconsultos…, os quais podem sempre ser juntos até ao encerramento da audiência».

Dos números anteriores, o segmento que interessa à nossa discussão é o do nº 1 que prescreve:

«O documento [documento probatório, entenda-se] deve ser junto no decurso do inquérito ou da instrução e, não sendo isso possível, deve sê-lo até ao encerramento da audiência».

Quer dizer, os parecers jurídicos podem ser sempre juntos até ao encerramento da audiência. Contrariamente à junção de documento, o parecer pode ser sempre junto nessa fase, mesmo que o ofertante tenha tido antes a possibilidade de o juntar.

Maia Gonçalves dizia que, embora já tivesse sustentado orientação contrária, uma mais aturada reflexão levou-o a concluir que a audiência a que se refere o nº 1 do artº 165º é a de discussão e julgamento em 1ª instância. Mas tal não obstava à junção de parecers para além daquele momento, por apenas poderem influenciar questões de direito[8]. Foi esta, de resto, a posição que assumiu em «Jornadas de Direito Processual Penal – O Novo Código de Processo Penal», edição do CEJ (1988), 211, ao considerar que, tendo o Código introduzido a audiência nos recursos, os pareceres jurídicos, por apenas poderem influenciar questões de direito, podem ser juntos até ao encerramento da audiência no tribunal superior.

No mesmo sentido se pronunciaram Germano Marques da Silva – «no que respeita à junção de pareceres de advogados, de jurisconsultos ou de técnicos deve observar-se que podem ser juntos até ao encerramento da audiência – em 1ª instância ou em recurso»[9], Simas Santos e Leal Henriques – «os pareceres … poderão ser juntos até ao encerramento da audiência, o que, na hipótese de recurso, faz com que tais pareceres se possam juntar até à audiência no tribunal superior»[10], os Magistrados do Ministério Público do Distrito judicial do Porto – «os pareceres podem ser juntos até à audiência no tribunal superior»[11] e Paulo Pinto de Albuquerque – não é admissível a junção de pareceres depois do encerramento da audiência, «salvo obviamente se o parecer incidir sobre questão relativa à sentença recorrida, que seja junto no recurso»[12].

E, na jurisprudência, no sentido de que os pareceres jurídicos podem ser juntos depois da audiência em 1ª Instância e mesmo até ao encerramento da audiência na fase de recurso, decidiram, por exemplo, os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 30.10.2001, Pº nº 1645/01-3ª e de 08.01.2003, Pºnº 4221/02-3ª, ambos citados por Maia Gonçalves na obra e local referidos.

Já Santos Cabral exprime opinião diferente, quando, em comentário ao preceito, anota que «os pareceres …poderão ser juntos até ao encerramento da audiência em primeira instância», o que literalmente afasta a possibilidade de junção até á audiência em recurso[13]. Aliás, o Acórdão de 23.11.2011, Pº nº 550/09.3GBPMS.C1.S1-3ª Secção, por si relatado, afirma que «o Código de Processo Penal refere-se aos pareceres de técnicos (como também aos pareceres de advogados e jurisconsultos) nas normas disciplinadoras da prova documental – artº 165º do CPP – para determinar que os mesmos podem ser juntos aos autos até ao momento da audiência» (sublinhado nosso), o que incluca aquela mesma ideia de se tratar da audiência em primeira instância. E o Acórdão de 27.10.2010; Pº nº 72/06.4GACBT.G1.S1-5ª Secção também entendeu que «tratando-se, porém, de pareceres de advogados, de jurisconsultos ou de técnicos, a sua junção é sempre possível, mesmo sem ser a título excepcional, até ao encerramento da audiência. O encerramento da audiência tem, pois, de ser considerado o limite temporal máximo para a apresentação de documentos em processo penal: para os documentos que constituam elementos de prova, excepcionalmente (…); para os documentos que consistam em pareceres de advogados, de jurisconsultos ou de técnicos, sem carácter excepcional».  De modo idêntico, o Acórdão de 05.12.2012, Pº nº 704/10.0PVLSB.L1.S1-3º Secção assentou em que os pareceres de advogados, de jurisconsultos ou de técnicos podem ser sempre juntos até ao encerramento da audiência – audiência que, no caso, não era a audiência em recurso, perante o tribunal da relação ou perante o Supremo Tribunal de Justiça.  

Ora, se parece não se suscitarem dúvidas de que a audiência a que se refere o nº 1 do artº 165º é a audiência de discussão e julgamento em 1ª Instância[14], então cremos que, estabelecendo o nº 3 do mesmo preceito que aos pareceres é aplicável esse regime, a boa lógica da interpretação gramatical – «que é o primeiro e necessário momento de toda a interpretação, pois a letra é o ponto de partida»[15] ou, como prescreve o nº 2 do artº 9º do CCivil, «não pode ser considerado pelo intérprete o pensamento legislativo que não tenha na letra da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso» – impõe a conclusão de que as referidas peças doutrinárias só poderão ser juntas até ao encerramento dessa audiência.

Dir-se-á que o elemento gramatical constitui apenas o ponto de partida para a interpretação da norma. E, se, como nota, por exemplo, Santos Cabral[16] «não estamos aí perante provas, ou meios de prova, mas meras opiniões técnicas a valorar em sede própria», meras opiniões com que o sujeito processual pretende influenciar o sentido da decisão de direito a proferir, então parece que a razão de ser do preceito conduz a que, prevendo o CPP a realização de audiência antes de ser proferida a decisão, não apenas na 1ª Instância, mas também, em sede de recurso, nos tribunais superiores, a parte possa juntar pareceres de jurisconsultos (a hipótese em discussão) até ao encerramento dessa audiência, quando requerida (cfr. arts. 411º, nº 5, 419º, nº 3, alíneas b) e c), do CPP), especialmente se, no recurso, se suscita ou pode vir a ser suscitada a discussão de uma nova questão jurídica.

Não recusamos a ideia de que a junção de pareceres na fase de recurso possa ser desejável politicamente e ter até boas razões a justificá-la. Mas a sua falta não faz, por si, a lei incompleta (com lacunas); quando muito poderá considerar-se necessitada de aperfeiçoamento[17].

Ora, a evolução legislativa neste domínio reforça, a nosso ver, o entendimento restritivo.

Se não, vejamos.

No domínio do CPP1929, a junção de documentos na 1ª instância estava prevista no seu artº 404º. Na fase de recursos vigoravam, por força do artº 649º, as regras do processo civil[18]: o processo penal não tinha que ser diferente, nesta matéria, do processo civil. Então, os arts. 706º, 726º, 749º e 762º, admitiam a junção de pareceres nos recursos de apelação, de revista e de agravo (interposto na 1ª e na 2ª instância), situação que não foi substancialmente alterada até à entrada em vigor do CPP1987.

O Novo Código de Processo Penal, porém, conferiu ao sistema de recursos uma tendencial autonomia relativamente ao processo civil, rompendo abertamente com a tradição que, há quase um século, havia geminado os recursos penais e cíveis[19]. E, apesar de, até então, estar prevista a junção de pareceres na fase do recurso (por remissão expressa, insistimos, daquele artº 649º para o regime do agravo civil), a verdade é que o Legislador de 87 entendeu não reproduzir esse regime na nova legislação, mesmo tendo consagrado a audiência como regra do julgamento dos recursos em processo penal.

Ora, citando mais uma vez Karl Larenz[20], «existe uma lacuna da regulamentação quando falta uma regra de que pode esperar-se a existência segundo a ideia fundamental e a teleologia imanente da regulamentação legal». E não nos parece ser esse o caso, do ponto de vista do Legislador, de cuja intenção temos de partir para julgar se determinada regulamentação é ou não incompleta. De facto, independentemente daquele rompimento com a tradição, não nos parece ser possível acusar o Legislador de distracção ou esquecimento quando, tendo admitido no CPP87 a realização de audiência em ambos os graus de recurso ordinário que previu, não estabeleceu um regime especial para a junção de pareceres nessa fase, mesmo quando, ainda na vigência do anterior CPC, o DL 303/2007, de 24/08 revogou o seu artº 706º – a norma que permitia a junção de parecers na fase do recurso em processo civil. E, embora no Novo CPC, apesar de só prever a realização de audiência em sede de recurso de revista, ter voltado a consentir expressamente a junção de pareceres na fase de recurso, até ao início do prazo para elaboração do projecto de acórdão, nos termos dos arts. 651º, nº 2 e 680º, nº 2, não sentiu necessidade de prever idêntica possibilidade no âmbito do processo penal, não obstante as cinco ocasiões que teve para o fazer quando, já depois da aprovação do Novo CPC, alterou, outras tantas vezes, o CPP através das Leis nºs 2/2014, de 06/08, 27/2015, de 14/04, 58/2015, de 23/06, 130/2015, de 04/09 e 1/2016, de 25/02.

Procede, pois, também nesta parte, a questão prévia suscitada pela Senhora Procuradora-geral Adjunta: os «pareceres doutrinários» a que se refere, juntos pelo recorrente DD a fls, 52022, bem como a «adenda» de fls. 52126, terão de ser desentranhados dos autos, por terem sido apresentados muito para além do prazo previsto no nº 3 do artº 165º do CPP.

Como terá de ser desentranhado, pelas mesmas razões, o parecer que o mesmo Recorrente juntou com a motivação do seu recurso a fls. 51392.

2.2.1.2. Recorribilidade do acórdão proferido em 16.03.2016 (fls. 51859)

Como referimos no relatório (cfr. 1.3.5.2.), o Tribunal da Relação, depois de ter proferido o acórdão de 30.09.2015, o acórdão principal, julgou, pelo posterior acórdão de 16.03.2016, prescrito o procedimento criminal por 4 dos crimes de corrupção passiva por que o arguido AA estava condenado, revogou as correspondentes penas e reformulou a pena conjunta antes decretada.

O Arguido recorreu deste 2º acórdão.

O Senhor Procurador-geral Adjunto do Tribunal da Relação entende que este recurso deve ser rejeitado, ou por força da alínea c) do nº 1 do artº 400º, do CPP, «uma vez que o acórdão recorrido não conheceu, a final, do objecto do processo», ou por força da alínea f) do mesmo preceito, porque «no caso dos autos nem as penas parcelares ou mesmo a pena única são superiores a 8 (oito) anos; pelo que caba por se verificar, assim, “dupla conforme” de julgados, no entendimento de que a reformatio in mellius condenatória é, ainda, confirmativa».

A Senhora Procuradora-geral Adjunta entende, porém, que o acórdão não admite recurso, nos termos da citada alínea f), porque, em razão da eliminação das referidas quatro penas parcelares, «foi apenas alterada a pena única e fixada abaixo da pena da 1ª instância».

O Arguido afasta a aplicação ao caso da alínea f).

Pois bem.

Nos termos do artº 613º, nº 1, do CPC, proferida a sentença (leia-se, aqui, acórdão – artº 97º, nº 2, do CPP), fica imediatamente esgotado o poder jurisdicional do juiz quanto à matéria da causa, o que significa que, quanto à matéria da causa, «lavrada e incorporada nos autos a sentença, o juiz já não pode alterar a decisão da causa nem modificar os fundamentos dela»[21].

No caso, o acórdão principal havia sido “publicitado” em 30.09.2015 (fls. 50483) e notificado aos Arguidos por carta registada de 05.10.2015 (fls. 50487, 50488 e 50489). 

Significa o exposto que este segundo acórdão do Tribunal da Relação foi proferido quando já estava esgotado o seu poder jurisdicional, o que o torna nulo e de nenhum efeito[22], nos termos do artº 425º, nº 4, por referência ao artº 379º, nº 1-c), 2ª parte, ambos do CPP.

E não se diga, em contrário, que a prescrição é de conhecimento oficioso, porquanto o conhecimento dessa questão pressupõe obviamente poder para julgar que, como vimos, a Relação, que interviera como instância de recurso, já havia esgotado.

Nesta conformidade anulamos o acórdão de fls. 51859 e segs. de 16.03.2016, que, assim, não produz qualquer efeito.

Entendemos dever sublinhar que, se, sem razão, se julgasse processualmente válido este segundo acórdão do Tribunal da Relação, a consequência seria a irrecorribilidade da sua decisão relativamente à medida da pena conjunta, por se verificar efectivamente uma situação de confirmação in mellius: o Arguido foi condenado, pela 1ª Instância, na pena conjunta de 7 anos e 6 meses de prisão, pena esta que teria sido reduzida para 7 anos (a pena imposta pelo primeiro acórdão da Relação teria deixado de subsistir por ter sido substituída pela do segundo acórdão).

2.2.1.3. Do âmbito de recorribilidade do acórdão do Tribunal da Relação.

2.2.1.3.1. As posições assumidas pelo Ministério Publico e pelos Recorrentes

a) – Como vimos, o Senhor Procurador-geral Adjunto do Tribunal da Relação concluiu a sua resposta conjunta às motivações dos Recorrentes afirmando que «não deve ser admitido o RECURSO interposto pelos arguidos AA,GG e DD, relativamente aos crimes e às penas parcelares, em todos e qualquer dos casos, inferiores a 5 anos de prisão, por essas decisões serem, nessa parte, irrecorríveis para o STJ (artº 414º nº 2 do CPP)».

Em síntese, porque,

relativamente às penas parcelares que o Tribunal da Relação confirmou e que discrimina, nenhuma delas superior a 8 anos de prisão, o correspondente segmento do acórdão recorrido não admite recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, nos termos da alínea f) do nº 1 do artº 400º do CPP (dupla conforme);

– em qualquer caso, agora em relação a todas as penas parcelares aplicadas pelo Tribunal da Relação, por cada um dos crimes em concurso, a cada um dos Arguidos/recorrentes, seja por confirmação seja por agravação das cominadas pela 1ª Instância, o acórdão recorrido não admite recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, nos termos da alínea e) do mesmo preceito – na versão da Lei 20/2013, de 21/2, aplicável ao caso por relevar a data do acórdão da 1ª Instância proferido em 12.07.2013, na sequência do reenvio decretado pelo Tribunal da Relação – porque nenhuma delas é superior a 5 anos de prisão.

Em sua opinião «subsiste como recorrível…a operação que procedeu ao cúmulo jurídico de penas, e que fixou [agravando] a pena única aplicada a cada um dos arguidos …, porque em qualquer dos casos, em medida que ultrapassa os 5 … anos de prisão».

b) – A Senhora Procuradora-geral Adjunta não se afasta substancialmente deste entendimento:

O recurso do arguido GG não é admissível relativamente às penas parcelares, por verificação da dupla conforme: condenado que fora pela 1ª Instância pela prática de 21 crimes, viu o Tribunal da Relação absolvê-lo de um desses crimes, confirmar 19 das penas aplicadas, todas inferiores a 8 anos de prisão e reduzir em 2 meses uma outra (confirmação in mellius);

O recurso do arguido DD também não é admissível relativamente a todas as penas parcelares aplicadas pela Relação pelos crimes de corrupção activa para acto ilícito, todas inferiores a 5 anos de prisão, mesmo a que resultou de condenação após absolvição pela 1ª Instância, «de acordo com o disposto em vigor desde 1/3/2013, na alínea e) do nº 1 do artº 400º do CP [quis naturalmente escrever “CPP”], porquanto a decisão da 1ª instância foi proferida em 12.07.2013», ainda que resultante de reenvio.

Relativamente aos dois crimes de peculato por que foi condenado, tendo o Tribunal da Relação confirmado in mellius as respectivas penas, reduzidas que foram para 1 ano e 1 ano e 1 mês de prisão, o acórdão não admite recurso pelas razões referidas a propósito do co-arguido GG.

Para a eventualidade de se entender ser aplicável a anterior redacção daquela alínea e), admite que o acórdão da Relação possa ser apreciado, mas apenas «sobre questões de direito que possam ser suscitadas pela agravação das penas de prisão aplicadas por autoria dos crimes de corrupção activa para acto ilícito e consequente pena única», pois, «todas as questões de direito relativas [a esses crimes], com excepção das penas parcelares e única que o arguido volta a suscitar já foram todas apreciadas e decididas pelo acórdão da Relação do Porto, não só relativamente ao agora recorrente DD, mas também quanto ao recurso de sua eposa, a co-arguida JJ. E tudo o que foi decidido relativamente à co-arguida JJ mostra-se definitivamente transitado em julgado;     

o recurso do arguido AA, a ter-se mantido o acórdão condenatório, «tal como foi proferido no dia 30.09.2015», deveria ser rejeitado:

– por força dos arts. 432º, nº 1, alínea b) e 400º, nº 1, alínea f), do CPP, na parte em que (a) confirmou 24 das penas por que foi condenado na 1ª Instância por outros tantos crimes de corrupção passiva para acto ilícito, (b) confirmou uma das penas correspondente a um dos crimes de peculato, e (c) reduziu as outras duas penas pelos outros dois crimes de peculato (confirmação in mellius), todas inferiores a 8 anos de prisão;

– por força da alínea e) do mesmo artº 400º, decorrente da revisão de 2013, o segmento que agravou ligeiramente as penas por 2 crimes de corrupção passiva para acto ilícito, pelas razões antes referidas.

                (Segue-se uma referência à alteração do acórdão principal pelo acórdão de 16-03-2016 cuja apreciação ficou prejudicada com a anulação deste (cfr. 2.2.1.2., supra).

 

c) – Por sua vez, o arguido AA sustenta,

– por um lado, que a norma aplicável para aferir da (ir)recorribilidade do acórdão da Relação é, de facto, a do artº 400º do CPP, mas na redação dada pela Lei 48/2007, de 29 de Agosto, a qual não impede o recurso que interpôs, argumentando que o acórdão da 1ª Instância relevante para «efeitos de consolidação do sistema de recursos» é o primeiro, o que foi proferido em 12 de Janeiro de 2009. O reenvio decretado pelo Tribunal da Relação, prossegue, «não transfere, nem pode transferir, o momento em que se consolidaram, na esfera jurídica do requerente, os direitos que tinha quanto a recursos, ou seja a de ter dois graus de recurso…». Cita, a propósito, os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 20/05 e 22/10 de 2008[23].

– por outro lado, repudiando «eventuais interpretações efectuadas na esteira do Acórdão de Fixação de Jurisprudência 14/2013» cuja doutrina, sublinha, foi julgada inconstitucional pelo Acórdão do Tribunal Constitucional nº 399/2014, afirma que o acesso ao Supremo Tribunal de Justiça «não deixa de fora a apreciação das penas parcelares por serem inferiores a 5 anos de prisão».

Quanto à alínea f) do nº 1 do artº 400º, entende que o acórdão recorrido não confirmou a decisão da 1ª Instância, «antes a modificou, diminuindo e aumentando as penas».

– Quanto ao âmbito do recurso, afirma que esta é uma questão diferente da sua admissibilidade: esta, regulada pelos arts. 399º e 400º, do CPP; aquela pelos arts. 402º e 403º, do mesmo Código. E, nos termos destas últimas disposições, a regra é a de que o recurso abrange toda a decisão e a de que só o recorrente pode limitar o âmbito do recurso.

De resto, tendo sido posta em causa a pena conjunta, «sempre o Supremo Tribunal de Justiça terá competência para se pronunciar sobre as penas parcelares aplicadas, pois são estas que determinam a pena única…».

d) – O arguido DD argumenta em termos semelhantes:

– a decisão do Tribunal da 1ª Instância que releva para efeitos de consolidação do sistema de recursos aqui aplicável e de fixação do seu direito a recorrer é a que foi proferida em 12.01.2009 e não a que posteriormente veio a ser proferida pelo mesmo Tribunal na sequência do reenvio decretado pelo Tribunal da Relação no julgamento do recurso dela interposto. Invoca, nesse sentido, a jurisprudência deste Tribunal citada pelo co-arguido AA. 

Então, face à lei vigente – a «que se encontrava vertida na Lei 48/2007» – era-lhe permitido recorrer do acórdão do Tribunal da Relação. A redacção da alínea e) do nº 1 do artº 400º do CPP resultante da Lei nº 20/2013, de 21 de Fevereiro não pode ter aqui aplicação.

            – Quanto ao «âmbito de cognição do Supremo Tribunal de Justiça», depois de afastar a aplicação ao caso das hipóteses de irrecorribilidade previstas nas alíneas e) e f) do nº 1 do artº 400º do CPP, reitera que tais normas não estabelecem qualquer limitação ao recurso que seja admissível – tarefa esta que incumbe aos arts. 402º e 403º, de cuja doutrina resulta que «a decomposição da decisão, para efeitos de recurso, é algo que apenas pode ser feito por quem recorre». E conclui que «o recurso por si interposto abrange a totalidade da decisão proferida, atenta a regra do artº 402º, nº 1, do Código de Processo Penal».

– Insistindo no sentido a dar às normas das alíneas e) e f) do artº 400º, afirma que o acórdão recorrido não confirmou o da 1ª instância – porque agravou a pena conjunta, agravou 10 das penas parcelares aplicadas aos crimes de corrupção activa para acto ilícito e impõs uma nova pena, por sinal a mais elevada, por factos por que ia absolvido e porque a circunstância de as penas parcelares aplicadas aos 2 crimes de peculato terem sido atenuadas «não pode relevar para que se cinda o objecto do Recurso, excluindo-as dele» – e que a expressão “pena de prisão” – no singular – usada em ambas as alíneas, «não pode deixar de referir-se à pena (no singular) aplicada nos casos em que a condenação abrange uma única infracção ou a pena única nas situações em que houver pluralidade de infracções».

Por isso, se o recurso é admissível, por a pena conjunta aplicada ser superior a 5 anos de prisão e não ter havido dupla conforme, «não faz sentido, …, levar em linha de conta as penas parcelares (…) para efeitos de aferição da admissibilidade do recurso, desfazendo o cúmulo jurídico …, por forma a excluir do âmbito de cognição do Supremo Tribunal de Justiça os factores que fundaram a graduação de cada uma das penas parcelares e, dessa forma prejudicando, irremediavelmente, a própria sindicância da pena única».

Reconhece, é verdade, que as penas parcelares são autónomas face à pena única, «desde logo porque a respectiva determinação é feita como se cada uma das infracções esgotasse o objecto do processo», mas a determinação daquelas e desta «têm um ponto de confluência evidente: …a pena única deve ser situada algures no intervalo que vai da pena parcelar mais elevada à soma das penas em concurso» Por isso que «se... se defende que as penas parcelares não podem ser apreciadas pelo Supremo Tribunal de Justiça, mas apenas a operação que conduziu à determinação do cúmulo jurídico, então, esta última sempre ficaria sindicada apenas a meio, na medida em que estaria apenas em questão a apreciação do critério valorativo resultante do disposto no artigo 77.º, n.º 1, segunda parte, do Código Penal, e não o intervalo da pena única a aplicar, sobre o qual essa valoração incide, com vista a determinar o ponto óptimo da pena única, nos termos do disposto no artigo 77.º, n.º 2, do mesmo Código. A admitir-se tal interpretação, conclui, a própria sindicância da pena única ficaria, em grande medida, posta em causa.

Em apoio desta sua tese invoca os Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 07.10.2009, Pº nº 611/07.3GFLLE.S1 – que, diz, adoptou a mesma conclusão –, de 17.09.2009, Pº nº 207/08.2GDGMR.S1 – «num caso em tudo semelhante ao que fora objecto do Acórdão de 7 de Outubro de 2009, … afirmou que o Legislador de 2007 não exige que: “(…) as penas parcelares, por não distinguir,  sejam superiores a 5 anos, o que reduziria de forma drástica o acesso ao STJ, bastando que no caso de pena de conjunto, tida como referência na lei nova como pressuposto de recorribilidade, se alcance tal patamar” – e de 24.03.2011, Pº nº 322/08.0TARGR.L1,S1 – o Supremo Tribunal de Justiça veio a concluir novamente que: “(…) actualmente, ao contrário do que dantes sucedia, a questão da irrecorribilidade deve aferir-se pela pena única aplicada e já não atendendo às penas parcelares, isto é, o que importa é a pena que foi aplicada como resultado final da sentença, toda ela abrangida no âmbito do recurso, nos termos do art. 402.º, n.º 1, do CPP, salvo declaração em contrário por parte do recorrente.”».

– Ainda a propósito do «âmbito da recorribilidade do acórdão de 30.09.2015», anota que o seu recurso, além da discussão das penas parcelares e a pena conjunta, tem também por objecto questões de natureza processual e questões jurídicas que se prendem com a imputação dos crimes de corrupção e de peculato – tipicidade dos factos e prescrição do procedimento criminal – questões que também não podem ter-se por excluídas do objecto do Recurso, quer por força do artigo 400.º, n.º 1, alíneas e) e f), quer por força do artº 432.º, n.º 1, alínea b), quer, ainda, por força so artº 434.º, do CPP.      
                Por outro lado, da circunstância de a Arguida JJ não ter interposto recurso da decisão do Tribunal a quo de 30 de Setembro de 2015 nada pode concluir-se quanto à recorribilidade dessa mesma decisão, no que tange quer ao ora Arguido, quer aos demais co-Arguidos que dela recorreram.
            Em suma: «tendo presente que não há qualquer limitação legal ao âmbito do Recurso tal qual configurado pelo ora Requerente – todas as questões jurídicas suscitadas nesse recurso terão de ser analisadas pelo Supremo Tribunal de Justiça, sob pena de prolação de decisão nula, nos termos do disposto no artigo 379.º, n.º 1, alínea c), primeira parte, do Código de Processo Penal, sem prejuízo das já invocadas inconstitucionalidades.  

2.2.1.3.2. Apreciação.

a) A versão do CPP aqui aplicável para efeitos de julgar da (ir)recorribilidade do acórdão do Tribunal da Relação

Os Magistrados do Ministério Público do Tribunal da Relação e do Supremo Tribunal de Justiça que intervieram no presente processo sustentam que a versão da alínea e) do nº 1 do artº 400º do CPP relevante para o efeito é a que foi introduzida pela Reforma de 2013 (Lei nº 20/2013, de 21/02, em vigor, no que para aqui interessa, desde 23 de Março seguinte, nos termos do seu artº 4º, nº 1). A Senhora Procuradora-geral Adjunta justifica esta conclusão dizendo que, se «é certo que aquele acórdão da 1ª instância resultou de um reenvio, … o julgamento nos termos do artº 426º-A do CPP, foi efectuado por outro colectivo e a decisão condenatória também é nova e é por isso que nos parece aplicar-se o disposto na alínea e) do nº 1 do art. 400º do CPP entrado em vigor mais de 4 meses antes».

Os Recorrentes contrapõem que, no caso, é aplicável a versão da referida alínea resultante da Lei nº 48/2007, de 29 de Agosto, em vigor desde 15 de Setembro seguinte, conforme o disposto no seu artº 7º.

Vejamos, então.

Como vimos no relatório com que iniciámos o presente acórdão, a 1ª instância proferiu um primeiro acórdão condenatório em 05.01.2009, do qual o Ministério Público e os ora Recorrentes (e outros) interpuseram recurso para o Tribunal da Relação.

Este Tribunal, na procedeência parcial do recurso dos ora Recorrentes (e de outros co-Arguidos) decretou, por acórdão de 07.07.2010, o reenvio do processo para novo julgamento, para serem colmatados os vícios que apontou, na sequência do qual, a 1ª Instância proferiu, em 12.07.2013, um novo acórdão do qual voltaram a recorrer para a Relação, além de outros, o Ministério Público e os ora Recorrentes, recursos esses que foram julgados pelo acórdão de que foi interposto o recurso aqui em julgamento.

O Supremo Tribunal de Justiça vem entendendo e decidido, de forma pacífica, que, para efeitos da conjugação do regime dos recursos com o artº 5º, nº 2, alínea a), do CPP, o regime aplicável é o que vigorar na data em que foi proferida a decisão da 1ª Instância, independentemente das suas vicissitudes e da data em que se iniciou o processo – porque é aí que, pela primeira vez, se verificaram no processo, em concreto, os pressupostos do exercício do direito ao recurso –, salvo se lei posterior a essa fase processual se mostrar mais favorável ao recorrente (cfr. a fundamentação do Acórdão de Fixação de Jurisprudência nº 4/2009, de 18.02.2009, DR., 1ª Série, de 19 de Março. 

Com efeito – e continuamos a louvar-nos na fundamentação deste Acórdão – «anteriormente à decisão final sobre o objecto do processo, no termo da fase do julgamento em 1.ª instância, não estão concretizados, nem se sabe se processualmente vão existir, os pressupostos do exercício do direito ao recurso que, como direito a recorrer de «decisão desfavorável», concreto e efectivo, apenas com aquele acto ganha existência e consistência processual… [;] o momento relevante do ponto de vista do titular do direito ao recurso só pode ser, assim, coincidente com o momento em que é proferida a decisão de que se pretende recorrer, pois é esta que contém e fixa os elementos determinantes para a formulação do juízo de interessado sobre o direito e o exercício do direito de recorrer….».
A norma que directamente regula a admissibilidade do recurso para o Supremo Tribunal de Justiça de decisões proferidas em recurso pelas relações é a da alínea b) do nº 1 do artº 432º que exclui dessa possibilidade as decisões que sejam irrecorríveis, nos termos do artº 400º, de que aqui nos interessam as alíneas e) e f) do seu nº 1.
Entre as datas daqueles dois acórdãos da 1ª Instância, a alínea b) do nº 1 do artº 432º e a alínea f) do nº 1 do artº 400º não foram alteradas e mantêm a redacção decorrente da Lei nº 48/2007, de 29 de Agosto. Não assim a da alínea e): alterada que foi pela mesma Lei, voltou a sê-lo pela Lei nº 20/2013, de 21/02.
Assim, em conformidade com aquela jurisprudência, entendemos que a razão está, neste particular, do lado dos Recorrentes. Com efeito, entendemos que o princípio que no início enunciamos não pode sofrer derrogação pela circunstância de o primeiro acórdão ter sido parcialmente invalidado por nele terem sido detectados vícios previstos no nº 2 do artº 410º. A invalilidade, como diz João Conde Correia[24], exprime apenas um juízo depreciativo, de não conformidade entre o acto praticado e o seu paradigma normativo. Por isso que, em nossa opinião, essa invalidade não o torne processualmente inexistente, de forma a excluí-lo do próprio processo, destruindo todos os efeitos que lhe são próprios. O acto nulo tem existência jurídica, embora defeituosa, ainda que o vício seja insanável[25]. Ora, como vimos, foi com o acórdão de 05.01.2009 que, pela primeira vez, se verificaram no processo, em concreto, os pressupostos do exercício do direito ao recurso. Por isso que a versão actual da referida alínea e) só será aplicada se, em concreto, se mostrar mais favorável aos Arguido, o mesmo é dizer, se concluirmos que admite o recurso para o Supremo Tribunal de Justiça em situações não recorríveis à sombra da versão anterior.

A versão da alínea e) aqui aplicável é, pois, a fixada pela Lei 48/2007 por ser a que vigorava na data em que foi proferida a decisão da 1ª instância, momento em que, insistimos, «se configur[ou] o exercício do direito de dela recorrer, no pressuposto de que só depois de conhecida a decisão final surg[iu] na esfera jurídica dos sujeitos processuais por ela afectados, na decorrência de um abstracto direito constitucional ao recurso, o concreto “direito material” em determinado prazo, deste… recurso ordinário…»[26] (cfr., no mesmo sentido, os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 22.10.2008, Pº nº 215/08, de 27.05.2009, Pº nº 484/09 e de 08.10.2015, Pº nº 18068/11.2TDPRT.P1.S1, da 3ª Secção).

b) Definida a lei nesta parte aplicável, importa agora abordar a questão do âmbito possível do recurso

Vimos atrás as posições assumidas a este propóosito pelo Ministério Público e pelos Arguidos /recorrentes.

Pois bem.

Vejamos o sentido a atribuir a cada uma das normas que reputamos de relevantes para o nosso julgamento, para o efeito de apurar a amplitude da (ir)rrecorribilidade nelas prevista.

b.1) Quanto à alínea e) do nº 1 do artº 400º  do CPP (na redacção que saiu da Reforma de 2007, Lei 48/2007, de 29 de Agosto, em vigor desde 15 de Setembro seguinte)

Era do seguinte teor:

«Não é admissível recurso:

e) de acórdãos proferidos em recurso, pelas relações, que apliquem pena não privativa da liberdade».

Sobre o sentido a atribuir a este preceito é divergente a jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça.

Nesta Secção, a orientação que tem sido seguida afirma que a norma deve ser interpretada no sentido de que a recorribilidade para o Supremo Tribunal de Justiça das decisões que apliquem penas privativas de liberdade está dependente do facto de as mesmas penas se inscreverem no catálogo do nº 1, alínea c), do artº 432º do mesmo diploma, ou seja, serem superiores a 5 anos. Ou seja, não é admissível recurso de acórdãos da relação, proferidos em recurso, que apliquem pena de prisão não superior a 5 anos, de forma inovadora, depois de o arguido ter sido absolvido na primeira instância, ou que, agravando a pena aí aplicada, a fixam em medida não superior a esse limite.

É este, com efeito, o sentido, entre outros, do Acórdão de 18 de Fevereiro de 2009, Pº nº 102/09, da Decisão Sumária de 04.03.2009, Pº nº 492/09, dos Acórdãos de 19.03.2009, Pº nº 383/09, de 07.07.2009, Pº nº 2554/04.3TBACB.C1.S1, de 18.05.2011, Pº nº 37/09.4PBVCD.P1.S1, de 18.01.2012, Pº 306/10.0JAPRT.P1, de 29.03.2012, Pºs nºs 18/10.5GBBTNV.C1.S1 e 334/04.5IDPRT.P1.S1, de 12.07.2012, Pº nº 657/08.4GAVCD.P1.S1, de 24.10.2012, Pº nº 748706.3TASTR.E1.S1, de 05.12.2012, Pº 11453/10.9TDLSB, de 17.01.2013, Pº nº 219/11.9JELSB, de 06.02.2013, Pº 195/10.5GCFIG.C1.S1, de 27.02.2013, Pº nº 1/00.9TELSB-C1.P1.S1, de 14.03.2013, Pº 1759/07.0TALRA.C1.S1, de 21.03.2013 Pº nº 422/02.2SJPRT.P1.S1. e de 30.10.2013, Pº nº 806/09.5JAPRT, embora com fundamentação não exactamente coincidente.

Assim, por exemplo, o primeiro daqueles acórdãos, considerou que a «coerência interna» do regime de recursos para o STJ em matéria penal – em que «a referência essencial para a [sua] leitura integrada … não pode deixar de ser a alínea c) do nº 1 do artigo 432º do CPP – supõe que uma decisão não proveniente do tribunal colectivo ou do jurí ou, embora por eles proferida, que não aplique pena de prisão superior a 5 anos, não é susceptível de recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, porquanto, «se não é admissível recurso directo de decisão proferida por tribunal singular, ou que aplique pena de prisão não superior a cinco anos, também por integridade da coerência que deriva do princípio da paridade ou até da maioria da razão, não poderá ser admissível recurso de segundo grau de decisão da relação que conheça de recursos interpostos nos casos de decisão do tribunal singular ou do tribunal colectivo ou do jurí que aplique pena de prisão não superior a cinco anos». Por isso, acentua, é «neste círculo hermenêutico que têm de ser interpretadas as normas do artigo 400º, nº 1, do CPP, quando determinam a irrecorribilidade (e, por antonímia, a recorribilidade) das decisões proferidas, em recurso, pelo tribunal da relação …, desde logo a norma da alínea e) do nº 1 do artº 400º…».

Depois, referindo o processo legislativo que culminou na redacção que foi dada a esta alínea pela Lei 48/2007, conclui que «não se manifesta nem revela uma intenção, segura, de alteração [daquele] paradigma». Se modificação houve, prossegue, ela «vai ainda no sentido da restrição [porquanto] o critério da pena aplicada conduz, por comparação com o regime antecedente [pena aplicável], a uma restrição no acesso ao STJ».

Entende, todavia, que o processo legislativo, não permite a conclusão de que o legislador disse mais do que queria, pelo que não lhe «parece metodologicamente possível operar uma interpretação restritiva da norma». Mas como a referida norma «levada isoladamente ao pé da letra, sem enquadramento sistémico, acolheria solução que é directamente afastada pelo artº 432º, nº 1, alínea c), produzindo uma contradição intrínseca que o equilíbrio normativo sobre o regime dos recursos para o STJ não pode comportar» – o que ilustra com o exemplo de, numa «leitura isolada, estritamente literal» da norma, ser recorrível para o Supremo Tribunal de Justiça um acórdão proferido, em recurso, pela relação que aplique 30 dias de prisão, não confirmando a decisão de um Tribunal de Pequena Instância – entende que em casos como este, «deverá o intérprete operar a “redução teleológica”, da norma, …de acordo com o princípio base do artigo 432º, nº 1, alínea c), do CPP, necessária à reposição do equilíbrio e da harmonia no interior do regime dos recursos para o STJ».

No mesmo sentido e do mesmo Relator, pode ver-se o Acórdão de 17.01.2013, Pº nº 219/11.9TELSB.L1.S1.

A Decisão Sumária de 04.03.2009, assenta substancialmente nos mesmos pressupostos: o de que o objectivo da Reforma de 2007, tal como enunciado na respectiva proposta legislativa, foi o de «restringir o recurso de segundo grau perante o Supremo Tribunal de Justiça aos casos de maior merecimento penal, [substituindo], no artigo 400º, a previsão de limites máximos superiores 5 e a 8 anos de prisão por uma referência a penas concretas com essas medidas»; a redacção proposta para a alínea e), em coerência com esse modelo – «não é admissível recurso … de acórdãos proferidos, em recurso, pelas relações, que apliquem pena de multa ou pena de prisão não superior a cinco anos».

E, considerando que, «dentro do processo de consolidação e feitura da lei, alguém, menos conhecedor de princípios básicos de processo penal», conseguiu que a referida alínea saísse com a redacção que conhecemos, interroga-se sobre se, «admitindo que uma interpretação literal da mesma alínea conduz à conclusão de que a pena de prisão no seu limite mínimo proferida pelo Tribunal da Relação conduz à admissibilidade do recurso para este Supremo Tribunal de Justiça, …tal interpretação está de acordo com o propósito do legislador firmado nas sucessivas intervenções relativas à lei adjectiva penal ou, se, pelo contrário, é imperativo efectuar uma interpretação correctiva». E logo adianta que «a questão fundamental na análise de tal questão se centra «na interpretação da alínea em causa e da sua conjugação com o artigo 432º alínea c) do Código de Processo Penal, para sublinhar que essa tarefa terá de visar a «consagração de uma interpretação permitida pela lei, arredando a possibilidade de uma analogia proibida por situada à margem do princípio da legalidade».

Deste modo, constatado que a interpretação literal da alínea e) «não está de acordo com o princípio que desde sempre regeu o sistema de recursos», conclui impor-se «uma leitura restritiva da referida norma, reconduzindo-a não só ao espírito do legislador como à sua interpenetração com o disposto no artigo 432º, nº 1 alínea c) do Código de Processo Penal», esclarecendo que a interpretação restritiva, segundo Manuel de Andrade (“Ensaio sobre a Teoria de Interpretação das Leis”) aplica-se quando se reconhece que o legislador, posto se tenha exprimido em forma genérica e ampla, todavia quis referir-se a uma classe especial de relações».

No mesmo sentido e do mesmo Relator, vão os acórdãos de 19.03.2009, de 18.01.2012, de 29.03.2012 e de 24.10.2012, arredando a possibilidade, na interpretação da alínea e) do artº 400º e da sua conjugação com o artº 432º, nº 1, alínea c), de «uma analogia proibida por situada à margem do princípio da legalidade», e invocando a necessidade de uma leitura restritiva da al e) do nº 1 do art 400º do CPP, reconduzindo-a não só ao espírito do legislador como à sua interpenetração com o disposto no art. 432º, nº 1, al. c), do mesmo Código.

Também o Acórdão de 18.05.2011,considerou que «o legislador ao arredar da competência do STJ o julgamento dos recursos de acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações, que apliquem pena não privativa da liberdade, quis implicitamente significar, de harmonia com o art. 9º do CC, na teleologia e unidade do sistema quanto a penas privativas de liberdade, que, só sendo admissível recurso para o Supremo de acórdãos do colectivo que tenham por objecto pena superior a 5 anos, uma vez que as penas inferiores a 5 anos de prisão caem na competência do juiz singular e não há recurso de decisões do tribunal singular para o STJ, apenas é recorrível para o STJ o acórdão da Relação que julgar recurso de decisão do tribunal colectivo, ou do júri, em que estes tivessem aplicado pena superior a 5 anos de prisão».

O Acórdão de 06.02.2013, por sua vez, assenta na ideia de que «o art. 432º, als. b), c) e d), não prescinde de uma interpretação conjugada (e correctiva) do artº 400º, nº 1, al. e), do CPP, que admite a recorribilidade para o STJ dos acórdãos da Relação que apliquem pena privativa de liberdade, excluindo da competência do STJ a reponderação de pena aplicada pela Relação de duração igual ou inferior a 5 anos de prisão».

Do que vem de ser referido, conclui-se, pois, que foi suficiente, para esta Secção ter chegado àquele resultado, o recurso a uma “interpretação correctiva (ou mesmo a redução teleológica”), a uma “interpretação conjugada e correctiva”, ou a uma interpretação restritiva, com repúdio expresso do recurso à analogia. E onde bastar a interpretação, mesmo que seja uma interpretação extensiva – o que não é decididamente o caso – para responder a determinada questão jurídica, o direito não é lacunoso[27].

Em sentido divergente podem ver-se, da 5ª Secção, por exemplo, os Acórdão de 22.01.2009, Pº nº 2833/08, de 24.02.2011, Pº nº 23/08.1PECTB.C1.S1 e de 26.06.2013, Pº nº 298/10.PAMTJ.L1.S1 a que subjaz o entendimento da aplicação do princípio geral da recorribilidade das decisões a todas as situações em que tenha sido aplicada pena de prisão e não exista confirmação pelo tribunal da relação da decisão de 1ª Instância.

A primeira corrente, em que nos filiamos, como adeptos da interpretação restritiva da norma, saiu claramente fortalecida com a posição que o Legislador tomou sobre a questão na Lei 20/2013, de 20.02.2013 que, procedendo a mais uma reforma do CPP, alterou a redacção da citada alínea e) e consagrou a interpretação a que antes chegámos.

Com efeito, conhecida que foi a intenção de o Governo proceder a uma (mais uma) reforma do processo penal, o Senhor Conselheiro então presidente desta Secção apresentou-lhe «Uma Sugestão de Reforma Pontual» da alínea e) do nº 1 do artº 400º – documento que, por ser inédito, nem por isso deixa de ser relevante para efeito da interpretação da norma – em que, depois de salientar que a sua redacção final acabou diferente da constante da proposta governamental, amputada que foi do seu segmento final que impedia o recurso para o Supremo Tribunal de Justiça «de acórdãos proferidos, em recurso pelas relações, que apliquem pena de multa ou pena de prisão não superior a 5 anos», considerou a disposição, «no mínimo paradoxal, pois que contrariada não apenas pela alínea f) que imediatamente se lhe segue, como pela disposição abrangente do artº 432º do mesmo Código, que delimita o âmbito do recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, em que subjaz, nomeadamente, a preservação do Supremo de intervir no conhecimento … de decisões proferidas pela relação em recursos em que tenham sido aplicadas penas de prisão inferiores a 5 anos» e sugeriu que «a confusão lançada por tal dispositivo teria o seu ponto final com a alteração da sua redacção actual em conformidade com a inicial proposta do Governo, ficando estabelecido que “são irrecorríveis os acórdãos proferidos, em recurso, pelas relações que apliquem pena de multa ou pena de prisão não superior a 5 anos».

Ou seja, veiculou, perante o Governo, a jurisprudência que vinha sendo seguida nesta Secção, assente, como vimos, nas regras e princípios traçados pelo artº 9º do CCivil - norma de 2º grau ou norma sobre normas que vale para todo o direito, qualquer que seja o ramo em causa[28] – em matéria de interpretação da lei (que não nas regras de integração, aliás expressamente recusadas em vários dos acórdãos que acima citamos), em coerência com o caminho seguido pelo Legislador desde o início da vigência do CPP de limitar cada vez mais a intervenção do Supremo Tribunal de Justiça aos casos de maior gravidade e que o texto da lei (na redacção saída da Reforma de 2007), formalmente contraria, sem que, para isso, se encontre qualquer justificação nos trabalhos preparatórios ou qualquer sinal que insinue sequer que foi sua intenção abandonar aquele critério – o de, repetimos, restringir o recurso de 2º grau perante o Supremo Tribunal de Justiça aos casos de maior merecimento penal, avaliado agora em função da pena aplicada e não já da pena aplicável, limitando, por esta via, ainda mais, a possibilidade desse recurso.

Ora a Reforma promulgada, concretizada pela Lei 20/2013 que corporizou a 20ª alteração do CPP, modificou, como dissemos, entre outras, a norma da alínea e) do nº 1 do artº 400º, consagrando justamente aquela sugestão e a solução jurisprudencial que tinha ínsita, prescrevendo que não é admissível recurso de acórdãos proferidos, em recurso, pelas relações que apliquem pena não privativa de liberdade ou pena de prisão não superior a 5 anos, com a seguinte explicação[29]:

«10. Os desenvolvimentos jurisprudenciais do Supremo Tribunal de Justiça e a disparidade de decisões sobre a admissibilidade de recurso para esse Supremo Tribunal, determinam que se aclarem alguns traços deste regime, com vista a eliminar dificuldades de interpretação e assintonias que conduzam a um tratamento desigual em matéria de direito ao recurso.

Assim, no que respeita aos acórdãos proferidos em recurso, pelas relações, é clarificado que são irrecorríveis os acórdãos proferidos que apliquem pena de multa ou pena de prisão não superior a cinco anos.

São também irrecorríveis os acórdãos absolutórios proferidos, em recurso, pelas relações relativamente a decisão de primeira instância condenatória em pena de multa, ou em pena de prisão não superior a cinco anos

Delimita-se, assim, o âmbito do recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, preservando a sua intervenção para os casos de maior gravidade» (negrito nosso).

Quer dizer: face à controvérsia jurisprudencial sobre o significado da norma em questão, o legislador veio inequivocamente consagrar uma das interpretações divergentes que no Supremo Tribunal de Justiça, movendo-se dentro dos limites impostos pela norma do 9º do CCivil e afastando expressamente, em alguns dos seus arestos, a possibilidade de recurso à analogia, se fixou; uma das interpretações correntes, quiçá a maioritária, com que os eventuais interessados vinham sendo confrontados e com a qual tinham que contar no exercício do seu direito ao recurso.

Concluímos, por isso, mais uma vez pela via interpretativa, que a Lei 20/2013 assume, neste particular, a natureza de lei interpretativa. Como refere a decisão sumária de 25.09.2013, proferida no Pº nº 831/12.9PBVCT.G1.S1, desta Secção, o legislador não podia ter sido mais claro «quanto à assunção de um propósito interpretativo, não inovador, da nova lei», quando «declara com transparência que, conhecendo a divergência de decisões do Supremo quanto à possibilidade de recurso para este Tribunal, entende necessário clarificar a lei, fixando qual a interpretação considerada correcta, dentro das que tinham sido adoptadas pela jurisprudência».

De facto, como se diz, por exemplo, na fundamentação do “Assento” nº 2/82, de 16.04.1982, publicado no DR., Iª Série, de 18.06.1982, citando Paul Roubier, «há que distinguir duas categorias de leis interpretativas: as que o são por determinação do legislador; as que o são pela sua própria natureza». «É de sua natureza interpretativa a lei que, sobre um ponto em que a regra de direito é incerta ou controvertida, vem consagrar uma solução que a jurisprudência, só por si, poderia ter adoptado» (no nosso caso, já adoptou). E acrescenta que, entre nós, a fórmula de Roubier foi aceite por Alberto dos Reis (parecer publicado na Revista da Ordem dos Advogados, Ano 2º, nºs 1 e 2, págs. 49 e segs.) e por Baptista Machado (“Sobre a Aplicação no Tempo do Novo Código Civil”, 286) e que parece de algum modo ter sido admitida por Pereira Coelho, na RLJ, Ano 114º, 184.

Ainda segundo o “Assento”, Alberto dos Reis «entende mesmo que lei interpretativa por natureza (ou por função, como a designa) “é a lei que exerce um papel semelhante ao que exercem os assentos do Supremo Tribunal de Justiça, quer dizer, é a lei que se destina a pôr termo a um conflito de jurisprudência».

E sublinha: «… se a norma, além de incerta, é já controvertida, então a lei nova só pode qualificar-se de interpretativa se resolve o problema dentro dos parâmetros da controvérsia a tal respeito gerada, perfilhando uma forte corrente jurisprudencial anterior».

Também Baptista Machado[30] entende que são de natureza interpretativa «…aquelas leis que, sobre pontos ou questões em que as regras jurídicas aplicáveis são incertas ou o seu sentido controvertido, vêm consagrar uma solução que os tribunais poderiam ter adoptado».

Para que uma lei possa/deva ser considerada interpretativa, prossegue o mesmo Autor, é necessária a verificação de dois requisitos: que a solução do direito anterior seja controvertida ou pelo menos incerta; que a solução definida pela nova lei se situe dentro dos quadros da controvérsia e seja tal que o julgador ou o intérprete a ela poderiam chegar sem ultrapassar os limites normalmente impostos à interpretação e aplicação da lei. Mas se o julgador ou o intérprete, em face dos textos antigos, não podiam sentir-se autorizados a adoptar a solução que a lei nova vem consagrar, então esta é decididamente uma lei inovadora, embora eventualmente designada pelo legislador como interpretativa.

Nos termos do artº 13º do CCivil, a lei interpretativa integra-se na lei interpretada e deve ser aplicada imediatamente, mesmo aos processos pendentes.

A este respeito, observa o referido Assento, invocando Vaz Serra, na RLJ, Ano 106º, 144, que «a atribuição de natureza interpretativa a uma norma legal pode ser melindrosa, visto forçar os tribunais a decidir questões surgidas no domínio da lei anterior no sentido fixado pela lei interpretativa, sentido esse que pode não ser o melhor em face da lei interpretada, iludindo, assim, legítimas expectativas criadas ao abrigo desta». Mas logo contrapõe a essa observação, a tese de Baptista Machado (na obra que antes citou) de que «a retroacção das leis interpretativas se justifica, além do mais, “por não envolver uma violação de quaisquer expectativas seguras e legítimas dos interessados. Estes podiam contar com a solução fixada pela lei nova interpretativa, visto ela corresponder a um dos vários sentidos atribuídos já pela doutrina ou pela jurisprudência à lei nova”. Ponto é que a lei nova consagre, “se não a corrente dominante, pelo menos, uma corrente forte de interpretação relativa ao direito anterior”».

Por isso, tratando-se de leis que vêm consagrar e fixar uma das interpretações possíveis da lei interpretada com que os interessados podiam e deviam contar, não são susceptíveis de violar expectativas seguras e legitimamente fundadas. Daí, conclui Batista Machado[31], a razão pela qual a lei interpretativa se aplica a factos e situações anteriores. Tratando-se de lei interpretativa, insiste, a sua aplicação a factos passados não representa necessariamente verdadeira retroactividade, porquanto «se porventura se pode dizer que as variações e mudanças de jurisprudência no que respeita à interpretação da regra de direito, pelo menos na medida em que esta regra nunca foi considerada certa, não têm efeito retroactivo, então também a lei interpretativa … não será substancialmente retroactiva».

Deste modo, de acordo com a doutrina acabada de referir, tendo o legislador consagrado e fixado, como dissemos, uma das interpretações que o Supremo Tribunal de Justiça dava ao preceito, uma das interpretações correntes do preceito com que os interessados estavam confrontados, a sua aplicação imediata não é susceptível de violar as «expectativas seguras e legitimamente fundadas», designadamente do arguido, e do seu direito ao recurso. Não haveria, por isso, razão para não aplicar essa norma, nos termos em que, em conjugação com o artº 432º, nº 1, vem sendo interpretada por esta Secção, aos processos pendentes sem que isso implicasse violação designadamente da alínea a) do nº 2 do artº 5º do CPP ou da doutrina do Acórdão de Fixação de Jurisprudência nº 4/2009, de 18.02.2009 (DR. 1ª Série, de 19.03.2009).

Não vamos, porém, seguir essa via.

Aquela doutrina tem opositores.

Oliveira Ascensão[32], por exemplo, defende que a lei interpretativa é retroactiva e informa, em nota de rodapé, que é esse o sentido da generalidade da doutrina.

De resto, também Batista Machado[33] não deixa de sublinhar que certas formas extremas de retroactividade se poderão considerar inconstitucionais, não propriamente por se tratar da aplicação retroactiva da Lei Nova, mas por essa aplicação implicar a violação de direitos fundamentais.

Por sua vez, o Tribunal Constitucional, no Acórdão nº 171/2000, de 22 de Março de 2000, publicado no DR. II Série, de 25.10.2000, considerou que, «se as leis autenticamente interpretativas não abalam, verdadeiramente, as expectativas concretas anteriores dos destinatários das mesmas, no caso de a interpretação tornada vinculativa já ser conhecida e tiver sido mesmo aplicada (…), todavia, mesmo nesses casos, a vinculação interpretativa que tais leis comportam, ao tornar-se critério jurídico exclusivo de aplicação do texto anterior da lei, modifica a relação do Estado, emitente de normas, com os seus destinatários. A exclusão pela lei interpretativa de outras interpretações propugnadas e já aplicadas noutros casos (…) leva a que o Estado possa “a posteriori” impedir que o direito que criou funcione através da sua lógica intrínseca comunicável aos destinatários das normas, permitindo que interfira na interpretação jurídica um poder imperativo e imediato que altera o quadro dos elementos relevantes da interpretação jurídica». Nesta medida, continua, «poder-se-á entender que a lei interpretativa, ainda que autêntica, ao pretender vigorar para o período anterior à sua emissão,…altera o contexto de autovinculação dos órgãos de aplicação do direito ao direito e, consequentemente, afecta a segurança dos destinatários das normas protegida por uma proibição (constitucional) de retroactividade».

Ora, a Lei 20/2013, não contem disposição alguma que implícita ou explicitamente mande aplicar a alteração introduzida na alínea e) do nº 1 do artº 400º aos recursos interpostos de decisões da 1ª Instância proferidas antes da sua entrada em vigor.

Aliás, a natureza autenticamente interpretativa que lhe atribuímos, enquanto reportada àquela norma, foi (é), também ela, resultado da interpretação a que chegámos e não de qualquer injunção nesse sentido do próprio legislador, caso em que, podemos conceder, a sua aplicação vinculativa à questão da recorribilidade aqui suscitada, poderia violar o direito de defesa dos Arguidos, constitucionalmente consagrado.

Não foi, não é, esse, porém, repetimos o caminho que seguimos.

Seguidores que nos confessamos da orientação jurisprudencial adoptada nesta 3ª secção, continuamos a aplicar a norma da alínea e), como o vínhamos fazendo com o significado que lhe vínhamos atribuindo antes da publicação da Lei 20/2013, agora confortados com o sentido que entendemos o Legislador lhe entendeu outorgar. Com efeito, não vemos nem concluímos que, no momento actual, os adeptos da orientação jurisprudencial divergente, estejam obrigados, em razão da simples publicação daquela lei, a mudar de orientação e a aplicar a situações abrangidas pelo regime decorrente da Lei 48/2007, a tese por nós propugnada[34].

A interpretação que perfilhamos foi, em algumas das suas facetas, escrutinada pelo Tribunal Constitucional que, em várias ocasiões, não julgou inconstitucional, face ao disposto nos arts. 20º, nº 1 e 32º, nº 1, da CRP, a interpretação da referida alínea e) segundo a qual é irrecorrível o acórdão proferido pelas relações que aplique pena de prisão não superior a 5 anos, em recurso de decisão da primeira instância que tenha aplicado pena não privativa da liberdade (cfr. os Acórdãos nºs 424/2009, de 14.08.2009, 419/2010, de 09.11.2010 e 589/2011, de 30.11.2011.

Mas no Acórdão nº 591/2012, de 5.12.2012, reviu essa posição que, depois, confirmou, em plenário, no Acórdão de 04.06.2013, publicado no DR., 2ª Série, de 30 do mesmo mês, págs. 23815 e segs., em que decidiu «julgar inconstitucional a interpretação normativa resultante da conjugação das normas da alínea c) do nº 1 do artigo 432º e alínea e) do nº 1 do artº 400º do CPP, na redacção da Lei 48/2007, segundo a qual é irrecorrível o acórdão proferido pelas relações, em recurso, que aplique pena privativa da liberdade inferior a cinco anos, quando o tribunal da primeira instância tenha aplicado pena não privativa da liberdade, por violação do princípio da legalidade em matéria criminal (artigos 29º, nº 1 e 32º nº 1, da Constituição da República Portuguesa».

Mas, como diz a decisão sumária atrás referida, proferida no Pº nº 831/12.9PBVCT.G1.S1, desta Secção, «a decisão baseada na ofensa do princípio da legalidade em matéria penal, não é convincente. Na verdade, segundo esse acórdão [o acórdão do plenário do Tribunal Constitucional], a redacção da alínea e) segundo a Lei nº 48/2007, de 29-8, não comporta a extensão à pena de prisão efectiva, superior ou não superior, a 5 anos. E daí que conclua que essa extensão extravase da interpretação e se situe no campo da analogia, violando assim o citado princípio da legalidade. Mas, como se acentua no voto de vencido do Cons. Vítor Gomes, o TC excede os seus poderes de cognição uma vez que “para concluir pela violação do artº 29º da CRP (…) o acórdão averigua directamente, assumindo-a como sua tarefa, se o sentido com que a norma da al. e) do nº 1 do artº 400º do CPP foi aplicado pelo STJ é comportado pelos termos do preceito legal”».

Realmente, nesse voto de vencido, reiterando posições anteriormente assumidas, designadamente no Acórdão nº 183/2008 de 12 de Março desse ano, o Senhor Conselheiro afirma que «a questão central que o presente acórdão analisa e de que resulta o juízo de inconstitucionalidade – violação do princípio da legalidade criminal por determinada interpretação do direito infraconstitucional não se conter nos limites do sentido hermenêuticamente possível do texto legal – não constitui questão de constitucionalidade normativa que caiba na competência do Tribunal em recurso de fiscalização concreta» (sublinhado nosso), porque «tal tarefa de determinação do sentido do direito ordinário não cabe nos poderes de cognição do Tribunal Constitucional, mesmo em domínios cobertos pelo princípio da legalidade penal».

Aliás, a decisão tirada nesse acórdão (nº 183/2008) teve a oposição de mais quatro Senhores Conselheiros (Borges Soeiro, Pamplona de Oliveira, Gil Galvão e Benjamim Rodrigues) que votaram substancialmente no mesmo sentido.

No nosso caso, o resultado a que chegamos por via interpretativa não afronta, como veremos mais à frente, a Constituição, designadamente o direito ao recurso tal como aí está consagrado.

Mais uma razão para não deixarmos de aplicar a norma com o sentido que sempre lhe atribuímos, tanto mais que a sua nova versão, repudiada pelos Recorrentes, não é efectivamente mais favorável às suas pretensões recursivas.

b.2) Quanto à alínea f) do nº 1 do artº 400º  do CPP
Nos termos desta alínea, na redacção que lhe foi dada pela Lei 48/2007, repetimos (e outra alteração não foi entretanto publicada) são irrecorríveis os acórdãos condenatórios proferidos, em recurso, pelas relações, que confirmem decisão de 1ª instância e apliquem pena de prisão não superior a 8 anos.
Estabelece, assim, dois requisitos cumulativos da irrecorribilidade desses acórdãos:
a confirmação do acórdão da 1ª instância (dupla conforme);
a condenação em pena de prisão não superior a 8 anos.
Começemos por apurar o sentido do requisito da dupla conforme.
Quando a relação confirma integralmente, ponto por ponto, a decisão da 1ª instância, ratificando a decisão sobre a matéria de facto, a sua qualificação jurídica e a natureza e a medida da pena, não há, obviamente, qualquer dúvida sobre a verificação do requisito da dupla conforme.
O Supremo Tribunal de Justiça vem entendendo, porém, que, para além daqueles casos, o fundamento de irrecorribilidade estabelecido na alínea f) também se verifica, apesar daquela não coincidência integral, embora agora, há que dizê-lo, com divergências sobre a natureza e extensão da não coincidência.
Não desconhecemos, de facto, o sentido de, entre outros, os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 25.02.2015, Pº nº 74/12.1JACBR.C1.S1 – que considerou que, tendo a relação reduzido a pena conjunta por efeito da redução de uma das penas parcelares, não pode considerar-se que o acórdão da relação tenha confirmado, nesse ponto, a decisão da 1ª instância – e de 12.11.2015, Pº nº 823/12.8JACBR.C1.S1 – que decidiu não se verificar a dupla conforme quando o tribunal da relação aplica uma pena mais reduzida por efeito da alteração da qualificação dos factos.
Pela nossa parte, no entanto, temos vindo a entender, na esteira, da jurisprudência que temos por maioritária, que a confirmação não pressupõe a coincidência ou identidade absoluta entre as duas decisões, mas apenas a sua identidade essencial. Por isso que, no caso de condenação, se verifica, neste entendimento, confirmação (in mellius), quando o tribunal da relação, sem alterar substantivamente a decisão sobre a matéria de facto, desagrava a responsabilidade do arguido, absolvendo-o de um dos crimes por que ia condenado, desagrava a imputação penal, desqualificando o tipo agravado para o tipo simples do mesmo crime, reduz uma das penas parcelares e, em consequência, reduz a pena conjunta.
Em qualquer destas hipóteses, o tribunal da relação, melhorando a situação do arguido, confirma in melius a decisão da 1ª Instância. Neste sentido, cfr., por exemplo, os Acórdãos de 02.11.2011, Pº nº 811/06.3TDLSB-D.L1.S1 («Por maioria de razão, dever-se-á considerar confirmatório, também, o acórdão que, absolvendo o arguido de um ou mais dos crimes em concurso, reduza a pena conjunta aplicada por efeito dessa absolvição»), de 08.03.2012, Pº nº 625/06.0PELSB.L2.S1 («Desde logo, também não é necessária a identidade da fundamentação da condenação, ou seja, a mesma e precisa decisão pode ser fundamentada em termos diferentes. Também não deixará de haver confirmação quando o tribunal superior desagrave, quer por absolvição de algum dos crime imputados ao recorrente, quer por desqualificação do crime imputado (com ou sem modificação da matéria de facto), quer ainda por redução de alguma pena parcelar ou da pena única, a situação do condenado. Em qualquer destes casos, melhorando a posição do condenado, é confirmada a condenação na parte subsistente»), de 26.02.2014, Pº nº 851/08.8TAVCT.G1.S1 («Quanto à qualificação jurídica, há que precisar que a identidade de qualificação abrange não só a manutenção da mesma pelo tribunal superior, como também a desagravação da imputação penal, por meio da desqualificação do tipo agravado para o tipo simples do mesmo crime…a identidade de facto não é ofendida quando a alteração é juridicamente irrelevante, ou tem apenas como consequência a desagravação da qualificação dos factos, assim beneficiando o condenado»), de 25.03.2015, Pº nº 1101/09.6PGLRS.L1.S1 (« A dupla conforme, como indício de coincidente bom julgamento nas duas instâncias, não supõe, necessariamente, identidade total, absoluta convergência, consonância total, integral, completa, ponto por ponto, entre as duas decisões. A conformidade parcial, mesmo falhando a circunstância da identidade da factualidade provada e da qualificação jurídica (desde que daí resulte efectiva diminuição da pena), não deixa de traduzir ainda uma presunção de bom julgamento»), de 25.06.2015, Pº nº 814/12.9JACBR.S1 (a identidade da qualificação jurídica abrange não só a manutenção propriamente dita da decisão pelo tribunal superior, como também a desagravação da imputação penal, quer por absolvição por algum dos crimes imputados ao recorrente, quer por desqualificação do tipo agravado, quer pela redução do número de crimes ou redução das penas parcelares, ou de algumas delas, ou somente da pena única; a identidade do facto não é descaracterizada se a alteração for juridicamente irrelevante ou tiver co qualificação dos factos, assim beneficiando o arguido…»), de 10.12.2015, Pº nº 269/13.0JAFAR.E1.S1, que cita os Acórdãos de 26.02.2014, Pº nº 851/08.8TAVCT.G1.S1 e de 25.06.2015, Pº nº 814/12.9JACBR.S1 («Sobre a qualificação jurídica, importa referir que «a identidade de qualificação abrange não só a manutenção da mesma pelo tribunal superior, como também a desagravação da imputação penal, por meio de desqualificação do tipo agravado para o tipo simples do mesmo crime»,…),  e de 18.05.2016, Pº nº 653/14.2TDLSB.E1.S1 (o requisito da dupla conforme também se verifica quando a relação absolve o arguido por um dos crimes por que ia condenado, reduz uma das penas parcelares e, consequentemente, reduz a medida da pena conjunta).     
Quanto à medida da pena a considerar
O que releva, para o efeito, é a medida da pena efectivamente aplicada – «… e apliquem pena de prisão não superior a 8 anos», diz a aquela alínea f).
No caso de condenação por um único crime a interpretação da lei não levanta dificuldades.
Já no caso de um concurso de infracções, a solução do problema pode não se apresentar tão linear.
Mas o Supremo Tribunal de Justiça, na esteira da interpretação praticamente consensual que fazia deste mesmo preceito na versão anterior à Reforma de 2007, vem entendendo, também agora de forma pacífica, que, no caso de concurso de crimes, o recurso para o Supremo Tribunal de Justiça de acórdão da relação que confirme decisão da 1ª instância apenas é admissível relativamente ao(s) crime(s) punidos com prisão superior a 8 anos e/ou relativamente às questões sobre os pressupostos do próprio concurso e da formação da pena conjunta, quando esta também ultrapasse aquele limite (cfr., entre outros, os Acs. 11.02.09, Pº 113/09-3ª; de 04.03.09, Pº 160/09-3ª; de 25.03.09, Pº 486/09-3ª; de 16.04.09, Pº 491/09-5ª; de 29.04.09, Pº 391/09-3ª; de 07.05.09, Pº 108/09-5ª; de 27.05.09, Pº 384/07.0GDVFR.S1-3ª e de 23.06.10, Pº nº 1/07.8ZCLSB.L1.S1-3ª). Como decidiu o Acórdão de 30.06.2011, Pº nº 479/09.5JAFAR.E2.S1, um dos muitos invocados no Acórdão de 26.10.2016, Pº nº 58/13.2PEVIS.C1.S1-3º Secção, «tudo se passará, quanto a cada um dos crimes como se para cada um deles tivesse sido instaurado um processo autónomo e nele tivesse sido aplicada determinada pena. Sempre que o agente tiver praticado diversos crimes que estejam numa relação de conexão e seja instaurado um único processo, haverá que verificar, em caso de recurso da decisão da Relação se, relativamente a cada um dos crimes, estão reunidos os pressupostos de que a lei faz depender a respectiva recorribilidade, atentando em cada uma das penas parcelares, sempre que o critério de recorribilidade se aferir pela medida da pena». Deste modo, quando a pena aplicada for inferior ao limite em causa, o Supremo Tribunal de Justiça fica impedido de sindicar o acórdão recorrido relativamente aos crimes punidos dentro dos referidos limites, o que, como decidiu o Acórdão de 11.04.2012, Pº nº 3969/07.5TDLSB.L1.S1 (também referido naquele Acórdão de 26.10.2016) obsta, naturalmente ao exame sobre a actividade decisória da relação que «subjaz e conduziu à condenação do recorrente por qualquer desses crimes». Relativamente a estes crimes do concurso, «o acórdão recorrido transitou em julgado, razão pela qual no que a eles se refere se formou caso julgado material, tornando definitiva e intangível a respectiva decisão em toda a sua dimensão, estando, pois a coberto do caso julgado todas as decisões que antecederam e conduziram à condenação pelos crimes em concurso, ou seja, que a montante da condenação se situam».
Quer dizer: a decisão do tribunal sobre essas questões, não sendo susceptível de recurso ordinário, transita em julgado nos termos do artº 628º do CPC, ou depois de transitada em julgado a decisão sobre eventual reclamação deduzida, v.g. por ter sido arguida a sua nulidade ou, não tendo havido reclamação, no prazo de 10 dias fixado nos termos dos arts. 120º, nº 1 e 105º, nº 1, do CPP.
O Recorrente DD, como vimos, discorda deste entendimento e, para fundamentar a sua tese de conhecimento global do recurso que interpôs, invocou três Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça – os de 07.10.2009, Pº nº 611/07.3GFLLE.S1, de 17.09.2009, Pº nº 207/08.2GDGMR.S1 e de 24.03.2011, Pº nº 322/08.0TARGR.L1.S1, todos da 3ª Secção.
Mas parte de um equívoco. De facto, os dois primeiros acórdãos incidem, não sobre qualquer das normas de cujo sentido curamos aqui, mas sim sobre a interpretação da alínea c) do nº 1 do artº 432º do CPP relativa ao recurso directo para o Supremo Tribunal de Justiça de acórdãos condenatórios do tribunal colectivo. O terceiro, de 24.03.2011, reporta-se efectivamente à interpretação da alínea f) do nº 1 do artº 400º. Mas o trecho que o Recorrente transcreve, embora conste efectivamente deste acórdão, pertence ao Acórdão de 03.04.2008, Pº nº 574/08-5ª aí citado. A doutrina defendida no Acórdão de 24.03.2011 filiando-se na corrente que deixàmos traçada, afirma que, «face à redacção do artº 400º, nº 1, alínea f), do CPP, actualmente em vigor, atenta a identidade – total – de decisão nas instâncias…as penas aplicadas ao recorrente pelos crimes de sequestro [4 anos], de violência doméstica [2 anos e 8 meses] e de ameaças agravadas [1 ano, por cada um dos crimes] é indubitável que não é admissível o recurso do arguido na parte respeitante à impugnabilidade das penas nesse sector». E depois de elencar uma vasta lista de decisões do Supremo Tribunal de Justiça sobre a questão, entre as quais aquele acórdão de 03.04.2008, conclui: «sendo as referidas penas confirmadas inferiores a 8 anos de prisão, não é admissível recurso quanto à sindicância das mesmas penas, o qual se restringirá, pois, a conhecer da pena do homicídio qualificado e da pena do concurso. As penas parcelares aplicadas pelos crimes de sequestro, violência doméstica e ameaças agravadas manter-se-ão, pois, por não ser admissível o recurso quanto às mesmas».
Não vemos, mais uma vez, razões para nos afastarmos desta orientação.
De facto, mal se compreenderia que a admissibilidade de recurso incidente sobre determinado crime estivesse dependente da circunstância aleatória de o seu julgamento ter sido ou não feito em conjunto com outros crimes (cfr. arts. 24º e segs. do CPP).
Por outro lado, como se recorda naquele Acórdão de 16.04.2009, invocando jurisprudência anterior, «seria um contra-senso, na perspectiva da restrição do recurso para o STJ, acentuada pela aludida reforma [a Reforma de 2007, entenda-se], que o legislador, ao falar de pena aplicada em concreto, em vez de pena aplicável em abstracto como anteriormente, pretendesse levar o STJ a conhecer de todos os crimes que formam um concurso de infracções, mesmo que tais crimes correspondam àquela noção que normalmente se designa de criminalidade bagatelar ou que, tendo já passado pelo crivo da Relação, e não sendo crimes de bagatela, viram as respectivas condenações confirmadas por aquela, até um limite de gravidade tido como razoável (na opção legislativa, 8 anos de prisão) a partir do qual se justifica a revisão do caso pelo STJ».
E, como também aí se ponderou, «… se o sistema português fosse “um sistema de pena unitária, não se exigindo a discriminação das penas parcelares e tudo se passando como se o conjunto dos factos praticados pelo agente constituísse um só crime a punir segundo a culpa e as exigências da prevenção” (…) o recurso interposto para o Supremo deveria, sem dúvida, abranger toda a decisão. [Num tal sistema] ao agente é aplicada uma única pena e, em consequência, será por referência a ela que se [há-de definir] o âmbito do recurso. Mas sendo a pena do cúmulo uma pena única conjunta, já não se justifica um conhecimento amplo do recurso de forma a abranger cada um dos crimes que entram no concurso, mesmo daqueles que são tidos por irrecorríveis para o Supremo. Conforme refere Figueiredo Dias, “o tribunal tem de determinar a pena que caberia a cada um dos crimes em concurso, como se de crimes singulares, objecto de cognições autónomas, se tratasse, para tanto seguindo o procedimento normal de determinação da pena. … Dados os diversos efeitos – desde logo em tema de determinação do limite máximo da pena conjunta, mas também, v. g. em matéria de recursos, de amnistia, de penas acessórias, efeitos das penas e medidas de segurança, de concurso superveniente, etc. – que se ligam à penas dos diversos crimes concorrentes, ou penas parcelares, têm elas não só de constar especificadamente da sentença como a sua medida tem de ser autonomamente fundamentada … “(…). Poder-se-á assim afirmar, em síntese, que embora no caso de concurso de infracções venha a final a ser aplicada uma pena única conjunta, na decisão não deixam de ser também aplicadas penas parcelares que, ressalvada a questão da sua execução, não perdem a respectiva individualidade» (sublinhado nosso).
Por idênticas razões às que deixámos alinhadas, também no caso de apicação da alínea e) do nº 1 do artº 400º a decisão da relação proferida em recurso que haja recaído sobre um concurso de crimes, só admite recurso para o Supremo Tribunal de Justiça quanto às penas parcelares e conjunta, não confirmadas, superiores a 5 anos de prisão. O mesmo é dizer, no que para agora interessa, que, relativamente os crimes parcelares e a todas as questões com eles conexas que, inovatóriamente ou por agravação das cominadas pela 1ª instância, o tribunal da relação puna com prisão até 5 anos, não são suscsptíveis de apreciação pelo Supremo Tribunal de Justiça.
Também aqui, como dissemos acima, a decisão do tribunal sobre essas questões, porque não é susceptível de recurso ordinário, transita em julgado nos termos do artº 628º do CPC.
b.3) Aplicação da doutrina propugnada ao caso sub judice
– Quanto ao recurso interposto pelo arguido AA:
Relativamente à decisão da 1ª Instância, este Arguido viu o Tribunal da Relação:
extinguir as penas relativas a 2 dos crimes de corrupção passiva para acto ilícito por que ia condenado, por ter julgado prescrito o respectivo procedimento criminal;
confirmar as penas por 24 dos crimes do mesmo tipo, que oscilam entre 1 ano e 3 meses de prisão  e 1 ano e 8 meses de prisão;
agravar  para 1 ano e 8 meses de prisão a pena de 1 ano e 3 meses e para 2 anos de prisão a pena de 1 ano e 5 meses por que ia condenado por dois crimes ainda do mesmo tipo (“Metalurgia de Gondomar” e “F....”, respectivamente);
confirmar a pena de 3 anos de prisão por que ia condenado pelo crime de peculato praticado em co-autoria com o co-arguidoKK;   
reduzir para 1 ano e 1 mês de prisão e 1 ano de prisão as penas de 1 ano e 2 meses de prisão e 1 ano e 1 mês de prisão por que ia condenado por outros dois crimes de peculato  (“Supermercados G....” e “I....”);
agravar a pena conjunta para 8 anos de prisão.
       Face à interpretação que demos às referidas alíneas e) e f) do nº 1 do artº 400º do CPP, o seu recurso é inadmissível relativamente a todos os crimes parcelares, porque as respectivas penas, quando confimadas ou reduzidas, são todas inferiores a 8 anos de prisão e porque, das que foram agravadas, nenhuma atinge os 5 anos de prisão.
Mas é admissível quanto à discussão da pena conjunta, porque foi agravada e ultrapassa os 5 anos de prisão (Recordemos que o acórdão de 16.03.2016 foi julgado nulo e de nenhum efeito).
            O Arguido invoca, a favor do conhecimento amplo do recurso que interpôs, a circunstância de, tendo impugnado a pena conjunta, «sempre o Supremo Tribunal de Justiça terá competência para se pronunciar sobre as penas parcelares aplicadas, pois são estas que determinam a pena única…».
O argumento, porém, não procede.
Como acentuamos atrás e resulta expressamente do disposto no nº 2 do artº 77º do CPenal, a moldura penal do concurso é construída a partir das penas parcelares aplicadas aos crimes que o compõem. Mas, ultrapassado esse momento, momento da fixação das penas parcelares, o tribunal, para fixar a pena conjunta, não tem, não pode, voltar a sindicar a bondade daquelas condenações. Como diz Figueiredo Dias, invocado no Acórdão de 16.04.2009 atrás citado, as penas parcelares são determinadas «como se de crimes singulares, objecto de cognições autónomas se tratasse».
– Quanto ao recurso interposto pelo arguido DD
Relativamente à decisão da 1ª Instância, este Arguido viu o Tribunal da Relação:
            – condená-lo na pena de 3 anos e 2 meses de prisão pela prática de um crime de corrupção activa para acto ilícito por referência às falências em que interveio como liquidatário judicial o co-arguido AA, assim revogando o segmento do acórdão da 1ª Instância que havia julgado extinto por prescrição o respectivo procedimento criminal;
            – agravar as penas parcelares por que ia condenado pelos outros 10 crimes crimes de corrupção activa para acto ilícito, das quais a mais elevada foi fixada em 2 anos e 11 meses de prisão;
            – reduzir para 1 ano e 1 mês e 1 ano de prisão as penas por que ia condenado pela prática de dois crimes de peculato,
            – agravar para  5 anos e 10 meses a pena conjunta por que ia condenado.
Com este quadro, terá de conclur-se que também relativamente a este Recorrente o recurso interposto é inadmissível relativamente a todos os crimes singulares por que foi condenado, porque as respectivas penas que foram agravadas não ultrapassam, nenhuma delas, os 5 anos de prisão e porque a que foi reduzida é inferior a 8 anos de prisão – reformatio in mellius.
O âmbito admissível do recurso interposto restringe-se, pois, à discussão da pena conjunta porque foi agravada e ultrapassa os 5 anos de prisão.
            É verdade que, relativamente ao crime de corrupção activa para acto ilícito por referência às falências em que interveio como liquidatário judicial o co-arguido AA, o Tribunal da Relação condenou o Arguido depois de o Tribunal da 1ª Instância o ter absolvido.
            Mas, como vimos, é esse também o campo de aplicação da alínea e), mesmo na redacção que elegemos como aplicável ao nosso caso.
Alega o Recorrente que a irrecorribilidade desse segmento do acórdão da Relação viola os seus direitos de defesa, designadamente o direito ao recurso.
A Lei 48/2007 modificou substancialmente, é verdade, os pressupostos e as condições dos recursos, em segundo grau, para o Supremo Tribunal de Justiça, restringindo-os, como muito claramente se proclama na Proposta de Lei que está na sua origem.
Esta restrição não se traduz, porém, em violação da garantia constitucional do direito ao recurso, consagrada no artº 32º, nº 1, da CRP.
Com efeito, como ensinam Gomes Canotilho e Vital Moreira[35], o direito de acesso aos tribunais e à tutela judicial efectiva consagrado no artº 20º da CRP «não fundamenta um direito subjectivo ao duplo grau de jurisdição». Mas a «dupla instância» em matéria penal, além de expressamente consagrada no artº 14º, nº 5, do Pacto internacional dos Direitos Civis e Políticos e no artº 2 do Protocolo nº 7 à Convenção Para a Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, está igualmente inscrita no artº 32º, nº 1, da CRP.
A consagração do direito ao recurso, como uma das garantias de defesa, veio explicitar que, em matéria penal, o direito de defesa pressupõe a existência de um duplo grau de jurisdição, isto é, o direito de o arguido ver a sua causa reapreciada por um tribunal superior[36].
Quer dizer, a garantia constitucional do direito ao recurso, como uma das garantias de defesa consagradas no artº 32º, nº 1 da CRP, significa e impõe que o sistema processual penal preveja um modelo de impugnação das decisões que possibilite, de maneira efectiva, a reapreciação por uma instância superior das decisões condenatórias e das que afectem directa, imediata e substancialmente os direitos fundamentais do arguido, como, por exemplo, as que, por qualquer modo, restrinjam a sua liberdade.
Mas o direito ao recurso, como garantia constitucional, postula apenas o duplo grau de jurisdição que não se confunde com o duplo grau de recurso.
Salvaguardados estes limites, o legislador ordinário goza de larga margem de manobra na configuração do modelo de recursos, quanto aos respectivos pressupostos, condições e respectivos graus, desde que não suprima a própria faculdade de recorrer.
O direito internacional e comunitário também não dizem nada de substancialmente diferente.
Os arts. 8º e 11º, nº 1, da DUDH, referem-se, o primeiro, ao acesso ao direito e aos tribunais que, vimos, o artº 20º, nº 1, da CRP expressamente consagra, com o sentido indicado, e o segundo à exigência de que o processo assegure todas as garantias de defesa, nos termos que também vimos acolhidos pelo artº 32º, nº 1, da CRP.
O artº 48º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia corresponde ao disposto nos nºs 2 e 3 do artº 6º da CEDH que não consagra o direito ao duplo grau de jurisdição[37]. Tal direito foi, já o dissemos antes, expressamente incluído no artº 2 do Protocolo nº 7 à Convenção Para Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, acordada entre os Estados membros do Conselho da E...., «decididos a tomar novas providências apropriadas para assegurar a garantia colectiva de certos direitos e liberdades pela Convenção…», como se lê no respectivo preâmbulo.
Em consonância com o que antes dissemos ser a dimensão desse direito, este artº 2º preceitua que o seu exercício, bem como os fundamentos pelos quais ele pode ser exercido, são regulados na lei – nº 1; e que pode ser objecto de excepções em relação a infracções menores, definidas nos termos da lei, ou quando o interessado tenha sido julgado em 1ª instância pela mais alta jurisdição ou declarado culpado e condenado no seguimento de recurso contra a sua absolvição – nº 2 (destacamos).
Ora, e por um lado, o legislador ordinário de 2007 não só não suprimiu o segundo grau de recurso como também não restringiu de forma arbitrária – porque o fez em função da gravidade da punição dos crimes em julgamento – o direito de o arguido recorrer para o Supremo Tribunal de Justiça. Por outro lado, no nosso caso, a causa já foi reapreciada por um tribunal superior, no seguimento de recursos interpostos pelo agora Recorrente, por outros co-Arguidos e pelo Ministério Publico.
O Arguido, de resto, usou, no caso, essa garantia do duplo grau de jurisdição interpondo recurso para o Tribunal da Relação da decisão da 1ª Instância e usou dos meios de defesa constitucionalmente garantidos para contraditar as pretensões do Ministério Público. Tendo sido condenado nos termos sobreditos, não se pode dizer que foi condenado de supresa. Sublinhe-se, de resto, como já dissemos, que o artº 2º do Protocolo nº 7 à Convenção Para Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, consagrando, como vimos, o direito ao duplo grau de jurisdição, até admite que o mesmo possa ser objecto de excepção quando o arguido seja declarado culpado e condenado no seguimento de recurso contra a sua absolvição.
As garantias de defesa constitucionalmente consagradas, designadamente o princípio do contraditório, estavam asseguradas e foram efectivadas.
Por outro lado, quanto à invocação, para efeitos de determinação da pena conjunta, da prescrição, à data da apresentação do recurso, do procedimento criminal pelos crimes de corrupção activa para acto ilícito relacionados com as falências em que intervieram como liquidatários judiciais os co-arguidos AA, GG, RR, UU e ZZ (cfr. conclusão 346), importa dizer que o acórdão recorrido, pronunciando-se expressamente sobre a questão, suscitada – no primeiro caso, pelo Ministério Público, visando a condenação do Arguido; nos demais, pelo Recorrente, em sede de alegações orais –, julgou não prescrito o procedimento criminal por esses crimes, considerando que os prazos só se completariam em 29.07.2019, 20.12.2019 30.11.2019, 23.06.2017 e 23.12.2017, respectivamente (cfr. suas fls. 1053 e segs.).
Ora, o acórdão recorrido, não sendo recorrível na parte em que conheceu dos crimes parcelares, como temos repetidamente afirmado, transitou em julgado, quanto a esses segmentos, logo que, nos termos do artº 628º do CPC, decorreu o prazo para eventual reclamação, prazo esse de 10 dias, nos termos dos arts. 105º, nº 1 e 104º, nº 1, do CPP, este com referência ao artº 138º do CPC. O Recorrente, é verdade, dentro daquele prazo de 10 dias (o acórdão recorrido foi-lhe notificado por carta registada de 05.10.2015, fls. 50488), mais concretamente em 20.10.2015 (fls. 50524) pediu esclarecimentos sobre o acórdão que foram julgados improcedentes pelo acórdão 25.11.2015 (fls. 50678). E, depois, o processo subiu em recurso, muito antes obviamente da mais próxima daquelas datas.
Significa o exposto que, tendo o acórdão recorrido transitado em julgado, também nessa parte, não podemos sindicar e/ou modificar essa decisão.
O impugna ainda o decidido no acórdão recorrido sobre as nulidades que imputa ao acórdão da 1ª Instância e que arguiu no recurso para o Tribunal da Relação: alteração substancial dos factos, violação da decisão de reenvio, violação do caso julgado parcial (cfr. designadamente as conclusões 60, 63 e 70).
Trata-se, porém, uma vez mais, de crítica relativa aos factos integrantes de cada um dos tipos de ilícito que lhe foram imputados, razão por que, pelos fundamentos aduzidos, não pode agora ser apreciada.
A alegação de que, não obstante ter invocado, de forma expressa, naquele recurso, a nulidade decorrente da alteração substancial dos factos, o «Tribunal a quo não se pronunciou, em parte alguma do Acórdão recorrendo, sobre tais nulidades» – cfr. conclusões 56 e 57 –, não pode ser acolhida no seu sentido literal, como omissão de pronúncia pelo Tribunal da Relação, atenta a afirmação da conclusão 60, de que «impõe-se a revogação do acórdão recorrendo». Aliás, vê-se de fls. 254, 896 e segs, 899, 901, 907, 910 e 915 do acórdão recorrido que o Tribunal da Relação não omitiu pronúncia sobre as nulidades arguidas. Decidiu foi em termos não coincidentes com as pretensões do Recorrente. De qualquer modo, tratando-se de uma decisão interlocutória, isto é, uma decisão que não conheceu, a final, do objecto do processo, que não conheceu do mérito da causa é, como tal, insusceptível de recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, nos termos das disposições combinadas dos arts. 432º, nº 1, alínea c) e 400º, nº 1, alínea c), do CPP – esta na redacção da Reforma de 2007. De facto, embora o Tribunal da Relação tenha conhecido, no acórdão agora impugnado, de todas as questões suscitadas no recurso para si interposto, isso não significa que os respectivos segmentos decisórios tenham de ter, possam ter, o mesmo tratamento em matéria de recorribilidade.
Como vem sendo entendido por este Tribunal, mesmo no domínio da anterior versão da alínea c) do nº 1 do artº 400º, a inadmissibilidade de recurso relativamente a acórdãos proferidos, em recurso, pelas relações, que não conheçam, a final, do objecto do processo, ou seja, que não julguem o mérito da causa, abrange todas as decisões interlocutórias, independentemente da forma como o respectivo recurso é processado e julgado na relação, isto é, quer se trate de um recurso autónomo quer se trate de impugnação inserida no recurso da decisão final que conheça do objecto do processo. A circunstância de a decisão sobre determinada questão interlocutória não ter sido objecto de recurso autónomo mas, antes, englobada no recurso interposto da sentença/acórdão não lhe confere recorribilidade a reboque de as restantes, ou algumas das restantes, poderem ser objecto de recurso para o Supremo Tribunal de Justiça. Em suma, tal circunstância não tem a virtualidade de alterar o regime daquela alínea c), já que a lei não estabelece aí qualquer distinção, determinando a irrecorribilidade, tout court, de todas as decisões proferidas em recurso, pelas relações, que não conheçam, a final, do objecto do processo.
Este entendimento, além de respeitar a garantia constitucional do duplo grau de jurisdição – como no caso foi efectivamente respeitada, porque exercida –, está em perfeita consonância com o regime traçado pela Reforma de 1998 e prosseguido pela de 2007 para os recursos para o Supremo Tribunal de Justiça, que quiseram obstar, de forma clara, ao segundo grau de recurso, terceiro grau de jurisdição, relativo a questões interlocutórias ou que não tenham conhecido, a final, do objecto do processo, sendo certo, por outro lado, que a situação não tem qualquer paralelo com a prevista na alínea d) do artº 432º do CPP – solução diversa, esta sim, imposta indiscutivelmente pela referida imposição constitucional (cfr. entre muitos outros, os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 25.09.2008, Pº 809/08-5ª Secção, de 31.01.2012, Pº nº 171/05.0TADPDL.L2.S1, de 05.12.2012, Pº nº 704/10.0PVLSB.L1.S1 e de 06.02.2013, Pº nº 593/09.7TBBGC.P1.S1, estes da 3ª Secção.
O Recorrente, embora reconheça que as penas parcelares são autónomas face à pena conjunta, «desde logo porque a respectiva determinação é feita como se cada uma das infracções esgotasse o objecto do processo», sustenta, como vimos, que, «se... se defende que as penas parcelares não podem ser apreciadas pelo Supremo Tribunal de Justiça, mas apenas a operação que conduziu à determinação do cúmulo jurídico, então, esta última sempre ficaria sindicada apenas a meio …».
O argumento, porém, não procede, pelas mesmas razões que invocamos a propósito de idêntico fundamento aduzido pelo arguido AA: formou-se caso julgado sobre essa matéria.   
O Recorrente impugna ainda a condenação quanto às vantagens julgadas perdidas.
Pois bem.
Trata-se de matéria relacionada com cada um dos tipos de ilícito que lhe foram imputados, como o mostram, entre outras, as conclusões 374, 377, 378 e 387.
E, embora o seu quantitativo, no que se refere ao Recorrente, não corresponda ao «valor bruto dos montantes recebidos ao abrigo dos factos ilícitos» fixado pela Relação, a verdade é que o «valor substitutivo das vantagens auferidas» – €900,000,00 – resultou da dedução equitativa a esse «montante bruto» das quantias pagas aos liquidatários e os custos envolvidos nas operações desenvolvidas (implicando estimativas naturalmente incertas e aleatórias)» – cfr. fls. 1185 e 1186 do acórdão recorrido, fls. 50480, do processo).
Ora, os factos ilícitos praticados estão a coberto, insistimos, do caso julgado.
E a fixação do referido valor segundo critérios de equidade, sempre limitaria os poderes de intervenção do Supremo Tribunal de Justiça para alterar aquele montante à hipótese de o tribunal recorrido ter afrontado, manifestamente, as regras de boa prudência, de bom senso prático, de justa medida das coisas e de criteriosa ponderação das realidades da vida, o que efectivamente não vem alegado nem vemos que tenha ocorrido. De facto, sendo a equidade sinónimo da justiça do caso concreto, isso significa que a solução do caso visada pelo juiz se pode desviar abertamente da norma aplicável à questão suscitada[38].
De qualquer modo, a perda de vantagens, na medida em que não pressupõe a prática de um crime, assume a natureza de sanção não penal (de natureza cível, como pretende certa doutrina?[39]), e, como assim, a decisão sobre essa matéria, na medida em que não está condicionada pela verificação dos pressupostos dos crimes acusados e por que o arguido vem a ser condenado, designadamente os relativos à determinação da medida da pena, é autónoma relativamente ao objecto da acusação.
Como assim, a decisão aqui impugnada pelo Recorrente, porque não pôs termo à causa criminal, sempre cairia na previsão da alínea c) do nº 1 do artº 400º do CPP, não sendo, por isso, susceptível de recurso para o Supremo Tribunal de Justiça.
Em face do exposto, o recurso do arguido DD também só é admissível relativamente à pena conjunta porque foi agravada para medida superior a 5 anos de prisão.
– Quanto ao recurso interposto pelo arguido GG
Relativamente à decisão da 1ª Instância, este Arguido viu o Tribunal da Relação:
            – absolvê-lo pela pratica de um dos crimes de corrupção passiva para acto ilícito por que ia condenado;
            – reduzir de 1 ano e 4 meses de prisão para 1 ano e 2 meses a pena por que foi condendo por um outro desses crimes;
confirmar as restantes penas parcelares, a mais elevada das quais se situa em 2 anos de prisão;
agravar a pena conjunta para 5 anos e 10 meses de prisão.
Consequentemente, também neste caso, face aos fundamentos antes expostos, o recurso interposto só é admissível relativamente à pena conjunta porque foi agravada para medida superior a 5 anos de prisão.
Também agora, relativamente ao invocado erro de julgamento do acórdão recorrido, por ter julgado improcedente a arguição da nulidade da decisão da 1ª Instância por alegada alteração substancial dos factos, a respectiva decisão cai no âmbito da irrecorribilidade fixado na alínea c) do nº 1 do artº 400º, pelas razões expostas a propósito de idêntica questão suscitada pelo co-arguido DD.    
Conclundo:
Das questões suscitadas pelos três Recorrentes, elencadas em 2.1., supra, o Supremo Tribunal de Justiça só conhecerá da medida da pena conjunta em que cada um dos Recorrentes foi condenado.

2.2.2. Para tanto, importa previamente conhecer a decisão que recaiu sobre a matéria de facto, depois das correcções que lhe introduziu o acórdão recorrido.

É do seguinte teor [os destaques são da nossa autoria]:

«Matéria de facto provada

1) Os arguidos AA, QQ, SSS GG, RR, TT, UU, LLL, BBB, ZZ, ZZ, XX,VV e TTT, exerceram funções de liquidatários judiciais (e, ainda, de administradores judiciais de massas falidas, quanto aos arguidos AA e GG) em diversos tribunais da área do Distrito Judicial do Porto e de Coimbra, estando inscritos nas listas distritais de gestores e liquidatários judiciais, elaborada nos termos do disposto no art. 2º do DL nº 254/93, de 17 de Julho.

2) O arguido KK encontrava-se inscrito nas listas oficiais como liquidatário desde Fevereiro de 2001, exercendo essa função no âmbito de falências que não se encontram descritas nos presentes autos.

3) No exercício dessas funções e no âmbito dos processos de falência em que eram nomeados liquidatários judiciais, competia aos arguidos supra identificados, entre outras tarefas, proceder à apreensão e arrolamento dos bens da massa falida, à sua avaliação e preparar o pagamento das dívidas do falido à custa do produto da alienação dos respetivos bens, contando com a cooperação e fiscalização da Comissão de Credores e, no anterior regime processual, do Síndico.

4) Para tanto – e no prazo de seis meses, prorrogável por igual período, após o trânsito em julgado da sentença declaratória da falência, no âmbito do CPEREF, e em prazo a fixar pelo juiz, ouvido o síndico, e também passível de prorrogação – o liquidatário judicial ou o administrador judicial da massa falida procedia à liquidação do activo, optando, com a concordância prévia da Comissão de Credores ou sob determinação do Síndico, por uma das modalidades de venda previstas para o processo de execução: venda judicial ou venda extrajudicial.

5) No regime anterior ao CPEREF, a liquidação do activo era efetuada pelo administrador judicial da massa falida, sob a orientação do síndico, competindo áquele a realização da venda por negociação particular dos bens dos falidos, como representante da massa falida, e podendo o administrador socorrer-se, para o coadjuvar na liquidação, de empresas cuja atividade normal ou objeto consistia na venda de património em leilões ou na mediação imobiliária.

6) No regime do CPEREF, a liquidação do activo era efetuada pelo liquidatário judicial, com a cooperação e fiscalização da comissão de credores, cabendo áquele a determinação da modalidade preferível para a venda dos bens (de entre as modalidades estabelecidas para o processo de execução), obtida a prévia concordância da comissão de credores e podendo o liquidatário judicial socorrer-se de empresas cuja atividade normal ou objeto consistia na venda de património em leilões ou na mediação imobiliária, para consigo colaborarem ou auxiliarem nas funções que este exercia em processo de falência, concretamente na venda de bens por negociação particular.

7) Os arguidos DD e JJ são sócios-gerentes da S...N...L... (S...), o arguido UUU é gerente da “E...L.."VVV, XXX e ZZZeram colaboradores/empregados da leiloeira “S....& A....., Ldª”, empresas ligadas à administração e negociação de bens e patrimónios e à realização de leilões, razão pela qual intervinham frequentemente na liquidação de massas falidas na qualidade de coadjutores dos liquidatários judiciais (ou dos administradores judiciais) e a solicitação destes, promovendo a venda dos bens móveis e imóveis que as compunham.

8) AAA e BBBB eram os sócios-gerentes das s...s “S.... & ..., Ldª” e “J...., Ldª”.

9) Os liquidatários e leiloeiros não desconheciam o teor do disposto no art. 208° do CPEREF, em cujos termos «as custas da falência e todas as demais que devam ser suportadas pela massa falida, bem como as despesas de liquidação, incluindo a remuneração do liquidatário, saem precípuas de todo o produto da massa e, na devida proporção, do produto de cada espécie de bens, móveis ou imóveis, embora tenham sido objeto de garantia real.»

10) Entre as leiloeiras escolhidas pelos liquidatários judiciais (ou administradores das massas falidas, nos processos anteriores à entrada em vigor do CPEREF), para os coadjuvarem na tarefa da liquidação dos activos, destaca-se a S...N...L... (S...), constituída em 13/9/1991 e com sede na R..........., ........, no Porto, de que são sócios gerentes, e os únicos responsáveis pela respetiva gestão, os arguidos DD e JJ.

11) Pelos serviços de mediação e organização da venda, a S... cobrava, por norma, do comprador final uma percentagem equivalente a 10%, para os bens móveis e imóveis (podendo, em alguns casos, ser inferior, sobretudo quando estava em causa a venda de imóveis), a acrescer ao preço pelo qual era adquirido o património da falida.

12) De acordo com o estabelecido formalmente nas condições de venda, tal percentagem corresponderia aos honorários da leiloeira e despesas.

13) Dispondo a S...N...L... de uma estrutura organizacional montada e pretendendo os arguidos DD e JJ a implementação da mesma no mercado da liquidação de activos de pessoas colectivas e singulares declaradas falidas, em data não apurada, mas anterior a Março de 1995, decidiram, paralelamente à estratégia comercial normal das empresas dedicadas a este setor de negócio, propor aos liquidatários ou administradores judiciais com quem viessem a colaborar, por qualquer forma, na liquidação dos activos, no âmbito de processos de falência, a repartição com os mesmos de quaisquer valores, proveitos, contrapartidas ou benefícios, obtidos ou a obter, designadamente das comissões que viessem a ser cobradas pela leiloeira aos compradores, tudo nos termos que melhor se descreverão. 

14) Também as leiloeiras “S....& A....., Ldª” e “E...L...” – em datas concretamente não apuradas, mas anteriores a 2/11/99, no que concerne à “S....”, e a 9/10/2001, relativamente à “E.... L...” – decidiram partilhar com os liquidatários judiciais com quem viessem a colaborar, por qualquer forma, na liquidação dos ativos no âmbito de processos de falência, os proveitos, contrapartidas ou benefícios, obtidos ou a obter, designadamente os valores provenientes das comissões que viessem a ser cobradas aos compradores, tudo nos termos que melhor se descreverão.

15) O arguido CCCC era, à data dos factos infra descritos, funcionário qualificado do Centro Regional de Segurança Social de Braga, atualmente designado como Delegação de Braga do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, e exercia o cargo de Director de Departamento.

16) Nesse âmbito, e entre outras funções, competia ao arguido CCC epresentar os interesses da Segurança Social em processos de falência, nomeadamente, como membro da Comissão de Credores.

17) O arguido CCCC representou o CRSS de Braga na Comissão de Credores da falida «P... – Fábrica de Malhas, Ldª», na qual tinha sido nomeado liquidatário judicial o arguido QQ.

18) O arguido AA, que é economista de profissão, dedicava-se há vários anos ao exercício de funções de gestor e liquidatário judicial, estando, para esse efeito, inscrito nas listas oficiais do Tribunal da Relação do Porto.

19) Tinha escritório sediado na R.............., ........, Sala .... nesta cidade, no mesmo prédio do escritório do liquidatário NNNN.

20) O arguidoNNNN, no âmbito dos processos falimentares, pedia conselhos ao arguido AA, atendendo à sua experiência e conhecimento do processo falimentar, apoio que recebia directamente do liquidatário judicial AA ou dos funcionários deste, em especial do arguidoKK.

21) O arguidoKK, genro do arguido AA, trabalhava nos escritórios do seu sogro e desempenhava funções de coadjuvação nos processos de falência que o arguido AA tinha a seu cargo.

22) No dia 16/9/1993, os arguidosKK e AA abriram a conta bancária nº 0000000, na agência de G,,,,, Maia, do Banco Português do Atlântico, onde figura como primeiro titular o arguid o KK e segundo titular o arguido AA, designada por estes como a “conta das falências”.

23) Não obstante saberem que o produto da liquidação de activos de falidas deveria ser de imediato depositado em conta aberta em nome das respetivas massas falidas, os arguidos KK e AA decidiram utilizar a referida conta bancária exclusivamente para nela procederem ao depósito dos valores resultantes das liquidações dos activos e para pagamento das despesas de administração e liquidação das falências, nas quais o arguido AA exercia as funções de liquidatário judicial.

24) Sabiam também os arguidos que os liquidatários judiciais deveriam efetuar em nome e em benefício das massas falidas as aplicações mais rentáveis e sem risco, quando fosse previsível que o produto da liquidação dos ativos ficasse imobilizado por um período de tempo dilatado.

25) Sabiam ainda os arguidos que quaisquer rendimentos resultantes da permanência de tais valores em depósito em contas bancárias ou da aplicação financeira dos mesmos deveriam reverter em benefício das massas falidas, às quais pertenciam.

26) Apesar disso, os arguidos KK e AA, com o objetivo de apenas restituir às massas falidas o capital inicialmente depositado e tendo em vista permitir a apropriação pelo arguido AA do rendimento pelo mesmo, por qualquer forma gerado, decidiram criar a referida conta bancária e utilizá-la nos moldes acima descritos, como efetivamente fizeram, conforme melhor infra se descreverá.

27) Por outro lado, e conforme infra se descreverá, em diversas situações, alguns dos liquidatários chegaram a receber dos responsáveis das leiloeiras quantias monetárias, que eram depositadas em contas bancárias tituladas pelos próprios e/ou por familiares.

28) Com o propósito de dissimular tais montantes para que não fosse possível determinar a sua origem, pelo menos nos casos abaixo indicados, os arguidos AA eKK dividiram as quantias por eles recebidas da S... (e/ou dos arguidos DD e JJ), e destinadas ao arguido AA, por várias contas de que eram titulares os próprios ou tituladas pela mulher e filha do primeiro,OOO e PPP.

29) Ao efetuar depósitos bancários dessas quantias, o arguido KK permitiu ao seu sogro dissimular os montantes que lhe eram pagos pela S... e/ou pelos arguidos DD e JJ.

                                                                              *

30) Em data não concretamente apurada, mas anterior a Março de 1995, em execução do plano previamente gizado entre os arguidos DD e JJ, descrito no ponto 13), o arguido DD propôs ao arguido AA que este escolhesse a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular nos autos de liquidação dos activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilhando, em contrapartida, quaisquer proveitos que a S... ou os arguidos DD e JJ viessem a auferir, designadamente os valores recebidos dos adjudicatários ou compradores dos bens, a título de comissões.

N............Lda (Apenso LXXII)

31) Por decisão proferida em 17-11-1993, no Processo de Falência n.º ..../92 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Barcelos, foi declarada falida a sociedade N....., Lda.

32) Na mesma decisão, o arguido AA, que já havia sido nomeado administrador judicial no processo especial de recuperação de empresa e de proteção dos credores, que correu termos a pedido da referida sociedade, foi nomeado administrador da massa falida.

33) Em 14/6/1995 o arguido AA requereu ao síndico da falência que a liquidação do activo fosse efetuada através de venda por negociação particular.

34) Em 16/6/1995 o síndico determinou que a venda dos bens móveis fosse efetuada por negociação particular e que a venda do imóvel fosse efetuada por arrematação em hasta pública, marcando o dia 27/9/1995, no Tribunal da Comarca de Barcelos, para esta última diligência.

35) Em 25/9/1995 o administrador da massa falida (arguido AA) comunicou ao síndico da falência a existência de três propostas de aquisição dos bens móveis, tendo o síndico, em 26/9/1995, declarado concordar com a venda dos bens móveis a “MAQ...........–E..... e M....., Lda.” pelo preço de 6.500.000$00, por ser a proposta de valor mais elevado, tendo esta procedido ao depósito do preço na Caixa Geral de Depósitos, à ordem do processo de falência, em 4/10/1995.

36) A arrematação em hasta pública do bem imóvel da falida tinha como valor inicial de licitação 50.000.000$00 e, realizada tal arrematação, em 27/9/1995, com a presença do síndico da falência e do administrador da massa falida (arguido AA), o maior lance obtido foi de 95.000.000$00, apresentado pelo credor da massa falida, Banco Totta & Açores, tendo este credor requerido a dispensa do depósito do preço, o que foi deferido pelo síndico, que também adjudicou o bem ao referido credor.
                                                                              *
J...T.... de Malhas, Lda (Apenso CXXXVII)
37) Por decisão proferida em 26-01-1994, no Processo de Falência n.º ../93 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Guimarães, foi declarada falida a sociedade J...T...., Lda.
38) Na mesma decisão, o arguido AA, que já havia sido nomeado administrador judicial no processo especial de recuperação de empresa e de proteção dos credores que correu termos a pedido da referida sociedade, foi nomeado administrador da massa falida.
39) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu ao síndico da falência, em 6/10/1995, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que foi deferido pelo síndico.
40) Os bens móveis foram vendidos a QQQ por 1.500.000$00, após aprovação do síndico da proposta por ele apresentada.
                                                                              *
I...L..., Lda (Apenso CVII)
41) Por decisão proferida em 21-01-1994, no Processo de Falência n.º .../93 que correu termos no 1º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Braga, foi declarada falida a sociedade I...L..., Lda.
42) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA.
43) O liquidatário judicial propôs aos membros da comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, o que obteve o acordo da comissão de credores.
44) Na sequência de proposta apresentada, a totalidade dos bens móveis foi vendida pelo preço global de 1.500.000$00 a RRR, em 15/04/1996.
45) Foi fixada ao liquidatário uma remuneração mensal de 100.000$00 desde a data em que iniciou funções (1994-01-21), tendo o mesmo vindo a receber a quantia de 3.337.550$00.
                                                                              *
Fábrica de Malhas D....., Lda (Apenso CXLIV)
46) Por decisão proferida em 15-06-1994, no Processo de Falência n.º .../94 que correu termos no 1º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Vila Nova de Famalicão, foi declarada falida a sociedade D....., Lda.
47) Para a venda do património da massa falida, o arguido AA, administrador judicial da falida, requereu a escolha da modalidade da venda por negociação particular, o que foi deferido pelo síndico.
48) A 14 de Março de 1996 foi depositado à ordem do tribunal, o montante de 2.510.000$00, respeitante à venda de todos os bens da falida.
49) A empresa adjudicatária foi a “G...N...”, empresa esta que era dirigida pelo arguido DD.

                                                                              *

A....M..., Lda (Apenso CXXXII)

50) Por decisão proferida em 22-11-1994, no Processo de Falência n.º..../94 que correu termos no 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Viana do Castelo, foi declarada falida a sociedade A....M...., Lda.

51) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA, tendo escolhido como modalidade da venda, a negociação particular, o que foi deferido pelo juiz titular do processo.

52) Os bens móveis das verbas 1 a 25 e das verbas 1 a 6 do Aditamento foram vendidos a RRR, pelo montante global de 1.700.000$00.
                                                                              *
M...... T....., Lda (Apenso LXXX)
53) Por decisão proferida em 06-12-94 no Processo de Falência n.º .../94 que correu termos no 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Matosinhos, foi declarada falida a sociedade M....T..., Lda, tendo sido nomeado administrador judicial da massa falida o arguido AA.
54) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu ao síndico da falência, em 6/2/1997, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que foi deferido pelo síndico.
55) O imóvel da falida foi vendido a IM....– Imobiliária, L.da por 190.000.000$00, tendo o respetivo representante, DDDD entregue ao arguido DD uma percentagem a título de comissão no valor de 19.000.000$00, em 30/4/1997, data da realização do leilão.
                                                                              *
S....F...T... de S....., SA (Apenso LXXXIV)
56) Por decisão proferida em 28-11-1994, no Processo de Falência n.º .../94 que correu termos no 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Vila Nova de Famalicão, foi declarada falida a S..... de F.... de T....de S....., S.A., tendo sido nomeado administrador judicial da massa falida o arguido AA.
57) O arguido AA requereu ao síndico da falência que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, o que foi deferido pelo síndico.
58) A venda da totalidade dos imóveis da falida, com a área global de cerca de 39.650 m2, situados no interior do perímetro urbano de Famalicão, foi efetuada pelo valor total de 93.034.000$00.
59) Os bens móveis foram vendidos a um cliente não identificado do advogado Dr. EEEE, por 9.769.000$00.
60) Os imóveis foram vendidos: a G...A...., Lda, em 2/8/96, por 31.084.000$00; EEEE, em 2/8/96, por 16.950.000$00; G...A...., Lda, em 28/10/96, por 30.000.000$00, IN......, Sociedade. de Investimentos Imobiliários, SA, representada por EEEE, em 23/5/1997, por 15.000.000$00, após cessão de posição contratual pelo proponente GGGG.
61) O arguido DD e os advogados EEEE e FFFF foram colegas de faculdade e são amigos.
62) A sociedade “IN..... – Sociedade de Investimentos Imobiliários, S.A teve de EEEE como administrador único, designado em 19 de Setembro de 1996, para o quadriénio de 1996/1999.
63) O arguido AA não publicitou a venda dos bens da massa falida, procedimento que foi considerado regular e válido por decisão proferida pelo síndico em 22/5/96.
64) Foram apresentadas as seguintes propostas:
- a “J....” apresentou uma proposta no valor de 25.000.000$00 para aquisição da verba nº 4 e de 14.666.000$00, para aquisição das verbas nº 1, 2, 5, 6, 7 e 8;
- EEEE apresentou uma proposta no valor de 27.500.000$00 para aquisição da verba nº 4 e no valor de 17.000.000$00 para aquisição das verbas nº 1, 2, 5, 6, 7 e 8;
- GGGG apresentou uma proposta no valor de 31.084.000$00 para aquisição da verba nº 4;
- GGGG apresentou uma proposta no valor de 14.680.000$00 para aquisição das verbas nº 1, 2, 5, 6, 7 e 8;
- RRR apresentou uma proposta no valor de 20.000.000$00 para aquisição da verba nº 4, de 5.000.000$00 para aquisição da verba nº 1 e de 20.000.000$00 para aquisição da verba nº 3 (artigos 78º, 79º e 150º);
- G...A...., Ldª apresentou uma proposta no valor de 30.000.000$00 para aquisição da verba nº 3 (artigos 78º, 79º e 150º);
- F.... apresentou uma proposta no valor de 17.000.000$00 para aquisição da verba nº 3 (artigos 78º, 79º e 150º);
- EEEE apresentou uma proposta no valor de 18.500.000$00 para aquisição da verba nº 3 (artigos 78º, 79º e 150º);
- GGGG apresentou uma proposta no valor de 15.000.000$00 para aquisição do artigo urbano nº 151, da verba nº 3.
65) O arguido AA recebeu as ditas propostas e apresentou-as ao Tribunal, promovendo junto do Síndico quer a venda por negociação particular, quer a aceitação daquelas propostas.
                                                                              *
CCA - C.....C....A...., SA (Apenso CXXX)
66) Por decisão proferida em 1-3-1995, no Processo de Falência n.º ...93 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal Cível da Comarca do Porto, foi declarada falida a sociedade C.C.A. – C.....C....A...., S.A.

67) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA.
68) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), para o coadjuvar na venda do património da falida “C.C.A.”, em data não apurada, mas anterior a 17/11/1997, escolhendo como modalidade da venda, a negociação particular, o que veio a obter o acordo da comissão de credores. *
69) Os bens móveis integrantes do lote 1 e um imóvel da falida sito na Rua ......... (lote... foram vendidos a P..... – Gestão e Contabilidade, Lda por, respetivamente, 2.650.000$00 e 42.650.000$00, tendo a escritura pública de compra e venda do imóvel sido realizada em 18/3/98.
70) à compradora foi cobrada uma comissão de 10% para os móveis e de 5% para o imóvel, no valor global de 2.397.500$00, que foi pago através de cheque datado de 16/12/97.
71) A empresa HHHH – Indústria de ......, Lda adquiriu dois imóveis (lote 4) por 70.225.000$00, sem que tivesse apresentado qualquer proposta, tendo negociado particularmente com o DD.
72) Na data da escritura (17/12/97) e previamente à sua realização, o representante da compradora destes imóveis entregou, em numerário, a exigência do arguido DD e como contrapartida pela realização da dita escritura, o montante de 5.000.000$00.

73) Assim, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos, pelo menos, as quantias já mencionadas de 2.397.500$00 e 5.000.000$00.

74) Em sede de prestação de contas, no processo de liquidação do activo, o arguido AA consignou a obtenção de receitas no valor de 117.025.000$00.

75) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA, pelo menos, o montante de 958.800$00, valor este calculado por referência às comissões pagas pela sociedade P....., Lda, no montante global de 2.397.500$00.

76) Tal pagamento operou-se em 30-1-98 ou em data próxima, através de numerário, e foi integrado na soma de diversos valores contabilizados pelos arguidos DD e JJ, que vieram a ser pagos ao arguido AA, por referência a este processo de falência e ainda às falências de “Sociedade I........ P...S...R....., SA”, “E....A..., Lda” e “Fábrica de Malhas D..., SA”, no valor global de 6.826.500$00.

77) Em 18-3-1998, na sequência da venda do imóvel efetuada à P....., o arguido AA recebeu um cheque no valor de 38.385.000$00, correspondente a 90% do valor da venda.

78) Ao invés de depositar tal montante em conta da massa falida, o arguido AA depositou, em 19/3/1998, o referido cheque na conta n.º ..../0000000 (conta das falências), montante que aí permaneceu na disponibilidade dos arguidos AA eKK, enquanto titulares da referida conta bancária, entre 20/3/1998 e 3/7/2002.

79) Desta forma, os arguidos AA e KK lograram a obtenção pelo primeiro de, pelo menos, o montante de 4.606.200$00 (22 975,63 €), a título de rendimento do mencionado capital que, não obstante saberem pertencer à massa falida, o arguido AA integrou no respetivo património.

80) Acresce que, já em 12-2-1998, o arguido AA havia efectuado um depósito à ordem do tribunal, no valor de 78.640.000$00.
81) Este montante foi em parte constituído por 22.800.000$00, que também tinham sido anteriormente depositados na conta nº ..../0000000 (conta das falências), conforme decorre do cheque visado emitido pelo arguido KK, em 12-2-98, a favor da massa falida.
                                                                              *
Sociedade Industrial de Curtumes P...S...R....., SA (Apenso CLVII)
82) Por decisão proferida em 20-12-94 no Processo de Falência n.º ....94 que correu termos no 1º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Matosinhos, foi declarada falida a sociedade P...S...R....., SA.

83) No mesmo despacho foi nomeado administrador judicial da massa falida o arguido AA.
84) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu ao síndico da falência, em 14/5/1997, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que foi deferido pelo síndico e pelo juiz titular do processo.
85) Os bens móveis foram adjudicados a IIII por 26.620.000$00, em 12/11/1997, data da realização do leilão.
86) Os bens imóveis foram vendidos a C...., Lda por 33.000.000$00, a E.... Construções, Lda por 136.000.000$00, a N..., UCRL, por 331. 500.000$00.
87) Os bens imóveis correspondentes ao Lote 2 foram licitados pelo valor de 13.000.000$00, em nome de JJJJ, tendo sido paga a título de sinal a quantia de 1.300.000$00, que foi posteriormente devolvida, dado que o negócio não veio a concretizar-se.

88) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos comissões, a título de honorários, correspondentes a 10% do valor das vendas: a CI......pagou 3.300.000$00, a E....., Lda pagou 13.600.000$00 e o comprador dos bens móveis entregou o montante de 2. 662.000$00.

89) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA o montante de 1.064.800$00, valor este calculado por referência à comissão paga pelo comprador dos bens móveis.
90) Tal pagamento operou-se nos termos descritos na falência “CCA – C.....C....A...., SA”.
*

E....A..., Lda (Apenso CXXVI)
91) Por decisão proferida em 21-02-95, no Processo de Falência n.º 0000/94 que correu termos na 1ª Vara Cível do Porto (1ª Secção), foi declarada falida a sociedade E....A..., Lda.

92) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA.
93) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu à comissão de credores, em 17/4/1997, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
94) Os bens móveis foram adjudicados a “TR – Sociedade de Construção e Reparação de Máquinas, L.da” e vendidos, em 12/02/1998, pelo montante de 12.100.000$00.
95) O imóvel foi adjudicado a KKKK e vendido, em 05/03/1998, a “MM...L... – Sociedade de Locação Financeira”, por 107.000.000$00.

96) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos comissões, a título de honorários, nos montantes de 10.700.000$00 e 1.210.000$00, correspondentes a 10% do valor das vendas.

97) Como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA o montante de 3.694.000$00 (3.210. 000$00+484.000$00), valor este calculado por referência às comissões pagas pelos compradores dos bens.
98) Tal pagamento operou-se nos termos descritos na falência “CCA – C.....C....A...., SA”.
                                                                              *
Fábrica de Malhas D..., SA (Apenso CLI)
99) Por decisão proferida em 11-06-1997, no Processo de Falência n.º...../95, que correu termos no 3º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Guimarães, foi declarada falida a sociedade Fábrica de Malhas D..., S.A.

100) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA.
101) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu à comissão de credores, em 9/9/1997, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
102) Os bens da falida foram organizados em 13 lotes; os lotes 1 a 12 foram vendidos pelo valor global de 35.685.000$00, que foi, oportunamente, depositado à ordem da massa falida.
103) O comprador do lote n.º 11, que foi vendido, a final, por 15.105.000$00, a LLLL, pagou uma comissão de 1.510.500$00.

104) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos, comissões a título de honorários no montante global de 3.568.500$00, correspondente a 10% do valor das vendas.

105) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA o montante de 1.108.900$00 (954.900$00+154.000$00), valor este calculado por referência às comissões pagas pelos compradores dos bens.
106) Tal pagamento operou-se nos termos descritos na falência “CCA – C.....C....A...., SA”.
                                                                              *
A..A..., Lda (Apenso CLXXXV)
107) Por decisão proferida em 7-6-1995, no Processo de Falência nº ..../94, que correu termos no 1º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Santa Maria da Feira, foi declarada falida a sociedade A....A..., Lda.

108) No mesmo despacho foi nomeado administrador judicial da massa falida, o arguido AA.
109) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu ao síndico da falência, em 12/5/1998, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que foi deferido pelo síndico.
110) O leilão realizou-se em 08 de Julho de 1998, tendo sido as propostas da “An..... – Construção Civil e Investimentos Imobiliários, SA” as vencedoras, com o valor de 100.000.000$00, para a verba n° l (prédio urbano) e com o valor de 29.550.000$00, para a verba n° 2 (prédio rústico).
111) A escritura de compra e venda do mencionado prédio urbano foi realizada em 23 de Fevereiro de 1999, a favor de “M..... – Investimentos Imobiliários, Lda.”.
112) O referido valor de 100.000.000$00, só veio a ser depositado pelo arguido AA, à ordem da massa falida em Março de 1999.
113) Apresentadas as propostas, a S... cobrou ao apresentante da proposta mais elevada, relativamente ao prédio rústico, uma comissão a título de honorários no montante de 2.955.000$00, correspondente a 10% do valor da venda.
114) Relativamente ao prédio rústico, sito em ..............., Santa Maria da Feira, tendo havido conhecimento da passagem de uma estrada pelo mesmo, a proponente acabou por desistir do negócio.
115) A sociedade IN....., SA apresentou uma proposta para a respetiva aquisição, no valor de 4.750.000$00, assinada por EEEE.
116) A escritura de compra e venda do mencionado prédio rústico foi realizada em 19 de Dezembro de 2001, a favor de FFF, ficando a constar como preço de venda o montante de 4.750.000$00, que foi igualmente declarado no processo de falência.
117) O referido valor de 4.750.000$00 foi pago conjuntamente com o preço de compra de uma casa na Madalena, sendo o total entregue de 32.500.000$00, através de quatro cheques nos valores de 2 000 000$00, 500 000$00, 25 250 000$00 e 4 750 000$00, entregues em 6-8, 16-10 e 19-12- 2001.
118) Relativamente a este negócio, não houve pagamento de qualquer comissão.
119) O referido montante de 2.955.000$00 foi integrado na contabilização de diversos valores a fim de serem pagos ao arguido AA, a título de repartição com o mesmo das comissões cobradas no âmbito deste e de vários processos de falência (“M...C...M....”, “JF Braga” e “T...”).

120) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 33.165.000$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 20.761.000$00 (após arredondamento do valor de 20.761.290$00, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo-se o valor de 10.380.500$00.

121) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA o referido montante de 10.380.500$00 (51.777,72 €).
122) Tal pagamento operou-se em duas tranches de, respetivamente 5.000.000$00 e 5.380.500$00, tendo a primeira sido paga em numerário entregue ao KK, no dia 29-7-1998.

123) Na conta bancária n.º 00000000000000 s/ o BS, titulada por DD e JJ, o cheque n.º 00000000, no montante de 5.000.000$00, foi descontado em 29/07/98.

124) Na conta bancária n.º 00000000000000 s/ o BS, titulada por DD e JJ, foi efectuado um levantamento em numerário no montante de 5.300.000$00, em 09/10/98.
125) Os montantes de 5.000.000$00 e de 5.380.500$00, atrás mencionados, foram entregues em mão ao arguido KK, destinando-se a efetuar os descritos pagamentos ao arguido AA.
126) Relativamente ao recebimento da quantia de 5.000.000$00 foram efectuados os seguintes depósitos, na conta bancária nº0000000000000000000, do BPA, titulada pelo arguido AA, no período compreendido entre 29/7/98 e 4/8/98:

BancoNIB/ContaTitularDataDescritivoValor
BPA0000000000000000000000AA29/7/98Depósito2.000.000$00
BPA0000000000000000000000AA30/7/98Depósito1.000.000$00
BPA0000000000000000000000AA3/8/98Depósito1.000.000$00
BPA0000000000000000000000AA4/8/98Depósito2.000.000$00


127) Relativamente ao pagamento da quantia de 5.380.500$00 foram efectuados os seguintes depósitos, em 19/10/98 e 23/10/98:

BancoNIB/ContaTitularDataDescritivoValor
BPA0000000000000000KK19/10/98Depósito2.035.900$00
BPA0000000000000000000000AA23/10/98Depósito1.000.000$00


                                                                              *
M...C...M...., SA (Apenso CXVII)
128)
no Processo de Falência nº ..../95 que correu termos no 5º Juízo, 2ª Secção do Tribunal Cível da Comarca do Porto, foi declarada falida a sociedade M...C...M...., SA.

129) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA.
130) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu à comissão de credores, em 6/6/1997, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
131) Os bens móveis foram vendidos em 28-5-98, pelo valor de 31.500.000$00 a OOOO.
132) A escritura de compra e venda do imóvel que foi vendido a “T.... – Tratamento do Alumínio e Ferro, S.A., foi realizada em 21 de Outubro de 1998, pelo valor de 167.000.000$00, constando na mesma tal valor como totalmente pago.
133) Porém, somente em 28 de Janeiro 1999, é que é depositada na CGD a quantia de 157.045.554$00 (a referida quantia de 167.000.000$00 – 9.954.446$00, valor referente a despesas efetuadas pela massa falida).
134) Adjudicada a venda, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos, aquando do leilão realizado em 28/5/1998, comissões a título de honorários nos montantes de 16.700.000$00 e de 3.150.000$00, correspondentes a 10% do valor das vendas.
135) O referido montante de 19.850.000$00 foi integrado na contabilização de diversos valores a fim de serem pagos ao arguido AA, a título de repartição com o mesmo das comissões cobradas no âmbito deste e de vários processos de falência (“A....A...”, “JF Braga” e “T...”).

136) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 33.165.000$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 20.761.000$00 (após arredondamento do valor de 20.761.290$00, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo-se o valor de 10.380.500$00. *

137) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA o referido montante de 10.380.500$00 (51.777,72 €).

138) O pagamento de tal montante operou-se em duas tranches, de 5.000.000$00 e 5.380.500$00, tendo a primeira sido paga em numerário entregue ao KK, no dia 29-7-1998.
139) O pagamento e recebimento dos referidos montantes processou-se nos moldes descritos na falência “A..A...”, nomeadamente tendo sido entregues em mão ao arguido KK.

140) Para além do montante supra referido, o arguido AA requereu, no âmbito do Processo de Falência, que lhe fosse atribuída a remuneração de 1.800.000$00.

                                                                              *
Fiação de Tecidos J F...B..., SA (Apenso CXLVI)
141) Por decisão proferida em 14-07-1995, no Processo de Falência nº ..../94 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de V N de Famalicão, foi declarada falida a sociedade J F Braga, SA.

142) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA.
143) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA escolheu como modalidade da venda a negociação particular, com recurso a leilão, e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, o arguido recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), em 22/5/1997, após proposta, nesse sentido, pelo Banco Pinto & Sotto Mayor, SA – presidente da comissão de credores -, tudo com o acordo da maioria dos membros da comissão de credores.
144) Os bens móveis foram vendidos à “S----E....F....., Lda” pelo valor de 8.000.000$00; à “FI..... – Indústria de Fiação, Lda” pelo valor de 770.000$00 e a outro comprador cuja identidade não foi possível apurar, pelo valor de 300.000$00.
145) Os dois bens imóveis, em sequência do leilão realizado em 18 de Junho de 1998, foram vendidos a “FI....., S.A”, pelo valor total de 190.800.000$00 (155.500.000$00 + 35.300.000$00).
146) A escritura de compra e venda foi realizada em 13 de Janeiro de 1999, altura em que o representante completou o pagamento do imóvel, conforme se consignou na escritura pública.
147) Adjudicada a venda, a S... cobrou à compradora dos bens imóveis uma comissão, a título de honorários, correspondente a 5% do valor da venda.

148) A sociedade FI..... pagou o montante de 28.620.000$00, do qual parte (19.080.000$00) corresponde à sinalização da venda e o restante (9.540.000$00) comissão da leiloeira.

149) O cheque destinado ao pagamento de tal valor foi depositado na conta pessoal do arguido DD, com o n.º 0000000000000 do Banco Santander.
150) O referido montante de 9.540.000$00 foi integrado na contabilização de diversos valores a fim de serem pagos ao arguido AA, a título de repartição com o mesmo das comissões cobradas no âmbito deste e de vários processos de falência (“A....A...”, “M...C...M....” e “T...”).

151) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 33.165.000$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 20.761.000$00 (após arredondamento do valor de 20.761.290$00, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo-se o valor de 10.380.500$00.

152) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA o referido montante de 10.380.500$00 (51.777,72 €).
153) Tal pagamento operou-se em duas tranches de 5.000.000$00 e 5.380.500$00, tendo a primeira sido paga em numerário entregue ao KK, no dia 29-7-1998.
154) O pagamento e recebimento dos referidos montantes verificou-se nos moldes descritos no caso “A..A...”, nomeadamente tendo sido entregues em mão ao arguido KK.
*
T..., Lda (Apenso CXVI)
155) Por decisão proferida em 20-04-1998, no Processo de Falência n.º.../97, que correu termos no 1º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N. de Gaia, foi declarada falida a sociedade T..., Lda.

156) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA.
157) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em 18/5/1998 ou em data próxima, escolheu como modalidade da venda a negociação particular, com recurso a leilão e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
158) A melhor proposta obtida no leilão dos bens da massa falida foi no valor 8.200.000$00, apresentada pela “Sociedade P.....C....V....., Lda.”, tendo esta vindo a pagar tal quantia.
159) O leilão foi realizado em 1998.07.14 e o depósito bancário da referida importância foi efectuado em 1998.09.22.

160) Adjudicada a venda, a S... cobrou à compradora dos bens vendidos, uma comissão a título de honorários no montante de 820.000$00, correspondente a 10% do valor da venda.
161) O referido montante de 820.000$00 foi integrado na contabilização de diversos valores a fim de serem pagos ao arguido AA, a título de repartição com o mesmo das comissões cobradas no âmbito deste e de vários processos de falência (“A....A...”, “M...C...M....” e “Fiação de Tecidos J. F...B...”).

162) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 33.165.000$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 20.761.000$00 (após arredondamento do valor de 20.761.290$00, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo-se o valor de 10.380.500$00.

163) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA o referido montante de 10.380.500$00 (51.777,72 €).

164) O pagamento operou-se em duas tranches de 5.000.000$00 e 5.380.500$00, tendo a primeira sido paga em numerário entregue ao KK, no dia 29-7-1998.
165) O pagamento e recebimento de tais quantias processou-se nos termos descritos no caso “A..A...”, nomeadamente por intermédio do arguido KK, que as recebeu em mão e fez chegar ao liquidatário judicial, seu sogro.
166) O arguido AA requereu ao Tribunal que lhe atribuísse remuneração indicando como receita obtida pela massa falida em função da venda, o montante de 28.207.600$00, pedindo a fixação de 400.000$00 a título de honorários, quando efetivamente tinha conseguido vender os bens da massa falida pelo valor de 8.207.600$00.
167) A Magistrada Judicial fixou uma remuneração de 1.500.000$00, tendo em conta o montante de 28.207.600$00.
                                                                              *
T...l – Sociedade Técnica V.....C....., SA (Apenso XXVII e XXVIII)
168) Por decisão proferida em 23-03-1995, no Processo de Falência n.º 183/94 que correu termos no Tribunal Judicial da Comarca de Viseu, foi declarada falida a sociedade T...l, SA.

169) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA, que já havia exercido as funções de gestor judicial, na fase de recuperação, por indicação do advogado da falida, Dr. PPPP.
170) Os bens móveis da falida foram vendidos a VVVV, através das empresas “PR.....”, “VI.... e “DI....”, por si representadas, tendo pago, respetivamente, os montantes de:
– 11.748.000$00 (PR.....) por cheque emitido pela firma “PR..... Comércio Indústria Automóvel, L.da”, no montante de 11.748.000$00, datado de 07/04/2000, à ordem de “Liquidatário da Falência da Firma T...L- Soc. Técnica”,

– 490.000$00 + IVA, no valor global de 573.300$00 (Vidropol), por cheque n.º 000000000, datado de 21/9/1999 e emitido s/ a conta n.º 000000000 s/ o BES, titulada por “VI.....Estratificados Fibra Vidro SA”, no valor de 573.300$00, à ordem de “Liquidatário da Falência da Firma ‘T...l, SA”, e

– 720.000$00 (DI....) por cheque n.º 00000000000 datado de 21/9/1999 emitido s/ a conta n.º 000000000/ o BES, titulada por “DI.... Imobiliária S.A.”, no valor de 720.000$00, à ordem de “Liquidatário da Falência da Firma T...l - Soc. T...V...., Lda”.
171) Por sua vez, o arguido AA era fiscal único destas empresas PR....., VI.....e DI.....

172) Os mencionados cheques foram depositados, pelo arguido AA ou por alguém a seu mando, na conta do Banco Atlântico com o n.º 000000000, titulada por AA eKK, em 27-9-99 (os cheques nos valores de 573.300$00 e 720.000$00, valores estes que ficaram disponíveis na referida conta bancária em 28/9/99) e 7-4-2000 (o cheque no valor de 11.748.000$00, valor que ficou disponível na conta bancária em 12/4/2000), não obstante estarem à ordem do liquidatário judicial.
173) Em 08/10/99, foram descontados dois cheques visados sobre a conta do BPA acima identificada, nos valores de 720.000$00 e 490.000$00 (573.300$00 – IVA), cujo beneficiário foi a massa falida da “T...l – Sociedade Técnica V.....C....., SA”.
174) Em 17/4/2000 foi descontado um cheque visado sobre a conta do BPA acima identificada, no valor de 11.748.000$00, cujo beneficiário foi a massa falida da “T...l, SA”.
175) Assim, a quantia global de 13.041.300$00, destinada à massa falida da “T...l - Sociedade Técnica V.....C....., SA”, permaneceu depositada na conta bancária n.º 0000000 s/ o BPA, e na disponibilidade dos arguidos KK e AA, enquanto titulares da referida conta bancária, nos seguintes períodos de tempo:

- 1.293.300$00, de 28/09/99 a 08/10/99;

- 11.748.000$00, entre 12/04/00 e 17/04/00.
176) Desta forma, os arguidos AA e KK lograram a obtenção pelo primeiro, pelo menos, do montante de 888$00, a título de rendimento do mencionado capital de 1.293.300$00, que, não obstante saberem pertencer à massa falida, o arguido AA integrou no respetivo património.
177) Do mesmo modo, os arguidos AA e KK lograram a obtenção pelo primeiro, pelo menos, do montante de 6.461$00, a título do rendimento do capital de 11.748.000$00, que, não obstante saberem pertencer à massa falida, o arguido AA também integrou no respetivo património.
                                                                              *
S....I....., Lda (Apenso CLXXXVI)
178) Por decisão proferida em 9-2-1995, no Processo de Falência n.º 000/93, que correu termos no 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Santa Maria da Feira, foi declarada falida a sociedade S....I....., Lda.

179) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA.
180) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em 21/3/1995, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
181) O leilão realizou-se em 24 de Maio de 1995 para venda dos bens móveis, tendo sido diversas as propostas vencedoras.
182) O bem imóvel (prédio urbano) foi vendido mediante negociação particular, tendo sido vencedora a proposta apresentada em 9/06/95 pela “A...& I......, SA”, no valor de 155.000.000$00.
183) Em 19 de Setembro de 1995 foi feito o depósito de 34.894.980$00 em conta bancária da massa falida.
184) Para a venda de bens imóveis (2 prédios rústicos), foram aceites propostas até 4/12/1995, tendo sido a proposta da “M...S....– Cortiças, L.da.”, no valor de 4.500.000$00, a vencedora.
185) A escritura de compra e venda destes dois prédios rústicos realizou-se em 16 de Maio de 1996.

186) Adjudicada a venda, a S... cobrou à compradora “M...S....– Cortiças, Lda” uma comissão a título de honorários no montante de 450.000$00, correspondente a 10% do valor da venda.

187) Para pagamento do preço e da comissão, RRRRR emitiu dois cheques em 31-01-96, sacados sobre a conta nº 0000000000 do Banco Totta & Açores, titulada por “M...S....– Cortiças, L.da.”, no valor de 4.500.000$00 à ordem da S...N...L... e 450.000$00 ao portador.

188) Por cheque datado de 2-02-96 sacado sobre o BCI, da conta nº 0000, o arguido DD emitiu o cheque nº 000000000, no valor de 4.500.000$00, à ordem do arguido AA.
                                                                              *
Fábricas A......... – Fiação Malhas e Meias, SA (Apenso CXCIII)
189) Por decisão proferida em 10-1-1994, no Processo de Falência n.º000/92, que correu termos no 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Fafe, foi declarada falida a sociedade Fábricas A......... – Fiação Malhas & Meias, SA.

190) No mesmo despacho foi nomeado administrador judicial da massa falida, o arguido AA.
191) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu ao síndico da falência, em 6/4/1995, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, com recurso a leilão, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que foi deferido pelo síndico.
192) Os bens móveis foram vendidos (á excepção do lote 14) a M..... – Comércio e Indústria, SA, por 27.570.000$00 e o bem imóvel (mais o lote 14) foi adjudicado a Imobiliária F... Lda por 90.000.000$00.

193) Adjudicada a venda, a S... cobrou a “M.....”, compradora dos bens móveis atrás referidos, uma comissão a título de honorários, correspondente a cerca de 10% do valor da venda, concretamente a quantia de 2.750.000$00. *

194) A esse montante foi subtraída a percentagem de 40% e dividido o respetivo resultado por dois, tendo os arguidos DD e JJ entregue ao arguido AA a quantia de 825.000$00 (4 115,08 €), como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência.
195) Tal pagamento operou-se através de cheque no valor global de 1.059.000$00 (que englobou ainda a quantia de 234.700$00).
                                                                              *
C...C... & C.ª, Lda (Apenso C)
196) Por decisão proferida em 14-04-1998, no Processo de Falência n.º 00/99 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de V N de Gaia, foi declarada falida a sociedade C...C... & C.ª, Lda.

197) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA.
198) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu à comissão de credores, em 15/6/1999, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
199) Em 19 de Dezembro de 2001, o imóvel da massa falida foi adquirido pela empresa “SSSSS Imobiliária, Lda”, pelo montante de 78.000.000$00, que também comprou bens móveis no valor de 6.100.000$00 + IVA.
200) As quatro viaturas da massa falida foram compradas por “S....A...., Lda”, pelo montante de 831.500$00.

201) Adjudicada a venda, a S... cobrou à compradora SSSSS, Lda uma comissão a título de honorários no montante de 8.410.000$00, correspondente a 10% do valor da venda, valor este que foi pago através de cheque datado de 27/6/2000.
202) O referido montante de 8.410.000$00 foi integrado nas comissões «devidas» ao arguido AA e noutros valores contabilizados a favor do mesmo, no montante global de 82.365.400$00, por referência a este e a outros processos de falência (DAP, C...D....., J....M...., M......, Supermercados G...., I....,S....... e M....).
203) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 82.365.400$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 51.560.800$00 (após arredondamento do valor de 51.560.740$40, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo o resultado final de 25.784.400$00.
204) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA, o montante de 25.784.400$00 (128.612,04 €). 
205) Tal pagamento operou-se em duas tranches: uma, de 13.000.000$00, paga em 20-7-2000 e outra, de 12.784.400$00, paga em 30-11-2000.
206) O primeiro pagamento processou-se através de levantamento em numerário, ocorrido na data de 20-7-2000, da conta n.º 0000000000 do Banco Santander, titulada por DD e JJ.
207) O montante de 13.000.000$00 foi entregue em mão ao arguidoKK, destinando-se a efetuar o descrito pagamento ao arguido AA.
208) E nas contas A....M.....s tituladas pelos arguidos AA eKK foram efectuados os seguintes depósitos, no período compreendido entre 21/7/2000 e 1/8/2000:

BancoNIB/ContaTitularDataDescritivoValor
BCP000000000OOO21/7/00Numerário/valores1.570.000$00
BPA0000000000000000000000AA24/7/00Numerário3.000.000$00
BPA0000000000000000000000AA26/7/00Numerário3.000.000$00
BCP00000000000000000OOO1/8/00Numerário1.600.000$00
BPA0000000000000000KK1/8/00Numerário/valores1.655.720$00

209) O segundo pagamento processou-se através de levantamento em numerário, do montante de 12.784.400$00, ocorrido na data de 30-11-2000, da conta n.º0000000000 sobre o BS, titulada por DD e JJ.
210) E nas contas bancárias tituladas pelo arguido AA foram efectuados os seguintes depósitos, em 18/12/2000 e 21/12/2000:

BancoNIB/ContaTitularDataDescritivoValor
BPA0000000000000000000000AA18/12/00Numerário1.000.000$00
BCP000000000000OOO21/12/00Numerário/valores1.025.500$00

                                                                              *
C...D....., Lda (Apenso LXVII)
211) Por decisão proferida em 25-9-1998, no Processo de Falência n.º 000/98 que correu termos no 1º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Barcelos, foi declarada falida a sociedade C...D....., Ldª.

212) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA.
213) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu à comissão de credores, em 2/11/1999, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
214) Os bens móveis foram vendidos a TTTTT pelo valor de 1.055.000$00, tendo o mesmo pago comissão no montante de 105.500$00.
215) O bem imóvel foi vendido a BA..... – Imobiliária de ......., Lda, por 51.500.000$00, e a compradora pagou, em 16-3-2000, uma comissão de 5.150.000$00.

216) Adjudicada a venda, a S... cobrou comissões no montante total de 5.255.500$00.
217) O qual foi integrado nas comissões «devidas» ao arguido AA e noutros valores contabilizados a favor do mesmo, no montante global de 82.365.400$00, por referência a este e outros processos de falência (C...C..., C...D....., J....M...., M......, Supermercados G...., I....,S....... e M....).
218) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 82.365.400$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 51.560.800$00 (após arredondamento do valor de 51.560.740$40, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo o resultado final de 25.784.400$00.

219) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA, o montante de 25 784 400$00 (128 612,04 €). 
220) Tal pagamento operou-se em duas tranches: uma, de 13.000.000$00, paga em 20-7-2000 e outra, de 12.784.400$00, paga em 30-11-2000.
221) Tanto o pagamento, como o recebimento das quantias referidas processaram-se nos moldes descritos no caso “C...C...”.
                                                                              *
C...D..... – Sociedade de Malhas, L.da (Apenso LXVIII)
222) Por decisão proferida em 6-2-1998, no Processo de Falência n.º 000/97 que correu termos no 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Barcelos, foi declarada falida a sociedade C...D..... – Sociedade de Malhas, Lda.
223) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA.
224) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em data não apurada, mas anterior a 29/2/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
225) O bem imóvel foi licitado, em 20 de Março de 2000, pela quantia de 41.000.000$00, pela firma J...M...S....– Sociedade Unipessoal, Lda.
226) A S... cobrou à proponente do bem imóvel atrás referido – que veio a adquirir o mesmo por escritura pública de 16/11/2004 - uma comissão a título de honorários no montante de 4.100.000$00, valor este que foi pago através de cheque datado de 5/5/2000.
227) A referida quantia foi integrada nas comissões «devidas» ao arguido AA e noutros valores contabilizados a favor do mesmo, no montante global de 82.365.400$00, por referência a este e a outros processos de falência (C...C..., C...D....., J....M...., M......, Supermercados G...., I....,S....... e M....).
228) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 82.365.400$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 51.560.800$00 (após arredondamento do valor de 51.560.740$40, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo o resultado final de 25.784.400$00.
229) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA, o montante de 25.784.400$00 (128.612,04 €). 
230) Tal pagamento operou-se em duas tranches: uma, de 13.000.000$00, paga em 20-7-2000 e outra, de 12.784.400$00, paga em 30-11-2000.
231) Tanto o pagamento, como o recebimento das quantias referidas processaram-se nos moldes descritos no caso “C...C...”.
                                                                              *
J....M.... C..P..R... (Apenso CXIX)
232) Por decisão proferida em 10-03-1997, no Processo de Falência n.º0000/96 que correu termos na 6ª Juízo Cível do Porto (2ª Secção), foi declarado falido ...C...M.....
233) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA.
234) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu à comissão de credores, em 8/2/1999, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
235) Os imóveis foram adjudicados: a Verba n° 1, à “BB – Sociedade Imobiliária, SA”, por 10.170.000$00, e a Verba n° 2 ao “Finibanco”, por 100.000.000$00.
236) Adjudicada a venda, a S... cobrou uma comissão a título de honorários no montante global de 11.017.000$00, correspondente a 10% do valor das vendas, sendo que quanto à verba nº 2 a comissão foi paga em data não apurada, mas não posterior a 13/10/2000 e a referente à BB – Sociedade Imobiliária, SA, foi paga em 25-8-2000 ou em 11/10/2000.
237) Tal montante foi integrado nas comissões «devidas» ao arguido AA e noutros valores contabilizados a favor do mesmo, no valor global de 82.365.400$00, por referência a este e a outros processos de falência (C...C..., C...D....., C...D....., M......, Supermercados G...., I....,S....... e M....).
238) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 82.365.400$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 51.560.800$00 (após arredondamento do valor de 51.560.740$40, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo o resultado final de 25.784.400$00.
239) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA, o montante de 25.784.400$00 (128.612,04 €). 
240) Tal pagamento operou-se em duas tranches: uma, de 13.000.000$00, paga em 20-7-2000 e outra, de 12.784.400$00, paga em 30-11-2000.
241) Tanto o pagamento, como o recebimento das quantias referidas processaram-se nos moldes descritos na falência “C...C...”.
                                                                              *
DDD (Apenso CXX)
242) Por decisão proferida em 19-9-1997, no Processo de Falência n.º 000/97 que correu termos na 7ª Vara Cível do Porto (2ª Secção), foi declarada falida DDD, mulher do supra citado J....M.....
243) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA.
244) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em data não apurada, mas anterior a 23/10/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
245) O imóvel foi adjudicado à empresa “BB – Sociedade Imobiliária, SA” e vendido, em 09/05/2001, por 55.370.000$00.
246) Adjudicada a venda, a S... cobrou à compradora dos bens vendidos, BB – Sociedade Imobiliária, SA, em 26-1-2001, uma comissão a título de honorários no montante de 5.537.000$00, correspondente a 10% do valor da venda.
247) Este montante integrou um conjunto de valores contabilizados a título de comissões para efeito de repartição com o arguido AA, referente a este processo e aos processos de falência de “EEE e C.ª, Lda”, “Fábrica de Calçado Z.., Lda” e “Fábrica de C...C..., Lda”, atingindo-se o valor total de 26.285.100$00.
248) A este valor global de 26.285.100$00, o arguido DD deduziu a percentagem de 35,4%, mas contabilizou, por motivo não apurado, o resultado de 16.980.110$00 (e não o valor correcto de 16.980.174$60).
249) O arguido DD dividiu por dois o valor contabilizado de 16.980.110$00, atingindo o montante de 8.490.055$00, mas entregando efetivamente ao arguido AA o montante de 8.490.000$00 (após arredondamento do valor atrás descrito), a título de repartição dos valores contabilizados como comissões, que lhe eram “devidos” nos processos de falência acima mencionados, como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.
250) Tal pagamento operou-se em 22-2-2001, através de numerário e foi efectuado com «dinheiro do negócio da falida RIMA».
               251) E nas contas bancárias tituladas pelo arguido AA foram efectuados os seguintes depósitos, no período compreendido entre 5/3/2001 e 29/3/2001:

BancoNIB/ContaTitularDataDescritivoValor
BPA0000000000000000000000AA5/3/01Numerário3.000.000$00
BCP000000000000OOO7/3/01Numerário1.000.000$00
BPA0000000000000000000000
AA
29/3/01Numerário1.000.000$00


252) Em 9/5/2001, data da celebração da escritura relativa ao imóvel atrás identificado, foram entregues ao arguido AA dois cheques: um cheque no montante de 49.833.000$00, correspondente a 90% do preço entregue pela adjudicatária “BB, SA”, e um cheque no montante de 5.537.000$00, correspondente ao sinal de 10%, entregue pela S..., visto que esta havia anteriormente recebido tal quantia da adjudicatária/compradora.
253) Tais cheques foram depositados pelo arguido AA, ou por alguém a seu mando, na conta do BPA com o nº 000(“conta das falências”), titulada pelos arguidos KK e AA, em 10/5/2001, ficando a quantia global de 55.370.000$00 disponível nesta conta a partir de 11/5/2001.
254) Tal quantia global foi restituída da seguinte forma: a quantia de 32.770.000$00 à massa falida de DDD, através de cheque descontado em 30/5/2001, na referida conta .......... do BPA, emitido pelo arguidoKK; a quantia de 22.6000.000$00 à massa falida de J....M.... P...R... (casado com aquela no regime da comunhão geral de bens), através de cheque descontado em 29/5/2001 na referida conta .......... do BPA.
255) Assim, a quantia global de 55.370.000$00 permaneceu depositada na conta nº 000 do BPA e na disponibilidade dos arguidosKK e AA, enquanto titulares da referida conta, entre 11/5/2001 e 29/5/2001.
256) Desta forma, os arguidos AA eKK lograram a obtenção pelo primeiro de, pelo menos, o montante de 122.737$00, a título de rendimento do capital de 55.370.000$00 que, não obstante saberem pertencer às massas falidas de DDD e J....M.... P...R...., o arguido AA integrou no respetivo património.
                                                                              *
M...... SA (Apenso LXII)
257) Por decisão proferida em 20-11-1995, no Processo de Falência n.º 00000/95 que correu termos no 3º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Santa Maria da Feira, foi declarada falida a sociedade “M......, SA”.
258) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA.
259) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em data não apurada, mas anterior a 24/2/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
260) Os bens móveis foram comprados por QQQQ, Lda, em Abril de 2000, pelo montante de 1.300.000$00, tendo ainda sido paga, em Março de 2000, a comissão à S..., no valor de 130.000$00, acrescida de IVA.
261) O imóvel da verba nº 4, lote 2, foi adjudicado a RRRR, por 20.800.000$00, tendo o mesmo pago à S..., em 03-03-00, uma comissão no valor de 2.080.000$00. A escritura de compra e venda realizou-se a 18-04-01, com a intervenção como compradora da “Santander Central Hispano – L....., Sociedade de Locação Financeira, S A”, pelo valor/preço pelo qual havia sido adjudicado a RRRR.
262) O imóvel da verba n°.., lote n°... foi objeto de uma proposta inicial, no valor de 34.200.000$00, apresentada em 10/4/2000, por “E....C..., Lda”, acabando, no entanto, por desistência da referida proponente, por ser adjudicado e vendido, em 30/10/2001, a SSSS, pelo montante de 30.000.000$00.
263) O imóvel da verba nº 7, lote nº 4, foi arrematado por C... – Indústria Transformadora de Cortiças, Lda por 90.000.000$00, tendo este adquirente pago comissão à S..., no valor de 9.000.000$00, mais IVA, em 25/5/2000.
264) Os imóveis das verbas nºs 1, 2, 3 e 6, integrantes do lote nº 1, foram arrematados e prometidos vender a R..... – Indústria Transformadora de Cortiças, Lda, por 72.500.000$00, a qual pagou à S... uma comissão no valor de 7.250.000$00, acrescida de IVA (no valor global de 8.482.500$00), através de cheque datado de 10/5/2000.
265) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou aos compradores dos bens móveis e dos lotes 1, 2 e 4, comissões, a título de honorários, no montante de 18.460.000$00, correspondente a 10% do valor dos bens.
266) Para efeito de repartição com o arguido AA, o arguido DD considerou, em 11/7/2000, não o montante de 18.460.000$00, mas antes o valor de 21.880.000$00 – tendo em conta a proposta, então existente, no valor de 34.200.000$00, apresentada por “E....C...., para a compra do lote 3 -, que contabilizou conjuntamente com as comissões e outros valores respeitantes aos processos de falência em análise (“C...C..., Lda”, “C...D.....”, “C...D.....”, ...C...M...., Supermercados G...., I....,S....... e M....), atingindo-se o montante total de 82.365.400$00.
267) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 82.365.400$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 51.560.800$00 (após arredondamento do valor de 51.560.740$40, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo o resultado final de 25.784.400$00.

268) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA, o montante de 25.784.400$00 (128 612,04 €). 
269) Tal pagamento operou-se em duas tranches: uma, de 13.000.000$00, paga em 20-7-2000 e outra, de 12.784.400$00, paga em 30-11-2000.
270) Tanto o pagamento, como o recebimento das quantias referidas processaram-se nos moldes descritos na falência “C...C...”.
271) Acresce que, para além do montante de 18.460.000$00, supra referido, a S... recebeu ainda, pela venda do Lote 3, o montante de 3.000.000$00, a título de comissão, correspondente a 10% do valor da venda, pago por “VV...C...”, em Junho de 2001, que veio a ceder a sua posição contratual a SSSS.
272) Este montante foi contabilizado em conjunto com valores de comissões cobradas neste processo e nos processos de falência da C...., Lda, da A..., SARL, da A..., Lda, da S...L...., Lda, de HHH e de TTTT, de III e UUUU, atingindo-se o valor total de 38.306.000$00.

273) A este valor global de 38.306.000$00, o arguido DD deduziu a percentagem de 35,2%, obtendo o resultado de 24.822.288$00, que dividiu por dois, contabilizando, por motivo não apurado, o resultado de 12.411.440$00 (e não o valor aritmético correcto de 12.411.144$00).

274) Ao valor contabilizado de 12.411.440$00, o arguido DD subtraiu o valor de 3.230.000$00, atingindo o montante de 9.181.440$00, que efetivamente os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA a título de repartição das comissões que lhe eram “devidas” nos processos de falência acima mencionados, como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.

275) Tal pagamento operou-se em 9-7-2001, através de numerário que foi levantado, na mesma data da conta n.º000000000 do Banco Santander, titulada por DD e JJ, no valor global de 28.613.618$00.
276) O referido montante foi entregue em mão ao arguido KK, destinando-se a efetuar    o descrito pagamento ao arguido AA.
               277) E nas contas bancárias tituladas pelo arguido AA e familiares (mulher e filha) foram efectuados os seguintes depósitos, no período compreendido entre 9/7/2001 e 30/7/2001:

BancoNIB/ContaTitularDataDescritivoValor

BPA

0000000000000000000000AA9/7/01Numerário1.000.000$00
BPA0000000000000000000000AA11/7/01Numerário1.000.000$00
BPA0000000000000000000000AA

S...

12/7/01Numerário1.000.000$00
BCP000000000000000PPP/

OOO

26/7/01Numerário2.000.000$00
BCP0000000000000000PPP/

OOO

30/7/01Numerário1.500.000$00


278) Os montantes entregues pelo adjudicatário e pela compradora do imóvel da verba nº 4, lote 2 – concretamente os montantes de 2.080.000$00, a título de sinal, e 18.720.000$00 a título de pagamento do restante do preço – não foram de imediato depositados em conta da massa falida.
279) Assim, e no que concerne ao montante de 18.720.000$00, foi o mesmo entregue ao arguido AA em 18/4/2001, data da celebração da escritura pública de compra e venda do referido imóvel, montante este que foi nesse mesmo dia depositado pelo arguido ou por alguém a seu mando na conta nº 000 do BPA (conta das falências), titulada pelo mesmo e pelo arguido KK, ficando tal quantia disponível nesta conta a partir de 19/4/2001.
 280) Tal quantia de 18.720.000$00 foi restituída à massa falida da M......, SA através de cheque datado de 16/5/2001, emitido pelo arguidoKK, e sacado sobre a referida conta nº 000 do BPA.
281) Assim, a quantia de 18.720.000$00 permaneceu depositada na conta nº 000 do BPA e na disponibilidade dos arguidos AA eKK, enquanto titulares da referida conta bancária, entre 19/4/2001 e 16/5/2001.
282) Desta forma, os arguidos AA e KK lograram a obtenção pelo primeiro de, pelo menos, o montante de 61.152$00, a título de rendimento do mencionado capital de 18.720.000$00, que, não obstante saberem pertencer à massa falida da M......, SA, o arguido AA integrou no respetivo património.
                                                                              *
Supermercados G...., SA (Apenso CXV)
283) Por decisão proferida em 17-10-1997, no Processo de Falência n.º 1258/95 que correu termos no 4º Juízo Cível, 1ª Secção do Tribunal Judicial da Comarca do Porto, foi declarada falida a sociedade Supermercados G...., S.A.

284) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA.
285) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em data não apurada, mas anterior a 27/9/1998, escolheu como modalidade da venda a negociação particular, com recurso a leilão e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
286) A 7 de Dezembro de 1998, foram trespassados vários estabelecimentos livres de quaisquer ónus ou encargos, sem passivo e livres de trabalhadores, com cedência das respetivas chaves e de todas as coisas móveis que os integravam nesta data:
- Para XXXX, o estabelecimento sito na R......., no Porto, com os n° 0000/000, pelo valor de 2.700.000$00, sendo a comissão paga à S... de 270.000$00
- Para ZZZZ, um estabelecimento sito no Porto, na Rua.Por decisão proferida em 23-07-1996,.............., n° ............ e Rua ............, n° ............, pelo valor global de 12.100.000$00, a que correspondeu a comissão, efetivamente paga de 1.210.000$00, tendo pago o valor total 14.310.000$00.
- Para AAAAA e BBBBB, o estabelecimento sito no Campo.............., no Porto, com os n° .....a........., pelo valor de 29.000.000$00, as compradoras pagaram à S... o montante de 2 900 000$00 mais IVA, respeitante à comissão da leiloeira.
- Para CCCCC , DDDDD e EEEEE, o estabelecimento sito na Rua......., no Porto, com os n° ......, pelo valor de 7.600.000$00, tendo os mesmos pago à S... uma comissão no montante de 760 000$00.
- Para FFFFF, o estabelecimento sito na Rua ........, no Porto, com os n° .....a....... e na Rua ................, com os n° ......, pelo valor de 11.500.000$00. Esta compradora pagou à S... o montante de 1 150 000$00, em 16-11-98, a título de comissões.
- Para a firma “D..... – Drogaria e Perfumarias, L.da”, o estabelecimento sito na R......, no Porto, com os n° ...., pelo valor de 10 000 000$00, que pagou ao DD uma comissão de 1 000 000$00.
- Para GGGGG, o estabelecimento sito na Rua ........., no Porto, com os n° ......., pelo valor de 5.300.000$00.
- Para HHHHH o estabelecimento sito na Rua ..........., no Porto, com os n°... a...., pelo valor de 4.300.000$00 a que correspondeu a comissão de 430 000$00, mais IVA.
- Para IIIII, o estabelecimento sito na Rua ................., no Porto, com os n° .... a ...., pelo valor de 6.000.000$00, o comprador pagou uma comissão no montante de 600 000$00.
- Para a sociedade “J....f...& F...., L.da”, o estabelecimento sito na Rua Campo.............., no Porto, com os n° .....a........., pelo valor de 14.600.000$00, a comissão paga pelo comprador foi de 1 460 000$00.
- Para JJJJJJ, o estabelecimento sito na Rua ......, no Porto, com os n° .... a ..., pelo valor de 3.200.000$00.
- Para KKKKK, o estabelecimento sito na Rua ..........., no Porto, com os n° ...., ...e... pelo valor de 47.000.000$00, este comprador pagou à S... uma comissão de 4 700 000$00, acrescida de IVA.
- A 13 de Janeiro de 1999, foi trespassado, livre de quaisquer ónus ou encargos, sem passivo e livre de trabalhadores, com cedência das respetivas chaves e de todas as coisas móveis que integravam o estabelecimento nesta data, para a firma “C.B. C....B..., L.da”, o estabelecimento sito na Rua......, no Porto, com os n°....., pelo valor de 131.000.000$00, o comprador pagou à S... uma comissão no montante de 13 100 000$00.
- A 23 de Fevereiro de 1999, foram trespassados mais alguns estabelecimentos livres de quaisquer ónus ou encargos, sem passivo e livres de trabalhadores, com cedência das respetivas chaves e de todas as coisas móveis que os integravam nesta data.
- Para a firma “L....M.... Lda”, o estabelecimento sito na Rua ........., em Espinho, com os n.ºs ...a ..., pelo valor de 71.000.000$00; foi paga em 15-10-98, a comissão à S..., no valor de 7 100 000$00.
- Para LLLLL, MMMMM, NNNNN, OOOOO, PPPPP, o estabelecimento sito na Praça ......., no Porto, com os n° ....., pelo valor de 26.000.000$00, tendo os compradores pago ao DD uma comissão de 3.042 000$00.
- Para a firma “A J. V...– Comércio Alimentar, Lda”, o estabelecimento sito na Rua......, no Porto, com o n° ..., pelo valor de 12.100.000$00; a S... cobrou ao adquirente a quantia de 1 210 000$00 a título de comissão.
287) A 22 de Março de 1999, foi trespassado, livre de quaisquer ónus ou encargos, sem passivo e livre de trabalhadores, com cedência das chaves e de todas as coisas móveis que integravam o estabelecimento nesta data, para QQQQQ, o estabelecimento sito na Rua ............ e ......., no Porto, com os n.°s ......., pelo valor de 17.500.000$00; o adquirente pagou comissão à S..., no valor de 1 750 000$00.
288) A 4 de Maio de 1999, foi trespassado, livre de quaisquer ónus ou encargos, sem passivo e livre de trabalhadores, com cedência das respetivas chaves e de todas as coisas móveis que integravam o estabelecimento nesta data, para a firma “C.... – Produtos Alimentares, Lda”, três estabelecimentos comerciais, pelo valor global de 30 300 000$00: um, sito na Praça do........, no Porto, com os n° .... e ...; outro, sito na Rua ........., no Porto, n° .......; e um terceiro, sito na Rua ........., no Porto, n° ....; tendo a adquirente dos estabelecimentos pago à S..., em 25-12-98, a título de comissões o montante global de 3 030 000$00.
289) Os restantes imóveis da massa falida foram vendidos da forma que a seguir se descreve:
- O imóvel sito na Rua ........, n° ...6, no Porto, em 12/12/2000, por escritura pública, à firma “M....l - Metalúrgica Industrial, Lda”, pelo valor de 57.000.000$00. O leilão realizou-se a 30/03/2000 e a S... cobrou à compradora, em 31/3/2000, uma comissão a título de honorários no montante de 5.700.000$00.
- O direito ao trespasse e arrendamento do estabelecimento sito na Rua ......, n°...., no Porto, em 19/12/2001, por escritura pública, à firma “D..... – Drogaria e Perfumarias, Lda”, pelo valor de 12.001.000$00. O leilão realizou-se a 16/10/2001, tendo o DD recebido uma comissão de 1.200.100$00.
290) O leilão dos dois imóveis sitos no Centro ......, na Praça ........... no Porto, realizou-se a 20/02/2002, tendo a melhor proposta, no valor de 498 797,90 €, sido subscrita por um conjunto de várias empresas, encabeçadas por “DE......, SA”, não se tendo concretizado tal negócio.
291) O montante de 5.700.000$00, recebido a título de comissão pela venda do imóvel sito na Rua de .........., nº .., no Porto, foi integrado nas comissões «devidas» ao arguido AA e noutros valores contabilizados a favor do mesmo, no valor global de 82.365.400$00, por referência a este e a outros processos de falência (C...C..., C...D....., C...D....., ...C...M...., M......, I....,S....... e M....).
292) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 82.365.400$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 51.560.800$00 (após arredondamento do valor de 51.560.740$40, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo o resultado final de 25.784.400$00. *

293) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA, o montante de 25.784.400$00 (128 612,04 €). 
294) Tal pagamento operou-se em duas tranches: uma, de 13.000.000$00, paga em 20-7-2000 e outra, de 12.784.400$00, paga em 30-11-2000.
295) Tanto o pagamento, como o recebimento das quantias referidas processaram-se nos moldes descritos na falência “C...C...”.
296) Os montantes entregues pelos adjudicatários e compradores/trespassários dos bens da falida Supermercado G...., quer a título de “sinal” quer de pagamento final, não foram de imediato depositados em conta da massa falida.
297) Assim, e no que concerne ao montante global de 153.300.000$00 – soma dos valores parcelares de 2.700.000$00, 12.100.000$00, 29.000.000$00, 7.600.000$00, 11.500.000$00, 10.000.000$00, 5.300.000$00, 4.300.000$00, 6.000.000$00, 14.600.000$00, 3.200.000$00 e 47.000.000$00, atrás referidos e entregues ao arguido AA -, foi o mesmo depositado, em 10/12/1998, pelo arguido ou por alguém a seu mando na conta nº ... do BPA (conta das falências), titulada pelo mesmo e pelo arguido KK, ficando tal quantia disponível nesta conta a partir de 11/12/1998. *
298) Tal quantia de 153.300.000$00 foi restituída à massa falida da Supermercados G...., SA em 6/10/1999, através de depósito em conta bancária titulada pela mesma.
299) Assim, a quantia de 153.300.000$00 permaneceu depositada na conta nº .... do BPA e na disponibilidade dos arguidos AA eKK, enquanto titulares da mesma, entre 11/12/1998 e 6/10/1999.
300) Relativamente ao montante de 131.000.000$00, pago pela sociedade “C.B. C....B..., Lda”, atrás referido e entregue ao arguido AA, foi o mesmo depositado, em 13/1/1999, pelo arguido ou por alguém a seu mando na conta nº .......... do BPA (conta das falências), titulada pelo mesmo e pelo arguido KK, ficando tal quantia disponível nesta conta a partir de 14/1/1999.
301) Tal quantia de 131.000.000$00 foi restituída à massa falida da Supermercados G...., SA em 6/10/1999, através de depósito em conta bancária titulada pela mesma.
302) Assim, a quantia de 131.000.000$00 permaneceu depositada na conta nº .......... do BPA e na disponibilidade dos arguidos AA e KK, enquanto titulares da mesma, entre 14/1/1999 e 6/10/1999.
303) No que concerne ao montante global de 109.100.000$00 – soma dos valores parcelares de 71.000.000$00, 26.000.000$00 e 12.100.000$00, atrás referidos e entregues ao arguido AA -, foi o mesmo depositado, em 24/2/1999, pelo arguido ou por alguém a seu mando na conta nº ....do BPA (conta das falências), titulada pelo mesmo e pelo arguido KK, ficando tal quantia disponível nesta conta a partir de 25/2/1999. *
304) Tal quantia de 109.100.000$00 foi restituída à massa falida da Supermercados G...., SA em 6/10/1999, através de depósito em conta bancária titulada pela mesma.
305) Assim, a quantia de 109.100.000$00 permaneceu depositada na conta nº .... do BPA e na disponibilidade dos arguidos AA e KK, enquanto titulares da mesma, entre 25/2/1999 e 6/10/1999.
               306) Quanto ao montante de 17.500.000$00, pago por QQQQQ atrás referido e entregue ao arguido AA, foi o mesmo depositado, em 24/3/1999, pelo arguido ou por alguém a seu mando na conta nº ... do BPA (conta das falências), titulada pelo mesmo e pelo arguido KK, ficando tal quantia disponível nesta conta a partir de 25/3/1999.
                                                                                              *
307) Tal quantia de 17.500.000$00 foi restituída à massa falida da Supermercados G...., SA em 6/10/1999, através de depósito em conta bancária titulada pela mesma.
308) Assim, a quantia de 17.500.000$00 permaneceu depositada na conta nº .......... do BPA e na disponibilidade dos arguidos AA eKK, enquanto titulares da mesma, entre 25/3/1999 e 6/10/1999.
309) Relativamente ao montante de 30.300.000$00, pago pela sociedade CR...., Lda, atrás referido e entregue ao arguido AA, foi o mesmo depositado, em 5/5/1999, pelo arguido ou por alguém a seu mando na conta nº .......... do BPA (conta das falências), titulada pelo mesmo e pelo arguido KK, ficando tal quantia disponível nesta conta a partir de 6/5/1999.
310) Tal quantia de 30.300.000$00 foi restituída à massa falida da Supermercados G...., SA em 6/10/1999, através de depósito em conta bancária titulada pela mesma.
311) Assim, a quantia de 30.300.000$00 permaneceu depositada na conta nº .......... do BPA e na disponibilidade dos arguidos AA eKK, enquanto titulares da mesma, entre 6/5/1999 e 6/10/1999.
312) Desta forma, a título de rendimento do capital no montante global de 441.200.000$00 (soma dos valores parcelares de 153.300.000$00, 131.000.000$00, 109.100.000$00, 17.500.000$00 e 30.300.000$00), os arguidos AA e KK lograram a obtenção pelo primeiro de, pelo menos, o montante de 8.154.527$00, que, não obstante saberem pertencer à massa falida de Supermercados G...., SA, o arguido AA integrou no respetivo património.
313) Ao arguido DD foram entregues por vários proponentes diversas quantias a título de “sinal”, no montante global de 36.630.000$00, montante este que o arguido ou alguém a seu mando, ao invés de entregar ao liquidatário judicial (arguido AA), depositou na conta bancária nº 00000000, sobre o BS, titulada por si e pela arguida JJ. 
314) Assim, os arguidos DD e JJ tiveram na sua disponibilidade, atuando de comum acordo e apesar de saberem que não lhes eram devidas, com o conhecimento e anuência do arguido AA, as seguintes quantias nos períodos temporais que se discriminam:
- 1.210.000$00 (“sinal” respeitante ao estabelecimento comercial sito na Rua..............., nº ............ e na Rua ............, nº ............, no Porto), entre 13/11/1998 e 10/12/1998;
- 1.150.000$00 (“sinal” respeitante ao estabelecimento comercial sito na Rua ......., nºs ...e..... e na Rua ................, nºs ....e ...., no Porto), entre 17/11/1998 e 10/12/1998;
- 1.000.000$00 (“sinal” respeitante ao estabelecimento comercial sito na Rua ....., nºs .... a ... no Porto), entre 17/11/1998 e 10/12/1998;
- 1.460.000$00 (“sinal” respeitante ao estabelecimento comercial sito na Rua Campo.............., nºs .....a........., no Porto), entre 4/11/1998 e 10/12/1998;
- 4.700.000$00 (“sinal” respeitante ao estabelecimento comercial sito na Rua ..... e Travessa do ...., nºs ....., ... e.... no Porto), entre 28/10/1998 e 10/12/1998;
- 13.100.000$00 (“sinal” respeitante ao estabelecimento comercial sito na Rua ....., nºs....., no Porto), entre 3/11/1998 e 13/1/1999;
- 7.100.000$00 (“sinal” respeitante ao estabelecimento comercial sito na Rua ...., com os nºs .... a ... em Espinho), entre 27/11/1998 e 24/2/1999;
- 1.210.000$00 (“sinal” respeitante ao estabelecimento comercial sito na Rua ....., nº ...., no Porto), entre 17/11/1998 e 24/2/1999;
- 5.700.000$00 (“sinal” respeitante ao estabelecimento comercial sito na Rua de .........., nº ..., no Porto), entre 6/4/2000 e 14/12/2000.

315) [alterado pelo acórdão recorrido – cfr. suas fls. 1029/1030 e 1041] Os arguidos DD e JJ mantiveram os montantes aludidos no item 314, pelos períodos aí referidos, em depósito à ordem na conta bancária referida no item 313 [anterior redacção: Os arguidos DD e JJ aplicaram pelo menos uma parte do aludido montante em produtos financeiros em seu proveito].

316) [alterado pelo acórdão recorrido – cfr. suas fls. 1029/1039 e 1041] Ao actuarem da forma descrita, os arguidos AA, DD e JJ lograram a obtenção, pelos dois últimos, do montante de 73.279$00, a título de rendimento do capital de 36.630.000$00, que, não obstante saberem pertencer à massa falida da Supermercados G...., SA, os arguidos DD e JJ integraram no respetivo património [anterior redacção: Ao actuarem da forma descrita, os arguidos AA, DD e JJ lograram a obtenção pelos dois últimos do montante de, pelo menos, 331.424$00, a título de rendimento do capital de 36.630.000$00, que, não obstante saberem pertencer à massa falida da Supermercados G...., SA, os arguidos DD e JJ integraram no respetivo património].
 
                                                                              *
I.... – Comércio de Artigos Domésticos e para a Indústria Cerâmica, Lda (Apenso CXXXV)
317) Por decisão proferida em 28-02-1997, no Processo de Falência n.º OOO/96 que correu termos no 1º Juízo Cível do Tribunal da Comarca do Porto (3ª Secção), foi declarada falida a sociedade I...., Lda, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA.
318) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu à comissão de credores, em 14/5/1999, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
319) Os bens móveis foram vendidos à “Panificadora Vi.... SA”, por 12. 796.000$00 e o imóvel foi vendido por escritura pública celebrada em 30-06-2000, a MM...L... – Sociedade de Locação Financeira, SA, por 61.000. 000$00, no total de 73.796.000$00.
320) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos comissões a título de honorários no montante global de 7.379.600$00, correspondente a 10% do valor das vendas, tendo a comissão referente à venda do imóvel sido cobrada em Janeiro de 2000.
321) Tal montante de 7.379.600$00 foi integrado nas comissões «devidas» ao arguido AA e noutros valores contabilizados a favor do mesmo, no valor global de 82.365.400$00, por referência a este e a outros processos de falência (C...C..., DAP, C...D....., J....M...., M......, Supermercados G....,S....... e M....).

322) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 82.365.400$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 51.560.800$00 (após arredondamento do valor de 51.560.740$40, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo o resultado final de 25.784.400$00 (128 612,04 €). 

323) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA, o montante de 25.784.400$00 (128 612,04 €).  
324) Tal pagamento operou-se em duas tranches: uma, de 13.000.000$00, paga em 20-7-2000 e outra, de 12.784.400$00, paga em 30-11-2000.
325) Tanto o pagamento, como o recebimento das quantias referidas processaram-se nos moldes descritos no caso “C...C...”.
326) Os montantes entregues pelo adjudicatário/comprador do bem imóvel da falida I...., quer a título de sinal, quer de pagamento final, não foram depositados em conta bancária da massa falida.
327) Assim, no que concerne ao montante de 61.000.000$00 atrás referido e entregue ao arguido AA, foi o mesmo depositado em 4/7/2000, pelo arguido ou por alguém a seu mando na conta nº .......... do BPA (conta das falências), titulada pelo mesmo e pelo arguido KK, ficando tal quantia disponível nesta conta a partir de 5/7/2000.
328) Tal quantia de 61.000.000$00 foi restituída à massa falida da I...., Lda em 4/7/2001, através de depósito em conta bancária titulada pela mesma.
329) Assim, a quantia de 61.000.000$00 permaneceu depositada na conta nº .......... do BPA e na disponibilidade dos arguidos AA eKK, enquanto titulares da mesma, entre 5/7/2000 e 4/7/2001.
330) Desta forma, a título de rendimento do capital no montante de 61.000.000$00, os arguidos AA eKK lograram a obtenção pelo primeiro de, pelo menos, o montante de 2.557.086$00, que, não obstante saberem pertencer à massa falida de I...., Lda, o arguido AA integrou no respetivo património.
331) Ao arguido DD foi entregue, a título de “sinal”, em 18/1/2000, a quantia de 6.100.000$00, quantia esta que o arguido ou alguém a seu mando, ao invés de entregar ao liquidatário judicial (arguido AA), depositou em conta bancária sobre o BS, titulada por si e pela arguida JJ. 
332) Assim, os arguidos DD e JJ tiveram na sua disponibilidade, actuando de comum acordo e apesar de saberem que não lhe era devida, com o conhecimento e anuência do arguido AA, a descrita quantia no período compreendido entre 19/1/2000 e 4/7/2000.*
333) [alterado pelo acórdão recorrido – cfr. suas fls. 1029/1030 e 1041] Ao actuarem da forma descrita, os arguidos AA, DD e JJ lograram a obtenção pelos dois últimos do montante de, pelo menos, 23.052$00, a título de rendimento do capital de 6.100.000$00, que, não obstante saberem pertencer à massa falida da I...., Lda, os arguidos DD e JJ integraram no respetivo património [anterior redacção:«Ao actuarem da forma descrita, os arguidos AA, DD e JJ lograram a obtenção pelos dois últimos do montante de, pelo menos, 92.704$00, a título de rendimento do capital de 6.100.000$00, que, não obstante saberem pertencer à massa falida da I...., Lda, os arguidos DD e JJ integraram no respetivo património».
                                                                              *
S.... – Sociedade Técnica de Empreendimentos, Automatização e Montagem, L.da (Apenso XCII)
334) Por decisão proferida em 18-6-97, no Processo de Falência n.º 000/96 que correu termos no 4º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Matosinhos, foi declarada falida a sociedadeS......., Lda.

335) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA, que já exercera as funções de gestor judicial na fase de recuperação da empresa e a quem fora fixada a remuneração mensal de 170.000$00.
336) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA requereu à comissão de credores, em 15/7/1997, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores. *
337) Os bens móveis foram adjudicados a UUUUU e vendidos pelo montante de 930.000$00.
338) Os bens imóveis foram vendidos, por escritura pública de 06/4/2001, a Santander Central-Hispano, tendo subjacente um contrato de leasing celebrado com a empresa JO...., SA, pelo montante global de 47.700.000$00.

339) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou à JO...., SA (em 10/5/2000) e a UUUUU (em 11/5/2000) comissões a título de honorários, no montante global de 4.863.000$00, correspondente a 10% do valor das vendas.
340) O referido montante foi integrado nas comissões «devidas» ao arguido AA e noutros valores contabilizados a favor do mesmo, no valor global de 82.365.400$00, por referência a este e a outros processos de falência (C...C..., DAP, C...D....., J....M...., M......, Supermercados G...., I.... e M....).

341) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 82.365.400$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 51.560.800$00 (após arredondamento do valor de 51.560.740$40, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo o resultado final de 25.784.400$00 (128 612,04 €). 

342) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA, o montante de 25.784.400$00 (128.612,04 €).  
343) Tal pagamento operou-se em duas tranches: uma, de 13.000.000$00, paga em 20-7-2000 e outra, de 12.784.400$00, paga em 30-11-2000.
344) Tanto o pagamento, como o recebimento das quantias referidas processaram-se nos moldes descritos no caso “C...C...”.
                                                                              *
M.... – Comércio de Máquinas Agrícolas, Lda. (Apenso CXXIV)
345) Por decisão proferida em 16-06-1999, no Processo de Falência nº000/95, que correu termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Vila do Conde, foi declarada falida a sociedade M...., Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida, o arguido AA.
346) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em data não apurada, mas anterior a 21/5/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular, com recurso a leilão e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
347) Os bens móveis (com excepção dos veículos matriculados) foram adjudicados a L....& P....., Lda” e vendidos, em 10/07/2000, à “Panificadora Vi.... SA”, pelo montante de 503.000$00, tendo sido cobrada pela S... a comissão de 50.300$00, em Junho de 2000. Os restantes bens móveis (veículos matriculados) foram vendidos à “Auto-Reparadora ................”, em 22/03/2001, pela quantia de 400.000$00, tendo sido cobrada pela S... a comissão de 40.000$00, em 16/2/2001.
348) O imóvel foi adjudicado à “EC....– Empreendimentos Turísticos, Lda.”, e vendido em 12/12/2000 à “V.... & – ...... Limitada”, por 137.000.000$00, tendo a compradora pago uma comissão ao DD no montante de 13.700.000$00, pago conjuntamente com os 10% de sinal, através de cheque datado de 15/6/2000.
349) Apesar do valor global das comissões atrás referidas ascender a 13.790.300$00, para efeito de repartição com o arguido AA das comissões cobradas, o arguido DD considerou apenas o valor de 13.750.300$00, referente às comissões pagas pela “PanificadoraV.......” e pela “V.......e A......., Lda”, porquanto a compra levada a cabo pela “Autoreparadora” e cobrança da respetiva comissão, ocorreu em 2001 e, portanto, em data posterior às referidas contabilização e repartição com o arguido AA.  
350) Tal montante de 13.750.300$00 foi integrado nas comissões «devidas» ao arguido AA e noutros valores contabilizados a favor do mesmo, no valor global de 82.365.400$00, por referência a este e a outros processos de falência (C...C..., DAP, C...D....., J....M...., M......, Supermercados G...., I.... e S.......).
351) Feitas as contas, e por conta desses mesmos processos, o arguido DD deduziu ao valor global de 82.365.400$00 a percentagem de 37,4%, obtendo o resultado de 51.560.800$00 (após arredondamento do valor de 51.560.740$40, correspondente ao resultado da operação aritmética atrás descrita), que dividiu por dois, atingindo o resultado final de 25.784.400$00.
352) Como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA, o montante de 25.784.400$00 (128.612,04 €).
353) Tal pagamento operou-se em duas tranches: uma, de 13.000.000$00, paga em 20-7-2000 e outra, de 12.784.400$00, paga em 30-11-2000.
354) Tanto o pagamento como o recebimento das quantias referidas processaram-se nos moldes descritos no caso “C...C...”.
                                                                              *
C.... – Comércio de Têxteis, Lda (Apenso CXLV)
355) Por decisão proferida em 15-01-1999, no Processo de Falência nº...../97 que correu termos no 3º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Vila Nova de Famalicão, foi declarada falida a sociedade C...., Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA.
356) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em data não apurada, mas anterior a 1/10/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular, com recurso a leilão e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
357) O leilão foi realizado em 17 de Outubro de 2000, tendo a melhor proposta para os bens móveis sido no valor de 360.000$00, da “B...................., Lda.” e a melhor proposta para o bem imóvel foi no valor de 64.000.000$00, da Tinturaria e Acabamentos de Tecidos de Vale de Tábuas, Lda.

358) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou à compradora dos bens móveis uma comissão, a título de honorários, no valor de 36.000$00, em 18/10/2000, e à compradora do bem imóvel uma comissão, a título de honorários, no valor de 6.400.000$00, em 8/5/2001, comissões estas, no montante global de 6.436.000$00, correspondentes a 10% dos valores das vendas.

359) O referido montante de 6.436.000$00 foi contabilizado em conjunto com valores de comissões cobradas neste processo e nos processos de falência deA..., SARL, A..., Lda, S...L...., Lda, A...S....R.... e TTTT, III e UUUU e M...... SA (lote 3), atingindo-se o valor total de 38.306.000$00.

360) A este valor global de 38.306.000$00, o arguido DD deduziu a percentagem de 35,2%, obtendo o resultado de 24.822.288$00, que dividiu por dois, contabilizando, por motivo não apurado, o resultado de 12.411.440$00 (e não o valor aritmético correcto de 12.411.144$00).

361) Ao valor contabilizado de 12.411.440$00, o arguido DD subtraiu o valor de 3.230.000$00, atingindo o montante de 9.181.440$00, que efetivamente os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA a título de repartição das comissões que lhe eram “devidas” nos processos de falência acima mencionados, como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.
362) Tal pagamento ao arguido AA operou-se em 9-7-2001, através de numerário que foi levantado, na mesma data, da conta nº 00000000000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, no valor global de 28.613.618$00.
363) O referido montante foi entregue em mão ao arguidoKK, destinando-se a efetuar    o descrito pagamento ao arguido AA, tendo sido efectuados depósitos em contas bancárias, conforme descrito na falência da “M......”.
                                                                              *
A...... – Importação e Exportação de Têxteis e de Calçado, SARL (Apenso CXXI)
364) Por decisão proferida em 26-05-1997, no Processo de Falência nº 000/97, que correu termos no 6º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Matosinhos, foi declarada falida a sociedade A... – Importação e Exportação de Calçado, SA, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA.
365) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em 16/1/2001, escolheu como modalidade da venda a negociação particular, com recurso a leilão e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
366) Os bens móveis foram vendidos à S... pelo montante de 20.000$00, vindo a ser vendidos pela S... por valor não apurado.
367) O bem imóvel foi adjudicado, na sequência de leilão realizado em 3/5/2001, à empresa “Construções D...A...., Lda.” e vendido, em 04/10/2001, por 12.000.000$00, tendo a S... cobrado à compradora, na data do leilão, uma comissão a título de honorários, no montante de 1.200.000$00.

368) Este montante foi contabilizado em conjunto com valores de comissões cobradas neste processo e nos processos de falência da C...., Lda, A..., Lda, S...L...., Lda, A...S....R.... e TTTT, III e UUUU e M...... SA (lote 3), atingindo-se o valor total de 38.306.000$00.

369) A este valor global de 38.306.000$00, o arguido DD deduziu a percentagem de 35,2%, obtendo o resultado de 24.822.288$00, que dividiu por dois, contabilizando, por motivo não apurado, o resultado de 12.411.440$00 (e não o valor aritmético correcto de 12.411.144$00).

370) Ao valor contabilizado de 12.411.440$00, o arguido DD subtraiu o valor de 3.230.000$00, atingindo o montante de 9.181.440$00, que efetivamente os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA a título de repartição das comissões que lhe eram “devidas” nos processos de falência acima mencionados, como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.
371) Tal pagamento operou-se em 9-7-2001, através de numerário que foi levantado, na mesma data, da conta nº 00000000000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, no valor global de 28.613.618$00, conforme já descrito a propósito da falência da “C...., Lda”.
                                                                              *
A... – Empreendimentos Urbanos de Viana do Castelo, Lda. (Apenso LXXIV)
372) Por decisão proferida em 17-6-1996, no Processo de Falência nº 000/95 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Viana do Castelo, foi declarada falida a sociedade A... – Empreendimentos Urbanos de Viana do Castelo, Lda.

373) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA.
374) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em data não apurada, mas anterior a 19/2/2001, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda dos imóveis integrados no património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
375) Os bens imóveis, verbas nºs 1, 5, 6 e 7 descritas no auto de apreensão, foram adjudicados a V..... SA, que fazia parte da comissão de credores, por 3.000.000$00.

376) Adjudicada a venda, a S... cobrou à compradora dos bens uma comissão, a título de honorários, no montante de 300.000$00, que foi paga por cheque datado de 10/5/2001.

377) Este montante foi contabilizado em conjunto com valores de comissões cobradas neste processo e nos processos de falência da C...., Lda,A..., SARL, S...L...., Lda, A...S...R.. e TTTT, III e UUUU e M...... SA (lote 3), atingindo-se o valor total de 38.306.000$00.

378) A este valor global de 38.306.000$00, o arguido DD deduziu a percentagem de 35,2%, obtendo o resultado de 24.822.288$00, que dividiu por dois, contabilizando, por motivo não apurado, o resultado de 12.411.440$00 (e não o valor aritmético correcto de 12.411.144$00).

379) Ao valor contabilizado de 12.411.440$00, o arguido DD subtraiu o valor de 3.230.000$00, atingindo o montante de 9.181.440$00, que efetivamente os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA a título de repartição das comissões que lhe eram “devidas” nos processos de falência acima mencionados, como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.

380) Tal pagamento operou-se em 9-7-2001, através de numerário que foi levantado, na mesma data da conta nº 00000000000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, no valor global de 28.613.618$00, conforme já descrito.
                                                                              *
Fábrica de Tecidos da F.... de S.....L....., SA (Apenso LIX)
381) Por decisão proferida em 7-5-1999, no Processo de Falência nº ..../99 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N. de Gaia, foi declarada falida a sociedade Fábrica de Tecidos da F...., SA.

382) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA, sendo certo que o mesmo já fora nomeado gestor judicial na fase de recuperação.
383) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em data não apurada, mas anterior a 20/4/2001, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
384) O património da falida, constituído exclusivamente por bens imóveis, foi adjudicado, no leilão realizado em 22/5/2001, ao consórcio integrado pelas sociedades “DE...... – Participações e Investimentos, SA”, “ST – S..... – Imobiliária, SA”, “Imobiliária do A....., Lda” e “M..... – Investimentos Imobiliários, Lda.”, pelo montante de 251.500.000$00.
385) Alguns tempo depois, o representante da DE......, V.....renegociou a venda do imóvel com os representantes das sociedades “G....S..... – Construções, SA” e “R....M.... – Construções, SA” e cedeu a respetiva posição contratual mediante o reembolso das quantias pagas a título de sinal e comissão da leiloeira e de uma mais valia de valor não concretamente apurado.
386) A empresa “R....M....” desistiu do negócio, tendo-lhe a “G....S.....” restituído o dinheiro que aquela tinha pago à DE.......
387) Os bens acabaram por ser vendidos, por escritura pública outorgada em 16/1/2002, pelo montante de € 1.254.476,71, à “G....S....., SA”.

388) Adjudicada a venda, a S... cobrou à proponente dos bens “DE......”, em 22/5/2001, uma comissão, a título de honorários, no montante de 25.150.000$00, correspondente a 10% do valor da proposta apresentada.

389) Este montante foi contabilizado em conjunto com valores de comissões cobradas neste processo e nos processos de falência da C...., Lda,A..., SARL, A..., Lda, A...S....R.... e TTTT, III e UUUU e M...... SA (lote 3), atingindo-se o valor total de 38.306.000$00.

390) A este valor global de 38.306.000$00, o arguido DD deduziu a percentagem de 35,2%, obtendo o resultado de 24.822.288$00, que dividiu por dois, contabilizando, por motivo não apurado, o resultado de 12.411.440$00 (e não o valor aritmético correcto de 12.411.144$00).

391) Ao valor contabilizado de 12.411.440$00, o arguido DD subtraiu o valor de 3.230.000$00, atingindo o montante de 9.181.440$00, que efetivamente os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA a título de repartição das comissões que lhe eram “devidas” nos processos de falência acima mencionados, como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.

392) Tal pagamento operou-se em 9-7-2001, através de numerário que foi levantado, na mesma data da conta nº 00000000000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, no valor global de 28 613 618$00, conforme já descrito.
                                                                              *
A...S....R.... e TTTT (Apenso XCVII)
393) Por decisão proferida em 14-07-1997, no Processo de Falência nº00096, que correu termos no 1º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Matosinhos, foram declarados falidos A...S....R.... e mulher TTTT, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA.
394) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em 5/6/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
395) Os bens móveis foram adjudicados a GGG e vendidos pelo montante de 11.000$00.
396) As Frações A e B (garagens) foram adjudicadas a XXXXX, inquilino da falida, que exerceu o direito de preferência e vendidas, em 17/12/2001, pelo valor total de 3.750.000$00; o prédio rústico foi vendido à “M.... – Cooperativa de Habitação”, em 17/12/2001, por 15.500.000$00, após prévia cessão de posição contratual pela proponente “RE...... Lda”.
397) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou aos proponentes dos bens imóveis comissões, a título de honorários, correspondentes a 10% dos respetivos valores, sendo certo que XXXXX pagou o montante de 375.000$00 (em 17/12/2001) e a “RE...... Lda” pagou o montante de 1.550.000$00 (em 22/5/2001), mas, para efeito de repartição das comissões cobradas com o liquidatário judicial, o arguido DD apenas considerou este último valor.
398) O referido montante de 1.550.00$00 foi contabilizado em conjunto com valores de comissões cobradas neste processo e nos processos de falência da C...., Lda,A..., SARL, A..., Lda, S.....L....., SA, III e UUUU e M...... SA (lote 3), atingindo-se o valor total de 38.306.000$00.
399) A este valor global de 38.306.000$00, o arguido DD deduziu a percentagem de 35,2%, obtendo o resultado de 24.822.288$00, que dividiu por dois, contabilizando, por motivo não apurado, o resultado de 12.411.440$00 (e não o valor aritmético correcto de 12.411.144$00).
400) Ao valor contabilizado de 12.411.440$00, o arguido DD subtraiu o valor de 3.230.000$00, atingindo o montante de 9.181.440$00, que efetivamente os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA a título de repartição das comissões que lhe eram “devidas” nos processos de falência acima mencionados, como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.
401) Tal pagamento operou-se em 9-7-2001, através de numerário que foi levantado, na mesma data, da conta nº 00000000000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, no valor global de 28 613 618$00, conforme já descrito.
                                                                              *
III e mulher UUUU (Apenso XLI)
402) Por decisão proferida em 17-12-1999, no Processo de Falência nº 000/99 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Barcelos, foi declarado falido III e UUUU, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA.
403) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em data não apurada, mas anterior a 13/1/2001, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.

404) Adjudicada a venda a favor de ZZZZZ, pelo preço de 6.700.000$00, a S... cobrou ao proponente, em 25/4/2001, uma comissão a título de honorários no montante de 670.000$00, vindo este a adquirir o aludido imóvel por escritura pública outorgada em 11/11/2003.

405) Este montante foi contabilizado em conjunto com valores de comissões cobradas neste processo e nos processos de falência da C...., Lda,A..., SARL, A..., Lda, S.....L....., A...S....R.... e TTTT e M...... SA (lote 3), atingindo-se o valor total de 38.306.000$00.

406) A este valor global de 38.306.000$00, o arguido DD deduziu a percentagem de 35,2%, obtendo o resultado de 24.822.288$00, que dividiu por dois, contabilizando, por motivo não apurado, o resultado de 12.411.440$00 (e não o valor aritmético correcto de 12.411.144$00).

407) Ao valor contabilizado de 12.411.440$00, o arguido DD subtraiu o valor de 3.230.000$00, atingindo o montante de 9.181.440$00, que efetivamente os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido AA a título de repartição das comissões que lhe eram “devidas” nos processos de falência acima mencionados, como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.
408) Tal pagamento operou-se em 9-7-2001, através de numerário que foi levantado, na mesma data, da conta nº 00000000000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, no valor global de 28.613.618$00, conforme já descrito.
                                                                              *
EEE & C.ª, Lda. (Apenso CLVI)
409) Por decisão proferida em 25-06-1996, no Processo de Falência nº 268/95, que correu termos na 4ª Secção, do 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Póvoa de Varzim, foi declarada falida a sociedade M...J...S.... & Cª, Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA.
410) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em 26/6/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
411) Os bens móveis foram adjudicados a AAAAAA por 870.000$00.
412) O imóvel foi vendido a BBBBBB por 48.000.000$00.
 413) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos, em Outubro de 2000, comissões a título de honorários no montante global de 4.887.000$00.

414) Este montante integrou um conjunto de valores contabilizados a título de comissões, referente a este processo e aos processos de falência de DDD, Fábrica de Calçado Z.., Lda e Fábrica de C...C..., Lda, atingindo-se o valor total de 26.285.100$00.

415) A este valor global de 26.285.100$00, o arguido DD deduziu a percentagem de 35,4%, mas contabilizou, por motivo não apurado, o resultado de 16.980.110$00 (e não o valor correcto de 16.980.174$60).

416) O arguido DD dividiu por dois o valor contabilizado de 16.980.110$00, atingindo o montante de 8.490.055$00, mas entregando efetivamente ao arguido AA o montante de 8.490.000$00 (após arredondamento do valor atrás descrito), a título de repartição dos valores contabilizados como comissões, que lhe eram “devidos” nos processos de falência acima mencionados, como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.

417) Tal pagamento operou-se em 22-2-2001, através de numerário e foi efectuado com «dinheiro do negócio da falida RIMA».
                                                                              *
Fábrica de Calçado Z.., Lda (Apenso CLII)
418) Por decisão proferida em 17-11-1997, no Processo de Falência nº 131/93, que correu termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras, e que começou por ser um processo especial de recuperação da empresa e de proteção dos credores a pedido da própria sociedade, foi declarada falida a sociedade “Fábrica de Calçado Z.., Lda”.
419) Na mesma decisão o arguido AA foi nomeado administrador da massa falida.
420) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em 24/4/2000, requereu ao síndico da falência que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, com recurso a leilão, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, o que foi deferido pelo síndico, vindo o arguido AA a recorrer aos serviços da S...N...L... (S...).
421) Os bens móveis foram vendidos por 3.100.000$00 a «Talho F....M....G....», após inicial adjudicação à sociedade “P.....”.
422) O bem imóvel foi adjudicado a DE...... – Participações e Investimentos, SA e a CCCCCC, por 46.500.000$00, tendo CCCCCC desistido do negócio a favor da DE.......

423) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou à proponente “P.....” e à compradora “DE......”, em 4/1/2001 e 19/12/2000, respetivamente, comissões a título de honorários no montante global de 4.960.000$00.

424) Este montante integrou um conjunto de valores contabilizados a título de comissões, referente a este processo e aos processos de falência deDDD s,M...J...S.... e Comp.ª, Lda e Fábrica de C...C..., Lda, atingindo-se o valor total de 26.285.100$00.

425) A este valor global de 26.285.100$00, o arguido DD deduziu a percentagem de 35,4%, mas contabilizou, por motivo não apurado, o resultado de 16.980.110$00 (e não o valor correcto de 16.980.174$60).

426) O arguido DD dividiu por dois o valor contabilizado de 16.980.110$00, atingindo o montante de 8.490.055$00, mas entregando efetivamente ao arguido AA o montante de 8.490.000$00 (após arredondamento do valor atrás descrito), a título de repartição dos valores contabilizados como comissões, que lhe eram “devidos” nos processos de falência acima mencionados, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.

427) Tal pagamento operou-se em 22-2-2001, através de numerário e foi efectuado com «dinheiro do negócio da falida RIMA»*

                                                                                                                     *
Fábrica de C...C..., Lda. (Apenso CXCVI)
428) Por decisão proferida em 17-7-1998, no Processo de Falência nº 0000/93 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de S. João da Madeira, foi declarada falida a sociedade Fábrica de C...C..., Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AA.
429) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AA, em 23/2/2000, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
430) Aquando do leilão dos bens da massa falida, as melhores propostas foram: para o bem imóvel, a quantia de 100.000.000$00 de DDDDDD; para os bens móveis, a quantia de 8.556.000$00 da “S.....”; e para 2 veículos automóveis as quantias de 255.000$00 de EEEEEE, e 200.000$00 da “S....A...., Lda.”, sendo certo que o representante da S..... entregou a DD o montante de 855.600$00 a título de comissão e o representante da firma S....A.... pagou o montante de 20.000$00.
431) Na data da realização do leilão, 26-09-2000, a S... recebeu, ainda, de DDDDDD, adquirente do imóvel, o montante de 20.000.000$00, que, na perspectiva do arguido DD, integrava o montante do sinal e o montante da comissão da leiloeira (10.000 + 10.000).
432) Entretanto, a S... contabilizou como cobrado, a título de comissões pagas pelos compradores, o montante de 10.901.100$00.

433) Este montante integrou um conjunto de valores contabilizados a título de comissões, referente a este processo e aos processos de falência de DDD,M...J...S.... e Comp.ª, Lda e Fábrica de Calçado Z.., Lda, atingindo-se o valor total de 26.285.100$00.

434) A este valor global de 26.285.100$00, o arguido DD deduziu a percentagem de 35,4%, mas contabilizou, por motivo não apurado, o resultado de 16.980.110$00 (e não o valor correcto de 16.980.174$60).

435) O arguido DD dividiu por dois o valor contabilizado de 16.980.110$00, atingindo o montante de 8.490.055$00, mas entregando efetivamente ao arguido AA o montante de 8.490.000$00 (após arredondamento do valor atrás descrito), a título de repartição dos valores contabilizados como comissões, que lhe eram “devidos” nos processos de falência acima mencionados e como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.

436) Tal pagamento operou-se em 22-2-2001, através de numerário e foi efectuado com «dinheiro do negócio da falida RIMA».
437) Acontece que, no dia da escritura de compra e venda do imóvel (20-04-2001), o referido DDDDDD alegou ter pago já 20.000.000$00 por conta do preço do imóvel, tendo entregue ao liquidatário AA apenas mais 80.000 contos. Desta feita e para completar o preço do prédio, o DD foi obrigado a entregar à massa falida a totalidade da quantia recebida no leilão, ou seja, os 20.000 contos, ficando desapossado da «sua» comissão.
438) Tentou então exigir do comprador do imóvel a quantia de 10% do valor da venda, a título de comissões ao que o mesmo se recusou.
439) O diferendo foi levado à apreciação da Magistrada titular do processo, a qual proferiu em 26-11-01 o seguinte despacho: «Tendo em atenção o disposto no art. 34º nº 1 al. e) do Código das Custas Judiciais foi ilegal a fixação pela leiloeira enquanto encarregada da venda extrajudicial, da sua remuneração em 10%.(…)» e em 11-02-02 determinou, a final, uma remuneração à S... em 1,5% do valor da venda.
                                                                              *
440) O arguido QQ, que é economista de profissão, exerce funções de liquidatário desde 1997, estando inscrito na lista do Tribunal da Relação do Porto.
441) Em sede de relacionamento com empresas leiloeiras, este arguido deu preferência à S...N...L... e à S....& A......
442) Em data não concretamente apurada, mas sempre anterior a Novembro de 2000, o arguido DD, em execução do plano previamente gizado com a arguida JJ, descrito no ponto 13), propôs ao arguido QQ que este escolhesse a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular, nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilhando, em contrapartida, quaisquer proveitos que a S... ou os arguidos DD e JJ viessem a auferir, designadamente os valores recebidos dos compradores a título de comissões.  
443) Também em data não concretamente apurada, mas anterior a 2/11/99, a leiloeira “SO.....”, através de pessoa não determinada, acordou com o arguido QQ que, caso este escolhesse a “SO.....” para consigo colaborar na venda por negociação particular nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilharia, em contrapartida, quaisquer proveitos que a “SO.....” viesse a auferir, designadamente os valores recebidos dos compradores a título de comissões. 
                                                                              *
P... – Fábrica de Malhas, Lda. (Apenso XXIV)
444) Por decisão proferida em 30-03-2001, no Processo de Falência nº .../00 que correu termos no 3º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Barcelos, foi declarada falida a sociedade P... – Fábrica de Malhas, Lda.

445) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido QQe foi mantida a Comissão de Credores, já nomeada, constituída pelo Banco Totta e Açores – mais tarde substituído pela “DE.... – Investimentos Imobiliários e Turísticos, Lda” (por força de uma cessão de créditos) -, Centro Regional da Segurança Social, Banco Pinto e Sotto Mayor, Banco Comercial Português e Leasing Atlântico (como suplente).

446) O C.R.S.S. foi representado pelo arguido CCCC.
447) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido QQ, em 4/10/2001, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, o que obteve o acordo imediato da maioria dos membros da comissão de credores, vindo o arguido QQ a recorrer aos serviços da S...N...L... (S...), na sequência da sugestão por si efetuada, em 27/2/2002, e acolhida pela comissão de credores.
448) Os bens imóveis da massa falida foram adquiridos pela “DE....”, por 495.000.000$00 (€ 2.469.049,59), através de escritura pública outorgada em 14/10/2002.
449) Embora a S... tivesse facturado à DE...., em 21/5/2002, um montante de comissões de 98.761,98 €, mais IVA, o que corresponde a 4% do valor da venda – em conformidade com as condições de venda anunciadas –, a compradora pagou efetivamente à S... o montante de € 198.761,98, conforme havia sido previamente acordado e era do conhecimento, pelo menos, do arguido QQ.
450) Com efeito, para além do referido montante de 98.761,98, a DE.... entregou, por volta do dia 3/6/2002, a quantia de 50.000,00 €, em numerário, voltando a entregar igual montante, também em numerário, no dia 16/6/2002.
451) Recebido o referido valor de 100.000,00 €, os arguidos DD e JJ entregaram o montante de 24.940,00 € a pessoa cuja identidade não foi possível apurar, mas relacionada com o Centro Regional da Segurança Social de Braga, em 18-6-2002.
452) E em 19-6-2002, o arguido QQ recebeu dos arguidos DD e JJ a sua parte no negócio, concretamente o valor de € 59.267,16, pago em numerário e retirado do cofre da S..., como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência e ainda da sua anuência na venda do activo desta falida, nas condições acima descritas.
453) Na conta bancária n.º 00000000 s/ o BPN – Private Banking Porto, titulada por QQ, constata-se que na mesma consta uma entrada em numerário de € 60.000, em 19-06-02.
                                                                              *
Empresa de Confecções N.... das CC...., SA (Apenso XLVI)
454) Por decisão proferida em 15-6-2000, no Processo de Falência nº..../99 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de V N de Gaia, foi declarada falida a sociedade “Empresa de Confecções N.... das CC...., SA”, tendo sido nomeada liquidatária judicial da massa falida a Dra. FFFFFF.
455) A liquidatária veio entretanto requerer a sua substituição, em virtude do estipulado na alínea b) do art. 1° do DL 188/96 (acumulação de mais de 7 empresas) e a 12/07/2000, o juiz deferiu o requerimento citado e nomeou o arguido QQ para Liquidatário.
456) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido QQ, em data não apurada, mas anterior a 25/2/2001, escolheu como modalidade da venda a negociação particular (com recurso a leilão, para os imóveis, e através de propostas em carta fechada, para os bens móveis) e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
457) Os bens móveis foram adjudicados a “AS....– Máquinas Têxteis, Unipessoal, Lda.”, pelo valor de 76.500.000$00.
458) Esta sociedade veio a ceder a sua posição contratual, em 28/3/2001 ou em data próxima, a GGGGGG em representação da Panificadora Vi.... SA, a qual procedeu ao pagamento de comissão, a título de honorários, à S..., no montante de 7.650.000$00, através de cheque datado de 2/4/2001.
459) Um dos imóveis foi adjudicado a GGGGGG e vendido, em 30-10-2001, a HHHHHH, representante legal de “Metalúrgica AR.... – Sociedade de Máquinas Agrícolas, Lda.”, por 35.000.000$00, tendo o GGGGGG pago à S... o montante de 3.500.000$00, a título de comissão, através de cheque datado de 30/4/2001.
460) Contudo, para efeito de repartição com o liquidatário judicial da comissão recebida, apenas foi contabilizado pela arguida JJ, por motivo não apurado, o montante de 1.750.000$00.
461) Parte do património imobiliário foi, ainda, adquirido por um consórcio que integrava várias empresas, entre as quais a “DE......, SA”, pelo montante de 369.000.000$00, tendo esta pago o montante de 18.450.000$00, a título de comissão, através de cheque entregue à S... e datado de 1/5/2001.

462) No dia 27-04-2001, a título de repartição das comissões contabilizadas por referência à venda do património da «N.... das CC....» e como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda nesta falência, foi pago pelos arguidos DD e JJ, em numerário, ao arguido QQ, o montante global de 11.140.000$00 (55.566,09 €), valor que foi pago conjuntamente com a quantia de 4.625.000$00, referente à falência «C.....P....», num total de 15.765.000$00.

463) Na conta bancária n.º 00000000000s/ o BS, titulada pelos arguidos JJ. e DD, verificou-se um levantamento em numerário de 15.765.000$00, ocorrido em 27/04/01.

464) Em 27/04/01 foi efectuado um depósito em numerário de 7.000.000$00, na conta n.º 000000000 s/ o BPN, titulada pelo arguido QQ e na conta n.º 0000000 s/ o BCP, igualmente titulada pelo arguido QQ, constam dois depósitos de valores nos montantes de 5.000.000$00 e 5.089.080$00, ambos datados de 27/04/01.
                                                                              *
Indústria de C.....P...., Lda (XLIII)
465) Por decisão proferida em 11-3-2000, no Processo de Falência nº00/00 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N. de Gaia, foi declarada falida a sociedade Indústria de C.....P...., Lda, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido QQ.
466) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido QQ, em data não apurada, mas anterior a 13/11/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...).
467) Os bens móveis foram adjudicados a “GU - Sociedade Técnica da Exportação, SA” pelo valor de 13.000.000$00.

468) Adjudicada a venda dos bens imóveis, a S... cobrou à compradora desses bens, em 17/12/2001, uma comissão, a título de honorários, no montante de 17.500.000$00, conforme ficou, desde logo, acordado com a promitente compradora “CO.... – Empreendimentos Imobiliários, Lda”, no contrato-promessa de compra e venda outorgado pelo arguido QQ, em representação da massa falida.

469) Em 27/4/2001 ou em data anterior, já havia sido contabilizado pela arguida JJ o valor de 9.250.000$00, por referência a esta falência e com vista à sua repartição, na proporção de metade, com o arguido QQ.

470) Nesta conformidade, em 27/4/2001 foi paga ao arguido QQa quantia de 4.625.000$00, conjuntamente com os valores entregues a título de repartição de comissões, referentes à falência da “N.... das CC....”, num total de 15.765.000$00, através de numerário.
471) Para além dos honorários estabelecidos no referido contrato-promessa, a S... recebeu, ainda, da compradora dos bens imóveis, o montante de 10.000.000$00, pago em numerário.
472) A S... recebeu, ainda, a quantia de 2.750.000$00, através de cheque e em data não apurada, relativamente ao negócio dos bens móveis.

473) Estes montantes foram divididos igualmente pelos arguidos DD e JJ com o liquidatário QQ, na proporção de 50%, tendo-lhe sido entregue a quantia de 6.375.000$00.

474) Assim, por conta desta falida, o arguido QQ recebeu dos arguidos DD e JJ a quantia global de 11.000.000$00 (54.867,77 €), como contrapartida pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência.

475) Na conta bancária nº 0000000000 s/ o BPN – Private Banking Porto, titulada por QQ, foi efectuado um depósito em numerário de 4.000.000$00, em 20/07/01, e na conta bancária n.º 0000000 s/ o BCP, titulada por QQ, consta um depósito em numerário de 2.000.000$00, em 24/07/01.
                                                                              *
A....M...., Lda (Apenso XLVII)
476) Por decisão proferida em 1-7-1999, no Processo de Falência nº .../99 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia, foi declarada falida a sociedade A....M...., Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido QQ.
477) Para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, o arguido recorreu aos serviços da “S....& A....., Lda.”, escolhendo como modalidade da venda a negociação particular, mediante apresentação de propostas em carta fechada.
478) Os bens móveis foram adjudicados à empresa “Des......., Comércio de Têxteis, Lda e vendidos, em 10/01/2000, pelo montante de 3.115.200$00.
479) O imóvel foi adjudicado à empresa “B.....A....., Sociedade Mediação Imobiliária” e vendido, em 27/04/2000, por 60.935.000$00, ambas as empresas pertencem a IIIIII.
480) Foi, ainda este último o avaliador dos bens móveis e imóvel que o próprio veio a adquirir, embora em representação das suas empresas “B.....A.....” e “Des.......”.
481) O arguido QQ recebeu das compradoras dos bens cheques destinados à massa falida, os quais foram depositados nas suas contas.
482) A sociedade “B.....A.....-Soc. Med. Imobiliária, Lda.”, compradora do imóvel, emitiu um cheque no montante de 6.093.500$00, com o n.º 0000000 s/ a conta bancária 00000000 s/ o BTA, à ordem de “Dr. QQ”, com data de 17/11/99, que tinha como finalidade a liquidação da adjudicação de alguns bens por esta adquiridos.
483) Este cheque foi depositado na conta bancária n.º 000000 s/ o Banco Mello (BCP), titulada por QQ, em 22/11/99.
484) O cheque n.º 0000000 no montante de 6.093.500$00, emitido s/ a conta bancária n.º 0000000 s/ o Banco Mello (BCP), titulada por QQ, datado de 10/01/00, à ordem de “Falência A....M...., Lda.”.
485) Na conta bancária acima identificada de QQ, consta um depósito de valores no montante de 7.028.060$00, que inclui o cheque nº 0000000 sacado pela compradora B.....A....., com data-valor de 22/11/99, e o desconto, em 11/01/00, do cheque acima identificado no valor de 6.093.500$00, emitido por QQ.

486) Quanto aos bens móveis, que foram adjudicados, à empresa “Des......., Comércio de Têxteis, Lda.”, por 3.115.200$00, foi emitido um cheque por esta firma, no montante de 2.710.224$00, datado de 10/01/00, à ordem de “Dr. QQ”, que tinha como fim a liquidação da aquisição de bens móveis desta falida.

487) Este cheque foi depositado na conta bancária n.º00000000 s/ o Banco Mello (BCP), titulada por QQ, em 10/01/00.
488) Foi emitido um cheque com o n.º00000000, em 10/01/00, no montante de 3.115.200$00, s/ a conta bancária n.º 0000000000 s/ o Banco Mello (BCP), titulada por QQ, à ordem de “Falência A....M...., Lda.”.
489) Nas contas bancárias de QQ, verifica-se que na conta bancária acima identificada, consta o depósito de valores no montante de 2.710.224$00, com data valor de 11/01/00, e o desconto, em 11/01/00, do cheque acima identificado emitido por QQ, no valor de 3.115.200$00.
490) Foi depositada a quantia de 6.093.500$00, destinada à massa falida da “A....M...., Lda.”, na conta bancária n.º 0000000./ o Banco Mello (BCP), titulada por QQ, tendo nesta permanecido entre 22/11/99 e 11/01/00.
491) Se a quantia de 6.093.500$00 proveniente do produto da falida tivesse sido depositada numa conta à sua ordem e aplicada num depósito a prazo, produziria juros, calculados com base na tabela fornecida pelo Banco de Portugal, no montante de 23.239$00.
492) Foi depositado o valor de 2.710.224$00, na conta bancária n.º 00000000 s/ o Banco Mello (BCP), titulada por QQ, tendo desta saído no mesmo dia, 11/01/00, através de cheque no montante de 3.115.200$00.
493) Quanto à diferença de 404.976$00, correspondente a 13% do valor da venda (3.115.200$00 - 2.710.224$00), foi entregue, em data anterior não apurada, a QQ.
494) Em sede de prestação de contas, para além de requerer o pagamento de honorários, o arguido QQ apresentou para pagamento uma nota a título de “despesas por serviços prestados”, em nome da firma de que é sócio-gerente, “CON.... – Contabilidade, Fiscalidade e Gestão, Lda.”, no valor de 850.000$00 mais IVA, referente à “análise e verificação da contabilidade da falida”.
495) Tal quantia foi reduzida para 600.000$00 pelo magistrado competente, desconhecendo este a relação existente entre o arguido QQe a empresa CON.....
                                                                              *
GA...... – Componentes para a Indústria do Calçado, Lda. (Apenso LVIII)
496) Por decisão proferida em 4-2-2000, no Processo de Falência nº 000/99 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de V N de Gaia, foi declarada falida a sociedade GA...... – Componentes para a Indústria do Calçado, Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido QQ.
497) Pretendendo beneficiar da divisão de ganhos prometida pela “SO.....” e dando concretização ao previamente acordado com a mesma, o arguido QQ, em data não apurada, mas anterior a 19/4/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da “SO.....” – tendo sido previamente definidas as condições de venda -, o que obteve o acordo da comissão de credores.
498) Os bens móveis foram adjudicados à empresa “J.....T..... Limited”, com sede na R. da ....., ...... –..º, em Lisboa, em 8/5/2000, pelo montante de 34.000.000$00.
499) Posteriormente, vendeu os referidos bens a JJJJJJJ, representante da empresa T..M..., por 50.969.000$00 (+IVA), cobrando-lhe ainda comissão pela mediação na venda.
500) Assim, a J.....T..... Limited obteve com o negócio um lucro de cerca de 16.000.000$00.
501) O direito ao trespasse do estabelecimento industrial e comercial e ao arrendamento do prédio misto foi adjudicado à empresa “DE...... – Participações e Investimentos, SA”, pertencente ao pai do JJJJJJJ (T..M...) e vendido, em 21/12/2000, por 1.000.000$00, sendo certo que o direito ao trespasse e arrendamento estava avaliado em 35.000.000$00.
502) A proposta apresentada, datada de 10/6/2000, no valor de 1.000.000$00, foi feita mediante indicação de ZZZ.
503) Por conta da liquidação do activo desta falida, e ainda da respeitante ao processo da “S.....”, a «SO.....», por intermédio de pessoa não concretamente apurada, pagou ao arguido QQ, em 19/5/2000, os montantes de 1.700.000$00 e de 270.000$00 (no total de 1.970.000$00), como contrapartida pela escolha e subsequente intervenção da “S....& A....., Lda” como coadjuvante da venda no âmbito destes processos de falência.
504) Na conta bancária n.º 000000000000 s/ o BCP, titulada por QQ, foi efectuado um depósito em numerário no montante de 1.900.000$00, em 22/05/00.
505) Na prestação de contas do liquidatário, o arguido QQ apresentou despesas, das quais importa referir a dos honorários do advogado KKKKKK, de 2.365.740$00, dos serviços de apoio à venda dos bens móveis realizada pela “Ju........., Lda.”, de 2.257.234$00, empresa a que também está ligado o LLLLLL (sócio da SO.....).
506) E ainda apresentou despesas, a título de “prestação de serviços” da empresa “CON.... – Contabilidade, Fiscalidade e Gestão, Lda”, no montante de 585.000$00, da qual é sócio-gerente o arguido QQ.
507) As contas apresentadas pelo arguido QQ foram aprovadas parcialmente, por sentença, nos seguintes termos: honorários de advogado, a quantia de 900.000$00; despesas da Ju........., a quantia de 900.000$00; e as despesas apresentadas pela CON...., a quantia de 300.000$00.
                                                                              *
AA C.....F...., Lda (Apenso XVIII)
508) Por decisão proferida em 7-6-2001, no Processo de Falência nº 000/01 que correu termos no 3º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Guimarães, foi declarada falida a sociedade “AA C.....F...., Lda”, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido QQ e a Comissão de Credores, constituída pelo Banco Totta e Açores, a Sociedade Converter e o Centro Regional de Segurança Social.
509) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido QQ, em 26/6/2001, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, o que obteve o acordo da comissão de credores, vindo o arguido QQ a recorrer aos serviços da S...N...L... (S...).
510) Na fase de arrolamento dos bens, elaborado com base em parecer do engenheiro têxtil MMMMMM, os teares da empresa foram avaliados em 12.080.000$00.
511) Para efeitos de venda, o liquidatário deu relevância, apenas, a uma avaliação efetuada pelo funcionário da S..., NNNNNN, que avalia a totalidade dos móveis, incluindo as viaturas, em 3.400.000$00.
512) Com base nesta avaliação, que mereceu o acordo do representante da CRSS, OOOOOO, o liquidatário QQ deu parecer favorável a que a venda dos bens fosse feita a favor de GGGGGG, em representação da Panificadora Vi.... SA, por 10.000.000$00, argumentando que tal proposta correspondia ao triplo da avaliação.
513) Contudo, a polémica gerada, nomeadamente na imprensa local, levou a que os atos da venda até então realizados tivessem sido anulados, vindo a nova negociação a render para a massa falida o montante de € 227.000,00, preço pelo qual foram vendidos os bens.

514) Adjudicada a venda à sociedade “J......F....., Lda”, em 25/3/2002, a S... cobrou à compradora dos bens uma comissão, a título de honorários, no montante de 22.700,00 €, acrescida de IVA, no valor global de 26.559,00€.
515) Na conta bancária n.º000000000000 s/ o BS, titulada pela S... foi descontado um cheque, datado de 18/4/2002, com o número 00000000, no valor de 26.559,00€, no qual consta a anotação “PF. J... da .... C.....F.... 10% + IVA – S...”, quantia esta que foi entregue à S... pela firma “J......F.....”, compradora dos bens da falida.

516) Do montante de 22.700,00 € (valor da comissão cobrada, descontado o valor do IVA), a arguida JJ contabilizou, em 3/6/2002, a favor do arguido QQ, a percentagem de 40%, com vista ao pagamento, por ela e pelo arguido DD, ao arguido QQ, da quantia daí resultante (ou seja, 9.080.00€), como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência.
                                                                              *
S..... – Indústria de Calçado, Lda. (Apenso CVIII)
517) Por decisão proferida em 13-12-1999, no Processo de Falência nº 000/99 que correu termos no Tribunal Judicial da Comarca da Póvoa de Lanhoso, foi declarada falida a sociedade S....., Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido QQ.
518) Pretendendo beneficiar da divisão de ganhos prometida pela “SO.....” e dando concretização ao previamente acordado com a mesma, o arguido QQ, em data não apurada, mas anterior a 18/2/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da “SO.....” – tendo sido previamente definidas as condições de venda -, o que obteve o acordo da comissão de credores.
519) A abertura de propostas foi feita em 2000-03-02 e o valor total da venda dos bens móveis foi de 5.770.500$00, tendo sido adjudicados a duas entidades, a “IM......Sociedade de Móveis & Imóveis, Lda (que pagou a quantia de 5.203.500$00) e a AAAAAA.
520) O depósito do referido valor verificou-se em 2000-06-14, após o Juiz titular ter concordado com a última adjudicação em 2000-04-12.
521) A massa falida veio, ainda, a receber da “AL...., Imobiliária do Norte, Lda.” A quantia de 18.750.000$00 a título de indemnização, depositada em 2001-11-21, na sequência de transação efetuada nos Autos de Ação Ordinária n° 00/01, do Tribunal Judicia de Póvoa de Lanhoso, e que tinha o valor da ação de 55.575.000$00.

522) Adjudicada a venda, a SO..... cobrou à “IM......Sociedade de Móveis & Imóveis, Lda” uma comissão, a título de honorários, de 10% do valor da venda, tendo a compradora pago, por cheque datado de 10/5/2000, o montante de 1.435.287$00, que compreendia a comissão, sinal da compra e o IVA correspondente.
523) Do montante total da comissão recebida, a S....& A....., por meio de pessoa não concretamente apurada, entregou ao arguido QQ, em 19/5/2000, a quantia de 270.000$00, como contrapartida pela escolha e subsequente intervenção da “S....& A....., Lda” como coadjuvante da venda no âmbito desta falência.

524) Tal montante foi pago ao liquidatário QQ juntamente com a sua “percentagem” no caso “GA......”, conforme se descreve nessa falência.
525) Na prestação de contas do liquidatário, o arguido QQ apresentou uma despesa no valor de 1.755.000$00 (1.500.000$00 + 255.000$00 de IVA), a título de serviços prestados (“Análise da Contabilidade”) pela empresa “CON.... – Contabilidade, Fiscalidade e Gestão, Lda”, da qual é sócio-gerente.
526) Na sequência da aprovação das contas apresentadas, o referido montante de 1.755.000$00, configurado como despesa por serviços prestados pela “CON...., Lda”, veio a ser pago.
                                                                              *
527) A arguida PPPPPP encontra-se inscrita na lista de liquidatários e gestores judiciais do Tribunal da Relação do Porto desde 1996.

528) Em data não concretamente apurada, mas anterior a 9 de Outubro 2001, o arguido QQQQQQ, representante legal da “E.....L.....a”, acordou com a arguida PPPPPP que, caso esta escolhesse a “E.....L.....a” para consigo colaborar na venda por negociação particular nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercesse a função de liquidatária judicial, com ela partilharia, em contrapartida, quaisquer proveitos que a “E.....L.....a” viesse a auferir, designadamente os valores recebidos dos compradores a título de comissões.

                                                                              *

Co... - Componentes para Calçado, Lda (Apenso XXIII)
529) Por decisão proferida em 3-8-2001, no Processo de Falência nº 000/2001 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Lousada, foi declarada falida a sociedade Co...–Componentes para Calçado, Lda, tendo sido nomeada liquidatária judicial da massa falida a arguida PPPPPP.
530) Pretendendo beneficiar da divisão de ganhos prometida pelo arguido QQQQQQ, em representação da “E.....L.....a”, e dando concretização ao previamente acordado com a mesma, a arguida PPPPPP propôs à comissão de credores, em 9/10/2001, que a venda dos bens móveis da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvada por uma empresa da especialidade, o que obteve o acordo da comissão de credores, vindo a arguida PPPPPP a recorrer aos serviços da “E.....L.....a”.
531) Em 12-3-2002 foi realizada a venda dos bens à empresa “T..M... C I Imobiliários, Lda.”, pelo valor de 30.100.000$00
532) Adjudicada a venda, a “E.....L.....a” cobrou ao comprador dos bens vendidos, uma comissão a título de honorários, no montante de 3.000.000$00 (14 963,94 €)

533) Deste montante, o arguido QQQQQQ, em 20/3/2002, entregou uma parte à arguida PPPPPP, concretamente, o montante de 7.506,90 € (1.504.998$00), como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da “E.....L.....a” como coadjuvante da venda nesta falência.

534) Na conta bancária n.º 000000000 s/ o BTA, titulada por QQQQQQ e RRRRRR, constata-se que na mesma está relevado o pagamento de um cheque, em 20/03/02, no montante de 7.506,90€.

535) Na conta n.º 00000000000 s/ o BTA, titulada por SSSSSS e PPPPPP, consta um depósito em numerário, no montante de 7.506,90€, com data de 20/03/02.

536) Entre os bens que compunham a massa falida contava-se a viatura de matrícula 00-00-00, que a arguida PPPPPP avaliou, aquando da elaboração do auto de apreensão, em 3/4/2002, em € 1.496,39.

537) O arguido QQQQQQ resolveu pedir pela viatura, ao interessado na mesma, TTTTTT, o montante de 600.000$00.

538) Combinou então com o comprador que apresentaria proposta em seu nome.

539) A referida viatura foi vendida a TTTTTT, tendo sido depositado no processo de falência o montante global de 2.076,55, já incluído o IVA.

                                                                              *

540) O arguido GG que é economista de profissão, exerceu funções de liquidatário judicial a partir de 1991 e encontra-se inscrito na lista de liquidatários e gestores judiciais do Distrito Judicial do Porto, desde 1995.

541) Tem o seu domicílio profissional instalado no escritório sito no Edifício Via Norte, Rua ........., ... – C, sala .../ e 208, partilhado com os arguidos UUUUUU e VV.

542) Os três arguidos estabeleceram estreita colaboração entre todos, sendo que o GG e o VV, trabalhavam na mesma empresa (PAMESA) e constituíram uma conta bancária para depósito de valores entregues por DD e JJ.

543) Em data não concretamente apurada, mas anterior a 12/6/1996, o arguido DD, em execução do plano previamente gizado com a arguida JJ, descrito no ponto 13), propôs ao arguido GG que este escolhesse a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular, nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilhando, em contrapartida, quaisquer proveitos que a S... ou os arguidos DD e JJ viessem a auferir, designadamente os valores recebidos dos compradores a título de comissões.  

                                                                              *

Empresa F....L....., Lda (Apenso XIX)
544) A sociedade F....L..... foi declarada falida por sentença de 17/06/1999, proferida no Processo n.º 000/99 do 1º Juízo Cível do Tribunal de Guimarães, tendo sido nomeado liquidatário judicial o arguido GG.

545) Para a Comissão de Credores foram nomeados o Banco Mello, o CRSS do Norte e o Banco Espírito Santo.
546) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em data não apurada, mas anterior a 11/5/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular, o que obteve o acordo da comissão de credores e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...).
547) Embora o arguido AA não tivesse intervenção no processo, VVVVVV solicitou-lhe que falasse com o representante da S...N...L..., o arguido DD, empresa que estava encarregada da venda, para que o activo da falida fosse adquirido pelo seu amigo, o XXXXXX, sócio gerente da firma F----S...., Lda.

548) O arguido AA entrou em contato com o arguido DD, tendo este acedido a reunir com os mencionados XXXXXX e VVVVVV e aceitou fazer negócio com o XXXXXX.

549) O activo desta falida era composto por móveis e por um imóvel.

550) Foram apresentadas pelo menos três propostas para o imóvel, sendo as duas mais elevadas apresentadas por ZZZZZZ, no valor de 90.000.000$00, e por F----S...., Lda, no valor de 75.000.000$00, subscrita por XXXXXX, e a menos elevada, no valor de 65.000.000$00, apresentada por FFFF.

551) Dessas propostas foi dado conhecimento à comissão de credores, tendo também o sr. Juiz titular do processo delas tomado conhecimento.

552) Entretanto, o proponente ZZZZZZ desistiu do negócio e, na sequência de leilão realizado em 9/11/2000, foi aceite a proposta  apresentada por VI.....– Sociedade de Empreendimentos Imobiliários, Lda para a compra do imóvel, por 80.000.000$00, sendo em 24/11/2000 depositado na conta da massa falida 10% do preço de aquisição.

553) Posteriormente, por causa dos obstáculos colocados pela VI...., Lda à concretização da venda (que pretendia reduções do preço, o que não foi aceite por membro da comissão de credores), por despacho judicial proferido em 8/2/2002 foi determinada a devolução da quantia por ela depositada a título de princípio do pagamento do preço do imóvel e ordenada a realização de nova venda.

554) O Banco Espírito Santo (membro da comissão de credores) concordou com a sugestão da S... no sentido de ser realizado leilão, em que a base de licitação fosse de 75.000.000$00, valor da segunda melhor proposta, enquanto a Segurança Social pediu prazo para se pronunciar.

555) Foi então designado para o leilão o dia 11/3/2002, sendo colhida uma proposta de 234.435,01€ (inferior à base de licitação, que era de 374.098,42€), mas, entretanto, foi ainda apresentada proposta superior, no valor de 250.000,00 €, por XXXXXX.

556) Dado conhecimento aos membros da comissão de credores, o Banco Espírito Santo e a Segurança Social aceitaram a proposta de 250.000,00 €, tendo o Banco Comercial Português comunicado que não tomava posição sobre a venda do imóvel por aquele valor.

557) A escritura de compra e venda do imóvel veio a ser celebrada em 27-03-2002, em nome da empresa MA......– Mobiliária Unipessoal, Lda., da qual o arguido XXXXXX é gerente, tendo sido depositado à ordem da massa falida, em 21/3/2002, cheque no valor de 25.000,00 € (como princípio do pagamento do preço), sendo, posteriormente, em 28/3/2002, depositado o preço restante, ou seja, o valor de 225.000,00€, pago por cheque datado de 27/3/2002.

558) Na sequência do leilão realizado em 9/11/2000, foram ainda aceites as propostas apresentadas para a aquisição dos bens móveis e do veículo de mercadorias, por “AAAAAAA, EIRL”, nos valores de 3.220.000$00 e 350.000$00, respetivamente, que foram pagos e depositados pelo liquidatário judicial a favor da massa falida em 24/11/2000.

559) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou, em Novembro de 2000, à adjudicatária Vi........, Lda uma comissão no valor de 4.000.000$00, e ao adjudicatário “AAAAAAA EIRL” uma comissão no montante de 322.000$00, por conta da venda dos bens móveis, valores acrescidos de IVA.

560) Por conta da venda do veículo de mercadorias a “AAAAAAA EIRL” a S... cobrou uma comissão no valor de 35.000$00, acrescida de IVA.

561) Do montante global de 4.357.000$00, correspondente à soma das comissões efetivamente cobradas, atrás referidas, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido GG, como contrapartida da escolha e intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência, a quantia de 1.452.000$00.

562) Tal montante foi pago em 23-11-2000, através da entrega do cheque nº000000, sacado s/ conta nº 0000000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, que veio a ser descontado em 27-11-2000, e creditado o respetivo valor na conta nº 0000000 do BCP, titulada pelo arguido GG.
                                                                              *
Empresa Industrial das H..., Lda. (Apenso CXXXVIII)
563) Por decisão proferida em 18-09-1995, no Processo de Falência nº 000/95 que correu termos no 1º Juízo de Competência Especializada Cível do Tribunal da Comarca de Santo Tirso, foi declarada falida a sociedade Empresa Industria das H..., Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
564) Os bens móveis foram vendidos por negociação particular, com o acordo da comissão de credores, a EEEE, pelo valor de 13.100.000$00, sendo depositado o preço em 13/2/96.
565) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 12/6/1996, propôs à comissão de credores que a venda dos bens imóveis da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
566) Na sequência do leilão realizado em 9/7/1997, veio a ser aceite pela comissão de credores a proposta apresentada pela “Imobiliária FE....., Lda” para a aquisição do conjunto dos três prédios urbanos e um rústico, pelo valor global de 161.000.000$00.
567) A escritura de compra e venda dos três prédios urbanos foi celebrada a 30/10/2001, tendo sido comprados pela sociedade “IN.....– Investimentos Imobiliários de Guimarães, SA”, a qual pagou o preço de 151.000.000$00, após cessão da posição contratual da adjudicatária inicial, “Imobiliária FE....., Lda”.
568) O prédio rústico foi também vendido a 30/10/2001, pelo montante de 10.000.000$00, à empresa “SI.... –Comércio Internacional, SA, após cessão da posição contratual da adjudicatária inicial, “Imobiliária FE....., Lda”.
569) A S... cobrou à adjudicatária “Imobiliária FE....., Lda”, em 28/11/1997, uma comissão a título de honorários, no valor de 16.100.000$00, correspondente a 10% do valor global atrás mencionado (161.000.000$00), após celebração, nessa data, de contrato-promessa de compra e venda.
570) Desse montante, os arguidos DD e JJ entregaram uma percentagem ao arguido GG, concretamente a quantia de 4.830.000$00 (24.091,94 €), em 10-12-1997, em numerário, como contrapartida pela escolha da S... como coadjuvante da venda e subsequente intervenção da mesma no âmbito desta falência.
571) Na mesma data, o arguido GG depositou tal montante na sua conta nº 00000, sediada no BCP.
572) Na conta bancária n.º 00000000000000 s/ o BS, titulada por DD e JJ, verifica-se que o cheque n.º 00000 foi descontado (pago) em 10/12/97, pela quantia de 4.830.000$00.
573) Na conta bancária n.º 00000000000000 s/ o BCP, titulada por GG e outros, verifica-se que na mesma foi efectuado um depósito em numerário, no montante de 4.830.000$00, em 10/12/97.
574) No âmbito desta falência, a S... procedeu a um acerto de contas com o respetivo liquidatário, entregando-lhe, por motivo não apurado, em 20-12-2001, ainda a quantia de 334.000$00 (1.665,98 €) através do cheque nº 00000000000, sacado sobre a conta nº 0000000000 do Banco Santander, titulada por DD e JJ.
575) Na conta bancária acima mencionada, titulada pelos arguidos DD e JJ, verifica-se que o cheque referido foi compensado, pela quantia de 1.665,98€ (contravalor em euros de 334.000$00), em 09/01/02, o qual foi depositado na conta bancária n.º 00000 s/ o BCP, tendo como data de compensação 09/01/02.
                                                                              *
P.. Móveis, Lda. (Apenso LXXVI)
576) Por decisão proferida no Processo de Falência nº 000/97 que correu termos no 3º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Braga, foi declarada falida a sociedade P.. Móveis, Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
577) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 7/4/1999, propôs à comissão de credores que a venda dos bens imóveis da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
578) O bem imóvel, inicialmente adjudicado a “RI...– Sociedade de Construções, Lda”, foi vendido pela quantia de 11.000.0000$00, a Predial Bracarense, Lda, por escritura de 22-10-99.
579) Os bens móveis foram vendidos a “RI...– Sociedade de Construções, Lda.”, em 02-12-1999, pelo preço de 32.000$00.

580) A S... entregou ao arguido GG a quantia de 3.000.000$00, por motivo não apurado, mas relacionado com estes autos de falência.
581) Tal pagamento operou-se através de um depósito, datado de 29/10/1999, realizado na conta n°00000 do Banco Comercial Português, titulada por GG.

582) Na conta bancária n.º 00000000 s/ o BS, titulada por DD e JJ, constatou-se que o cheque n.º0000 foi compensado, em 02/11/99, pelo montante de 3.000.000$00.
                                                                              *
T...F...., Lda. (Apenso CXXXVI)
583) Por decisão proferida em 24-07-1994, no Processo de Falência nº 000/98 que correu termos no 3º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Guimarães, foi declarada falida a sociedade T...F...., Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
584) Todos os bens da massa falida foram comprados por GGG, da “Panificadora Vi.... SA”, pela quantia total de 1.720.000$00.
585) Com efeito, os bens constantes das verbas 1 a 11 do auto de apreensão foram adquiridos pelo valor global de 1.500.000$00, acrescido de IVA, preço este que veio a ser pago em 27/3/2000 e depositado à ordem da massa falida em 29/3/2000.
586) O veículo automóvel constante do aditamento ao auto de apreensão foi adquirido pelo valor de 220.000$00, preço este que veio a ser pago em 26/12/2000 ou em data anterior, mas próxima da mesma, e depositado à ordem da massa falida em 26/12/2000.
587) No presente caso, a S... não interveio como coadjuvante da venda na liquidação do activo desta falida, nem apresentou qualquer proposta tendente à aquisição dos bens que compunham o património da mesma.

588) Contudo, sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... na negociação, por qualquer forma, dos bens das falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG anuiu a que a S... interviesse na negociação de tais bens, à margem do processo de falência, consentindo ainda que, com isso, os arguidos DD e JJ recebessem do GGG, representante da “PanificadoraV.......”, a quantia de 1.000.000$00, por referência à compra dos bens das verbas 1 a 11, causando o correspondente prejuízo patrimonial à massa falida.

589) Tal quantia foi paga pelo GGGGGG em 30/3/2000 ou em data próxima, quantia esta que os arguidos DD e JJ depositaram, na referida data (30/3/2000), na conta nº0000000 do BS, por eles titulada.

590) Os arguidos DD e JJ vieram a repartir o descrito proveito por eles obtido com o arguido GG, entregando-lhe a quantia de 334.000$00 (equivalente a cerca de 1/3 de 1.000.000$000), como contrapartida da anuência do liquidatário judicial GG ao recebimento pelos primeiros do descrito proveito, à margem do processo de falência.

591) Tal pagamento processou-se em 17-5-2000, através do cheque nº 000000 da conta do Santander nº 00000000000, titulada por DD e JJ, cheque este que foi emitido à ordem do arguido GG, pelo valor de 8.334.000$00 (por incluir o pagamento ao mesmo da quantia de 8.000.000$00, no âmbito da falência de “M.....I....., Lda”).

592) Este cheque foi depositado na conta nº 000000 do BCP, titulada pelo GG em 18-5-2000 e foi compensado em 19/05/00.

                                                                              *

M...R... & Filhos, Artes Gráficas, Lda. (Apenso CIII)
593) Por decisão proferida em 9-1-2000, no Processo de Falência nº 00/99 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N. de Gaia, foi declarada falida a sociedade M...R... & Filhos, Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
594) Na fase de recuperação da empresa, foi nomeado como gestor judicial o arguido SS.
595) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em data não apurada, mas anterior a 14/5/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular, o que obteve o acordo da comissão de credores e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...).
596) No leilão realizado em 8/6/2000, os bens móveis e imóveis da massa falida foram adjudicados nos seguintes termos:
- o lote nº 1, composto por bens móveis (com excepção dos veículos automóveis Opel e Renault e de um empilhador), a SSSSS Imobiliária, Lda, pelo valor de 19.000.000$00;
- o lote nº 2, composto pelo veículo ligeiro de mercadorias de marca Opel, a BBBBBBB, pelo valor de 105.000$00;
- o lote nº 3, composto pelo veículo ligeiro de mercadorias de marca Renault, a CCCCCCC, pelo valor de 700.000$00;
- o lote nº 4, composto por um empilhador de marca Toyota, a Ma..... – Atlântico, Lda, pelo valor de 850.000$00;
- o lote nº 5, composto por dois imóveis (prédios urbanos), a SSSSS Imobiliária, Lda, pelo valor de 109.000.000$00.
597) Em Dezembro de 2000, os dois imóveis da massa falida foram adquiridos através de escritura de compra e venda por “BPI LEASING – Sociedade de Locação Financeira, S A”, pelo montante de 109.000.000$00, pese embora no leilão o proponente que arrematou estes bens tenha sido a empresa “SSSSS – Imobiliária”, Lda.

598) Adjudicada a venda, a S... cobrou, pelo menos, à proponente dos bens imóveis (lote nº 5) e dos bens móveis integrantes do lote nº 1, “SSSSS Imobiliária, Lda”, uma comissão a título de honorários no montante global de 12.800.000$00, paga através de cheque datado de 8/6/2000.

599) Para efeito de repartição com o liquidatário judicial das comissões devidas pelos adjudicatários atrás mencionados, a arguida JJ contabilizou o valor global de 12.965.500$00, correspondente a 10% do montante de 129.655.000$00, equivalente à soma dos valores de cada uma das propostas aceites e atrás mencionadas.

600) Este montante de 12.965.500$00 foi somado pela arguida JJ à quantia de 4.355.000$00 – correspondente à totalidade das comissões cobradas na falência da sociedade “LI.....-M......e Confecções, Lda” -, atingindo-se o valor global de 17.320.500$00, que a arguida JJ dividiu por três, com vista à repartição das aludidas comissões (cobradas e/ou contabilizadas) com o arguido GG na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 5.773.500$00.

601) Contudo, e como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência e ainda da relativa à sociedade “Li.....”, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG a quantia de 5.780.000$00, após arredondamento do montante exato atrás mencionado.

602) Tal pagamento operou-se em 20-6-2000, através de numerário, depositado nessa data na conta do arguido GG, com o nº 0000000 do BCP.
                                                                              *
Li..... – Malhas e Confecções, Lda. (Apenso CXLIX)
603) Por decisão proferida em 16-12-1999, no Processo de Falência nº .../99 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Marco de Canavezes, foi declarada falida a sociedadeL...., Lda, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
604) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em data não apurada, mas anterior a 8/5/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular, o que obteve o acordo da comissão de credores e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...).
605) No leilão, realizado em 2000-06-06, relativamente aos bens móveis, foi a proposta da “Panificadora Vi.... SA” a vencedora, com o valor de 2.550.000$00.
606) A proposta vencedora do bem imóvel foi de DDDDDDD, com o valor de 41.000.000$00.
607) A respetiva escritura realizou-se em 16 de Outubro de 2000.

608) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos, as seguintes comissões a título de honorários, no montante global de 4.355.000$00: ao comprador do bem imóvel, comissão no montante de 4.100.000$00, paga através de cheque datado de 6/6/2000; à compradora dos bens móveis, comissão no montante de 255.000$00, recebido em 9/6/2000.

609) O cheque recebido para pagamento do sinal e da comissão relativos ao bem imóvel foi depositado na conta particular do arguido DD nº 0000000000000

do Santander, e a parte respeitante ao sinal não foi de imediato creditado na conta da massa falida.

610) Este montante de 4.355.000$00 foi somado pela arguida JJ à quantia de 12.965.500$00 – correspondente à totalidade das comissões contabilizadas na falência da sociedade “M...R... & Filhos, Artes Gráficas, Lda” -, atingindo-se o valor global de 17.320.500$00, que a arguida JJ dividiu por três, com vista à repartição das aludidas comissões com o arguido GG na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 5.773.500$00.

611) Contudo, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG a quantia de 5.780.000$00, após arredondamento do montante exato atrás mencionado e como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência e ainda da relativa à sociedade “R.....F....., Artes Gráficas, Lda”.

612) Tal pagamento operou-se em 20-6-2000, através de numerário, depositado nessa data na conta do arguido GG com o nº 0000000 do BCP.

613) Para além da comissão paga à S... pelos compradores, o liquidatário judicial apresentou despesas à massa falida, uma nota de honorários respeitante à realização de registos, no montante de 100.000$00, em nome da arguida JJ, mencionando a sua residência na Av. ......., no Porto.
                                                                              *
Ru..... – Indústria de Langerie e Confecções, Lda. (Apenso CI)
614) Por decisão proferida em 7-6-1999, no Processo de Falência nº 00/99 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N. de Gaia, foi declarada falida a sociedade “Ru....., Lda”, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
615) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 11/11/1999, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
616) Os bens móveis foram vendidos à “PanificadoraV.......” pelo valor de 1.300.000$00.
617) No leilão realizado em 27/1/2000, a melhor proposta colhida para a venda do imóvel da massa falida foi apresentada por EEEEEEE, pelo montante de 65.000.000$00, o qual efetuou   , na mesma data, o pagamento da comissão à S..., no valor de 6.500.000$00.
618) O imóvel veio a ser adquirido pela sociedade “EEEEEEE – Comércio por Grosso de Electrodomésticos, Lda”, da qual o identificado proponente era representante legal.
619) O valor recebido a título de comissão foi dividido por três pelo arguido DD, com vista à repartição do mesmo com o arguido GG, na proporção de 1/3, a que corresponderia o montante exato de 2.166.666$67. Contudo, o arguido DD procedeu ao arredondamento deste montante para a quantia de 2.167.000$00, ao qual subtraiu a importância de 1.116.161$00, relativa a despesas inerentes à liquidação do activo desta falida.

 620) Assim, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG a quantia de 1.050.839$00, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência.

 621) Tal pagamento operou-se em 19-2-2000, através do cheque nº 00000000000, da conta nº00000000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, cheque este que foi depositado na conta do arguido GG e outros com o nº 00000000, do BCP, em 21-02-00 e compensado em 22-02-00, pela quantia de 1.050.839$00.

622) Já em 16-11-99, os arguidos DD e JJ haviam pago ao arguido GG para “acerto de contas” de quantias «devidas» em várias falências, incluindo a da «Ru.....», o montante de 2.648.000$00, sendo certo que relativamente a esta falida a quantia paga atingiu o montante de 1.233.000$00.

623) Tal montante foi pago através do cheque nº 000000, sacado s/ conta nº0000000do Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, cheque que veio a ser depositado na conta n.º0000, s/ o BCP, titulada pelo arguido GG e outros, em 17/11/1999.
                                                                              *
A...T.... – Indústria Têxtil, Lda. (Apenso CIV)
624) Por decisão proferida em 2-6-1999, no Processo de Falência nº 00/99 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal de Comércio de V N de Gaia, foi declarada falida a sociedade A...T...., Lda, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
625) O arguido GG propôs à comissão de credores, em 25/6/99, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, o que veio a obter o acordo do referido órgão.
626) Em 30/07/1999, todos os bens móveis da massa falida foram adquiridos por Fábrica de Colchas S. D...D ...F..., Lda., pelo montante de 17.094.017$00+IVA.

627) Por motivo não concretamente apurado, o arguido DD contabilizou o valor de 23.000.000$00, montante esse que dividiu por três, com vista à repartição com o arguido GG, na proporção de 1/3, tendo-se obtido o resultado de 7.666.666$00.

628) O arguido DD contabilizou, ainda, por referência a esta falência, a quantia de 7.000.000$00 a título de “despesas”, quantia esta que subtraiu ao referido montante de 7.666.666$00, obtendo o resultado de 666.666$00, valor este que foi efetivamente pago ao arguido GG pelos arguidos DD e JJ.

629) Tal pagamento operou-se em 16-11-99, e foi englobado na quantia supra citada de 2.648.000$00 juntamente com o acerto de contas que englobou várias falências, através do desconto do cheque nº 00000000, sacado s/ conta nº 0000000000 do Santander, titulada por DD e JJ, conforme o exposto no caso “Ru.....”.

                                                                              *

Sociedade de Construções G....M..., SA (Apenso XLIX – Anexos A) a D))
630) Por decisão proferida em 6-6-2000, no Processo de Falência nº 000/99 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N. de Gaia, foi declarada falida a Sociedade de Construções G....M..., SA, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
631) Em 24-1-2000, o arguido GG fora nomeado como perito com vista à “emissão de um parecer técnico sobre a verosimilhança da situação económica financeira alegada, concluindo sobre a viabilidade ou não da empresa e em que termos”.
632) No parecer emitido, o arguido veio a concluir pela não viabilidade da requerida Sociedade de Construções G....M..., SA.
633) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 1/3/2001, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
634) FFFFFFF outorgou um contrato promessa relativo a um imóvel da falida, pelo qual se propôs pagar 13.250.000$00.
635) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou a proponentes e/ou compradores dos bens, entretanto vendidos, comissões a título de honorários, correspondentes a cerca de 10% do valor das vendas.

636) Assim, GGGGGGG (após cessão de posição contratual de HHHHHHH) pagou uma comissão no valor de 219.900$00, acrescida de IVA; IIIIIII pagou uma comissão no valor de 210.000$00, acrescida de IVA; JJJJJJJ pagou uma comissão no valor de 285.400$00, acrescida de IVA;KKKKKKK pagou uma comissão no montante de 229.800$00, acrescida de IVA; LLLLLLL pagou uma comissão no montante de 549.000$00, acrescida de IVA; “Ma......., Lda” pagou uma comissão no valor de 9.020.800$00, acrescida de IVA (acabando por ser outorgada escritura pública de compra e venda pela sociedade In....., após cessão de posição contratual daquela); MMMMMMM pagou uma comissão de 122.000$00, acrescida de IVA; NNNNNNN pagou uma comissão no valor de 200.900$00, acrescida de IVA; OOOOOOO pagou uma comissão de 12.000$00, acrescida de IVA; PPPPPPP pagou uma comissão de 5.000$00, acrescida de IVA; QQQQQQQ pagou uma comissão de 410.100$00, acrescida de IVA; “Im...., Lda” pagou uma comissão de 20.500$00, acrescida de IVA.

637) Para efeito de repartição de comissões no âmbito desta falência com o arguido GG, o arguido DD contabilizou o valor global de 11.465.400$00.

638) A este valor o arguido DD somou os montantes de 6.000.000$00, 750.000$00 e 10.000.000$00 – correspondentes aos valores globais das comissões cobradas nas falências “G...G....”, “MM e mulher” e “A.....C.....” -, e ainda o montante de 120.000$00, contabilizado a título de “mais valia” auferida, respeitante à falência de “Construções Â...V...., atingindo-se o valor global de 28.335.400$00, que o arguido DD dividiu por três, com vista à sua repartição com o arguido GG, na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 9.445.133$33.

639) Contudo, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG a quantia de 9.446.000$00, após arredondamento do montante exato atrás mencionado.

640) Tal entrega visou, no que concerne a esta falência e às falências de “G...G....”, MM e mulher e “A.....C.....”, pagar a contrapartida “devida” ao arguido GG pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos, e ainda, no que concerne à falência de “Construções Â...V...., pagar a contrapartida pela anuência do arguido GG ao recebimento pelos arguidos DD e JJ de um proveito à margem do processo de falência, como adiante melhor se descreverá.

641) O referido pagamento operou-se em 20-12-2001, através do desconto do cheque nº000000, sacado s/ conta nº 0000000000, sediada no Santander e titulada pelos arguidos DD e JJ.

642) O montante supra referido foi depositado na conta do arguido GG com o nº 000000 do BCP, em 21-12-2001.
                                                                              *
G......G...., Lda (Apenso CLXXXIII)
643) Por decisão proferida em 22-12-1998, no Processo de Falência nº ..../97 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Vale de Cambra, foi declarada falida a sociedade G......G...., Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
644) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em data não apurada, mas anterior a 17/3/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular, o que obteve o acordo da comissão de credores e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...).
645) O primeiro leilão realizou-se em 2000-04-07, tendo sido a proposta da “Eu....... – Tratamento de Lixos e Obras Públicas, Lda”, no valor de 100.000.000$00 (25.000.000$00 foram atribuídos ao bem imóvel, 73.000.000$00 às benfeitorias e 2.000.000$00 aos bens móveis), a de valor mais elevado.
646) Não veio a ser realizada a compra e venda, devido a problemas de titularidade do imóvel.
647) Realizou-se um segundo leilão, em 2-10-2001, tendo sido a maior proposta apresentada para a totalidade dos bens a de FFF, no valor global de 60.000.000$00.
648) Este segundo leilão realizou-se, após compra, pela massa falida, e pelo preço de 15.000.000$00, do terreno onde estava implantada a sede da falida, tendo este montante sido adiantado pelo comprador do imóvel.
649) Para além disso, o FFF pagou à S... uma comissão no montante global de 6.000.000$00, em 16-10-2001, englobando uma comissão de 5.847.900$00 relativa à venda dos imóveis e outra de 152.100$00 relativa à venda dos bens móveis.

650) A este valor o arguido DD somou os montantes de 11.465.400$00, 750.000$00 e 10.000.000$00 – correspondentes aos valores globais das comissões (efetivamente cobradas e/ou contabilizadas) nas falências “Construções G....M...”, “MM e mulher” e “A.....C.....” -, e ainda o montante de 120.000$00, contabilizado a título de “mais valia” auferida, respeitante à falência de “Construções Â...V...., atingindo-se o valor global de 28.335.400$00, que o arguido DD dividiu por três, com vista à sua repartição com o arguido GG, na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 9.445.133$33.

651) Contudo, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG a quantia de 9.446.000$00, após arredondamento do montante exato atrás mencionado.
652) Tal entrega visou, no que concerne a esta falência e ainda às falências de “Construções G....M...”, MM e mulher e “A.....C.....”, pagar a contrapartida “devida” ao arguido GG pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos, e ainda, no que concerne à falência de “Construções Â...V...., pagar a contrapartida pela anuência do arguido GG ao recebimento pelos arguidos DD e JJ de um proveito à margem do processo de falência, como adiante melhor se descreverá.
653) Tal pagamento operou-se em 20-12-2001, através do desconto do cheque nº 00000000, sacado s/ conta nº 000000000, sediada no Santander e titulada pelos arguidos DD e JJ.
654) O montante supra referido foi depositado na conta do arguido GG com o nº0000000 do BCP, em 21-12-2001.

655) Em sede de prestação de contas, o liquidatário apresentou uma nota de despesas em nome da arguida JJ, no valor de 280.000$00, relativa ao registo da apreensão dos bens a favor da massa falida.
                                                                              *
A.....C....., Lda (Apenso CXCV)
656) Por decisão proferida em 26-7-2001, no Processo de Falência nº 000/00 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Bragança, foi declarada falida a sociedade A.....C....., Lda, foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
657) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 30/10/2001, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, com recurso a leilão, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
658) O imóvel e parte dos móveis da falida foram adjudicados a Distribui Bragança, Lda pelos valores de 99.615.000$00 e de 385.000$00 (sem IVA), respetivamente, acabando o imóvel por vir a ser adquirido, através de escritura pública outorgada por BCP Leasing, pelo preço da adjudicação.

659) Adjudicada a venda, a S... cobrou à adjudicatária dos aludidos bens, Distribui Bragança, Lda, em 13-12-2001, uma comissão a título de honorários no montante global de 10.000.000$00, correspondente a 10% dos valores de adjudicação acima referidos.

660) A este valor o arguido DD somou os montantes de 11.465.400$00, 750.000$00 e 6.000.000$00 – correspondentes aos valores globais das comissões (efetivamente cobradas e/ou contabilizadas) nas falências “Construções G....M...”, “MM e mulher” e “G......G....” -, e ainda o montante de 120.000$00, contabilizado a título de “mais valia” auferida, respeitante à falência de “Construções Â...V...., atingindo-se o valor global de 28.335.400$00, que o arguido DD dividiu por três, com vista à sua repartição com o arguido GG, na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 9.445.133$33.

661) Contudo, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG a quantia de 9.446.000$00, após arredondamento do montante exato atrás mencionado.
662) Tal entrega visou, no que concerne a esta falência e ainda às falências de “Construções G....M...”, “G...G....” e MM e mulher, pagar a contrapartida “devida” ao arguido GG pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos, e ainda, no que concerne à falência de “Construções Â...V...., pagar a contrapartida pela anuência do arguido GG ao recebimento pelos arguidos DD e JJ de um proveito à margem do processo de falência, como adiante melhor se descreverá.
663) Tal pagamento operou-se em 20-12-2001, através do desconto do cheque nº 000000 sacado s/ conta nº 00000000, sediada no Santander e titulada pelos arguidos DD e JJ.

664) O montante supra referido foi depositado na conta do arguido GG com o nº000000 do BCP, em 21-12-2001.
665) Em sede de prestação de contas, o liquidatário apresentou uma nota de honorários à massa falida, de despesas com a realização de registos, no montante de 60.000$00, em nome da arguida JJ mencionando a sua residência na Av. ....., Porto.
                                                                              *
ConstruçõesA...M...., Lda. (Apenso LXXVII)
666) Por decisão proferida em 8-5-2001, no Processo de Falência nº .../00 que correu termos no 4º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Braga, foi declarada falida a sociedade ConstruçõesA...M...., Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
667) O arguido GG propôs à comissão de credores, em 5/6/2001, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, o que veio a obter o acordo daquele órgão.
668) A venda do património da falida, constituído exclusivamente por bens móveis, foi realizada através da modalidade de negociação particular, tendo estes sido adjudicados a RRRRRRR, funcionário da S..., vindo a ser vendidos, em 02/08/2001, pelo montante de 783.900$00 (670.000$00+IVA) e em circunstancialismo não concretamente apurado, à sociedade “Pl.... – Construção Civil, SA”.

669) No presente caso, a S... não interveio como coadjuvante da venda na liquidação do activo desta falida, nem apresentou qualquer proposta tendente à aquisição dos bens que compunham o património da mesma.

670) Contudo, sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... na negociação, por qualquer forma, dos bens das falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG anuiu a que a S... interviesse na negociação de tais bens, à margem do processo de falência, consentindo ainda que, com isso, os arguidos DD e JJ recebessem, de pessoa cuja identidade não foi possível apurar, a quantia de 130.000$00, por referência à compra dos aludidos bens.
671) Tal quantia foi paga em 1/8/2001 ou em data próxima, quantia esta que foi depositada, na referida data (1/8/2001), na conta nº 00000 do BS, por eles titulada.
672) Com vista à repartição com o arguido GG da descrita mais valia, o arguido DD apenas contabilizou, por motivo não apurado, o montante de 120.000$00. 
673) A este valor o arguido DD somou os montantes de 11.465.400$00, 750.000$00, 10.000.000$00 e 6.000.000$00 – correspondentes aos valores globais das comissões (efetivamente cobradas e/ou contabilizadas) nas falências “Construções G....M...”, “MM e mulher”, “A.....C.....” e “G......G....” -, atingindo-se o valor global de 28.335.400$00, que o arguido DD dividiu por três, com vista à sua repartição com o arguido GG, na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 9.445.133$33.
674) Contudo, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG a quantia de 9.446.000$00, após arredondamento do montante exato atrás mencionado.
675) Tal entrega visou, no que concerne a esta falência, pagar a contrapartida pela anuência do arguido GG ao recebimento pelos arguidos DD e JJ do descrito proveito à margem do processo de falência, e relativamente às falências de “Construções G....M...”, “G...G....” e MM e mulher, pagar a contrapartida “devida” pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.
676) Tal pagamento operou-se em 20-12-2001, através do desconto do cheque nº 0000000, sacado s/ conta nº 000000000, sediada no Santander e titulada pelos arguidos DD e JJ.
677) O montante supra referido foi depositado na conta do arguido GG com o nº 0000000 do BCP, em 21-12-2001.
                                                                              *
S........ – Sociedade de Construções, Lda.
678) Por decisão proferida em 3-4-97, no Processo de Falência nº ---/96 que correu termos no Tribunal Judicial da Comarca de Esposende, foi declarada falida a sociedade S........, Sociedade de Construções, Lda., tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
679) [alterado pelo acórdão recorrido; Cfr. 985/986 desse acórdão] O arguido GG, em 19/1/2001, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, com recurso a leilão, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da maioria dos membros da comissão de credores. [Redacção anterior: «Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 19/1/2001, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, com recurso a leilão, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da maioria dos membros da comissão de credores».
680) O imóvel da falida foi adjudicado a “Urbanizações e Construções Ja......, Lda”, por 17.500.000$00.
681) Adjudicada a venda, a S... cobrou à compradora do bem vendido, em 14-3-2001, uma comissão a título de honorários no montante de 1.750.000$00, correspondente a 10% do valor da venda.

682) [eliminado como facto provado pelo acórdão recorrido; transtiou para os factos não provados – cfr suas fls. 985/986].

683) [alterado pelo acórdão recorrido – cfr suas fls. 985/986] Por motivos não apurados, foi efetivamente entregue ao arguido GG pelos arguidos DD e JJ o valor de 488.000$00. [Redacção anterior: «Ao resultado de tal operação aritmética – 1.155.000$00 – foi subtraído o montante de 667.000$00, obtendo-se o valor de 488.000$00, que foi efetivamente pago ao arguido GG pelos arguidos DD e JJ».

684) [eliminado como facto provado pelo acórdão recorrido; transtiou para os factos não provados – cfr suas fls. 985/986].

685) Tal pagamento operou-se em 14/3/2001, através do cheque nº 0000000, sacado s/ conta nº 00000000 do Santander, titulada por DD e JJ, cheque este que foi compensado em 16/03/01, pelo montante de 488.000$00.

686) Na conta bancária n.º 0000000 s/ o BCP, titulada por GG e outros, foi efectuado um depósito no montante de 688.000$00, datado de 15/03/01, do qual faz parte um cheque, no montante de 488.000$00, sacado s/ a conta bancária n.º 000000000 s/ o BS, titulada por JJ e DD.

                                                                              *
JJJ e mulher (Apenso CLV)
687) Por decisão proferida em 18-10-1999, no Processo de Falência nº 000/99, que correu termos no 3º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Penafiel, foram declarados falidos JJJ e mulher, M... F..... ..........
688) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
689) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 4/4/2000, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
690) Os bens imóveis foram vendidos: um, a SSSSSSS, filho dos falidos, pelo preço de 7.000.000$00, através de escritura pública de compra e venda outorgada em 8/11/2001; outro, a TTTTTTT, filha dos falidos, pelo preço de 5.000.000$00, através de escritura pública de compra e venda outorgada em 8/11/2001; e outro a QQQQQQ, pelo preço de 6.000.000$00, através de escritura pública de compra e venda celebrada em 20-06-2001, conforme consta das respetivas escrituras de compra e venda.
691) Nas negociações prévias à concretização do negócio, o mandatário de UUUUUUU transmitiu-lhe que a S... exigia, para a efetivação do mesmo, o pagamento da quantia suplementar de 2.500.000$00, ao que ela acedeu.
692) Para esse efeito, para além de um cheque no valor de 500.000$00, datado de 29/6/2001 e emitido à ordem da S..., destinado a sinalizar o negócio, TTTTTTT entregou ao advogado Dr.VVVVVVV um cheque ao portador, no montante de 2.500.000$00, em 29/6/2001, no pressuposto de que tal quantia se destinava integralmente à S....
693) Contudo, este cheque foi depositado na conta pessoal do advogado Dr. VVVVVVV, o qual veio, posteriormente, a entregar ao arguido DD o montante de 2.000.000$00, através de cheque datado de 11/7/2001, emitido a favor do mesmo.
694) Na data da escritura, em 8/11/2001, TTTTTTT pagou o remanescente do preço estipulado na mesma, emitindo um cheque à ordem da massa falida no valor de 4.500.000$00.
695) O valor de 2.000.000$00, atrás mencionado, recebido no âmbito deste negócio foi somado pelo arguido DD ao montante de 725.000$00 – correspondente à soma das comissões cobradas pela venda de um empilhador e mais bens móveis na falência da sociedade “CJ C...., SA” -, atingindo-se o valor global de 2.725.000$00, que o arguido DD dividiu por três, com vista à repartição com o arguido GG na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 908.333$33.
696) Contudo, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG, em 20/7/2001, a quantia de 908.333$00 (após arredondamento do valor acima mencionado), em numerário, como contrapartida pela escolha e intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência e ainda na da sociedade “CJ C...., SA”.
697) Na conta bancária n.º 000000 s/ o BCP, titulada por GG e outros, em 23/7/2001 foi efectuado um depósito de numerário/valores no montante de 1.145.265$00, sendo o valor em numerário de 900.000$00.

698) Adjudicadas as vendas, a S... ainda cobrou aos compradores QQQQQQ Lourenço e SSSSSSS comissões a título de honorários no montante global de 1.000.000$00, tendo o adquirente XXXXXXX pago, em 21/2/2001, a quantia de 450.000$00 e o adquirente SSSSSSS, em 2/2/2001, a quantia de 550.000$00.

699), 700) e 701) [eliminados como factos provados pelo acórdão recorrido; passaram a constituir os nºs 227, 228 e 229 dos factos não provados – cfr suas fls. 988].
702) O liquidatário GG requereu que fosse paga à arguida JJ o montante de 242.500$00, a título de honorários pela realização de registos, tarefa esta normalmente incluída nos serviços a prestar pela encarregada da venda.
                                                                              *
M.....I....., Lda. (Confecções E....) (Apenso CXLVII)
703) Por decisão proferida em 16-09-1994, no Processo de Falência nº ---/94 que correu termos no 3º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Santo Tirso, foi declarada falida a sociedade M.....I....., Lda., que utilizava a designação comercial «Confecções E....», tendo sido nomeado administrador da massa falida o arguido GG.

704) Contudo, esta decisão foi objeto de recurso, o qual foi julgado procedente, determinando a revogação da anterior decisão e consequente anulação do processado, pelo que ocorreu nova decisão, em 26/2/98, esta transitada em julgado, que declarou falida a sociedade atrás indicada, tendo sido novamente administrador da massa falida o arguido GG. 

705) Elaborado o auto de apreensão de bens (em 17/3/1998), o administrador da massa falida (arguido GG) requereu ao síndico da falência, em 6/10/1998, avaliação dos bens imóveis e comunicou-lhe que obteve uma proposta para a compra dos móveis, no valor de 5.300.000$00 (acrescida de IVA), parecendo-lhe improvável a obtenção de melhor proposta, requerendo a venda nestas condições.

706) Em 20/10/1998 o síndico da falência declarou nada ter a opor à avaliação dos bens imóveis e deferiu à venda dos bens móveis, nos termos requeridos pelo administrador da massa falida.

707) Em 19/11/1998, o administrador da massa falida (arguido GG) comunicou ao síndico da falência que procedeu à venda dos bens móveis à sociedade “G...B... Lda.”, autora da melhor proposta apresentada, pelo valor de 5.300.000$00, acrescido de IVA, no valor total de 6.201.000$00, que emitiu a factura e o recibo e que depositou o valor da venda (5.300.000$00) na conta bancária da massa falida.

708) Em 24/11/1998, o arguido GG comunicou ao síndico da falência o resultado da avaliação dos bens imóveis, da qual resultou o valor global de 211.480.830$00.

709) Em 15/12/1998, o síndico da falência, após referir ter contactado com o administrador da massa falida (arguido GG), decidiu que se procedesse à venda da globalidade do património imobiliário da falida [dois imóveis, integrantes das verbas nºs 52 e 53 – instalações fabris, com edifício e logradouro, e terreno, com artigos matriciais diferentes (414 urbano e 855 rústico) e descrições registais também diferentes] nos seguintes termos:

1) Modalidade: Proposta em carta fechada, dirigida ao Síndico da Falência;

2) Data e local de abertura das propostas: 27/01/99, pelas 10 horas, no Tribunal de Santo Tirso;

3) Entrega das propostas: aceites as propostas apresentadas até às 17 horas do dia 26/01/99;

4) Conteúdo das propostas: identificação do proponente, com respetiva assinatura, e valor proposto (único e a abranger as duas verbas);

5) Valor dos bens: valor mínimo global de 210.000.000$00;

6) Deliberação sobre as propostas: será vencedora a proposta de maior valor, com licitação entre proponentes caso haja mais de uma proposta de maior valor; o proponente da maior proposta tem de estar presente no ato de abertura das propostas, por si ou por mandatário com poderes especiais para o ato, sob pena de exclusão;

7) Pagamento do preço: pagamento imediato de 10% do valor da adjudicação; restantes 90% pagos no prazo de 15 dias, nas condições a indicar no ato de abertura das propostas;

710) A entrega do título de adjudicação ocorre após estar comprovado o pagamento de Imposto Municipal de Sisa.

711) Em 27/01/1999, no ato de abertura de propostas, sob a presidência do síndico da falência, foi requerida a suspensão do ato de venda, por Dr. FFFF, na qualidade de gestor de negócios de um potencial comprador, dada a divergência entre o teor do anúncio e a realidade.

712) Responderam os representantes dos proponentes C....., S.A. e Vi........, Lda., únicas entidades que apresentaram propostas, pugnando pelo prosseguimento do ato de abertura de propostas.

713) O representante dos trabalhadores invocou a nulidade dos anúncios e requereu a suspensão do ato de abertura de propostas.

714) O administrador da falência não tomou posição expressa quanto à suspensão ou continuação do ato.

715) O mandatário da falida requereu a suspensão da venda.

716) Por fim, o síndico da falência decidiu suspender o ato de abertura das propostas, a fim de serem supridas as irregularidades da publicidade da venda, determinando ainda que o processo lhe fosse concluso e que se mantinham válidas as duas propostas já apresentadas, as quais ficaram na sua posse.

717) Entretanto, porque surgiu um problema com o registo do direito de propriedade da massa falida relativamente a um dos imóveis a vender, as diligências de venda dos bens imóveis só foram retomadas em Setembro de 1999.

718) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 23/9/1999, requereu ao síndico da falência que a venda dos bens imóveis fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), e ainda que se recorresse ao anterior avaliador de tais bens, a fim de este confirmar ou rectificar o valor dos bens.

719) Em 27/09/99, o síndico da falência declarou no processo nada ter a opor às diligências propostas pelo administrador da massa falida (arguido GG).

720) Em 12/10/99, o arguido GG comunicou ao síndico da falência o resultado da reavaliação dos bens imóveis da falida, tendo sido fixado o valor global de 205.919.330$00 (Outubro de 1999).

721) Em 24/11/99, o síndico da falência decidiu que se procedesse à venda da globalidade do património imobiliário da falida nos seguintes termos:

1) Modalidade: Negociação particular;

2) Encarregado da venda: S...N...L... (S...);

3) Preço Base: 148.036.581$00 (211.480.830$00 x 70%);

4) Pagamento do preço: Pagamento imediato de 10% do valor da adjudicação, sendo os restantes 90% pagos no prazo de 15 dias;

5) Título de adjudicação: entregue após estar comprovado o pagamento do Imposto Municipal de Sisa, no prazo de 30 dias;

6) Apresentação dos bens: O Administrador facultará o acesso aos bens na forma a acordar com o encarregado da venda.

722) A S...N...L... (S...), na qualidade de coadjuvante na venda por negociação particular dos bens imóveis da falida, fez publicar anúncios, em Janeiro de 2000, nos quais constava que aceitava propostas até 08/02/2000.

723) Em 14/02/2000, a S... enviou ao síndico da falência um dossier com as diligências praticadas no âmbito da venda por negociação particular dos bens imóveis da falida, no qual consta uma relação das vinte e sete propostas recebidas, destacando-se as seguintes:

- Fa...., Lda.:------------------------------------- 250.000.000$00 (1º lugar);

- F....S....A....., Lda.:------ 240.000.000$00 (2º lugar);

- 2 SS – Investimentos Imobiliários, Lda.:---- 201.000.000$00 (9º lugar).

724) Na mesma data, o administrador da massa falida (arguido GG) sugeriu ao síndico da falência que se fizesse a adjudicação da venda em questão ao autor da melhor proposta.

725) Em 15/02/2000, o síndico da falência decidiu que se adjudicasse a venda à melhor proposta apresentada, sendo, por isso, os bens adjudicados à sociedade Fa...., Lda, pelo valor de 250.000.000$00.

726) No entanto, foi o arguido DD que, em 29-2-2000 e em 13-3-2000, sinalizou e completou o pagamento do preço dos imóveis, entregando, para tanto, ao administrador da massa falida (arguido GG), dois cheques sacados sobre contas bancárias tituladas por ele e pela arguida JJ, nos valores respetivamente de 25.000.000$00 e de 225.000.000$00, cheques estes que o arguido GG depositou na conta da massa falida e de imediato constituiu um depósito a prazo a favor da falida.

727) O arguido DD, sabendo da proposta apresentada por S....S.....i, no valor de 201.000.000$00, que não fora aceite por ser de valor inferior à da Fa...., e que se mantinha interessado na aquisição dos imóveis da M.....I....., Ldª, decidiu negociar à margem do processo de falência a venda dos imóveis e, por isso, propôs a S....S.....i vender-lhos por 375.000.000$00, o que este aceitou, tendo pago tal montante através de um cheque com o n°0000000, datado de 9-10-2000, sacado s/ conta nº 00000000 de “S......Internacional”, do Banco Atlântico, no valor de 10.000.000$00, e emitido à ordem do arguido DD; do cheque n° 000000, datado de 12-12-2000 (data da escritura), sacado s/ conta de “2 SS – Investimentos Imobiliários” do BES com o nº 000000000, no montante de 250.000.000$00, à ordem do arguido GG (e por este endossado ao arguido DD); um cheque sacado s/ conta nº 000000, no valor de 95.000.000$00 e um cheque visado com o n° 00000, datado de 13-12-2000, sacado s/ conta do BTA, com o n° 000000, no valor de 20.000.000$00.

728) Estes últimos dois cheques foram emitidos à ordem de FFFF.

729) A escritura de compra e venda foi outorgada pelo arguido GG em representação da massa falida da sociedade M.....I....., sabendo o mesmo que quem nela intervinha era a “2SS – Investimentos Imobiliários, Ldª”, representada por S....S.....i, na sequência das negociações levadas a cabo com o mesmo directamente pelo arguido DD, à margem do processo de falência e atrás descritas, e de cuja ocorrência o arguido GG tinha conhecimento.

730) Ao agir da forma descrita, o arguido DD negociou os imóveis por mais 125.000.000$00, valor que efetivamente embolsou, dado que a massa falida apenas recebeu pela venda de tais bens a quantia de 250.000.000$00.

731) Por conta do negócio da venda dos imóveis e como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido GG a quantia de 8.000.000$00 (39.903,83 €).

732) Tal pagamento processou-se em 17-5-2000, através do cheque nº0000000000, da conta do Santander nº 00000000000000, titulada por DD e JJ, cheque este que foi emitido à ordem do arguido GG, pelo valor de 8.334.000$00 (por incluir o pagamento ao mesmo da quantia de 334.000$00, no âmbito da falência de T...F....).

733) Este cheque foi depositado na conta nº 00000000 do BCP, titulada pelo arguido GG, em 18-5-2000 e foi compensado em 19/05/00.

734) O administrador da massa falida recebeu, a título de remuneração atribuída pelo tribunal, a quantia de 2.553.000$00, e requereu que fosse paga à S... uma remuneração pelos serviços prestados, o que veio a ser deferido, por decisão do síndico proferida em 16/3/2001, vindo-lhe a ser atribuída uma remuneração equivalente a 5% do produto da venda dos bens imóveis, no montante de 1.250.000$00, que foi paga em 27/3/2001.

735) Assim, ainda como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência, os arguidos DD e JJ decidiram repartir com o arguido GG o referido montante atribuído pelo Tribunal à S..., a título de remuneração dos serviços prestados, entregando-lhe o montante de 404.000$00.

736) Este pagamento ocorreu em 23-5-2001, através do desconto do cheque n°00000000, sacado s/ conta n° 0000000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, tendo tal cheque sido depositado na conta bancária n.º 00000000 s/ o BCP, titulada pelo arguido GG e outros, vindo a ser compensado em 28/05/01.

737) Ainda por conta desta falência, mas por razões não concretamente apuradas, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido GG a quantia de 146.000$00, através de cheque sacado sobre a conta bancária n.º 000000000 s/ o BS, cheque este que veio a ser compensado em 4/6/2001, tendo o referido valor ingressado na conta bancária n.º 0000000s/ o BCP, titulada por GG e outros.

                                                                              *

MM e mulher (Apenso CL)
738) Por decisão proferida em 19-05-2000, no Processo de Falência nº ..../97 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Felgueiras, foram declarados falidos MM e mulher, ZZZZZZZ.

739) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
740) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 17/11/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
741) Pelo BTA foi vendido um lote de 122 ações por 666.524$00.     
742) Os imóveis que compunham o património imobiliário dos falidos foram vendidos: um imóvel a AAAAAAAA o, pelo valor de € 107.241,55, por escritura pública de compra e venda outorgada em 27/3/2002 e um imóvel a BBBBBBBB, pelo valor de € 14.963,94, por escritura pública de compra e venda também outorgada em 27/3/2002.
743) De igual forma, o BTA adquiriu pelo valor de 15.000.000$00, um terceiro imóvel, constituído por um terreno para construção, através de escritura pública outorgada em 27/9/2001.

744) Adjudicada a venda, a S... cobrou ao comprador BTA, em 26/9/2001, uma comissão no montante de 750.000$00, equivalente a 5% do preço do imóvel vendido.

745) A este valor o arguido DD somou os montantes de 11.465.400$00, 6.000.000$00 e 10.000.000$00 – correspondentes aos valores globais das comissões (efetivamente cobradas e/ou contabilizadas) nas falências “Construções G....M...”, “G......G....” e “A....C....” -, e ainda o montante de 120.000$00, contabilizado a título de “mais valia” auferida, respeitante à falência de “Construções Â...V...., atingindo-se o valor global de 28.335.400$00, que o arguido DD dividiu por três, com vista à sua repartição com o arguido GG, na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 9.445.133$33.

746) Contudo, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG a quantia de 9.446.000$00, após arredondamento do montante exato atrás mencionado.

747) Tal entrega visou, no que concerne a esta falência e ainda às falências de “Construções G....M...”, “G...G....” e “A....C....” pagar a contrapartida “devida” ao arguido GG pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos, e ainda, no que concerne à falência de “Construções Â...V...., pagar a contrapartida pela anuência do arguido GG ao recebimento pelos arguidos DD e JJ de um proveito à margem do processo de falência, como já se descreveu.

 748) O referido pagamento operou-se em 20-12-2001, através do desconto do cheque nº 0000000, sacado s/ conta nº 0000000, sediada no Santander e titulada pelos arguidos DD e JJ.
749) O montante supra referido foi depositado na conta do arguido GG com o nº 0000000 do BCP, em 21-12-2001.

750) Por motivo e em circunstancialismo não concretamente apurados, mas por referência a dois prédios desta falência, os arguidos DD e JJ vieram a receber a quantia global de 4.000.000$00.

751) Com efeito, na referida conta bancária nº 000000, sediada no Santander e titulada pelos arguidos DD e JJ, foram depositados dois cheques, dos seguintes montantes: em 11/6/2001, um cheque no va1or de 3.000.000$00; e em 15/6/2001, um cheque no valor de 1.000.000$00.

752) O referido montante global de 4.000.000$00 foi contabilizado pelo arguido DD, com vista à sua repartição com o arguido GG, e somado aos montantes de 13.110.000$00, 764.000$00, 2.300.000$00 e 800.000$00 – referentes às falências de “C...., SA”, NN, “I......” e OO -, atingindo-se o valor global de 20.974.000$00.

753) O arguido DD dividiu este valor global por três, com vista à repartição com o arguido GG na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 6.991.333$33.

754) Contudo, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG, em 28/6/2001, a quantia de 7.000.000$00 (após arredondamento do montante atrás referido), como contrapartida pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos de falência.

755) Tal pagamento operou-se através do desconto do cheque nº 000000, no montante de 7.000.000$00, sacado sobre a conta bancária n.º 0000000000000 s/ o BS, titulada por DD e JJ, tendo tal cheque sido compensado em 02/07/01.

756) Na conta bancária n.º 0000000 s/ o BCP, titulada por GG e outros, foi efectuado um depósito no montante de 7.067.900$00, datado de 29/06/01, do qual faz parte o cheque, no valor de 7.000.000$00, sacado s/ a conta bancária n.º 000000000000 s/ o BS, titulada por DD e JJ.

757) O liquidatário judicial GG requereu que fosse pago à arguida JJ montante de 250.000$00, a título de honorários pela realização de registos, tarefa esta habitualmente incluída nos serviços a prestar pela coadjuvante da venda.

                                                                              *

C.J. C...., SA (Apenso LV)
758) Por decisão proferida em 30/11/2000, no Processo de Falência nº---/99, que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N. de Gaia, foi declarada falida a sociedade C. J. C...., SA.

759) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
760) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em data não apurada, mas anterior a 3/5/2001, escolheu como modalidade da venda a negociação particular, o que obteve o acordo da comissão de credores e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...).
761) Adjudicadas as vendas no leilão realizado em 24/5/2001, a S... cobrou comissões a título de honorários correspondentes a 10% do valor das vendas, no montante global de 13.835.000$00.

762) O prédio urbano (verba nº 1) foi arrematado pela sociedade DE......, SA por 131.100.000$00, que pagou à S... a título de comissão a quantia de 13.110.000$00, através de cheque datado de 24/5/2001.

763) A adjudicatária DE......, SA veio a ceder a sua posição contratual, em 25/5/2001, ao consórcio das empresas M.....-Investimentos Imobiliários, Lda, C.....-Construção Civil e Técnica, Lda, R...M....-Construções, Lda e G....S.....–Construções, SA, vindo, contudo, tal imóvel a ser adquirido pelo Banco Comercial Português, SA, através de escritura pública outorgada em 26/1/2004.

764) O referido montante de 13.110.000$00 foi somado pelo arguido DD aos montantes de 4.000.000$00, 764.000$00, 2.300.000$00 e 800.000$00 – referentes às falências de “MM”, “NN”, “I......” e “OO” -, atingindo-se o valor global de 20.974.000$00, que o arguido DD dividiu por três, com vista à repartição com o arguido GG na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 6.991.333$33.

765) Porém, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG, em 28/6/2001, a quantia de 7.000.000$00, após arredondamento do montante atrás mencionado, como contrapartida pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.

766) O pagamento da descrita quantia operou-se nos moldes descritos na falência de MM e mulher.

767) Por outro lado, a sociedade Co......., Lda arrematou e adquiriu um empilhador por 2.000.000$00, tendo pago, em 28/5/2001, à S... uma comissão no montante de 200.000$00.

768) A empresa M.....– Entregas ao Domicílio, Lda. arrematou e adquiriu as verbas 2 a 26 e 28 a 32 por 5.250.000$00, pagando, em 24/5/2001, a título de comissão a quantia de 525.000$00.
769) O referido valor global de 725.000$00 foi somado pelo arguido DD ao montante de 2.000.000$00 – correspondente ao valor recebido por força do negócio efectuado com UUUUUUU, no âmbito da falência de JJJ e mulher -, atingindo-se o valor global de 2.725.000$00, que o arguido DD dividiu por três, com vista à repartição com o arguido GG na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 908.333$33.
770) Contudo, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG, em 20/7/2001, a quantia de 908.333$00 (após arredondamento do valor acima mencionado), em numerário (nos termos descritos na falência de JJJ e mulher), como contrapartida pela escolha e intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência e ainda na de JJJ e mulher (por referência, quanto a esta, ao negócio atrás mencionado).
                                                                              *
NN e mulher (Apenso CXCVII)
771) Por decisão proferida em 07-12-2000, no Processo de Falência nº ..00 que correu termos no Tribunal Judicial da Comarca de Paredes de Coura, foram declarados falidos NN e mulher, CCCCCCCC.

772) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
773) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 1/3/2001, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
774) Os bens da massa falida eram constituídos por um prédio urbano e um prédio rústico.
775) A melhor proposta para o prédio urbano foi de DDDDDDDD, pelo valor de 7.640.000$00, tendo a melhor proposta para o prédio rústico sido de EEEEEEEE, pelo valor de 285.000$00.

776) Adjudicada a venda, a S... cobrou ao comprador do prédio urbano vendido, uma comissão a título de honorários no montante de 764.000$00, acrescida de IVA, correspondente a 10% do valor da venda, que foi paga em 12/6/2001.

777) O referido montante de 764.000$00 foi somado pelo arguido DD aos montantes de 13.110.000$00, 4.000.000$00, 2.300.000$00 e 800.000$00 – referentes às falências de “CJ C...., SA”, MM, I......” e OO -, atingindo-se o valor global de 20.974.000$00, que o arguido DD dividiu por três, com vista à repartição com o arguido GG na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 6.991.333$33.

778) Porém, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG, em 28/6/2001, a quantia de 7.000.000$00, após arredondamento do montante atrás mencionado, como contrapartida pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.

779) O pagamento da descrita quantia operou-se nos moldes descritos na falência de MM e mulher.

780) O liquidatário requereu que fosse paga à arguida JJ o montante de 120.000$00, a título de honorários pela realização de registos, tarefa esta habitualmente incluída nos serviços a prestar pela encarregada da venda.
                                                                              *
I......, Exploração Pesqueira, Lda. (Apenso LVII)
781) Por decisão proferida em 3-2-1999, no Processo de Falência nº--/99 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N. de Gaia foi declarada falida a sociedade I......, Lda.

782) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
783) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 13/6/2000, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
784) Na sequência de sucessivas desistências de potenciais compradores, a melhor proposta para a aquisição do barco “L...” (único bem apreendido nos autos), foi a de FFFFFFFF (ou pessoa individual ou colectiva a indicar), no valor de 23.000.000$00.

785) Adjudicada a venda, a S... cobrou a Fernando Anjos, em 13-6-2001, uma comissão a título de honorários no montante de 2.300.000$00, correspondente a 10% do valor da venda.
786) A referida embarcação veio a ser vendida, em 10/9/2001, por 23.000.000$00, à sociedade “L...” “P....C....– Sociedade de Pescas, Exportação e Importação, Lda”.

787) O referido montante de 2.300.000$00 foi somado pelo arguido DD aos montantes de 13.110.000$00, 4.000.000$00, 764.000$00 e 800.000$00 – referentes às falências de “CJ C...., SA”OO, NN e mulher e OO -, atingindo-se o valor global de 20.974.000$00, que o arguido DD dividiu por três, com vista à repartição com o arguido GG na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 6.991.333$33.

788) Porém, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG, em 28/6/2001, a quantia de 7.000.000$00, após arredondamento do montante atrás mencionado, como contrapartida pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.

789) O pagamento da descrita quantia operou-se nos moldes descritos na falência de MM e mulher.

790) O liquidatário requereu que fosse pago à arguida JJ o montante de 100.000$00, a título de honorários pela realização de registos, tarefa esta habitualmente incluída nos serviços a prestar pela coadjuvante da venda.
                                                                              *
OO (Apenso L)
791) Por decisão proferida em 7-4-2000, no Processo de Falência nº .../00 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Braga, foi declarado falido OO.

792) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
793) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 9/3/2001, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
794) Os bens da massa falida eram compostos por dois imóveis (verbas n° 1 e n° 2), tendo sido os mesmos também apreendidos no processo de falência n° ..../00, do 4° Juízo Cível do Tribunal Judicial de Braga, em que é requerida GGGGGGGG (esposa do falido). Foi nomeado Liquidatário deste último processo, o arguido SS.
795) No leilão realizado em 15/5/2001 a melhor proposta colhida foi apresentada por SS, pelo valor de 16.001.000$00, tendo aquele vindo posteriormente a ceder a sua posição contratual em tal negócio a AAAAAAAAAA. 
796) A 12/09/2001, realizou-se o contrato de compra e venda do imóvel descrito na verba n° 1, tendo a massa falida, comum ao falido e esposa, representada pelos arguidos GG e SS, respetivamente, vendido este bem a AAAAAAAAAA, pelo montante de 16.001.000$00.

797) Adjudicada a venda, a S... cobrou ao adjudicatário do bem vendido, SS, em 15-5-2001, uma comissão a título de honorários no montante de 1.600.000$00, correspondente a cerca de 10% do valor da venda.

798) O montante de 800.000$00 (equivalente a metade do valor da comissão cobrada) foi somado pelo arguido DD aos montantes de 13.110.000$00, 4.000.000$00, 764.000$00 e 2.300.000$00 – referentes às falências de “CJ C...., SA”OO,NN e mulher e “I......” -, atingindo-se o valor global de 20.974.000$00, que o arguido DD dividiu por três, com vista à repartição com o arguido GG na proporção de 1/3, e que corresponderia ao montante exato de 6.991.333$33.

799) Porém, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido GG, em 28/6/2001, a quantia de 7.000.000$00, após arredondamento do montante atrás mencionado, como contrapartida pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.

800) O pagamento da descrita quantia operou-se nos moldes descritos na falência de MM e mulher.
                                                                              *
MA.... – Indústria e Comércio de Madeiras, Lda. (Apenso LXI)
801) Por decisão proferida em 30-04-1999, no Processo de Falência .../97 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Braga, foi declarada falida a sociedade MA.... – Indústria e Comércio de Madeiras, Lda.

802) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
803) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 4/2/2000, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
804) O imóvel e os bens móveis da falida foram arrematados por A... S.... R.....F....., Lda., por 15.080.219$00 e 19.781$00, respetivamente.

805) Adjudicada a venda, a S... cobrou à compradora dos bens vendidos, em 3/7/2000, uma comissão a título de honorários no montante de 1.510.000$00, correspondente a 10% do valor global da venda do bem imóvel e dos bens móveis.

806) Desse montante os arguidos JJ e DD entregaram cerca de um terço ao arguido, concretamente a quantia de 504.000$00, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência.

807) Tal pagamento operou-se em 28-7-2000 através do cheque nº 000000000000 no valor de 504.000$00, cheque este que foi compensado, em 31/7/2000, na conta bancária n.º0000000000000 s/ o BS, titulada por JJ. e DD.

808) Foi efectuado um depósito na conta bancária n.º ----- s/ o BCP, titulada por GG e outros, no montante de 567.766$00, datado de 28/07/00, do qual faz parte o cheque, no montante de 504.000$00, sacado s/ a conta bancária n.º 0000000000 s/ o BS, titulada por JJ. e DD.
                                                                              *
A..... – Sociedade de Artigos de Papelaria e Plásticos, Lda. (Apenso CXXII)
809) Por decisão proferida em 23-02-1999, no Processo de Falência nº 000/97 que correu termos na 6ª Vara Cível do Porto (1ª Secção), foi declarada falida a sociedade A....., Lda.

810) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
811) O arguido GG propôs à comissão de credores, em 30/3/99, que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, o que veio a obter o acordo do referido órgão.
812) A venda dos bens da falida, constituída exclusivamente por móveis, foi realizada através da modalidade de negociação particular, vindo os bens a ser vendidos, em 26/05/1999, à “S...N...L...”, pelo montante de 710.000$00, acrescido de IVA, preço este que foi pago por cheque datado de 31/5/1999.

813) No âmbito deste processo a S... não foi indicada como leiloeira coadjuvante, surgindo como adquirente dos bens, pelo que não houve lugar a pagamento de comissões.

814) Por motivo não apurado, mas relacionado com este processo de falência, foi contabilizado pela arguida JJ o montante de 430.000$00 a fim de ser pago ao arguido GG.

815) Tal pagamento ocorreu em 26-9-2000, através do cheque n.º 0000000000, sacado sobre a conta bancária n.º 0000000000000, titulada por DD e JJ, tendo tal cheque sido compensado em 28/09/00 pela quantia de 430.000$00.

816) Na conta bancária n.º 0000000000 s/ o BCP, titulada por GG e outros, foi efectuado um depósito de valores, no montante de 476.800$00, em 27/09/00, e com data-valor de 28/09/00.
                                                                              *
KKK e mulher (Apenso CV)
817) Por decisão proferida em 5-11-1999, no Processo de Falência nº .../99 que correu termos no 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Braga, foram declarados falidos KKK e mulher, HHHHHHHH.

818) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido GG.
819) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido GG, em 7/6/2000, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
820) Em 1 de Março de 2001, o imóvel da massa falida correspondente à verba n° 1 do Auto de Apreensão de Bens, foi adquirido por IIIIIIII e mulher, pelo montante de 38.100.000$00, através de escritura pública.

821) Adjudicada a venda, a S... cobrou aos compradores do bem vendido, em 12-10-2000, uma comissão a título de honorários no montante de 3.810.000$00, correspondente a 10% do valor da venda.

822) Desse montante os arguidos DD e JJ entregaram um terço ao arguido GG, concretamente a quantia de 1.270.000$00, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda.

823) Tal pagamento operou-se em 6-11-2000, através do desconto do cheque nº 0000000000 sacado s/ conta nº 000000000 do Santander titulada por DD e JJ, cheque este que foi compensado em 8/11/2000, pela quantia de 1.270.000$00.

824) Na conta bancária n.º 0000000 s/ o BCP, titulada por GG e outros, foi efectuado um depósito no montante de 5.270.000$00, em 07/11/00 e com data-valor de 8/11/2000, do qual faz parte o cheque, no montante de 1.270.000$00, sacado s/ a conta bancária n.º 0000000000 s/ o BS, titulada por JJ e DD.

                                                                              *

825) O arguido RR é advogado de profissão, exerce funções de gestor e liquidatário judicial desde 1986 e está inscrito na lista oficial do Distrito Judicial de Coimbra desde 1993.

826) Em data não concretamente apurada, mas anterior a 11 de Outubro de 1995, o arguido DD, em execução do plano previamente gizado com a arguida JJ, descrito no ponto 13), propôs ao arguido RR que este escolhesse a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular, nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilhando, em contrapartida, quaisquer proveitos que a S... ou os arguidos DD e JJ viessem a auferir, designadamente os valores recebidos dos compradores a título de comissões.*
A.... - DD Fonseca & C.ª, Lda. (Apenso LXIII)
827) Por decisão proferida em 19-04-1999, no Processo de Falência nº .../97 que correu termos no 3º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca da Maia, foi declarada falida a sociedade A...., Lda, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido RR.
828) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido RR, em 23/6/1999, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
829) O arguido FFFF foi mandatado pela sociedade “P...., Ldª” para apresentar proposta com vista à aquisição do património imobiliário da falida.
830) Posteriormente e para aquele fim, foi constituído um consórcio que tomou a forma da sociedade “P...., SA,” da qual fazia parte a “IN....., SA”, de que eram accionistas o arguido DD e o advogado FFFF.
831) A 04/06/2001, foi vendida a verba nº 152, do lote 35, à firma “Po.....Promoções Imobiliária, S A”, pelo montante de 16.100.000$00.
832) A 28/09/2000, foram vendidos os lotes 147 a 151, à firma “Po.....Promoções Imobiliárias, SA”, pelo montante global de 386.000.000$00.
833) No que se refere a este último negócio, realça-se que a Po.....apresentou uma proposta inicial de 375.000.000$00, mas um outro proponente apresentou outra de maior valor, concretamente, de 385.000.000$00.
834) No intuito de realizar o negócio, FFFF remeteu uma carta ao BTA, membro da comissão de credores, com o objetivo de afastar o referido concorrente, garantindo desse modo o negócio para a “Po....., Ldª”, invocando intempestividade na apresentação da proposta e, simultaneamente, cobrindo a referida proposta em mais 1.000.000$00.
835) A proposta da Po.....veio a ser aceite, em sede de reunião de credores realizada no dia 11/02/00.
836) O imóvel em causa foi adjudicado à P....., por 386.000.000$00, tendo o pagamento sido efetuada através da emissão de cheque datado de 28-9-2000, sacado s/ o BNCI, no valor de 402.100.000$00 que engloba o valor dos dois imóveis.
837) O arguido DD e o FFFF, também através de uma sociedade de que era administrador este último, controlaram todo o processo de venda desta falida, sabendo o arguido RR que compartilharia com os restantes em quaisquer proveitos que viessem a ser obtidos com o negócio.
838) Tendo em conta as relações entre o arguido DD, o FFFF e a sociedade PPor....., neste caso não houve pagamento de comissões.
839) Contudo, os arguidos DD e JJ, para efeito da determinação do montante a ser pago ao arguido RR, ficcionaram a cobrança de comissões, calculando uma percentagem de ganhos para a S... no montante de 17.287.700$00, e contabilizaram nos manuscritos apreendidos na S... a entrega ao liquidatário RR da quantia de 7.000.000$00.
840) Assim, por conta deste negócio e como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido NN a quantia de 7.000.000$00.
841) Tal pagamento operou-se através do cheque nº00000000, sacado s/ conta nº 0000000000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, cheque este que foi compensado em 9/10/2000.

842) Na conta bancária n.º000000000 s/ o BPN – Private Banking, titulada por RR verifica-se que na mesma foi efectuado um depósito de valores, no montante de 14.280.000$00, em 06/10/00 e com data-valor de 09/10/00.

                                                                              *
N... Seco Construções, SA (Apenso CXCIX)
843) Por decisão proferida em 14-06-1996, no Processo de Falência nº ../96 que correu termos no 4º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Coimbra, foi declarada falida a sociedade N... Seco, SA.
844) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido RR.
845) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido RR, em data não apurada, mas anterior a 16/5/1997, escolheu como modalidade da venda a negociação particular, o que obteve o acordo da comissão de credores e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...). *
846) Os bens foram vendidos a diversos compradores pelo valor global de 112.556.000$00, incluindo IVA, tendo o imóvel correspondente à verba nº ... sido adquirido por 52.000.000$00, através de escritura pública outorgada em 29/12/97, pela sociedade “L... Lda”, após exercício por esta do direito legal de preferência que lhe assistia na sua qualidade de arrendatária.
847) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou, pelo menos à compradora da verba nº ... – “L... Lda” -, uma comissão a título de honorários no montante de 5.200.000$00 (acrescida de IVA), correspondente a 10% do valor da venda.

848) Contudo, para efeito de pagamento ao liquidatário judicial, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda, o arguido DD contabilizou o valor de 5.285.000$00.

849) Este montante de 5.285.000$00 foi somado pelo arguido DD à quantia de 16.320.000$00 – correspondente à parte das comissões cobradas na falência da sociedade “N....V.....” -, atingindo-se o valor global de 21.605.000$00, após o que o arguido DD deduziu a percentagem de 37,4%, dividindo por dois o respetivo resultado, a que corresponderia o montante exato de 6.762.365$00.

850) No entanto, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido RR a quantia global de 7.012.000$00 – como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda -, entrega esta que se operou através de dois depósitos de 3.506.000$00, um em numerário e outro do cheque do B.C.I n° 00000000 – sacado sobre a conta bancária n.º 00000000000000 s/ o BS, titulada por DD e JJ -, processados em 13-09-99 e 21-09-99, na conta do arguido RR com o nº 00000000, do BBVA.

851) No que se refere a esta falência, já em Dezembro de 1997, os arguidos DD e JJ, por motivo não concretamente apurado, haviam pago ao arguido RR, o montante de 2.000.000$00.

852) Na conta bancária n.º 00000000000 s/ o BS, titulada por DD e JJ, verifica-se que foi compensado o cheque n.º 00000000000, no montante de 2.000.000$00, em 02/01/98.

853) Na conta bancária n.º 00000000000 s/ o BBVA, titulada por RR, verifica-se que na mesma foi efectuado um depósito de valores, no montante de 2.000.000$00, em 31/12/97, com data-valor de 02/01/98.
                                                                             *
N....V..... – Indústrias de Alimentação, SA (Apenso CXCVIII)
854) Por decisão proferida em 02-07-1995, no Processo de Falência nº ..../94 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Albergaria-a-Velha, foi declarada falida a sociedadeN...V.., SA.

855) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido RR.
856) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido RR, em 11/10/1995, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
857) A empresa An..... – Construção Civil e Investimentos Imobiliários, SA, adquiriu cinco imóveis por 26.250.000$00, tendo pago à S..., uma comissão de 2.625.000$00, em 21/12/1998.
858) A Câmara Municipal de Sever do Vouga, adquiriu igualmente um imóvel por 125.000.000$00, tendo pago uma comissão no valor de 12.500.000$00, acrescida de IVA, em 20/7/1999.
859) Por sua vez os trabalhadores da falida, J....G..... e J...N...S...., também adquiriram imóveis de que eram arrendatários, pelos valores de 4.500.000$00 e 5.500.000$00, tendo os mesmos pago, em 20/7/1999, os montantes de 450.000$00 e de 550.000$00, acrescidos de IVA, a título de comissão.
860) A sociedade IM......também adquiriu um imóvel por 1.700.000$00, tendo pago, em 19/7/1999, uma comissão de 170.000$00, acrescida de IVA.
861) à Sociedade Hidroeléctrica da ...... Lda.”, pelo preço de 24.400.000$00, e à Ge....– Sociedade Gestora de Participações Sociais, SA”, pelo preço de 25.600.000$00, foram igualmente adjudicados imóveis e participações sociais. Estas duas sociedades, que integram o mesmo grupo empresarial, entregaram ao arguido DD, através de cheques datados de 27/7/2000, comissões nos montantes de 2.560.000$00 e de 2.440.000$00, acrescidos de IVA.
862) Os bens móveis foram vendidos a JJJJJJJJ por 17.001.000$00 (mais IVA), o qual pagou, em 24/7/1997, à S... uma comissão no valor de 1.700.100$00, acrescida de IVA.

863) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos, comissões a título de honorários no montante global de 22.995.100$00, correspondente a 10% do valor das vendas.

864) Contudo, para efeito de repartição com o liquidatário judicial de comissões cobradas e subsequente pagamento ao mesmo, como contrapartida da escolha e intervenção da S... como coadjuvante da venda, o arguido DD contabilizou – em data não apurada, mas anterior a 13/9/1999 -, o valor de 16.320.000$00.

865) Este montante foi somado pelo arguido DD à quantia de 5.285.000$00, respeitante à falida “N... Seco”, nos moldes aí descritos, atingindo-se o valor global de 21.605.000$00, após o que o arguido DD deduziu a percentagem de 37,4%, dividindo por dois o respetivo resultado, a que corresponderia o montante exato de 6.762.365$00.

866) No entanto, os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido RR a quantia global de 7.012.000$00 – como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda -, entrega esta que se operou através de dois depósitos de 3.506.000$00, nos exatos moldes descritos na análise da falência da «N... Seco».
                                                                              *
C...S..,.Ç, Comércio e Indústria, SA (Apenso LXXXIII)
867) Por decisão proferida em 15-12-1998, no Processo de Falência nº .../98 que correu termos no 4º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Coimbra, foi declarada falida a sociedade C...S..,.Ç, Comércio e Indústria, SA.
868) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido RR.
869) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido RR, em 26/1/1999, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
870) A “Loja do Cidadão” apresentou uma proposta para aquisição do imóvel pela quantia de 477.000.000$00.
871) Porém, não foi esta entidade a compradora do imóvel, mas sim a “Re – Veículos Comerciais e Industriais, SA”, que era arrendatária de parte do mesmo e exerceu o seu direito de preferência.
872) A escritura de compra e venda veio a realizar-se em 04 de Novembro de 1999.

873) Para efeito de determinação do montante a ser pago ao arguido RR, os arguidos DD e JJ contabilizaram o montante de 40.000.000$00 a título de comissões a favor da S..., respeitantes à liquidação do activo desta falida.

874) Por conta desse montante, e como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido RR a quantia de 20.000.000$00, correspondente a metade daquele valor.

875) No âmbito deste processo, a S... recebeu honorários pagos pelo Tribunal de Coimbra, na proporção de 2% do valor da venda, concretamente o montante de 11.161.800$00, tendo os arguidos DD e JJ repartido tal montante com o arguido RR, entregando-lhe a quantia de 3.720.600$00, também como contrapartida da indicação e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda.

876) Tais pagamentos operaram-se respetivamente, em 05-11-99, no dia seguinte à outorga da escritura da venda do imóvel, através depósito de 20.000.000$00 em numerário no Banco Bilbao Viscaya Argentaria, na conta n° 00000000000, titulada pelo arguido, e em 1-10-2001, através do depósito do cheque nº 00000000, no montante de 3.720.600$00, sacado s/conta nº 0000000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, e depositado na conta nº 00000000000 do BBVA, titulada pelo arguido RR.
                                                                              *
Sociedade N...C....s, Lda. (Apenso LXXV)
877) Por decisão proferida em 19-10-2000, no Processo de Falência nº000/2000, que correu termos no 1º Juízo Cível do Tribunal Judicial da Comarca de Sta. Maria da Feira, foi declarada falida a Sociedade N.....C........., Lda.

878) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido RR.
879) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido RR, em 8/11/2000, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
880) A melhor proposta para a compra do imóvel da massa falida, no valor de 177.000.000$00 foi apresentada pelo conjunto de investidores “DE...... – S..... – Imobiliária do Alvão”, tendo sido cobrada e paga, em 7/3/2001, uma comissão no valor de 17.700.000$00, correspondente a 10% do valor da venda.
881) Este conjunto de proponentes veio a ceder a sua posição contratual a FFF, tendo a escritura pública de compra e venda sido outorgada em 2/7/2008 por KKKKKKKK, filho do cessionário, em face do óbito deste entretanto ocorrido.
882) Os bens móveis foram adjudicados e adquiridos porF....C...., Lda, por 19.500.000$00, tendo sido paga, em 7/3/2001, uma comissão no montante de 1.950.000$00.

883) Pelo exposto, a S... cobrou, ao consórcio proponente do bem imóvel e à compradora dos bens móveis, comissões a título de honorários no montante global de 19.650.000$00.

884) Desse montante, os arguidos DD e JJ entregaram, em 9/7/2001, ao arguido NN a quantia de 6.550.000$00, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda.

885) Na conta bancária n.º 000000000000 s/ o BPN – Private Banking Porto, titulada por NN & ........... S.L.J. Lda., foi efectuado um depósito em numerário, no montante de 6.550.000$00, em 10/07/01.
                                                                              *
Metalurgia ..........., SA (Apenso LXXI)
886) Por decisão proferida em 9-5-2000, no Processo de Falência nº .../87 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Aveiro, foi declarada falida a sociedade Metalurgia ..........., SA.

887) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido RR.
888) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido RR, em 20/6/2000, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
889) Entre 3/9/2001 e 11/9/2001, a Carrefour Portugal, SA apresentou proposta de aquisição dos equipamentos da falida pelo preço de 90.000.000$00, tendo a comissão de credores, na reunião ocorrida em 11/9/2001, deliberado aceitar “a venda das verbas arroladas no auto de apreensão de bens, à excepção das nº 510 e 511, pelo valor proposto de 90.000 contos, com a condição de a Carrefour satisfazer a comissão de prestação de serviços da S..., no valor percentual de 10% do valor da compra”.
890) Essa venda dos bens móveis à Carrefour Portugal, SA, por 90.000.000$00, veio a concretizar-se em 19/11/2001.

891) Processada esta parte da liquidação do activo (venda dos bens móveis), a S... cobrou à compradora dos bens, em 20-11-2001, uma comissão a título de honorários no montante de 9.000.000$00.

892) Desse montante, os arguidos DD e JJ entregaram um terço ao arguido RR, concretamente a quantia de 3.000.000$00, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda.

893) Tal pagamento operou-se, em 30-11-2001 através do cheque nº 0000000000, sacado s/ conta nº 000000000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, o qual foi descontado em 30/11/01.

894) Na conta bancária n.º 0000000000000 s/ o BPN – Private Banking Porto, titulada por NN &.... S.L.J. Lda., foi efectuado um depósito em numerário, no montante de 3.000.000$00, em 30/11/01.

                                                                              *

895) O arguido TT é economista de profissão, começou a exercer funções de liquidatário judicial em 1997 e tinha escritório no mesmo prédio do arguido AA, na R.............., ........, 2º, salas 207/204.

896) Em data não concretamente apurada, mas anterior a 22/10/1999, o arguido DD, em execução do plano previamente gizado com a arguida JJ, descrito no ponto 13), propôs ao arguido TT que este escolhesse a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular, nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilhando, em contrapartida, quaisquer proveitos que a S... ou os arguidos DD e JJ viessem a auferir, designadamente os valores recebidos dos compradores a título de comissões.   

                                                                              *
C...... – Sociedade Industrial Têxtil, SA (Apenso LIV)
897) Por decisão proferida em 22-11-1999, no Processo de Falência nº ../99 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de V N de Gaia, foi declarada falida a sociedade C...... – Sociedade Industrial Têxtil, SA.
898) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido TT.
899) Na fase da recuperação de empresas, o gestor judicial nomeado foi o arguido AA.
900) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido TT, em 24/2/2000, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
901) Na sequência do leilão realizado em 20/6/2000, os bens móveis foram adjudicados à empresa “R... Reciclagem de Sucatas Abrantina, SA” e vendidos, em 05/07/2000, pelo montante de 8.200.000$00.
902) Na sequência do mesmo leilão, os bens imóveis foram adjudicados à empresa “M....A....o, Lda.” e vendidos, em 20/02/2002, pelo montante de 1.895.432,01 € (380 mil contos).
903) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou aos compradores dos bens comissões a título de honorários no montante global de 38.820.000$00, sendo o montante de 38.000.000$00 correspondente à comissão pela venda dos bens imóveis e a quantia de 820.000$00 referente à comissão dos bens móveis.

904) A comissão entregue pelo adquirente dos bens móveis foi paga em 25-6-2000.

905) O montante da comissão relativo aos bens imóveis foi pago juntamente com a percentagem de 10% destinada à massa falida e referente à sinalização da compra.

906) Assim, em 20-6-2000, a adquirente do imóvel, M....A....o, Lda., através do seu representante legal, emitiu e entregou ao arguido DD um cheque no valor de 76.000.000$00.
907) Para efeito de repartição com o arguido NNNN das comissões cobradas pela venda dos aludidos bens, o arguido DD deduziu ao referido valor de 38.820.000$00 a percentagem de 35,2%, dividindo por dois o resultado de tal operação aritmética (ou seja, a quantia de 25.155.360$00), obtendo-se o resultado final de 12.577.680$00.
908) Assim, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido NNNN a quantia de 12.577.680$00, como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda. *
909) Tal pagamento operou-se através de uma parcela de 9.250.000$00, paga em data próxima de 21-3-2001, em numerário, com dinheiro «que estava no cofre» da S..., e ainda de uma parcela no montante de 3.327.680$00, paga conjuntamente com valores referentes à falência da firma C......, nos termos aí descritos.
                                                                              *
Fábrica de Tecidos C......, SA (Apenso LXV)
1000) Por decisão proferida em 11/02/2000, no Processo de Falência nº 000/98 do Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia, foi declarada falida a sociedade Fábrica de Tecidos L.

1001) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido TT.
1002) O arguido AA tinha sido nomeado gestor judicial, na fase de recuperação da empresa, mantendo-se a colaboração entre os dois economistas.
1003) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido TT, na sequência da deliberação tomada pela comissão de credores, em 27/9/2000, de se proceder à venda dos bens da falida por meio de negociação particular, através de leilão, recorreu aos serviços da S...N...L... como coadjuvante da venda.

1004) Dos bens móveis apreendidos foram pelo menos vendidos os que a seguir se discriminam, tendo sido cobradas pela S..., pelo menos, as seguintes comissões, no valor global de 6.760.500$00 (sem IVA incluído): os bens móveis integrantes dos lotes 1, 2, 7, 8 e 13 foram adquiridos por “Panificadora Vi.... SA” pelo preço de 21.300.000$00, tendo pago comissão à S... no valor de 2.130.000$00; os bens móveis integrantes do lote 3 foram adquiridos por “TTT, SA”, por 20.000.000$00, tendo sido paga à S... uma comissão de 2.000.000$00, acrescida de IVA; pela “DE......, SA” foram adquiridos, por 17.000.000$00, os bens móveis integrantes do lote 4, tendo sido paga uma comissão à S... no valor de 1.700.000$00; por TTTTT foram comprados os bens do lote 6, por 1.120.000$00, tendo pago de comissão à S... a quantia de 112.000$00, acrescida de IVA; por   “F....O.... – Máquinas de Costura Industriais, Lda” foram adquiridos os bens dos lotes 9, 10 e 11, por 4.100.000$00, tendo sido paga uma comissão à S... no valor de 410.000$00, acrescida de IVA; por “C....Q....., Lda” foi comprado o lote 12 por 650.000$00, tendo pago à S... comissão de 65.000$00, acrescida de IVA; por “Indústrias Rádio Eléctricas M...., Lda., os bens do lote 14, pelo valor de 2.250.000$00, tendo pago de comissão o montante de 225.000$00, acrescido de IVA, no montante global de 263.250$00; os bens do lote 16 foram adquiridos por LLLLLLLLL, por 300.000$00, que pagou comissão à S... de 30.000$00; por “Santos e Almeida, SA” foram adquiridos os bens do lote 20, tendo sido paga à S... comissão de 30.000$00, acrescida de IVA; por “MM......o, SA” foram comprados os bens móveis do lote 22, pela quantia de 585.000$00, tendo sido paga à S... comissão de 58.500$00, acrescida de IVA.

1005) No leilão ocorrido em 6/6/2001, a melhor oferta para os imóveis da falida, no valor de 1.436.000.000$00, foi apresentada por MMMMMMMM.

1006) Por desistência do identificado proponente e, na falta de interesse de quem fizera a segunda melhor oferta, veio então FFFF a ser contactado, oferecendo o referido valor de 1.436.000.000$00, de acordo com o teor da acta da reunião ocorrida em 20/6/2001.

1007) O sinal correspondente a 10% do preço foi pago com um cheque do FFFF, datado de 11-6-2001.

1008) Entretanto, FFFF cedeu a sua posição contratual de promitente-comprador (tal como fora admitido na cláusula segunda do contrato-promessa celebrado em 11/6/2001) à sociedade “L – Investimentos Imobiliários, SA”.

1009) A escritura de compra e venda foi outorgada em 26-9-2002, pelo arguido NNNN em representação da massa falida e pelos representantes das sociedades “A L – Investimentos Imobiliário, SA” e “AS.... – Gestão de Empreendimentos Imobiliários, SA”, ambas pertencentes ao grupo do arguido DD, sendo que tanto ele como o FFFF foram accionistas fundadores desta última, e tais empresas foram constituídas com vista à aquisição do património imobiliário da “Fábrica L”, já depois da adjudicação do imóvel ao FFFF.
1010) Para efeito da determinação do montante a ser pago ao arguido NNNN, os arguidos DD e JJ contabilizaram o valor de 6.949.000$00, relativo aos bens móveis, e o valor de 62.300.000$00, referente aos bens imóveis, atingindo-se o valor global de 69.249.000$00, ao qual foi deduzida a percentagem de 35,2%.
 1011) O resultado de tal operação aritmética foi dividido por dois, obtendo-se então o resultado final de 22.436.676$00, ao qual foi adicionado o montante de 3.327.680$00, correspondente à parcela ainda não liquidada ao arguido NNNN, a título de repartição com o mesmo de comissões no âmbito da falência da “C......”, conforme aí referido.
1012) O montante total de 25.764.356$00 foi pago – como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda, no âmbito dos presentes autos e, ainda, na falência da “C......” - em duas prestações de 12.882.178$00 cada, sendo a primeira em Julho de 2001 e a segunda em 23-10-2001.
1013) Na véspera deste último pagamento (ou seja, em 22/10/2001), foi efectuado um levantamento em numerário no montante de 114.134,93€ (contra valor em escudos de 22.881.999$00), da conta bancária n.º 00000000000 s/ o BS, titulada pelos arguidos DD e JJ.
                                                                              *
C.... – Empresa Europeia de Confecções, SA (Apenso LXIV)
1014) Por decisão proferida em 2-3-1999, no Processo de Falência nº .../98 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Barcelos, foi declarada falida a sociedade C.... – Empresa Europeia de Confecções, SA, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido TT.
1015) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido TT, em 22/10/1999, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
1016) Na sequência do leilão realizado em 15/3/2000, todos os bens da falida foram adjudicados a “di....., Lda” por 307.000.000$00, vindo porém o imóvel a ser vendido à sociedade “Co....- Sociedade de Investimentos Imobiliários, SA”, através de escritura pública outorgada em 25/10/2000, por opção da sócia-gerente de ambas as empresas.
1017) Adjudicada a venda, a S... cobrou à adjudicatária “di.....” uma comissão a título de honorários no montante de 30.700.000$00 (mais IVA), tendo o valor da comissão sem o acréscimo do IVA sido logo pago no dia do leilão (15/3/2000).

1018) Para efeito da determinação do montante a ser pago ao arguido NNNN, a arguida JJ deduziu à referida quantia de 30.700.000$00, recebida a título de comissão, a percentagem de 37,4%, após o que dividiu o respetivo resultado por dois, obtendo-se o valor final de 9.609.100$00.

1019) Desse montante, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido NNNN, em 22/5/2000, e como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda no âmbito desta falência, pelo menos a quantia de 4.805.000$00, após levantamento do montante de 5.000.000$00, na mesma data, da sua conta bancária nº 0000000000, do Banco Santander.

1020) Em 25-10-2000, aquando da celebração da escritura pública relativa ao imóvel da falida, o arguido NNNN recebeu o montante de 258.709.000$00 (correspondente à totalidade do preço), através de cheque emitido pela arguida JJ a favor do liquidatário da massa falida, no mesmo valor e datado de 25/10/2000.

1021) Ao invés de depositar tal quantia na conta da massa falida, conforme sabia ser sua obrigação funcional, o arguido NNNN creditou-a na sua conta pessoal sediada no BPN, com o nº 00000000 em 26-10-2000, e só a transferiu para a conta da falida em 18-12-2000.

1022) Entretanto, em 15/11/2000, o arguido NNNN utilizou o montante de 250.000.000$00 (retirado do valor depositado atrás referido), para efetuar uma aplicação financeira pelo prazo de 181 dias, a uma taxa de juro de 4%.

1023) Desta forma, o arguido NNNN logrou obter, pelo menos, o montante de 904.109$00, a título de rendimento do capital atrás referido que, não obstante saber pertencer à massa falida de C...., integrou no respetivo património.

1024) Assim, durante o referido período temporal, o arguido usufruiu dos juros correspondentes a um capital que não lhe pertencia no valor de, pelo menos, 904.109$00, causando prejuízo correspondente à massa falida e aos credores da mesma.
                                                                              *

1025) O arguido UU é economista de profissão e exerceu funções de liquidatário e gestor judicial no Distrito Judicial do Porto desde 1995.

1026) Em data não concretamente apurada, mas anterior a 25/6/1997, o arguido DD, em execução do plano previamente gizado com a arguida JJ, descrito no ponto 13), propôs ao arguido UU que este escolhesse a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular, nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilhando, em contrapartida, quaisquer proveitos que a S... ou os arguidos DD e JJ viessem a auferir, designadamente os valores recebidos dos compradores a título de comissões.   
                                                                              *
Ed.....– Componentes para Calçado, Lda. (Apenso LXXXII)
1027) Por decisão proferida em 21-3-1997, no Processo de Falência nº .../96 que correu termos no 4º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Guimarães, foi declarada falida a sociedade E.... – Componentes para Calçado, Lda.
1028) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido UU.
1029) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido UU, em 25/6/1997 ou em data próxima, escolheu como modalidade da venda a negociação particular, através de leilão e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores e autorização judicial.
1030) Em leilão ocorrido em 12/3/1999, a melhor proposta colhida para o imóvel foi a de NNNNNNNN pelo valor de 36.100.000$00, e para os bens móveis foi a apresentada por M...S.... que não foi aceite dado o seu reduzido valor.
1031) Novamente colocados à venda os bens móveis, a melhor proposta recebida foi feita em nome de OOOOOOOO, no valor de 1.800.000$00.
1032) O liquidatário judicial propôs então à comissão de credores que a venda dos móveis fosse adjudicada à proposta de maior valor recebida e acima mencionada, pelo valor de 1.800.000$00, e a venda do imóvel fosse adjudicada à maior proposta verificada em leilão, ou seja, a NNNNNNNN pelo valor de 36.100.000$00, o que não mereceu oposição da comissão de credores.
1033) A escritura de compra e venda do imóvel foi realizada em 4/5/1999.
1034) A S... cobrou ao comprador NNNNNNNN uma comissão a título de honorários de valor não concretamente apurado.
1035) Do montante cobrado os arguidos DD e JJ entregaram uma percentagem ao arguido UU, concretamente a quantia de 1.500.000$00, como contrapartida pela escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda.
1036) Tal pagamento operou-se em 22-03-99, através de depósito em numerário realizado na conta n°0000000, do Banco Mello, de Guimarães, titulada pelo arguido UU.
                                                                              *
Sedas de ViZ...., JSO, SA (Apenso LXXIX)
1037) Por decisão proferida em 11-02-99, no Processo de Falência nº ..../98, que correu termos no 1° Juízo Cível do Tribunal de Comarca de Guimarães, foi declarada falida a sociedade Sedas de ViZ...., SA.

1038) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido UU.
1039) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido UU escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...) - em datas não apuradas, mas anteriores a 28/6/1999, no que concerne aos bens móveis, e a 15/12/2000, relativamente aos bens imóveis -, o que obteve o acordo da comissão de credores.
1040) A Câmara Municipal de ViZ.... arrematou as verbas nº 9,11,13,14,e 16 por 768.148,76 €, em leilão realizado em 8/3/2002, e pagou uma comissão à S..., em 3/7/2002, de 45.704,85 € (5%).
1041) A sociedade U....... – Imobiliária, Lda adquiriu as verbas nº 7 e 8 por 90.282,42 €, pagando à leiloeira uma comissão de 9.028,42€, acrescida de IVA, em 22/3/2002.
1042) Um dos imóveis da falida foi vendido a PPPPPPPP, em 22/3/2002, por 44.892,00 €, que pagou uma comissão de 4.489,18 € (mais IVA), em 21/3/2002.
1043) Ainda um outro imóvel foi vendido a QQQQQQQQ, por 12.600.000$00 tendo o comprador pago uma comissão de 1.260.000$00, em 19/1/2001.

1044) Por motivo não concretamente apurado os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido RRRRRRRR a quantia de 4.500.000$00, dividida em três prestações no valor de 1.500.000$00.
1045) Na conta bancária n.º 00000000000000 s/ o BS, titulada por DD e JJ, constam três levantamentos em numerário de 1.500.000$00, em 07/06/99, 15/06/99 e 23/06/99, no total de 4.500.000$00.

1046) Na conta bancária n.º 000000000000 s/ o BCP, titulada por UU, foram efectuados três depósitos em numerário, no montante de 1.500.000$00/cada (no valor global de 4.500.000$00), em 07/06/99, 15/06/99 e 23/06/99.

                                                                              *

1047) O arguido SS é economista de profissão e iniciou funções de liquidatário judicial em 1997.

1048) Em data não concretamente apurada, mas anterior a 23/4/1999, o arguido DD, em execução do plano previamente gizado com a arguida JJ, descrito no ponto 13), propôs ao arguido LLL que este escolhesse a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular, nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilhando, em contrapartida, quaisquer proveitos que a S... ou os arguidos DD e JJ viessem a auferir, designadamente os valores recebidos dos compradores a título de comissões.  
                                                                              *
SSSSSSSS e mulher (Apenso XLIV)
1049) Por decisão proferida em 26-5-1999, no Processo de Falência nº .../99, que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N. de Gaia, foram declarados falidos SSSSSSSS e TTTTTTTT.

1050) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido SS.
1051) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido SS, em 8/10/1999, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
1052) A melhor proposta para a aquisição dos dois imóveis da falida foi apresentada pela CCAM da Costa Verde (credora e membro da comissão de credores), no valor de 24.000.000$00, sendo a mesma dispensada de depositar 75% do preço, atento montante do seu crédito, por despacho judicial proferido em 17/3/2000.
1053) Essa venda realizou-se com o acordo da comissão de credores e com ratificação judicial, tendo sido a escritura pública realizada em 10/10/2000.
1054) Adjudicada a venda, a S... não conseguiu cobrar comissão ao comprador dos bens, Caixa de Crédito Agrícola da Costa Verde, uma vez que esta entidade se recusou a pagar-lhe.
1055) Por requerimento dirigido ao processo e entrado em 18/9/2000, a CCAM da Costa Verde solicitou que fosse ordenado o pagamento da remuneração à S... (1.200.000$00 + IVA) pelos bens da massa falida, ouvido que fosse o liquidatário judicial, tendo este declarado nada ter a opor ao requerido.
1056) Por despacho judicial proferido em 30/10/2000 foi deferido o requerimento apresentado pela CCAM da Costa Verde, quanto à remuneração da S..., dada a não oposição da comissão de credores.
1057) Assim, o arguido SS, na qualidade de liquidatário judicial, pagou directamente à LEI... por conta da massa falida, a quantia de 1.200.000$00 (+IVA), após o aludido despacho judicial a autorizar o pagamento.

1058) Do referido montante de 1.200.000$00, os arguidos DD e JJ entregaram um terço ao arguido SS, concretamente a quantia de 400.000$00, como contrapartida da escolha e subsequente nomeação da S... como coadjuvante da venda.

1059) Tal pagamento operou-se em 22-11-2000, através do desconto do cheque n° 0000000 sacado s/ conta nº000000 do Banco Santander, titulada por DD e JJ.

1060) O referido cheque foi emitido com data de 16/11/2000, ao portador, e foi levantado no caixa pelo titular do Bilhete de Identidade n.º 00000, ou seja, pelo arguido SS.
                                                                              *
A...D...S.... e mulher, UUUUUUUU (Apenso XCVI)
1061) Por decisão proferida em 3-7-1998, no Processo de Falência nº.../99 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia, foram declarados falidos A...D...S.... e mulher, UUUUUUUU.

1062) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido SS.
1063) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido SS, em 23/4/1999, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores e foi levado ao conhecimento do juiz titular do processo de falência, que ordenou a realização da venda.
1064) O activo da falida era constituído pelos bens descritos nos respetivos autos de apreensão.
1065) Por carta de 5/11/99 o liquidatário judicial deu conhecimento aos membros da comissão de credores das propostas que recebera da S..., onde a melhor para a compra do prédio urbano identificado na verba n° 1 era de 12.100.000$00 (apresentada por VVVVVVVV) e a melhor para o terreno de construção identificado na verba n° 3 (apresentada por FFFF) era de 10.000.000$00.
1066) Entretanto, foi apresentada, por XXXXXXXX (através de procurador), uma proposta para a verba n° 3, pelo valor de 10.520.000$00, o que levou a que a S... e o liquidatário judicial (invocando estes que a proposta apresentada por XXXXXXXX fora apresentada depois de ser conhecida a melhor proposta anterior) decidissem promover uma licitação entre os dois proponentes para definir a melhor e última proposta, o que seria feito em 6/2/2000, dando conhecimento aos membros da comissão de credores.
1067) A melhor proposta para a verba n° 3 foi então de 11.000.000$00 apresentada por FFFF (que reservou a possibilidade de indicar pessoa individual ou colectiva para a celebração do contrato definitivo), tendo o liquidatário judicial dado conhecimento ao processo (pedindo que fosse comunicado à comissão de credores, o que foi deferido por despacho de 15/2/2000) e à comissão de credores.
1068) O BTA, embora entendesse que a proposta para a verba n° 3 fosse inferior à avaliação de que dispunha (13.750.000$00), concordou que fosse aceite e, quanto à verba n° 1, manifestou a opinião de não dever ser concretizada a venda, por haver indícios de má-fé dos falidos (que ocupavam o imóvel descrito na verba n° 1), propondo impugnação da legalidade do contrato de arrendamento.
1069) Nesta fase, FFFF surge na veste de advogado, a solicitação do arguido SS, para emitir parecer sobre a sugestão do BTA, com a qual discorda.
1070) Comunicado tal parecer à comissão de credores e ao BTA, este acabou por dar o seu acordo às vendas (através de carta datada de 2/5/2000), particularmente a que estava em discussão, relativa à verba n° 1, sendo por despacho proferido em 10/5/2000, ratificadas as vendas.
1071) Entretanto, respondendo ao pedido de informação do estado da liquidação, o arguido SS, em 28/9/2000, dá conhecimento ao processo que o comprador inicial (VVVVVVVV) da verba n° 1 perdera interesse na sua aquisição, mas fora entretanto encontrado novo comprador que oferecera o mesmo valor (o FFFF), o qual também se dispunha a comprar os móveis pelo valor de 198.000$00, tudo conforme comunicação feita pela S... em 27/9/00, que entretanto dera conhecimento à comissão de credores.
1072) Os imóveis descritos nas verbas n° 1 e 3 foram vendidos, pelo preço de 23.100.000$00, através de escritura pública celebrada em 8/3/2001, a IN..... – Sociedade de Investimentos Imobiliários, SA, representada pelo seu administrador único FFFF.
1073) Efetuadas as vendas, e como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda, no âmbito desta falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido LLL quantia não concretamente apurada, que foi paga conjuntamente com o montante (também não concretamente apurado) entregue ao arguido no âmbito da falência de “C....T...., SA”, totalizando a quantia de 1.600.000$00.
1074) Tal pagamento operou-se através do cheque n° 000000, datado de 19/3/2001 e sacado s/conta n° 0000000000 do Santander, titulada por DD e JJ, cheque este que foi compensado em 05/04/01.
1075) O cheque acima mencionado foi utilizado na requisição e pagamento de 3.200 unidades de Certificados de Aforro, com o n.º 000000, datada de 04/04/01, no montante de 1.600.000$00, efetuada a favor do aforrista, ora arguido, SS, nos CTT de Campo Lindo – Porto.
                                                                              *
C....T...., SA (Apenso XLVIII)
1076) Por decisão proferida em 21-06-2000, no Processo de Falência .../00 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N. de Gaia, foi declarada falida a sociedade C....T...., SA.

1077) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido SS, sendo certo que o arguido GG havia exercido funções de gestor judicial na fase de recuperação da empresa.

1078) No processo de falência foi mantida a comissão de credores anteriormente nomeada, constituída por “D....O....F... Lda.”, “Banco Totta & Açores, SA” e “Companhia Geral de Crédito Predial Português, SA”.

1079) O arguido LLLpropôs à comissão de credores, como modalidade da venda, a negociação particular, em 14/9/2000, o que obteve o acordo daquele órgão e foi levado ao conhecimento do juiz titular do processo de falência, que ordenou a realização da venda por despacho proferido em 20/10/2000.
1080) No que se refere à firma C....T...., a S... foi contactada pelo presidente da Comissão de Credores, ZZZZZZZZ, dando conhecimento do seu interesse na aquisição dos bens da massa falida, na qualidade de representante da maior credora da falida, “D....O....F... Lda”.
1081) Ao liquidatário judicial foi apresentada uma proposta para aquisição da totalidade dos bens da falida, em nome do funcionário da S..., NNNNNN, no montante de 1.750.000$00, e foi ainda apresentada uma outra proposta, em nome de RRR, no valor de 1.500.000$00, propostas que o liquidatário deu a conhecer à comissão de credores e fez juntar ao processo.
1082) Autorizada a venda pela comissão de credores, o NNNNNN requereu, em 24/1/2001, que os bens fossem facturados à firma D....O... & F..., Lda.
1083) Para pagamento do preço dos aludidos bens (1.750.000$00), acrescido de IVA, a sociedade “D....O....F... Lda” emitiu e entregou ao liquidatário judicial (o arguido SS) um cheque, datado de 29/1/2001, no montante de 2.047.500$00.
1084) Em circunstancialismo não concretamente apurado, a S... veio a vender pelo menos uma parte dos aludidos bens, pelo preço de 1.280.000$00, quantia que foi recebida através de cheque e depositada, em 16/5/2001, na conta nº000000000, do Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ.
1085) Por referência a este negócio, a arguida JJ contabilizou, para além do mencionado produto da venda (ou seja, 1.280.000$00), o valor da compra (610.000$00).
1086) Por referência a esta falência, os arguidos DD e JJ, por motivo não concretamente apurado, entregaram ao arguido LLL quantia não concretamente determinada, mas que foi paga conjuntamente com o valor (também não apurado) referente à falência de A...D...S...., totalizando 1.600.000$00.
1087) Tal pagamento operou-se através do cheque n° 00000000000, sacado s/conta n° 0000000000 do Santander, titulada por DD e JJ, conforme se descreve no caso da falência de A...D...S.....
                                                                              *
GGGGGGGG (Apenso LX)
1088) Por decisão proferida em 28-04-2000, no Processo de Falência nº .../00 que correu termos no 4º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Braga, foi declarada falida GGGGGGGG.

1089) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido SS.
1090) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido SS, em data não apurada, mas anterior a 1/5/2001, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
1091) Os bens da massa falida eram compostos por dois imóveis, verbas n° l e n° 2, tendo sido os mesmos também apreendidos no processo de falência n° 000/00 do 1° Juízo Cível do Tribunal Judicial de Braga, em que é requerido OO (marido da requerida). Foi nomeado Liquidatário deste processo, o Dr. GG.
1092) No leilão realizado em 15/5/2001, a melhor proposta colhida para a verba nº 1 foi apresentada por SS, pelo valor de 16.001.000$00, que foi aceite, vindo aquele mais tarde a ceder a sua posição contratual a AAAAAAAAAA.
1093) A 12/09/2001, realizou-se o contrato de compra e venda do imóvel correspondente à verba n° 1, tendo a massa falida, comum à requerida e marido, representada pelo Dr. SS e pelo Dr. GG, respetivamente, vendido este bem a AAAAAAAAAA, pelo montante de 16.001.000$00.

1094) Adjudicada a venda, a S... cobrou ao adjudicatário SS uma comissão a título de honorários no montante de 1.600.000$00, correspondente a cerca de 10% do valor da adjudicação, que repartiu com os liquidatários GG e SS.

1095) Esse montante de 1.600.000$00 foi afetado na proporção de metade às falências de GGGGGGGG, com vista à sua repartição com os arguidos GG e SS.

1096) Tendo ainda em vista a descrita finalidade, a arguida JJ dividiu por três o montante de 800.000$00, respeitante à falência de GGGGGGGG, tendo-se obtido o valor de 267.000$00, após arredondamento da quantia exacta de 266.666$66.

1097) Este montante de 267.000$00 foi entregue ao arguido LLL pelos arguidos DD e JJ, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda.

1098) Tal pagamento operou-se através do cheque n° 00000000, datado de 31/5/2001 e sacado s/conta nº0000000000 do Santander, titulada por DD e JJ, tendo sido depositado em 6/6/2001 e compensado em 07/06/01, na conta n.º 00000000, titulada por SS e outra.
                                                                              *
C...A...., Lda. (Apenso XCIX)
1099) Por decisão proferida em 19-10-2000, no Processo de Falência nº ..../00 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N. de Gaia, foi declarada falida a sociedade C...A...., Lda.

1100) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido SS.

1101) O arguido LLL propôs à comissão de credores, como modalidade da venda, a negociação particular, em 23/11/2000, o que obteve o acordo daquele órgão e foi levado ao conhecimento do juiz titular do processo de falência, que ordenou a realização da venda por despacho proferido em 13/2/2001.

1102) A melhor proposta para aquisição da totalidade dos bens da massa falida, no valor de 700.000$00, foi apresentada por GGG – sendo certo que este era um cliente habitual da S... -, tendo a comissão de credores dado o seu acordo para a venda.
1103) A venda foi realizada em 25/6/2001, pelo aludido valor acrescido de IVA (700.000$00 + 119.000$00, no valor global de 819.000$00), nesta data recebido, sendo compradora a “PanificadoraV.......”, representada por GGG.
1104) Em circunstancialismo não concretamente apurado, a S... veio a vender os aludidos bens, pelo preço de 1.200.000$00, acrescido da quantia de 119.000$00, contabilizada a título de IVA, tendo auferido um lucro no montante de 500.000$00.
1105) Com efeito, foram depositadas na conta nº 000000, do Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, as seguintes quantias: em 5/7/2001, a quantia de 1.200.000$00, através do cheque com nº00000000; em 23/7/2001, a quantia de 119.000$00 (correspondente ao IVA), através do cheque com o nº 900000.
1106) Por referência a esta falência, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido LL Lcerca de 1/3 do lucro obtido pela S... com a venda dos aludidos bens (no montante de 500.000$00), concretamente a quantia de 166.670$00.
1107) Tal pagamento operou-se através do cheque nº 0000000, datado de 17/9/2001 e sacado s/conta nº 00000000000, do Banco Santander, titulada por DD e JJ, emitido à ordem de “Drº SS”, tendo tal cheque sido endossado e depositado no BTA numa conta titulada pelos CTT, em 27/09/01, ocorrendo a compensação do mesmo em 28/9/2001.
                                                                              *
1108) BBB, faleceu na pendência do processo, era consultor de profissão, exerceu funções de liquidatário judicial desde 1997, estando para esse efeito inscrito nas listas do Tribunal da Relação de Coimbra.
1109) Em data não concretamente apurada, mas anterior a 19/1/2000, o arguido DD, em execução do plano previamente gizado com a arguida JJ, descrito no ponto 13), propôs a BBBque este escolhesse a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular, nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilhando, em contrapartida, quaisquer proveitos que a S... ou os arguidos DD e JJ viessem a auferir, designadamente os valores recebidos dos compradores a título de comissões.    
                                                                              *
CCC e mulher (Apenso LXVI)
1110) Por decisão proferida em 3-7-99, no Processo de Falência nº .../99 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Aveiro, foram declarados falidos CCC e mulher, BBBBBBBBB, tendo sido nomeado liquidatário judicial da massa falida BBB.
1111) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o liquidatário judicial BBB, em data não apurada, mas anterior a 19/1/2000, escolheu como modalidade da venda a negociação particular e, para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, recorreu aos serviços da S...N...L... (S...), o que obteve o acordo da comissão de credores.
1112) No mencionado processo de falência constata-se a existência de ofício da empresa “Tem.....– Sociedade de Mediação Imobiliária, Lda.”, onde a mesma oferece os seus serviços para a venda dos bens da massa falida, mediante contrato e que cobraria 2% sobre os imóveis e 5% sobre os móveis.
1113) Tal proposta não foi acolhida pelo liquidatário. 
1114) Por despacho judicial de 24/5/2000 os bens móveis foram adjudicados à Se....., Lda”, pelo valor de 205.000$00 e o imóvel (apartamento sito na C...N....) a CCCCCCCCC, pelo valor de 18.000.000$00.
1115) A escritura de compra e venda foi realizada em 26 de Maio de 2000.

1116) Após a realização do leilão, a S... cobrou ao comprador do bem imóvel, em 4/4/2000, uma comissão a título de honorários de 1.800.000$00.

1117) Desse montante os arguidos DD e JJ entregaram uma percentagem ao liquidatário BBB, concretamente a quantia de 600.000$00, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda.

1118) Tal pagamento operou-se através do cheque n° 0000000, datado de 4/7/2000, sacado s/conta nº 00000000 do Santander, titulada por DD e JJ, emitido à ordem de “BBB”, cheque que foi compensado em 01/08/00.
                                                                              *
1119) O arguido AAA é economista de profissão e exercia as funções de liquidatário judicial desde 1993.
1120) Em data não concretamente apurada, mas anterior a 28 de Maio de 1999, o arguido DD, em execução do plano previamente gizado com a arguida JJ, descrito no ponto 13), propôs ao arguido AAA que este escolhesse a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular, nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilhando, em contrapartida, quaisquer proveitos que a S... ou os arguidos DD e JJ viessem a auferir, designadamente os valores recebidos dos compradores a título de comissões.   
                                                                              *
A A....., Lda. (Apenso CXXXIV)
1121) Por decisão proferida em 24-03-1999, no Processo de Falência nº 00/98 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N. de Gaia, foi declarada falida a sociedade A A...., Lda.

1122) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido AAA.
1123) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido AAA, em 28/5/1999, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores e foi levado ao conhecimento do juiz titular do processo de falência, que ordenou a realização da venda.
1124) Relativamente aos bens móveis, a melhor proposta recebida foi da Panificadora Vi.... SA no valor de 250.000$00, acrescido de IVA, a quem foram vendidos e que pagou a respetiva quantia.
1125) O bem imóvel, e após uma primeira recusa da Comissão de Credores quanto ao valor proposto (4.500.000$00) para a compra pela empresa “Fa...., Lda”, acabou por ser vendido a “BB – Sociedade Imobiliária, SA”, por 7.555.000$00, na sequência de proposta apresentada por OOOO no leilão realizado em 10/4/2000, e ulterior cessão de posição contratual deste à sociedade “B. B.”, operada no próprio dia do leilão ou no dia seguinte.
1126) Adjudicada a venda, a S... cobrou ao adjudicatário do imóvel, em 10/4/2000, uma comissão a título de honorários no montante de 755.500$00, correspondente a 10% do valor da venda.
1127) Desse montante os arguidos DD e JJ entregaram cerca de um terço ao arguido AAA, concretamente a quantia de 251.830$00, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda.
1128) Tal pagamento operou-se através do cheque n° 00000000, emitido ao portador e datado de 14/9/2000, sacado s/conta nº 00000000 do Santander, titulada por DD e JJ.
1129) Tal cheque foi depositado em 15/09/00, na conta n.º 000000s/ o BPI, titulada pelo arguido AAA, e foi compensado em 18/09/00.
                                                                              *
1130) O arguido ZZ é economista de profissão, exercia as funções de liquidatário (administrador de falências) há mais de 40 anos, estando inscrito na lista oficial do Distrito Judicial do Porto desde 1995.
Em data não concretamente apurada, mas anterior a 29 Abril de 1996, o arguido DD, em execução do plano previamente gizado com a arguida JJ, descrito no ponto 13), propôs ao arguido ZZ que este escolhesse a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular, nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilhando, em contrapartida, quaisquer proveitos que a S... ou os arguidos DD e JJ viessem a auferir, designadamente os valores recebidos dos compradores a título de comissões.   
                                                                              *
Sociedade M...M..., SA (Fábrica do Cavalinho) (Apenso CCIII)
1131) Por decisão proferida em 26-2-1996, no Processo de Falência nº .../94 que correu termos no 3º Juízo do Tribunal Judicial Cível da Comarca de Guimarães, foi declarada falida a Sociedade M...M..., SA, com a denominação comercial “Fábrica do Cavalinho”.

1132) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido ZZ.
1133) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido ZZ, em 29/4/1996, requereu ao juiz titular do processo de falência que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, com a coadjuvação da S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da maioria dos membros da comissão de credores e foi deferido pelo juiz titular do processo de falência, que ordenou a realização da venda.
1134) Os bens móveis foram vendidos a diversas entidades, em diversas datas e por diversos valores, num total de 81.272.728$00, constando nos referidos autos anúncios de que se aceitavam propostas, até 25 de Novembro de 1996.
1135) Os dois bens imóveis foram a leilão, em 17 de Novembro de 1999, após deliberação nesse sentido da comissão de credores, tendo um dos imóveis vindo a atingir o valor de 527.000.000$000 e sendo proponente a “H.....P...... SA”, atingindo o outro imóvel o valor de 40.000.000$00 e sendo proponente LLLL.
1136) Relativamente a este último imóvel, uma vez que o valor proposto era inferior ao valor base de licitação (50.000.000$00), a proposta atrás mencionada não foi imediatamente aceite, tendo a comissão de credores, em data posterior, deliberado aceitar a venda por aquele valor e à sociedade “M.... – Imobiliária, SA”, em substituição do proponente inicial (LLLL), por motivo não apurado.
1137) As escrituras públicas de compra e venda foram ambas realizadas em 06 de Julho de 2000, sendo outorgantes como compradores, respetivamente, “H....F.....– Sociedade de Empreendimentos Imobiliários, S.A” – por decisão dos respetivos administradores, comuns à sociedade proponente “H.....P...... SA” -, e “M.... – Imobiliária, S.A”.
1138) Adjudicadas as vendas, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos comissões no valor global de 27.000.000$00 (25.000.000$00, pagos pela “H....F.....s, SA”, em 26/11/99, e 2.000.000$00, pagos pela “M...., SA”, em data não apurada, mas anterior a 18/2/2000).
1139) Pelo menos por conta do montante de 25.000.000$00, os arguidos DD e JJ entregaram uma parte ao arguido DDDDDDDDD, concretamente a quantia de 8.000.000$00, como contrapartida pela escolha e intervenção da S... como coadjuvante da venda.
1140) Para efetuar o aludido pagamento, da conta bancária n.º 00000000000000 s/ o BS, titulada por DD e JJ, foi efectuado um levantamento em numerário, no montante de 8.000.000$00, em 23/12/99.

1141) Na conta bancária n.º00000000000 s/ o BS, titulada pelo arguido DDDDDDDDD, foi efectuado um depósito em numerário, no montante de 8.300.000$00, em 23/12/99.
                                                                              *
1142) A arguida XX é advogada de profissão e exerceu, desde 1992, funções de liquidatária judicial.
1143) Encontra-se inscrita na lista oficial do Distrito Judicial de Coimbra desde 1995.
                                                                              *
AZ.. – Companhia Portuguesa de Azulejos, SA (Apenso LXXXI)
1144) Por decisão proferida em 17-11-94, no Processo de Falência nº .../93 que correu termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Anadia, foi declarada falida a sociedade AZ.. – Companhia Portuguesa de Azulejos, SA, sendo nomeado liquidatário judicial EEEEEEEEE.
1145) A venda por negociação particular, com recurso à colaboração da S..., realizou-se com prévio acordo da comissão de credores e por sugestão do, então, liquidatário judicial, EEEEEEEEE.
1146) Por despacho de 25-11-96, em substituição do liquidatário anterior, foi nomeada liquidatária judicial da massa falida a arguida XX.
1147) Em leilão realizado no dia 24/2/99, “Ma..... – Administração de Propriedades, SA” apresentou a melhor proposta para os bens, móveis e imóvel, da falida, pelos preços, respetivamente, de 15.040.000$00 e 95.260.000$00.
1148) A arguida, por comunicação datada de 24/2/99, deu conhecimento à administração da “Líder – Investimentos Cerâmicos, SA” da proposta apresentada em leilão, quanto ao imóvel, para que a mesma, se quisesse, exercesse o direito de preferência.
1149) Nessa comunicação informou que, ao preço de 95.260.000$00, acrescia a comissão de 5% da agência de leilões, no valor de 4.763.000$00, bem como IVA à taxa de 17%, sendo este no valor 809.710$00.
1150) De acordo com o clausulado no contrato-promessa em 24/2/99, veio posteriormente (por comunicação datada de 18/5/99) a Ma.....-Administração de Propriedades, SA indicar como entidade compradora a G....I.... Cerâmica, SA.
1151) Assim, e porque não foi exercido o direito de preferência pela L....I.....Cerâmicos, SA, os referidos bens foram comprados pela G.... –Indústria Cerâmica, SA, por 95.260.000$00, no que respeita ao imóvel e por 15.040.000$00 no que se refere aos bens móveis, tendo sido a escritura pública de compra e venda do imóvel celebrada em 1/6/99.

1152) No dia do leilão e da celebração do contrato-promessa de compra e venda (24/2/99), a S... cobrou à proponente “Ma....., SA” uma comissão equivalente a 10% do preço dos bens móveis (no montante de 1.504.000$00, acrescido de IVA), e uma comissão equivalente a 5% do preço do bem imóvel (no montante de 4.763.000$00, acrescido de IVA), comissões estas, no valor global de 6.267.000$00 (mais IVA), que foram pagas através de cheques datados de 1/3/99.

1153) Desse montante os arguidos DD e JJ decidiram entregar uma parte à arguida XX, concretamente a quantia de 1.962.000$00, em 30-03-1999 e em numerário, como contrapartida da intervenção da S... nos autos de falência como coadjuvante da venda, o que a arguida XX aceitou.

1154) Para efetuar o aludido pagamento em 30/3/99 foi descontado o cheque nº .......... no montante de 2.962.000$00, emitido da conta bancária n.º 00000000000 s/ o BS, titulada por DD e JJ.
                                                                              *
1155) O arguido VV, economista de profissão, exerceu funções de liquidatário judicial, desde meados de 2000, constando da lista do Tribunal da Relação do Porto desde o referido ano.

1156) Em data não concretamente apurada, mas anterior a 5 de Maio de 2000, o arguido DD, em execução do plano previamente gizado com a arguida JJ, descrito no ponto 13), propôs ao arguido VV que este escolhesse a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular, nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercesse a função de liquidatário judicial, ou por qualquer forma permitisse a sua intervenção na negociação de tais bens, com ele partilhando, em contrapartida, quaisquer proveitos que a S... ou os arguidos DD e JJ viessem a auferir, designadamente os valores recebidos dos compradores a título de comissões.   

*
N.... – Sociedade de Construções, Lda. (Apenso LI)
1157) Por decisão proferida em 22-2-2000, no Processo de Falência nº..../99 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Braga, foi declarada falida a sociedade N.... – Sociedade de Construções, Lda.

1158) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido VV.
1159) Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido VV, em 5/5/2000, propôs à comissão de credores que a venda dos bens da falida fosse efetuada por negociação particular, sendo coadjuvado por uma empresa da especialidade, para tal sugerindo a S...N...L... (S...), o que veio a obter o acordo da comissão de credores.
1160) No leilão realizado em 12/10/2000, a melhor proposta para o bem imóvel da verba nº 1 do auto de apreensão de bens desta falida foi apresentada por FFFFFFFFF, no valor de 70.100.000$00, a qual veio a ser aceite pela comissão de credores.
1161) O referido imóvel veio a ser vendido à sociedade “J– I......., Lda” representada, nomeadamente, pelo proponente e sócio da mesma FFFFFFFFF, através de escritura pública de compra e venda outorgada, em 30/10/2001, pelo preço de 70.100.000$00.

1162) Adjudicada a venda, a S... cobrou ao proponente FFFFFFFFF uma comissão a título de honorários no montante de 7.010.000$00, correspondente a 10% do valor da venda, que foi paga através de cheque datado de 17/10/2000.

1163) Desse montante os arguidos DD e JJ entregaram uma parte ao arguido VV, concretamente a quantia de 2.366.666$00, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda.

1164) Tal pagamento operou-se em 15-11-00, através de numerário, que na mesma data foi levantado da conta nº 00000000, do DD e JJ, sediada no Banco Santander.

1165) Em 11-6-2002, ainda no âmbito desta falência, mas por motivo não concretamente apurado, os arguidos DD e JJ entregaram ao arguido VV o montante de 5.820,00 € (1.166.805$00).

1166) Na conta bancária n.º 00000000 s/ o BTA, titulada por GG eVV, foi efectuado um depósito em numerário, no montante de 2.366.666$00, em 16/11/00.

1167) Na conta bancária n.º0000000 s/ o BTA, titulada por GG e VV, foi efectuado um depósito em numerário, no montante de 5.000,00€, em 12/06/02.
                                                                              *
F...T... – , Lda. (Apenso XCIII)
1168) Por decisão proferida em 7-10-99, no Processo de Falência nº../99 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal de Comércio de V. N de Gaia, foi declarada falida a sociedade F...T...., Lda.

1169) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido VV.
1170) A massa falida era constituída integralmente por bens móveis.
1171) O arguido VV propôs à comissão de credores, em 4/11/1999, a realização da venda dos bens da falida através de negociação particular, o que obteve o acordo de tal órgão.
1173) Tais bens foram vendidos, por negociação particular, em 17-02-2000, pelo montante de 750.000$00, à S...N...L... que, neste caso, não foi indicada como coadjuvante na venda.
1174) Contudo, tal montante só foi depositado na conta da massa falida cerca de um mês após a venda, concretamente em 27/3/2000.

1175) No caso em apreço, a S..., sendo a própria compradora dos bens não recebeu comissão, mas veio a revendê-los, em meados do mês de Abril de 2000, tendo o arguido DD contabilizado lucros com o negócio, que foram repartidos com o liquidatário, pagando-lhe os arguidos DD e JJ o montante de 556.500$00.

1176) Tal pagamento operou-se através da emissão do cheque nº 0000000, datado de 29/6/2000, sacado s/ conta nº 000000 do Banco Santander, titulada pelos arguidos DD e JJ, cheque este que foi compensado em 4/7/2000.

1177) Na conta bancária n.º 0000000 s/ o BTA, titulada por GG e VV, foi efectuado um depósito de valores no montante de 1.960.505$00, em 03/07/00, do qual faz parte o cheque em causa no valor de 556.500$00.
                                                                              *
E...B.... & C.ª Lda. (apenso XLV)
1178) Por decisão proferida em 5-4-2000, no Processo de Falência nº .../99 que correu termos no 1º Juízo do Tribunal de Comércio de V N da Gaia, foi declarada falida a sociedade E...B.... & C.ª, Lda.

1179) No mesmo despacho foi nomeado liquidatário judicial da massa falida o arguido VV.
1180) O arguido VV propôs à comissão de credores, em 30/6/2000, a realização da venda dos bens da falida através de negociação particular, o que obteve o acordo de tal órgão e foi deferido pelo Juiz titular do processo que, por despacho de 24/11/2000, ordenou se procedesse à venda.
1181) “Panificadora Vi.... SA” dirigiu uma proposta ao liquidatário judicial para aquisição de todos os bens da falida, datada de 3/11/2000, pelo valor de 5.000.000$00, proposta esta que o arguido VV deu a conhecer à comissão de credores, por cartas datadas de 20/11/2000, solicitando o respetivo acordo para a mesma.
1182) Posteriormente solicitou ao juiz do processo a ratificação do entendimento de que a falta de resposta pelos membros da comissão de credores era considerada como acordo tácito para aquela venda, tal como já fora mencionado nas cartas que enviara aos mesmos.
1183) Apreciado tal requerimento, por despacho judicial de 21/12/2000, foi ordenada a venda e posteriormente o respetivo depósito.
1184) No presente caso, a S... não foi nomeada como coadjuvante da venda, nem apresentou proposta de aquisição dos bens da falida.

1185) Contudo, sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... na negociação, por qualquer forma, dos bens das falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos, o arguido VV anuiu a que o arguido DD interviesse na negociação de tais bens, à margem do processo de falência.

1186) Assim, o arguido DD negociou com GGGGGGGGG, em representação da Im....., a venda dos bens móveis.

1187) Ajustado o preço (12.500.000$00), ficou então acordado entre o GGGGGGGGG e o arguido DD que a IM......lhe pagaria o montante de 7.500.000$00, em prestações, comunicando o arguido DD ao mencionado representante da IM......que deveria proceder, ainda, ao pagamento da quantia de 5.000.000$00, acrescida de IVA, à massa falida, o que este aceitou.

1188) Assim, a IM......emitiu um cheque no valor de 5.850.000$00, em 5/1/2001, à ordem da massa falida de “E...B.... & Comp. ª, Lda”, que o arguido VV recebeu e depositou em conta bancária, aberta no BPN, em nome da massa falida. 
1189) A quantia de 7.500.000$00 foi paga em três prestações (Janeiro, Fevereiro e Abril de 2001), pelo representante da Im....., sendo as duas primeiras no valor de 2.500.000$00 e a terceira no valor de 2.250.000$00, ficando por pagar o montante de 250.000$00, que foi liquidado em 26/6/2001.
1190) A descrita negociação levada a cabo pelo arguido DD à margem do processo de falência, conduziu à obtenção pelos arguidos DD e JJ de um benefício de 7.500.000$00 – causando o correspondente prejuízo patrimonial à massa falida -, o que sucedeu com o conhecimento e não oposição do liquidatário judicial.
1191) Os arguidos DD e JJ vieram a repartir o proveito por eles obtido com o arguido VV, entregando-lhe 1/3 do referido lucro, concretamente a quantia de 2.500.000$00, como contrapartida da anuência do liquidatário judicial ao recebimento pelos primeiros do descrito proveito, à margem do processo de falência.
1192) Tal pagamento operou-se através do cheque nº 0000000, datado de 4/4/2001, no valor de 2.500.000$00, sacado s/ conta nº 000000000000 do Banco Santander, titulada por DD e JJ, cheque este que foi compensado em 6/4/2001.
1193) Tal cheque foi depositado na conta bancária n.º 0000000000 s/ o BTA, titulada por GG e VV, em 05/04/01.

                                                                              *

1194) Foram constituídas ou adquiridas pelos arguidos DD e JJ, entre outras, as seguintes sociedades:

1195) “Ap..... – Compra e Venda de Bens Móveis e Imóveis, Lda.”, com sede na R..........., ...–.., no Porto, de que são membros da administração/gerência DD e JJ.

1196) “A... L.. – Investimentos Imobiliários, SA”, com sede na Rua ......, em Leça do Balio, Matosinhos, destinada à aquisição do imóvel da falida “Fábrica de Tecidos L”, de que são membros da administração/gerência DD, HHHHHHHHH e IIIIIIIII.

1197) “AS...., SA”, com sede na Rua da...., em Leça do Balio, Matosinhos, que faz a gestão deste empreendimento, de que são membros da administração/gerência DD e FFFF, entre outros.

1198) “V,,,,,,, – Transações Mobiliárias e Imobiliárias, Lda.”, com sede na R..........., .... –.., no Porto, de que são membros da gerência DD e JJ.

1199) “S........– Compra e Venda de Bens Móveis e Imóveis, Lda”., com sede na R..........., .... –...2º, no Porto, de que são membros da gerência DD e JJ.

1200) “V.... A..... –Compra e Venda de Bens Móveis e Imóveis, Lda”, com sede na R..........., .... –...º, no Porto de que são membros da gerência DD e JJ.

1201) “PPor....., Promoções Imobiliárias, SA”, com sede na Av. D. ..........º, sala ...., Matosinhos, de que são membros da administração o arguido DD, IIIIIIIII e JJJJJJJJJ.

1202) [alterado pelo acórdão recorrido – cfr. suas fls. 1030 e 1046] Por força da atividade ilícita levada a cabo pelos arguidos e atrás descrita, resultaram para os mesmos, pelo menos, os seguintes proveitos:

– Para o arguido AA a quantia de 76.996.891$00, equivalente a 384.058,87 (trezentos e oitenta e quatro mil e cinquenta e oito euros e oitenta e sete cêntimos).

– Para os arguidos DD e JJ (S...) a quantia de 709.845.206$40, equivalente a 3.540.692,96 € (três milhões, quinhentos e quarenta mil, seiscentos e noventa e dois euros e noventa e seis cêntimos).

– Para o arguido GG a quantia de 39.467.172$00, equivalente a € 196.861,42 (cento e noventa e seis mil oitocentos e sessente e um euros e quarente e dois cêntimos). 

– Para o arguido QQ a quantia de 37.812.376$74, equivalente a € 188.607,34 (cento e oitenta e oito mil, seiscentos e sete euros e trinta e quatro cêntimos).

– Para o arguido RR a quantia de 47.282.600$00, equivalente a € 235.844,61 (duzentos e trinta e cinco mil, oitocentos e quarenta e quatro euros e sessenta e um cêntimos).

– Para o arguido UUUUUU a quantia de 667.000$00, equivalente a € 3.326,98 (três mil, trezentos e vinte e seis euros e noventa e oito cêntimos).

– Para o arguido TT a quantia de 40.723.465$00, equivalente a € 203.127,78 (duzentos e três mil, cento e vinte e sete euros e setenta e oito cêntimos).

– Para o arguido UU a quantia de 1.500.000$00, equivalente € 7.481,97 (sete mil, quatrocentos e oitenta e um euros e noventa e sete cêntimos).

– Para o arguido VV a quantia de 4.866.666$00, equivalente a € 24.274,83 (vinte e quatro mil, duzentos e setenta e quatro euros e oitenta e três cêntimos).

– Para a arguida KKKKKKKKK a quantia de 1.504.998$00, equivalente a € 7.506,91 (sete mil quinhentos e seis euros e noventa e um cêntimos).

– Para o arguido ZZ a quantia de 8.000.000$00, equivalente a € 39.903,83 (trinta e nove mil novecentos e três euros e oitenta e três cêntimos),

– Para o arguido AAA a quantia de 251.830$00, equivalente a € 1.256,12 (mil duzentos e cinquenta e seis euros e doze cêntimos).

- Para o arguidoLLLLLLLLL a quantia de 3.000.000$00, equivalente a € 14.963,94 [anterior redacção: «Por força da atividade ilícita levada a cabo pelos arguidos e atrás descrita, resultaram para os mesmos, pelo menos, os seguintes proveitos:

– Para o arguido AA a quantia de 76.996.891$00, equivalente a 384.058,87 (trezentos e oitenta e quatro mil e cinquenta e oito euros e oitenta e sete cêntimos).

– Para os arguidos DD e JJ (S...) a quantia de 794.999.903$48, equivalente a € 3.965.442,80 (três milhões, novecentos e sessenta e cinco mil, quatrocentos e quarenta e dois euros e oitenta cêntimos).

– Para o arguido GG a quantia de 41.467.172$00, equivalente a € 206.837,38 (duzentos e seis mil oitocentos e trinta e sete euros e trinta e oito cêntimos). 

– Para o arguido QQ a quantia de 37.812.376$74, equivalente a € 188.607,34 (cento e oitenta e oito mil, seiscentos e sete euros e trinta e quatro cêntimos).

– Para o arguido MMMMMMMMM

a quantia de 47.282.600$00, equivalente a € 235.844,61 (duzentos e trinta e cinco mil, oitocentos e quarenta e quatro euros e sessenta e um cêntimos).

– Para o arguido UUUUUU a quantia de 667.000$00, equivalente a € 3.326,98 (três mil, trezentos e vinte e seis euros e noventa e oito cêntimos).

– Para o arguido TT a quantia de 40.723.465$00, equivalente a € 203.127,78 (duzentos e três mil, cento e vinte e sete euros e setenta e oito cêntimos).

– Para o arguido UU a quantia de 1.500.000$00, equivalente € 7.481,97 (sete mil, quatrocentos e oitenta e um euros e noventa e sete cêntimos).

– Para o arguido VV a quantia de 4.866.666$00, equivalente a € 24.274,83 (vinte e quatro mil, duzentos e setenta e quatro euros e oitenta e três cêntimos).

– Para a arguida KKKKKKKKK a quantia de 1.504.998$00, equivalente a € 7.506,91 (sete mil quinhentos e seis euros e noventa e um cêntimos).

– Para o arguido ZZ a quantia de 8.000.000$00, equivalente a € 39.903,83 (trinta e nove mil novecentos e três euros e oitenta e três cêntimos),

– Para o arguido AAA a quantia de 251.830$00, equivalente a € 1.256,12 (mil duzentos e cinquenta e seis euros e doze cêntimos).

- Para o arguido LLLLLLLLL a quantia de 3.000.000$00, equivalente a € 14.963,94». 

1203) Os arguidos AA, QQ, KKKKKKKKK, GG, RR, TT, UU, UUUUUU, BBB (entretanto falecido), AAA, ZZ, XX, VV, DD, JJ,LLLLLLLLL,KK e CCCC tinham perfeita consciência de que os liquidatários judiciais desempenhavam funções de controle, fiscalização, execução de vendas, gestão de bens e patrimónios, prestação de contas, realização de pagamentos, no âmbito de processos judiciais, em colaboração directa com os Tribunais, e em consequência de um ato jurisdicional e de autoridade pública concretizado na nomeação por decisão do Juiz.
1204) Sabiam os arguidos DD e JJ que não era devida aos arguidos AA, QQ, GG, RR, TT, UU, SS, BBB (entretanto falecido), AAA, ZZ e VV, pelo exercício das suas funções de liquidatários judiciais, qualquer outra quantia para além daquelas que lhes fossem atribuídas pelos juízes dos processos de falência.
1205) Sabiam também os arguidos DD e JJ que ao proporem – como efetivamente propôs o primeiro, em execução de decisão por ambos previamente tomada – aos arguidos AA, QQ, GG, RR, TT, UU, SS, BBB (entretanto falecido), AAA, ZZ e VV que escolhessem a S... para consigo colaborar na venda por negociação particular, nos autos de liquidação de activos de falidas em que exercessem a função de liquidatários judiciais, ou por qualquer forma permitissem a intervenção da S... na negociação de tais bens, em troca da partilha com os mesmos de quaisquer proveitos que a S... ou que eles próprios, os arguidos DD e JJ, viessem a auferir, condicionavam o exercício das suas funções de liquidatários judiciais e a sua autonomia funcional, levando-os a violar os seus deveres funcionais e a mercadejar com o cargo que exerciam.
1206) Não obstante, os arguidos DD e JJ, dando cumprimento ao acordado com os arguidos AA, QQ, GG, RR, TT, UU, SS, BBB (entretanto falecido), AAA, ZZ e VV, vieram a entregar-lhes contrapartidas pecuniárias, em troca da escolha por eles da S... como coadjuvante da venda e, ainda, no que concerne ao arguido QQ, em troca da sua anuência à venda dos imóveis da falida “P...”, em condições diferentes às declaradas no processo, e aos arguidos GG (relativamente às falências de “T...F....” e de “Construções Â...V....) e VV (quanto à falência de “E...B.... & Companhia, Lda”), em troca da sua anuência à negociação de bens à margem dos processos de falência e ao recebimento pelos arguidos DD e JJ de proveitos decorrentes dessa negociação.
1207) Actuaram os arguidos DD e JJ de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei.
1208) Por sua vez, sabiam os arguidos AA, QQ, GG, RR, TT, UU, SS, BBB (entretanto falecido), AAA, ZZ e VV que não lhes era devida, pelo exercício das suas funções de liquidatários judiciais, qualquer outra quantia para além daquelas que lhes fossem atribuídas pelos juízes dos processos de falência.
1209) Sabiam também os arguidos AA, QQ, GG, RR, TT, UU, SS, BBB (entretanto falecido), AAA, ZZ e VV que, ao escolherem a S... para intervir em autos de falência como coadjuvante da venda, visando beneficiar da divisão de ganhos proposta pelo arguido DD (em execução da decisão por este tomada com a arguida JJ), estavam a condicionar o exercício das suas funções de liquidatários judiciais e a violar os seus deveres funcionais, mercadejando com o cargo que exerciam.
1210) Sabia igualmente o arguido QQ que, ao anuir à venda dos imóveis da falida “P...”, em condições diferentes às declaradas no processo, estava a condicionar o exercício da sua função de liquidatário judicial e a violar os seus deveres funcionais, mercadejando com o cargo que exercia.
1211) Por sua vez, sabiam os arguidos GG e VV que, ao anuírem à negociação de bens à margem dos processos de falência atrás mencionados (“T...F....”, “Construções Â...V.... e “E...B.... & Companhia, Lda”) e ao recebimento pelos arguidos DD e JJ de proveitos decorrentes dessa negociação, visando beneficiar da divisão de ganhos proposta pelo arguido DD (em execução da decisão por este tomada com a arguida JJ), estavam a violar os seus deveres funcionais, mercadejando com o cargo que exerciam.
1212) Não obstante, os arguidos AA, QQ, GG, RR, TT, UU, SS, BBB, AAA, ZZ e VV vieram a receber dos arguidos DD e JJ quantias monetárias, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda e, ainda, quanto ao liquidatário judicial QQ, em troca da anuência à venda dos imóveis da falida “P...”, em condições diferentes às declaradas no processo, e quanto aos liquidatários judiciais GG e VV, nos casos atrás mencionados, em troca da anuência à negociação e ao recebimento de valores pelos arguidos DD e JJ à margem dos processos de falência.
1213) Actuaram os arguidos AA, QQ, GG, RR, TT, UU, SS, BBB, AAA, ZZ e VV de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que a sua conduta era proibida e punida por lei.

1214) Sabiam ainda os arguidos DD e JJ e também os arguidos GG e VV que, ao actuarem pela forma descrita nas falências de “T...F....” e “E...B.... & Companhia, Lda” estavam a causar prejuízo às respetivas massas falidas e, não obstante, não se abstiveram de levar a cabo as condutas já descritas com o objetivo de daí retirarem proveitos, que sabiam não lhes serem devidos.

1215) Sabia também o arguido QQ que, ao escolher a “SO.....” para intervir nos autos de falência da “GA......” e da “S.....”, como coadjuvante da venda, visando beneficiar da divisão de ganhos acordada com a aludida LEI... por intermédio de pessoa não identificada, estava a condicionar o exercício das suas funções de liquidatário judicial e a violar os seus deveres funcionais, mercadejando com o cargo que exercia.
1216) Não obstante, o arguido QQ, dando cumprimento ao acordado com a “SO.....”, veio a receber quantias monetárias, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da referida “SO.....” como coadjuvante da venda nos aludidos processos de falência.
1217) Actuou o arguido QQ de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que a sua conduta era proibida e punida por lei.
1218) Sabia o arguido LLLLLLLLL que não era devida à arguida PPPPPP, pelo exercício das suas funções de liquidatária judicial, qualquer outra quantia para além daquelas que lhe fossem atribuídas pelos juízes dos processos de falência.
1219) Sabia também o arguido LLLLLLLLL que, ao acordar com a arguida PPPPPP a escolha por esta da “E.....L.....a” para intervir em autos de falência como coadjuvante da venda, em troca da partilha com a mesma de quaisquer proveitos que a leiloeira viesse a auferir, condicionava o exercício das suas funções de liquidatária judicial e a sua autonomia funcional, levando-a a mercadejar com o cargo que exercia.
1220) Não obstante, o arguido LLLLLLLLL, dando cumprimento ao acordado com a arguida PPPPPP, veio a entregar-lhe uma contrapartida pecuniária, em troca da escolha por esta da “E.....L.....a” como coadjuvante da venda, no âmbito da falência da “Co...”.
1221) Actuou o arguido LLLLLLLLL de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que a sua conduta era proibida e punida por lei.

1222) Por sua vez, sabia a arguida PPPPPP que não lhe era devida, pelo exercício das suas funções de liquidatária judicial, qualquer outra quantia para além daquelas que lhe fossem atribuídas pelos juízes dos processos de falência.
1223) Sabia também a arguida PPPPPP que, ao escolher a “E.....L.....a” para intervir em autos de falência como coadjuvante da venda, visando beneficiar da divisão de ganhos acordada com o arguido QQQQQQ, em representação da “E.....L.....a”, estava a condicionar o exercício das suas funções de liquidatária judicial e a violar os seus deveres funcionais, mercadejando com o cargo que exercia.
1224) Não obstante, a arguida PPPPPP, na sequência do previamente acordado com o arguido LLLLLLLLL, veio a receber quantia monetária, como contrapartida da escolha e subsequente intervenção da “E.....L.....a”, como coadjuvante da venda no âmbito da falência da “Co...”.
1225) Actuou a arguida PPPPPP de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que a sua conduta era proibida e punida por lei.
1226) Sabiam os arguidos DD e JJ que não era devida à arguida XX, pelo exercício da sua função de liquidatária judicial, qualquer outra quantia para além daquelas que lhe fossem atribuídas pelos juízes dos processos de falência.

1227) Apesar disso, os arguidos DD e JJ vieram a entregar à arguida XX quantia pecuniária, em troca da intervenção da S... como coadjuvante da venda nos autos de falência da “AZ..”.
1228) Por sua vez, sabia a arguida XX que não lhe era devida, pelo exercício da sua função de liquidatária judicial, qualquer outra quantia para além daquelas que lhe fossem atribuídas pelos juízes dos processos de falência.

1229) Não obstante, a arguida XX veio a receber dos arguidos DD e JJ quantia pecuniária, em troca da intervenção da S... como coadjuvante da venda nos autos de falência da “AZ..”, apesar de saber que a mesma não lhe era devida.

1230) Os arguidos DD, JJ e QQ tinham perfeita consciência de que o arguido CCCC era funcionário da Segurança Social e de que a sua função nas Comissões de Credores era a de assegurar o interesse da massa falida, bem como o da instituição credora para a qual trabalhava – Delegação de Braga do IGFSS.
1231) O arguido KK, apesar de ter conhecimento da atividade ilícita desenvolvida pelos arguidos AA, DD e JJ, quis colaborar com o arguido AA na execução da mesma, recebendo o dinheiro que era destinado ao arguido AA e que lhe era entregue pelos arguidos DD e JJ, ou por alguém a seu mando, e posteriormente entregando-o ao arguido AA, conforme se descreveu nos casos das falências de “A....A..., Lda”, “Metalúgica Central de Gondomar, SA”, “Fiação de Tecido J. F...B..., SA”, “T..., Lda”, “C...C... e Companhia, Lda”, “C...D....., Lda”, “C...D....., Lda”, J..M...R..., “M......, SA”, “Supermercados G...., SA”, “I...., Lda”, “S....m, Lda”, “M...., Lda”, “C...., Lda”, “A...., SARL”, “A..., Lda”, “Fábrica de Tecidos da F...., SA”, A...S....R.... e mulher e NNNNNNNNN e mulher.
1232) Agiu o arguido KK de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que a sua conduta era proibida e punida por lei.
1233) Os arguidos AA e KK sabiam que quaisquer rendimentos resultantes da permanência em depósito em contas bancárias de valores provenientes do produto da liquidação de activos de falidas, ou da aplicação financeira dos mesmos, deveriam reverter em benefício das massas falidas, às quais pertenciam.
1234) Não obstante, os arguidos AA e KK decidiram criar a conta bancária nº 0000000, para nela procederem ao depósito dos valores resultantes das liquidações dos activos das falências nas quais o arguido AA exercia as funções de liquidatário judicial, com o objetivo de apenas restituir às massas falidas o capital inicialmente depositado e tendo em vista permitir a apropriação pelo arguido AA do rendimento pelo mesmo, por qualquer forma, gerado.
1235) Assim, em concretização do propósito acima descrito, os arguidos AA e KK, actuando em execução de plano conjunto e em comunhão de esforços, depositaram na aludida conta bancária o produto da liquidação de activos de falidas, tendo-se o arguido AA apropriado dos rendimentos gerados, apesar de ambos saberem que tais valores não lhes pertenciam e que, com tal actuação, lesavam o património das falidas, conforme descrito nas falências de “C.....C....A....”, “T...l”, “M......”, “Supermercados G....”, “I....” e A...M..R....
1236) Sabiam ainda os arguidos que, com a descrita actuação, o arguido AA violava os deveres inerentes ao cargo que exercia, com o objetivo consumado de obter benefícios a que não tinha direito.
1237) Agiram os arguidos AA e KK de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei.
1238) O arguido AA, ao consentir que os “sinais” recebidos no âmbito da liquidação do activo das falidas “Supermercados G....” e “I....” fossem depositados nas contas pessoais dos arguidos DD e JJ, e por isso alheias às contas das massas falidas, permitiu que estes arguidos se apropriassem dos juros respetivos, com prejuízo para as respetivas massas falidas, como efetivamente sucedeu, actuando em violação dos deveres inerentes ao cargo que exercia.

1239) Por seu turno, os arguidos DD e JJ, ao depositarem nas contas bancárias próprias as referidas quantias pagas a título de “sinal”, visaram apropriar-se dos rendimentos gerados pelas mesmas, que não restituíram às massas falidas, apesar de saberem que não lhes pertenciam e que, com tal actuação, lesavam o património das mesmas, tendo actuado em execução de plano conjunto e em comunhão de esforços.
1240) Agiram os arguidos AA, DD e JJ de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei.
1241) O arguido TT sabia que quaisquer rendimentos resultantes da permanência em depósito em contas bancárias de valores provenientes do produto da liquidação de activos de falidas, ou da aplicação financeira dos mesmos, deveriam reverter em benefício das massas falidas, às quais pertenciam.

1242) Não obstante, o arguido TT depositou quantia proveniente da venda de activos da falida “C....” na sua conta pessoal e procedeu a uma aplicação financeira, com o objetivo consumado de se apropriar dos juros correspondentes, apesar de bem saber que tais valores não lhe pertenciam, que lesava o património da respetiva massa falida e, por essa via, violava os deveres inerentes ao cargo que exercia.
1243) Agiram os arguidos AA, DD e JJ de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei.
                                                                              *

1244) No dia 03-07-2002 foram realizadas diligências de busca nos domicílios de diversos suspeitos, nomeadamente nas instalações da S...N...L..., na R..........., nesta cidade.

1245) Na mesma data, e em conformidade com a ordem emanada pela Juiz de Instrução do Porto, foi determinada a apreensão das contas bancárias da S...N...L... e dos arguidos DD e de JJ.
                                                                              *
Factos provados da Contestação do arguido AA:

1246) Era prática corrente em que o arguido se integrou a confiança das vendas a agências de leilões, que cobravam normalmente dos compradores uma percentagem do produto das vendas.

1247) A atribuição das vendas a agências de leilões era e continua a ser uma prática corrente, com conhecimento e autorização dos Juízes e das Comissões de Credores, por ser a forma mais eficiente de rentabilizar as vendas dos bens apreendidos.

1248) As leiloeiras cobram uma comissão, destinada a remunerar as despesas por si suportadas e pelo seu trabalho, anunciada no início de cada venda, a suportar pelo comprador.

1249) Do preço conseguido com a venda e respetivo comprador é dado conhecimento à Comissão de Credores, no próprio processo, e na eventualidade do preço ser inferior ao indicado pela Comissão de Credores, terá a mesma que se pronunciar antes de concretizada a venda, dando-se igualmente conhecimento do facto nos autos de falência.

1250) O arguido era nomeado liquidatário judicial pela sua reconhecida competência no meio judicial.

                                                                              *

Factos provados da contestação dos arguidos DD e JJ:

1251) No dia 3 de Julho de 2002 foram efetuadas buscas no edifício sito na R..........., ....., Porto, na c.....,.....º andar, conforme teor do auto de busca e apreensão de fls. 1549 a 1553, que aqui se dá por integralmente reproduzido.

1252) Tais buscas foram promovidas pelo Ministério Público a escritório de advogado e às sedes das empresas S...N...L..., Lda., Da C.....e DD, Lda., So......., Lda, Urgências, Lda. e Ap....., tendo sido autorizada pela Juíza de Instrução Criminal a busca ao escritório do advogado OOOOOOOOO, sito no...andar, do edifício nº...., Rua......, Porto, conforme resulta do teor de fls. 845, 846, 851, 872, que aqui se dá por integralmente reproduzido.

1253) Na data da busca os inspectores da Polícia Judiciária constaram que o escritório do advogado OOOOOOOOO se situava no 1° andar, informaram o Ministério Público o qual promoveu junto do JIC a busca ao escritório no 1º andar do referido edifício. 

1254) No dia 03/07/2002 e antes de iniciadas as buscas, foi proferido novo despacho de autorização de busca ao escritório do advogado agora sito no 1º andar e às instalações das empresas de que são sócios os arguidos DD e JJ, S...N...L..., Lda., D.... e DD, L.da., So......., L.da, Urgências, L.da e Ap....., conforme resulta do teor de fls. 900/901, que aqui se dá por integramente reproduzido.

1255) As buscas ao edifício sito na Rua ........,........., Porto, iniciaram-se pelas 15.00 horas, ao escritório do advogado, presidida pela Juiz de Instrução Criminal, Dr.ªPPPPPPPPP...e na presença do representante da Ordem dos Advogados, Drº QQQQQQQQQ.

1256) Após terminada a busca ao escritório do advogado, a JIC e o representante da Ordem dos Advogados, deslocaram-se para Vila do Conde onde, pelas 17,50 h, se realizou uma busca em escritório de advogado.

1257) Antes da realização de cada um dos leilões, eram afixados nos respetivos locais, onde os mesmos se realizavam, folhetos vários, indicando expressamente essas condições, entre elas o pagamento da referida comissão à S....

1258) Antes do início de cada leilão, na presença de todos os concorrentes, era lido, em voz alta, o teor de um desses folhetos e, por conseguinte, a exigência do pagamento de cada uma dessas comissões.

1259) A realização de cada uma das vendas dos bens integrantes das respetivas massas falidas, por negociação particular, pelo respetivo liquidatário, através de leilões, com a intervenção da S... (ou de outra leiloeira) era previamente acordada entre esta, o respetivo liquidatário e a comissão de credores.

1260) Nesse acordo, sempre ficava assente que a intervenção da leiloeira (S...), seria paga através de uma comissão que, para não onerar a respetiva massa falida, seria paga pelos respetivos adquirentes dos bens a leiloar.

1261) Foi nesse pressuposto essencial que a S... aceitou colaborar nessas vendas e prestar os serviços que efetivamente prestou.

1262) Uma vez adjudicada à S... a realização dos leilões, a mesma levava a cabo as seguintes diligências:

1263) Contactar, directa e pessoalmente, clientes habituais, mormente empresários comerciais potencialmente interessados nos bens a vender, convidando-os a participar no leilão.

1264) Publicar anúncios nos jornais mais lidos

1265) Elaborar um relatório sobre as condições das vendas a realizar e com cópia dos anúncios já publicados e de um exemplar de carta enviada a cada um dos seus clientes habituais, remetendo esse relatório e documentação a cada um dos membros da respetiva comissão de credores.

1266) Preparar os leilões, em termos de logística, criando condições mínimas nos locais respetivos, designadamente mandando proceder à sua limpeza, contratando, por vezes, segurança, já que se reuniam centenas de pessoas, preenchendo-os com mesa e cadeiras e equipando-os com uma instalação sonora.

1267) Mostrar os imóveis a potenciais interessados, nas datas pré-anunciadas para o efeito e em outros dias diferentes, a solicitação de alguns dos seus habituais clientes.

1268) Mandar elaborar e fez entrega a cada um dos interessados presentes nos leilões um prospecto em que descrevia aspectos essenciais de cada um dos bens ou direitos a alienar e afixar, no local, um outro prospecto com as condições de venda designadamente o preço base e a comissão devida à leiloeira.

1269) Presidir aos leilões e após os mesmos, como sempre fez em qualquer leilão, preparar a realização das escrituras públicas de compra e venda ou de trespasse, obtendo todos os documentos necessários à sua realização, actualizando o registo predial, marcando a escritura em cartório e data consonantes com a disponibilidade do liquidatário e avisando atempadamente o respetivo adquirente.

1270) Todas essas tarefas eram levadas a cabo pela S..., à sua custa, com trabalhadores que tem a seu cargo.

1271) A cobrança de uma comissão para a LEI... a cargo do adquirente do bem, é uma prática habitual, ao longo de dezenas de anos, de todas as leiloeiras sempre que intervêm coadjuvando vendas por negociação particular em processos falimentares,

1272) Prática que ocorria já muito antes da entrada em vigor do CPEREF, no tempo das extintas Câmaras de Falência, que ainda hoje se mantém.

1273) Com o conhecimento e aceitação dos Síndicos, Magistrados do Ministério Público e dos Juízes.

1274) E com igual concordância de Comissão de credores de cada uma das falências.

1275) Desde inícios de 2002, na sequência de um processo que durou mais dois anos, a S...N...L... é a única leiloeira certificada pela APCER, com o certificado de qualidade ISSO 9001.

1276) O preço da venda dos bens das massas falidas obtido na sequência dos serviços prestados por cada uma das leiloeiras era, por norma, consideravelmente superior ao que qualquer liquidatário, sem auxílio da LEI... conseguiria através de uma singela venda por negociação particular. 

1277) Em relação à falência dos Supermercados G...., S.A. estava em causa a alienação de vários direitos ao trespasse e arrendamento e havia que aguardar que os senhorios exercessem o direito de preferência, notificando-os para o efeito.

1278) Depois de acertadas as condições dos negócios e recebidos os valores para “reserva” dos mesmos, a S... chegou à conclusão de que alguns dos senhorios eram desconhecidos, porque as rendas eram depositadas no banco e outros haviam falecido não sendo conhecida a totalidade dos seus herdeiros.

1279) Tais condicionantes acabaram por atrasar a conclusão dos negócios.

1280) Na falência de “I....”, nunca foi celebrado qualquer contrato-promessa que vinculasse a massa falida.

1281) Aceite pela S... uma determinada quantia como “reserva de negócio”, visando vincular o futuro comprador, a escritura acabou por ser sucessivamente adiada por ter havido, à margem da S... ou da massa falida, cessões de posição contratual: em primeiro lugar do proponente inicial para outro e posteriormente, deste à Melloleasing.  

1282) A arguida JJ participou no processo de certificação de qualidade da S... junto da APCER, reorganizando toda a estrutura da S...N...L....

1283) A arguida JJ não intervinha, pessoalmente, nas negociações com os potenciais compradores ou nos leilões, no âmbito das liquidações do património de massas falidas confiadas à S....

                                                                              *

Factos provados da contestação do arguido ZZ:

1284) O arguido exerceu funções de administrador de falências, gestor judicial e liquidatário ao longo de cerca de 40 anos.

1285) Procedeu a inúmeras liquidações nas quais frequentemente optou pela modalidade de negociação particular através de leilão, sendo para esse efeito coadjuvado por leiloeiras.

1286) A venda através de leilão conduz à obtenção de preços significativamente mais elevados.

1287) A intervenção de empresas especializadas nesse tipo de vendas era indispensável para fazer face à complexidade dos atos envolvidos, em especial a sua divulgação, organização e disciplina dos lances.

1288) Na falência M...M..., a comissão cobrada pela S..., que compreendia honorários e despesas, foi previamente fixada, aceite pela Comissão de Credores e anunciada aos licitantes no leilão, os quais fizeram os seus lances plenamente conscientes de que teriam de suportar tal encargo.

1289) A fixação de uma comissão ou percentagem a cobrar pelo coadjuvante na venda e a suportar pelo comprador é prática corrente no negócio imobiliário e era na ocasião dos factos imputados ao arguido – como continua a ser – prática corrente também nas liquidações judiciais quando se opta pela negociação particular.

1290) Como também é prática coerente que tal comissão ou percentagem, compreendendo todas as despesas e serviços complementares, se fixe entre os 5 e os 10%.

1291) No caso da liquidação da Sociedade M...M..., S.A., ao permitir, com o acordo da comissão de credores, que tal comissão ou percentagem fosse cobrada, o arguido mais não fez do que actuar segundo os usos e sem qualquer consciência de que houvesse ilegalidade ou ilicitude em tais usos.

1292) No meio judicial, ao longo da sua atividade no âmbito das falências, sempre foi reconhecido pela sua idoneidade, competência, eficácia e seriedade.

1293) Pertence a uma família muito conhecida e respeitada na cidade de Guimarães.

1294) Desempenhou ao longo da sua vida inúmeros cargos a título gracioso em quase todas as mais importantes instituições cívicas e de carácter religioso de Guimarães, cidade onde sempre viveu.

1295) Exerceu também cargos da gerência em empresas familiares e foi professor no ensino técnico oficial.

1296) No meio social, o arguido goza de boa reputação, atendendo à sua postura de humildade e simplicidade.    
*
Factos provados da contestação do arguido NNNN:

1297) A cobrança pelas leiloeiras de comissão entre 5% e 10% aos compradores dos bens da massa falida é uma prática de há muito estabelecida pelos usos e habitualmente seguida há dezenas de anos.

1298) A opção pela venda em estabelecimento de leilão é tomada pelo liquidatário judicial, mas, só depois de ter sido obtida a prévia concordância da comissão de credores.

1299) A preferência do recurso às leiloeiras pelos liquidatários e pelas comissões de credores, justificava-se pelo reconhecimento das condições mais vantajosas das leiloeiras relativamente aos liquidatários para preparar e promover as vendas judiciais, tendo como pressuposto que o preço recebido era, pelo menos, igual áquele que os credores entendiam justo receber, pelos bens vendidos.

1300) O arguido e seus familiares são sócios de diversas sociedades, todas elas tendo como objeto a prestação de serviços de consultoria na área económico-financeira, entre elas as seguintes: NNNN, F. B.....A...... – SROC; P.... Gabinete de Contabilidade e Fiscalidade, Lda., C....G..... Inf. Formação, Lda., Af..... – Associados em Finanças, Lda., Im......... – Consultores, Lda., ..... –Auditoria e Ass. Gestão, Lda. e B..... – Sociedade Imobiliária, S.A.     
                                                                              *
Factos provados da contestação do arguido UUU:
1301) O arguido é sócio-gerente da sociedade “Estrela LEI... Lda” que se dedica de forma habitual e intuito lucrativo ao exercício da atividade leiloeira de artigos diversos, nomeadamente, leilões judiciais.

1302) No exercício de tal atividade, a leiloeira organiza o ato, inspeccionando os bens, obtendo informação sobre o seu valor, diligenciando sobre a sua limpeza, manutenção, sua guarda, assegurando mesmo o seu normal funcionamento ou utilidade, compondo lotes, publicitando o ato de leilão e, sobretudo, angariando potenciais interessados que comparecem ao leilão.

1303) A comissão a cobrar aos compradores é calculada tendo em conta, além do mais, custos e encargos, sendo que o valor dos honorários tem em vista ainda a remuneração do “know-how” empregue na angariação de clientes.

1304) São os próprios credores, através da sua comissão, quem autoriza a venda por negociação particular com recurso a leilão mediante condições financeiras aceites. 
*
Factos provados da contestação do arguido GG:

1305) à data da prática dos factos o arguido não conhecia todos os liquidatários, arguidos neste processo.

1306) O arguido também escolheu a S... devido à forma organizada e profissional do trabalho que faziam, com reflexos positivos na celeridade da tramitação dos processos e com a maximização do lucro obtido para a massa falida.

1307) Os compradores dos bens das massas falidas pagavam às leiloeiras em percentagem entre 5% e 10% a acrescer ao preço pelo qual era adquirido o património das falidas, prática de há muito estabelecida pelos usos e habitualmente seguida há dezenas de anos, mesmo actualmente.

1308) As leiloeiras são empresas profissionalmente dedicadas à publicitação, preparação, promoção e venda de bens, ao contrário do arguido, mero economista de profissão e desconhecedor do mercado.

1309) As comissões cobradas pelas leiloeiras eram do conhecimento das comissões de credores e dos compradores.
*
Factos provados da contestação do arguido RR:

1310) O arguido foi administrador/gestor judicial desde 1986 e administrador da massa falida/liquidatário judicial desde 1992.

1311) Exerceu os cargos para que foi nomeado com a diligência, competência e zelo reconhecidos quer no foro, quer nos meios empresariais.

1312) O arguido trabalhou com a S... e outras leiloeiras no âmbito dos processos de falência para que foi nomeado como liquidatário.

1313) Foi também por causa da postura da S.N.L. no mercado, a sua agressividade negocial, o investimento publicitário e o profundo conhecimento das técnicas comerciais, que levou a que fosse escolhida como coadjuvante nas vendas pelo arguido, com a concordância dos elementos das comissões de credores.

1314) O conhecimento e consentimento, quer pelo arguido enquanto liquidatário, quer pelos credores através da sua comissão, quer pelos síndicos e magistrados judiciais, da cobrança pela leiloeira da sua comissão ao comprador, sempre correspondeu ao entendimento de que este método era o que melhor defendia os interesses falimentares.

1315) O arguido RR sempre efetuou aplicações financeiras nas contas das massas falidas, obtendo a máxima rentabilidade a favor da mesma.

1316) Na falência de “N...S..”, os atos realizados pelo liquidatário passaram pelo conhecimento e acordo da comissão de credores e na liquidação do activo todas as propostas e ofertas de compra foram analisadas e submetidas à comissão de credores.

1317) Foram apresentadas as contas da administração com um total depositado de 143.678.564$30, reportado à data de 7 de Fevereiro de 2000.

1318) Quanto à falência da empresa “C...S...., de acordo com o primeiro relatório de 27/7/99 foi apresentada à comissão de credores a melhor proposta de compra, no valor de 350.000.000$00, tendo a Caixa Geral de Depósitos rejeitado e ela própria subscrito uma oferta superior de 400.000.000$00, adiantando a possibilidade de surgirem novas e melhores propostas com a prorrogação do prazo de liquidação.

1319) Assim, a S... realiza novo procedimento da venda e consegue obter proposta de valor superior, no montante de 450.000.000$00 e, posteriormente, no montante de 475.000.000$00.

1320) A conta da falência, depositada no BPI e a beneficiar de uma aplicação financeira a prazo sujeita a uma taxa de 3,1%, transitou para o BPN, assim beneficiando de uma taxa de 5,75%.

1321) Desta forma, o valor do depósito da falência que, ao tempo da abertura de conta neste último banco era de 489.326.786$00, passou, à data de Novembro de 2002, para o montante de 516.548.632$00.

1322) Nas falências em que interveio na qualidade de liquidatário judicial e em análise nos presentes autos, verifica-se que todos os atos do arguido RR praticados nos processos e respetivas vendas obedeceram ao prévio conhecimento e acordo vinculativo da comissão de credores, sendo que todas as fases de liquidação do activo foram objeto de relatórios dirigidos ao juiz da falência.

1323) O produto da alienação, depositado em contas bancárias, foi sujeito a aplicações financeiras procurando maior rendibilidade e cujo acréscimo de valor se discrimina:

- A.... – 43.691.894$30;

- N...S.. – 22.419.896$30;

-N...V.. – 8.037.599$00;

- C...S..,.Ç – 27.221.837$00;

- Sociedade N.....C......... – 732.404$80;

- Metalurgia ........... – 2.305.743$00.     

1324) O arguido além de advogado era também artista plástico, remontando esta atividade a 1972 e exercendo-a como atividade profissional paralela, colaborando como desenhador em jornais, concorrendo em exposições colectivas e realizando várias exposições individuais de pintura no País e no estrangeiro.

1325) Os co-arguidos DD e sua mulher eram donos de uma galeria de arte – Galeria .... – à data explorada pela Cooperativa Árvore de que o arguido é associado.

1326) O arguido NN efetuou, ao longo dos anos, trabalhos encomendados e pagos pelo arguido DD.

1327) No ano de 1997 realizou o arguido uma tiragem de 200 litografias (50x70 cm) a partir dum original duma pintura a óleo sobre tela intitulado “S.....C......”, e de sua autoria, no valor individual de Esc. 10.000$00 cada uma.

1328) No ano de 1998 realizou uma série de 72 pinturas figurativas (72x93 cm) intitulada “ Ho........”, na técnica de óleo sobre tela, estimando-se o valor individual de cada trabalho em Esc. 180.000$00.

1329) No ano de 1999 foi concebido um painel constituído por um conjunto de 400 trabalhos em pintura de pequeno formato, (15cm x 15cm) na técnica de óleo sobre tela, intitulada “C.... C.....”. O valor estimado de cada peça foi de Esc. 50.000$00

1330) Entre 2000 e 2001, efetuou diversos conjuntos ou unidades de pintura de temática diversificada, figurativa e abstracta, de variadas dimensões, na técnica de óleo e acrílico, adiante discriminada e nas quais se estimou o respetivo valor:

  23 trabalhos (60x15 cm) – série “Divisões em Castanho”               2.300 contos (100 c)

17 trabalhos (73x92 cm e 80x120cm) – série “Sinais”                     2.550            (150 c)

10 trabalhos (75x80cm) – série “Femina”                                        1.000            (100 c)

14 trabalhos (75x80cm) – série “Gestos em Voo de Pássaro”            840            ( 60 c)

15 trabalhos (72x90cm) – série “Rupestres”                                    1.350            (90 c)

5 trabalhos (72x90cm) – série “Searas”                                             250              (50 c)

3 trabalhos (72x90 cm) – série “Vazio”                                             225              (75 c)

93 trabalhos (35x27, 22x15, 20x20) – série “Mares”                       5.580              (60 c)

30 trabalhos ( 15x15cm) – série “Dreams of a Golf Player”             2.400             (80 c)

4 trabalhos (240x120, 150x100, 80x120 cm) série “Mater Natura” 2.000            (500 c)

1 trabalho  (150x100 cm) – Nortada                                                    500

1 trabalho (150x100 cm) – Comunicação                                             500

1 trabalho (100x120 cm ) – Rosto                                                        250

1 trabalho (60x60) – Santo Ofício                                                        150

3 trabalhos (50x50) – Série Tau                                                            100

1 trabalho (75x100) – Linhas                                                                  70

1 trabalho (80x120) – Graal                                                                  250

1 trabalho (73x92 cm) – O Homem do Chapéu vermelho                   150

1 trabalho (73x92 cm) – A Tia                                                              150

9 trabalhos (73x92) – Série Floresta                                               1.800   (200 c)

1 trabalho (73x92) – Paisagem habitada                                                150

1 trabalho (73x92) – O Fundo Azul da Noite                                         100

2 trabalhos (73x92) – Série pintura I e II                                                160         (80 c)

10 trabalhos (100x100) – Série Alentejo                                               1.000       (100 c)

1 trabalho (73x92) – Ming                                                                      150

1 trabalho (73x92) – Fim de Tarde                                                         150

1 trabalho (73x92) – Taça do Graal                                                        200

1 trabalho (73x92) – Calcanhar de Aquiles                                            200

1 trabalho (73x92) – A Dimensão Vegetal                                             100

1 trabalho (73x92) – Pássaro                                                                  100

1 trabalho (73x92) – Planície                                                                   350

Em 2002, realizou seis pinturas figurativas de óleo sobre tela.

1 trabalho (100x100 cm) – Oriente                                                        500

1 trabalho (100x100 cm) – Gravidade                                                      500

1 trabalho (100x100cm) – Génesis                                                           500

1 trabalho (100x100 cm) – Mensagem                                                     500

1 trabalho (100x100cm) – Greta                                                               500

1 trabalho (100x100 cm) - Bucéfalo                                                         500

1331) Para além destes trabalhos, e em datas já anteriores ao período de 1997/2002, o arguido efetuou outros trabalhos dos quais destaca dois retratos, um da arguida JJ e outro do ..........., e uma pintura a óleo sobre tela 1,30x1,70, de temática minimalista, também encomendados e pagos.

                                                                              *

1332) O arguido AA foi condenado:

- no PCS nº 115/96.8TASJM, do 1º Juízo do Tribunal de São João da Madeira, pela prática em 1995 de um crime de abuso de confiança fiscal, p. e p. pelo artº 105º, nº 1, do RJIT, na pena de 200 dias de multa, à taxa diária de € 10,00, por sentença transitada em julgado em 29/05/2006, declarada extinta pelo pagamento em 16/05/2007.

- no PCC nº 90/99.7IDVCT, do 2º Juízo Criminal do Tribunal de Viana do Castelo, pela prática em 1995 de um crime de abuso de confiança, p. e p. pelo artigo 205º, nºs 1, 4, alínea b) e 5, do Código Penal, na pena de 3 anos de prisão, suspensa pelo período de 4 anos, com a obrigação de o arguido cumprir o plano de pagamento aprovado pela Direcção-Geral dos Impostos, por acórdão transitado em julgado em 28/10/2005.

- no PCS nº 65/09.0IDPRT, do 1º Juízo Criminal do Tribunal de Vila do Conde, pela prática em Março de 2008, de um crime de abuso de confiança fiscal, p. e p. pelo art. 105º, nºs 1, 2, 4 e 7, do RGIT, na pena de 100 dias de multa, à taxa diária de 25 €, por sentença transitada em julgado em 15/2/2011, pena esta que veio a ser declarada extinta pelo cumprimento, por decisão já transitada em julgado.

- no PCC nº 1480/07.9TAMTS, do 4º Juízo Criminal do Tribunal de Matosinhos, pela prática em 1998 de um crime de peculato, p. e p. pelo art. 375º do CP, na pena de 1 ano e 6 meses de prisão, suspensa por igual período temporal, por acórdão transitado em julgado em 24/10/2011, pena esta que veio a ser julgada extinta por decisão transitada em julgado.
1333) O arguido GG já foi condenado no PCC nº 568/00.1TBSTS, do 1º Juízo Criminal do Tribunal de Santo Tirso, pela prática de um crime de abuso de confiança fiscal, na forma continuada, p. e p. pelos artigos 107º e 105º, nº 5, do RGIT, na pena de 1 ano e 4 meses, suspensa por 5 anos, com a obrigação de pagamento de determinada quantia ao Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, por acórdão transitado em julgado em 8/1/97.
1334) O arguido UU foi condenado…
1335) Os demais arguidos são primários.
1336) O arguido AA nasceu a 15/07/1944.
O processo de crescimento de AA decorreu no seio da sua família de origem, constituída pelos pais e um irmão.
Frequentou o sistema de ensino até aos 18 anos de idade
Após, optou por ir trabalhar para a empresa EDP, onde já trabalhava o seu pai.
Retomou os estudos na condição de trabalhador-estudante.
Concluiu a licenciatura em economia aos 27 anos de idade.
Trabalhou como director financeiro em várias empresas.
Aos 44 anos obteve especialização em auditoria, passando a trabalhador como ROC – Revisor Oficial de Contas e como liquidatário.
O arguido é casado.
Tem duas filhas.
Á data dos factos AA vivia com a mulher, sogra e uma das filhas.
O arguido reformou-se em Julho de 2007.
O arguido AA goza de boa reputação no seu meio social de residência.
Participou ativamente nas atividades da sua Junta de Freguesia, onde foi secretário e presidente da assembleia de freguesia.
Actualmente, vive unicamente com a sua mulher e exerce funções de ROC, a título individual, prestando, sobretudo, apoio a empresas.
Aufere um rendimento global de cerca de 3.000,00 € mensais.
1337) O arguido QQ
1338) O arguido DD nasceu a 17/08/1960.
Cresceu no núcleo familiar de origem, composto pelos progenitores e dois descendentes.
Os pais desde sempre se dedicaram à comercialização de produtos alimentares regionais, tendo-se estabelecido na cidade do Porto, ficando o arguido entregue aos cuidados da avó materna até ter concluído a 4ª classe, tendo então integrado, em definitivo, o agregado de origem.
O arguido é licenciado em direito e concluiu o mestrado na área de jurídico-civilísticas.
Enquanto estagiário constituiu uma sociedade comercial, com o patrono, tendo aberto e explorado dois estabelecimentos de restauração.
Em 1992, estabeleceu-se como leiloeiro, empresa que encerrou em 2002, na sequência do presente processo.
Após a cessação da atividade de leiloeiro, terá vivenciado um período de alguma instabilidade económico-profissional, mas o mesmo foi ultrapassado com o apoio de pessoas da sua rede social e também com o seu espírito de iniciativa, criando dois Centros Empresariais, em sociedade, onde para além de exercer atividade de administrador detém ações no valor de 50%.
Com a atividade de assessoria e gestão que presta a sociedades de que é accionista aufere um rendimento anual de cerca de € 60.000,00.
O arguido valoriza a união conjugal e o seu papel de progenitor, sendo casado com a arguida JJ, com quem vive e ainda com os seus dois filhos menores.
1339) A arguida JJ nasceu a 30/12/1961.
O desenvolvimento psicossocial da arguida JJ decorreu junto da família de origem, composta pelos pais e cinco descendentes, numa ambiência familiar harmoniosa e coesa, sem dificuldades a assinalar no plano material.
Concluiu a licenciatura em direito e mestrado na Universidade de Coimbra, sendo docente universitária na Universidade Portucalense, com o que aufere um vencimento de 1.500,00 € mensais.
Paralelamente, dedica-se a um projecto de turismo rural, juntamente com o cônjuge.
Os arguidos DD e JJ têm dois filhos menores de idade.
O casal reside em apartamento de tipologia T3, situado numa zona da cidade social e economicamente valorizada/favorecida.
A arguida valoriza as relações familiares, mantendo vinculação afectiva e contatos regulares com a família de origem.
Revela investimento e preocupação relativamente ao processo educativo dos filhos, cujo bem-estar é um dos seus objetivos primordiais.
1340) O arguidoKK …. 
1341) O arguido GG nasceu a 05/10/1948.
O arguido descende de uma família de média condição sócio-económica, constituída pelo próprio, os progenitores e três irmãos.
O seu processo de crescimento/desenvolvimento ocorreu num contexto familiar estável e coeso.
O arguido concluiu a licenciatura em Economia com 22 anos de idade.
No ano de 1974, e após o cumprimento do Serviço Militar Obrigatório, iniciou-se profissionalmente como economista, na empresa “Coelima”.
Em 1989 optou por se instalar por conta própria, em sociedade, constituindo uma empresa de consultadoria, denominada “Pamesa – Consultores LDA” e exerceu as funções de liquidatário judicial, atividade da qual foi suspenso no ano de 2003.
Actualmente trabalha como economista, em regime independente, e dedica-se à gestão de uma exploração agrícola, auferindo uma remuneração média mensal de 2.500,00 €.
O arguido é casado e tem cinco filhos.
O agregado familiar do arguido, actualmente, composto pelo arguido, esposa e um filho, reside numa moradia de média dimensão inserida em meio rural.
No seu meio social, o arguido é referenciado positivamente.
1342) O arguido UU
1343) O arguido ZZ
1344) O arguido TT
1345) O arguido AAA
1346) O arguido CCCC
1347) O arguido VV
1348) O arguido RR …
1349) O arguidoLLLLLLLLL
 1350) O arguido UUUUUU
1351) A arguida XX
 1352) A arguida KKKKKKKKK
1353) No período compreendido entre 1997 e 2001, o agregado familiar do arguido AA auferiu rendimentos brutos no valor total de 708.301,62 € e líquidos no valor total de 430.779,92 €, efectuando, entre 1997 e 2002, aplicações financeiras cujos saldos anuais oscilaram entre 16.396,16 € e 146.271,86 €.
O arguido AA é proprietário dos seguintes bens:
Metade do prédio urbano, sito na R.............., n.º ........ – 5º andar, Sala .... – Porto, -inscrito na matriz predial urbana sob o artº .....FT da freguesia de Lordelo do Ouro, do..........do Porto, e descrito na 2.ª Conservatória do Registo Predial do Porto sob o n.º 338 – ..... na Freguesia de Lordelo do Ouro, o qual foi adquirido em 27-08-98, por 27.500.000$00, conforme resulta do teor dos documentos de fls. 35.093 a 35.097, que aqui se dá por integralmente reproduzido;
- Prédio urbano, sito no Largo Eng. ..............., n.º ..., fração.... – Porto, inscrito na matriz predial urbana sob o art.º 5993 – DD-3 da freguesia de Ramalde, do .....do Porto, e descrito na 2.a Conservatória do Registo Predial do Porto sob o n.º00000 do livro B-24, fls. 157, fração..3, na Freguesia de Ramalde, constituído em regime de propriedade horizontal pela inscrição n.º ....do livro F-24 a fls. 85, e registado a favor do AA, pela inscrição n.º...do livro G-107 a fls. 12v, o qual foi adquirido em 29-10-85, por 1.350.000$00, conforme resulta do teor dos documentos de fls. 35.088 a 35.093, que aqui se dá por integralmente reproduzido;

- Prédio urbano, sito em Vila Moura, denominado “S....G....” – 1ª ...... Bloco...., rés-do-chão, porta n.º ..... habitação, sala comum, cozinha, vestíbulo, 2 quartos, 2 casas de banho, varanda - 101,98 m2, descrito na Conservatória do Registo Predial de Loulé sob o n.º 000000– V, da Freguesia da Quarteira, constituído em regime de propriedade horizontal em F-1 e registado a favor do AA, o qual foi adquirido em 29-10-2001, por 17.500.000$00, conforme resulta do teor dos documentos de fls. 35.093 a 35.097, que aqui se dá por integralmente reproduzido;

- Veículo automóvel de matrícula 00-00-00 marca Mercedes, modelo ML 270 CDI, o qual foi adquirido em Julho de 2000, por 10.500.000$00, conforme resulta do teor dos documentos de fls. 984 a 992 e 35.086, que aqui se dá por integralmente reproduzido.

1354) No período compreendido entre 1997 e 2001, o agregado familiar do arguido KK auferiu rendimentos brutos no valor total de 102.248,02 € e líquidos no valor total de 83.252,24 €, efectuando aplicações financeiras cujos saldos anuais oscilaram entre 41.793,21 € e 109.501,57 € e é proprietário de:

O arguidoKKé proprietário dos seguintes bens:

- Veículo automóvel com a matrícula 00-00-00 marca Jeep Grand Cherokee, o qual foi adquirido em 4-03-992000, conforme resulta do teor dos documentos de fls. 1680 e 1681, que aqui se dá por integralmente reproduzido;

- Metade do prédio urbano, sito na R.............., n.º ........ – --ar, Sala .... – Porto, inscrito na matriz predial urbana sob o artº 3754-FT da freguesia de Lordelo do Ouro, do .......o Fiscal do Porto, e descrito na 2.” Conservatória do Registo Predial do Porto sob o n.º ....– Fração FT, na Freguesia de Lordelo do Ouro, o qual foi adquirido em 27-08-98, por 27.500.000$00, conforme resulta do teor dos documentos de fls. 35.093 a 35.097, que aqui se dá por integralmente reproduzido.

1355) No período compreendido entre 1997 e 2001, em contas bancárias tituladas em conjunto por AA e KK foram efetuadas aplicações financeiras cujos saldos anuais oscilaram entre 425.540,56 € e 3.983.656,87 €.

1356) No período compreendido entre 1995 e 2001, os arguidos DD e JJ auferiram rendimentos brutos no valor total de 482.822,17 € e líquidos no valor total de 348.837,76 €.

Mais efetuaram aplicações financeiras cujos saldos anuais oscilaram entre 7.174,01 € e 1.614.032,36 €, mantendo contas bancárias à ordem cujos saldos finais anuais variaram entre 5.230,40 € e 2.114.368,38 €, acrescendo que, entre Setembro de 1998 e Março de 1999, procederam a transferências para contas “offshore”, no Banco Santander em Nassau, no montante global de 10.224.015,57 €.

Os arguidos DD e JJ são proprietários dos seguintes imóveis:

a) Fração autónoma designada pela letra “P” do prédio urbano sito em Vilamoura, denominado “S....G....” – ...ase, Bloco ...porta .... – 2.° andar, habitação duplex, com vestíbulo, sala comum, cozinha, dois quartos, 2 casas de banho, escada de acesso ao piso superior com galeria sobre a sala e quarto com casa de banho, inscrito na matriz predial urbana sob o art.º 6193 – Fração P da Freguesia de Quarteira e descrito na Conservatória do Registo Predial de Loulé sob o n°0000 – P da Freguesia de Quarteira, e registado a favor de DD e esposa JJ; b) Dezasseis mil avos indivisos da fração autónoma designada pelas letras “AA”, do mesmo prédio; Estas frações foram adquiridas em 23/02/2000, pelo valor total de 17.600.000$00, conforme resulta do teor dos documentos de fls. 35.743 a 35.747, que aqui se dá por integralmente reproduzido;

Prédio urbano sito na Av. do Brasil, n.º0000 no Porto, correspondente a uma habitação no 2.° andar, designada pela letra E, inscrito na matriz predial urbana sob o art.º 1260-E da Freguesia de Nevogilde, do 6.° Bairro Fiscal do Porto, e inscrito na 2ª Conservatória do Registo Predial do Porto sob o n.ºOOO– Fração E, na Freguesia de Nevogilde, registado a favor de DD, o qual foi adquirido em 7-10-97, por 40.000.000$00, conforme resulta do teor dos documentos de fls. --- a 35.714, que aqui se dá por integralmente reproduzido;

Prédio urbano sito na R..........., n.º 151-153, Porto, inscrito na matriz predial urbana sob o art.º 933 da Freguesia de Massarelos, do 6º Bairro Fiscal do Porto, e descrito na 2ª Conservatória do Registo Predial do Porto sob o n.º 00000, fls.---, livro --- registado a favor de DD, sob o n.0 0000 do livro G--- fls. 58v, o qual foi adquirido em 19-07-99, por 13.000.000$00, conforme resulta do teor dos documentos de fls. 35.707 a 35.719, que aqui se dá por integralmente reproduzido.

Prédio rústico denominado M....L...O..., inscrito na matriz predial rústica sob o art.º 117 da Freguesia de S. Lourenço do Douro, com a área de 4.650 m2 e descrito na Conservatória do Registo Predial do Marco de Canaveses sob o n.º 000000 na Freguesia de S. Lourenço do Douro, registado a favor de DD em G-3, na proporção de 2/3, o qual foi adquirido em 28-07-97, por 3.500.000$00, conforme resulta do teor dos documentos de fls. 35.723 a 35.737, que aqui se dá por integralmente reproduzido;

a) Prédio misto denominado Quinta do Cão, inscrito na matriz predial rústica sob o art.º 115 da Freguesia de S. Lourenço do Douro, com a área de 46.267 m2 e descrito na Conservatória do Registo Predial do Marco de Canaveses sob o n.º 000000 da Freguesia de S. Lourenço do Douro e registado a favor do DD, em G-4; b) Prédio misto composto de casa de dois pavimentos e leiras do Ar......, inscrito na matriz predial urbana sob o art. 118 e inscrito na matriz predial rústica sob o art.º 93, da Freguesia de S. Lourenço do Douro, com a área de 2.500 m2 e descrito na Conservatória do Registo Predial do Marco de Canaveses sob o n.º 000000 da Freguesia de S. Lourenço do Douro, e registado a favor de DD em G-3; c) Prédio urbano sito no lugar da Bouça, inscrito na matriz predial urbana sob o art.º 150 da freguesia de S. Lourenço do Douro, descrito na Conservatória do Registo Predial do Marco de Canaveses sob o n.º 000000, da Freguesia de S. Lourenço do Douro, e registado a favor de DD; Estes imóveis foram adquiridos em 30/04/96, pelo valor global de 34.500.000$00, conforme resulta do teor dos documentos de fls. 35.727 a 35.742, que aqui se dá por integralmente reproduzido. 

Quanto ao prédio urbano sito na Rua ..... n.º ..,... e.., Fração G, inscrito na matriz predial urbana sob o art.º 2769-G da Freguesia da Foz do Douro, do 6° Bairro Fiscal do Porto, e descrito na 2ª Conservatória do Registo Predial do Porto sob o n.º 362 – Fração G, na Freguesia da Foz do Douro, foi adquirido pelo arguido DD e registado em seu nome na 2ª Conservatória do Registo Predial, em 13/12/94. Contudo, tal imóvel veio a ser vendido pelo arguido DD a RRRRRRRRR, passando o imóvel a estar registado em nome deste comprador, na mesma Conservatória, desde 22/10/2002, conforme resulta do teor dos documentos de fls. 35.720 a 35.722, que aqui se dá por integralmente reproduzido. Este último comprador veio, por sua vez, a doar o mencionado imóvel ao seu filho SSSSSSSSS, em 21/07/2006, encontrando-se o imóvel registado a favor deste donatário, na mesma Conservatória, conforme resulta do teor dos documentos de fls. 36.527 a 36.534, que aqui se dá por integralmente reproduzido

1357) No período compreendido entre 1997 e 2001, o agregado familiar do arguido QQ

1358) Quanto ao arguido CCCC

359) Os arguidos AA, KK, DD DD, QQ e CCCC, foram constituídos arguidos em 3/7/2002 e a arguida JJ foi constituída arguida em 13/11/2002.

1360) A arguida PPPPPP….

1361) O arguido VV…

1362) O arguido LLLLLLLLL….

                                                                              *

Matéria de facto não provada

Com relevância para a decisão da causa, não resultaram provados os seguintes factos:

1. Desde, pelo menos 1999, que o arguido CCCC vinha mantendo estreitos contatos com diversos liquidatários e empresas de leilões e tinha perfeito conhecimento dos negócios entre todos existentes.

2. O arguido CCCC, na qualidade de membro da Comissão de Credores de várias falências não identificadas, recebeu quantias em dinheiro dos representantes de várias empresas de leilões, a fim de garantir o seu silêncio na venda em condições desfavoráveis dos bens das massas falidas.

3. O arguido CCCC tinha conhecimento do pagamento de comissões ilícitas aos liquidatários, quer, em muitos casos, ao processamento de vendas por valores muito superiores aos declarados no processo.
4. O arguido AA estabeleceu uma parceria com o arguido NNNN, a fim de conseguirem que lhes fosse adstrito o maior número possível de falências lucrativas e a contornarem o impedimento legal previsto no art. 132º n.º 3 do CPEREF, que proíbe o gestor judicial da fase de recuperação de empresa, de se manter como liquidatário, na fase da falência.
5. Em situações em que um destes arguidos tivesse sido nomeado gestor judicial, bastava conseguir que o outro fosse nomeado liquidatário para controlarem, do princípio ao fim, o destino do património da empresa.
6. Em tal parceria, o arguido AA assumia especial preponderância, dava instruções e apoio administrativo através do seu “staff” nas falências do arguido NNNN e este dividia com o AA os valores ilicitamente pagos pela S...N...L....
7. Por força deste estratagema, dois dos processos mais lucrativos analisados nestes autos passaram pelas mãos destes dois arguidos na fase de recuperação e de falência.
8. Nos termos deste conluio, o arguido AA controlava os ganhos ilícitos obtidos pelo arguido NNNN que eram divididos pelos dois, na proporção de metade para cada um.
9. Até na forma da cobrança se constata a colaboração entre ambos, na medida em que as quantias pagas pela S... ao arguido NNNN eram entregues em mão ao genro do AA, nos moldes estabelecidos para os pagamentos a este último.
10. O arguido KK depositava todas as quantias pagas pelas leiloeiras ao arguido NNNN na conta n.º000/0000000 do Atlântico (agência de G,,,,).
11. Os montantes pagos pelas leiloeiras ao arguido AA eram divididos entre os arguidos AA eKK.
12. O arguido AA dividia com o arguido KK os juros e rendimento resultantes das aplicações financeiras da conta nº 000000000 do BPA.

13. A arguida JJ, na qualidade de sócia gerente da S...N...L..., pagou em numerário contrapartidas directamente aos co-arguidos, no âmbito das falências.

14. Há uns anos a esta parte entre todos os liquidatários identificados nos autos e os responsáveis da S... foi estabelecido um pato, nos termos do qual os primeiros escolhiam esta empresa para a liquidação dos activos das empresas com maior património e, posteriormente, dividiam entre todos as comissões cobradas pela leiloeira aos compradores.

15. A S... era seleccionada apenas para as liquidações de activos mais proveitosas.

16. A S..., assim como a “E.....L.....a” e a “SO.....”, dividiam com os liquidatários parte dos lucros obtidos, tendo por objetivo principal e/ou imediato garantir a continuação das relações entre as partes.

17. Em circunstâncias temporais que não foi possível determinar, os responsáveis pelas empresas “S...N...L...”, “E.....L.....a” e “SO..... e Antiguidades” (ou seja, os arguidos DD, JJ e QQQQQQ, quanto às duas primeiras) decidiram obter benefícios patrimoniais através da cobrança aos compradores dos bens vendidos de comissões indevidas, com a anuência dos liquidatários, não os coibindo de assim proceder a circunstância de todos saberem que, desta forma, lesavam a massa falida nos montantes que os compradores se prontificavam a pagar às leiloeiras e que poderiam e deveriam reverter a favor da massa falida e dos legítimos credores.

18. Os liquidatários judiciais sabiam que a solução legal para a remuneração das leiloeiras era a prevista no art. 34º, nº 1, alínea e) do CCJ, e descuravam a aplicação de tal regime legal, porque o mesmo não lhes permitiria receber a sua percentagem nos ganhos.

19. As quantias monetárias destinadas pelos arguidos DD e JJ ao arguido AA e que eram entregues ao arguidoKK, eram acondicionadas, pelo arguido DD, em envelopes, e transmitidas ao KK no interior da viatura deste.

20. Em alguns casos, foram intencionalmente efetuadas avaliações dos bens por valores inferiores aos reais, pelos liquidatários judiciais ou por funcionários das leiloeiras, com o conhecimento e anuência daqueles.          

21. Por outro lado, os liquidatários e os “leiloeiros” viciavam o processo de adjudicação e as propostas apresentadas, de forma a venderem os bens a compradores seus amigos, ou por si seleccionados.

22. Na falência da “N....., Ldª”: para efeitos de coadjuvação na venda do património da empresa, o arguido AA recorreu aos serviços da S...N...L....

23. Adjudicada a venda, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos em leilão, uma comissão a título de honorários, correspondente a cerca de 10% do valor da venda.

24. A S...N...L... recebeu, no ano de 1996, comissões e lucros que totalizam a quantia de 96.779.333$00, referente a vários processos de falência em que foi liquidatário o arguido AA (“N.....”, “J...T....”, “I...L...”, “D.....”, “A....M....”, “M....T...” e “S.....”). 

25. Desse montante, entregou cerca de metade ao arguido AA, concretamente a quantia de 48.389.666$00 (241 366,64 €).

26. Tal pagamento operou-se em três tranches, através de um adiantamento de 10.000.000$00, processado em data não apurada, um pagamento em numerário de 20.000.000$00, ocorrido em 26-7-96 e uma prestação de 18.000.000$00, entregue também em numerário, em data não apurada do mês de Outubro de 1996.

27. As referidas quantias foram entregues em mão ao arguido KK que as fez chegar à disponibilidade do seu sogro.

28. Na falência da “J...T.... de Malhas Ldª”: a S... cobrou ao comprador dos bens vendidos, uma comissão a título de honorários, correspondente a cerca de 10% do valor da venda.
29. A S..., por modo não apurado, entrou na posse dos bens móveis, que vendeu pelo valor de 2.100.000$00.

30. A S...N...L... recebeu, no ano de 1996, comissões e lucros que totalizam a quantia de 96.779.333$00, referente a vários processos de falência em que foi liquidatário o arguido AA (“N....., J...T...., I...L..., D....., A....M...., M....T... e S.....). 

31. Desse montante entregou cerca de metade ao arguido AA, concretamente a quantia de 48.389.666$00.

32. Tal pagamento operou-se nos moldes descritos na falência N......

33. Na Falência de “I...L..., Ldª”: para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, o arguido AA recorreu aos serviços da S...N...L... (S...);

34. O RR não apresentou qualquer proposta, a qual foi elaborada em seu nome, com base em papel timbrado que o referido indivíduo forneceu, por um funcionário da S..., NNNNNN, e quem efetivamente pagou os bens foi a S....

35.  Adjudicada a venda, a S... obteve lucros indeterminados com a revenda desses bens.

36. A S...N...L... recebeu, no ano de 1996, comissões e lucros que totalizam a quantia de 96.779.333$00, referente a vários processos de falência em que foi liquidatário o arguido AA (“N....., J...T...., I...L..., D....., A....M...., M....T... e S.....). 

37. Desse montante entregou cerca de metade ao arguido AA, concretamente a quantia de 48.389.666$00.

38. Tal pagamento operou-se nos moldes descritos na falência N......

39. Na falência de “Fábrica de Malhas D....., Ldª”: para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, o arguido AA recorreu aos serviços da S...N...L... (S...);

40. O arguido DD, na qualidade de sócio da “G...N...”, para efeitos de adjudicação do bem, utilizou informação privilegiada que lhe permitia cobrir qualquer outra proposta concorrente;

41. Desta forma obteve vantagens económicas concretizadas no lucro obtido com a revenda do património da falida.

42. A S...N...L... recebeu, no ano de 1996, comissões e lucros que totalizam a quantia de 96.779.333$00, referente a vários processos de falência em que foi liquidatário o arguido AA (“N....., J...T...., I...L..., D....., A....M...., M....T... e S.....). 

43. Desse montante entregou cerca de metade ao arguido AA, concretamente a quantia de 48.389.666$00.

44. Tal pagamento operou-se nos moldes descritos na falência N......

45. Na falência de “A....M..., Lda”: para efeitos de coadjuvação na venda do património do falido, o arguido AA recorreu aos serviços da S...N...L... (S...).

46. Á semelhança do que se verificou no caso “F....” e “I...L...”, mais uma vez não foi o RRR que adquiriu os bens, sendo que a proposta foi feita em seu nome, mas por funcionário da S..., a mando dos arguidos JJ e DD.
47. A S... recebeu em 1996, a quantia total de 96.779.333$00, referente à venda dos bens das massas falidas dos processos de falência J...T...., I...L..., D....., A....M...., M....T..., S....., N....., em que foi liquidatário o arguido AA.

48. Desse montante entregou metade do valor ao arguido AA, concretamente a quantia de 48.389.666$00.

49. Tal pagamento operou-se nos moldes descritos na falência N......

50. Na falência de “M....T..., Lda”: do montante da comissão recebida do comprador do bem da falida, o arguido DD entregou uma parte ao arguido AA, que foi somada às outras quantias, que lhe foram entregues relativamente às falências da J...T...., I...L..., S....., D....., A....M.... e N....., totalizando 48.389.666$00.

51. Tal pagamento operou-se nos moldes descritos na falência N......

52.  Na falência de “Fiação e Tecidos de S....., S.A.”: para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, o arguido AA recorreu aos serviços da S...N...L... (S...).

53. Dado que a falida em causa possuía um património imobiliário de valor muito elevado, os arguidos DD, com a colaboração dos arguidos FFFF e EEEE, congeminaram um plano para adquirirem os bens da Fiação de S..... a preços simbólicos, com manifesto prejuízo para a massa falida e respetivos credores.

54. Na sociedade IN....., participou nos corpos sociais I....F.... (mulher do advogado FFFF).

55. A sociedade “G....A.... Ldª”, no ano de 1996 tinha sede no escritório do advogado FFFF, sito na Rua .......,...,..º, sala .., no Porto, da qual era administradora a mulher deste, I....F.....

56. O arguido DD acabou por dominar todo o processo de compra do activo da Fiação de S....., no seu exclusivo interesse.

57. Para conseguir este objetivo, o arguido DD, FFFF, EEEE e o arguido AA simularam, perante o Tribunal, a realização de um processo de venda por negociação particular.

58. O arguido AA apresentou várias propostas, para criar a convicção de que tinha havido efetiva competição.

59. Propostas essas que foram formuladas pelo arguido DD e por FFFF e EEEE, através de várias empresas de que são sócios e/ou gerentes ou de pessoas das suas relações.

60. Em sede de apresentação de propostas, verificou-se que todas tiveram a sua origem na S....

61. No ano de 1996, I....F...., esposa do arguido FFFF, era administradora única da sociedade Fa.....

62. O RRR limitou-se a entregar papel timbrado ao funcionário da S..., NNNNNN.

63. No âmbito da liquidação do activo, foi ainda junta uma proposta para aquisição de bens, em nome de GGGG, à data cunhado dos arguidos DD e JJ que não foi subscrita pelo próprio, tendo a respetiva assinatura sido forjada pelos arguidos.

64. O arguido DD, FFFF e EEEE viciaram todo o processo negocial na venda dos bens da massa falida, até afastando as suspeições sobre a transparência do negócio suscitadas pelo interessado Banco Borges & Irmão.

65. O arguido AA estava ciente de que algumas propostas provinham do arguido DD, por interpostas pessoas, com o objetivo de se apropriar dos bens e os revender depois a preços de mercado, com lucros.

66. O arguido AA agiu com o único propósito de beneficiar o arguido DD, vendendo-lhe os bens a preços muito inferiores aos reais e permitindo-lhe a percepção de lucros.

67. O valor de comissões antecipadas à S... equivale a mais de 50% do montante obtido com a liquidação dos bens.

68. A S...N...L... recebeu, no ano de 1996, comissões e lucros que totalizam a quantia de 96.779.333$00, referente a vários processos de falência em que foi liquidatário o arguido AA (“N.....”, “J...T....”, “I...L...”, “D.....”, “A....M....”, “M....T...” e “S.....”). 

69. Desse montante entregou cerca de metade ao arguido AA, concretamente a quantia de 48.389.666$00.

70. Tal pagamento operou-se nos moldes descritos na falência N......

71. Na falência de “CCA – C.....C....A...., S.A”: adjudicada a venda, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos quantias não integrantes do preço declarado e comissões a título de honorários no montante de 60.150.000$00, correspondente a cerca de 10% do valor da venda.

72. Dos montantes recebidos o arguido DD entregou ao arguido AA a quantia de 24.045.000$00 (119.935,95€).

73. As comissões “devidas” ao arguido AA ascenderam ao valor total de 32.550.200$00, tendo sido feita ao arguido KK uma «entrega por conta de 40.000.000$00» (199.519,16€), dizendo respeito, nomeadamente, às falências de P...S...R....., E....A... e D..., incluindo um adiantamento no montante de 7.449.800$00. 

74. Conforme pré-estabelecido entre os intervenientes, o KK serviu de correio entre a S... e o seu sogro, recebendo em mão o dinheiro.

75. Foi efectuado um depósito no BPA, conta nº 0000000000000000, titulada por KK, no valor de 2.000.000$00, em 08/05/98.

76. Na falência de “Sociedade Industrial de Curtumes P...S...R....., SA”: JJJJ chegou a comprar os imóveis correspondentes ao lote 2.

77. As comissões “devidas” ao arguido AA, por conta deste processo e ainda das falências da “C.....C....A....”, “E....A...” e “D...” ascenderam ao valor total de 32.550.200$00, tendo sido feita ao arguidoKK uma «entrega por conta de 40.000.000$00» (199.519,16 €), dizendo respeito, nomeadamente, às descritas falências, incluindo um adiantamento no montante de 7.449.800$00. 

78. O arguido KK, serviu de correio entre a S... e o seu sogro, recebendo em mão o dinheiro.

79. Nas falências de “E....A..., Lda” e “Fábrica de Malhas D..., SA”: as comissões “devidas” ao arguido AA, por conta destes processos e ainda das falências da “C.....C....A....” e “P...S...R.....” ascenderam ao valor total de 32.550.200$00, tendo sido feita ao arguido KK uma «entrega por conta de 40.000.000$00» (199.519,16 €), dizendo respeito, nomeadamente, às descritas falências, incluindo um adiantamento no montante de 7.449.800$00. 

80. O arguido KK serviu de correio entre a S... e o seu sogro, recebendo em mão o dinheiro.

81. Na falência de “A..A..., Ldª”: o arguido DD tratou de negociar por fora a revenda do imóvel rústico, sito em ..............., propondo a respetiva aquisição a um cliente habitual da S....

82. O valor efetivamente pago pelo FFF pelo prédio rústico de ............... foi de cerca de 11.750.000$00 ou 12.000.000$00.

83. Uma vez que o DD obteve um lucro ilícito entre 7.000.000$00 e 7.250.000$00, não cobrou comissão ao FFF.

84. O liquidatário AA sabia que o imóvel foi adquirido pelo DD com a colaboração do EEEE, por cerca de um terço do preço de mercado, e que os mesmos obteriam lucros avultados com a revenda que acabariam por dividir com o liquidatário.

85. Por isso aceitou a proposta da IN..... e promoveu a respetiva escritura de compra e venda, em moldes semelhantes à Fiação de S......

86. Na falência de “..............., SA”: os bens móveis no valor de 300.000$00 foram vendidos a M....C.....

87. O montante total da venda dos bens nunca foi depositado à ordem da massa falida, o arguido AA apoderou-se do referido montante, gastando-o em proveito próprio, bem sabendo que o mesmo não lhe pertencia.

88.  A S... cobrou ao comprador dos bens imóveis uma comissão de cerca de 10% do valor da venda.

89. A S... cobrou comissão aos compradores dos bens móveis.

90. Na falência de “T..., Lda”: o arguido AA quis induzir em erro a Juíza sobre o valor total das receitas.

91. E indicou na prestação de contas o montante de receitas no valor de 28.207.600$00.

92. Na falência de “S....I...., Lda”: do montante total da comissão cobrada, a S... entregou cerca de um terço ao arguido AA, concretamente a quantia de 5.234.700$00 (26 110,57 €).

93. Tal pagamento foi levado a cabo em duas ocasiões, sendo que o montante de 5.000.000$00 foi pago em 28-8-1995, enquanto que a quantia parcial de 234 700$00 foi englobada em cheque no valor global de 1.059.700$00 (5.285,76 €), emitido em 1-8-1995 sacado s/ conta do BCI de que era titular a S....

94. Os referidos montantes foram entregues em mão ao arguido KK.

95. Na falência de “C...C... e C.ª, Lda”: o montante de 12.784.400$00 pago ao arguido e liquidatário judicial AA foi entregue em mão ao arguidoKK, seu genro.

96. Nas falências de DDD, “EEE e Companhia, Lda”, “Fábrica de Calçado Z.., Lda” e “Fábrica de C...C..., Lda”: o montante global de 8.490.000$00, pago ao arguido/liquidatário judicial AA, foi entregue em mão ao arguido KK.

97. Na falência de “Fábricas A.........”: o montante pago ao arguido AA foi entregue em mão ao arguido KK.

98.  Na falência de “M...... S.A: o imóvel da verba nº ..., lote 2, foi vendido a MMMM.

99. Na falência de “Supermercados G...., S.A.”: GGGGG, adquirente do estabelecimento sito na Rua ......., no Porto, pagou comissão à leiloeira no valor de 530.000$00.

100. Na falência de “S....”: os montantes entregues pelos adjudicatários dos bens da falida, quer a título de sinal quer de pagamento final, não foram depositados em conta da massa falida e nem rentabilizados a favor da sua legítima titular.

101. Ao invés, tanto o liquidatário AA e o seu genro KK, como os arguido JJ e DD procederam ao respetivo depósito em contas próprias, chegando a fazer aplicações em produtos financeiros em seu proveito, por períodos que oscilavam entre alguns dias a vários meses e apoderaram-se do juros correspondentes, como se de coisa sua se tratasse.
102. Considerando os períodos de aproveitamento abusivo do capital recebido e feito o cálculo dos respetivos juros os arguidos JJ e DD obtiveram à custa da massa falida, juros de montante não inferior a 178.996$00 (892,83 €),
103. Os arguidos AA e KK, obtiveram à custa da massa falida, juros de montante não inferior a 392.598$00 (1 958,27 €).
104. Na falência de “A.....”: o preço real de venda dos bens móveis foi de 100.000$00, sendo a diferença de 80 contos recebida «por fora» e reverteu integralmente a favor dos arguidos JJ e DD.
105. Os bens vieram a ser revendidos pela S... pelo valor de 100.000$00.
106. Na falência de “Fábrica de Tecidos da F...., SA.”: a S... cobrou à compradora dos bens, “G....S.....”, uma comissão a título de honorários;
107. A “DE......” recebeu a título de mais valia o montante total 62.200.000$00, pago pela cedência das suas posições contratuais, em partes iguais, pela G....S..... e pela R....M.....
108. Na falência de A...S....R.... e mulher TTTT: a comissão de 1.550.000$00 foi paga pela “M....” à S....
109. Os arguidos AA e KK, por intermédio deste último, receberam dos arguidos DD e JJ, em ocasiões diversificadas e no âmbito de processos de falência não identificados, diversas e avultadas quantias.
110. Os arguidos AA e KK, em processos de falência cuja identificação não foi possível apurar, depositaram nas suas contas as receitas da venda pertencentes à massa falida, por períodos variados e fazendo seus os juros percebidos, no valor total não inferior a 15.990.446$00 (79.760,01 €).
*
111. Na falência de “P... – Fábrica de Malhas, Lda”: o arguido CCCC sabia que tinha sido previamente acordado o pagamento do montante de € 198.761,98 pela “DE....” à S....
112. O montante de 24.940,00 € entregue pelos arguidos DD e JJ destinou-se ao arguido CCCC, tendo sido por ele recebido.
*
113. A conta nº 000000000 do BNC, é titulada pela sociedade S....& A....., Ldª.
114. Na falência de “GA...... – Componentes para a Indústria do Calçado, Ldª”: AAA, é gerente e sócio maioritário da empresa “J.....T..... Limited”.
115. A “J.....T..... Limited” é representada em Guimarães pelo arguido ZZZ.
116. A J.....T..... adquiriu os bens da falida na sequência da avaliação efetuada pelo seu próprio pessoal da SO....., concretamente os arguidos MMM e ZZZ, beneficiando ainda de informação privilegiada sobre as propostas concorrentes.
117. Com a concordância e colaboração do QQque sabia que autorizando o negócio da J.....T..... viria a partilhar dos lucros obtidos, não obstante estar ciente de que a venda nos moldes referidos causava manifesto prejuízo à massa falida.
118. Os arguidos XXX, VVV e ZZZ pagaram ao arguido QQo montante de 1.970.000$00.
119. Na falência de “J...S... C.....F...., Ldª: a S... entregou ao arguido QQa quantia de 1.900.000$00 (9.477,16 €); e que o depósito em numerário de € 10.500,00, na conta bancária titulada pelo arguido QQ, foi proveniente do pagamento efectuado pelos arguidos DD e JJ.
120. Na falência de “S..... – Indústria de Calçado, Lda.”: a SO..... cobrou comissão ao comprador AAAAAA.
*
121. Embora inscrita nas listas de liquidatários e gestores judiciais do Tribunal da Relação do Porto desde 1996, a arguida PPPPPP só começou a ser nomeada para exercer funções de liquidatária, a partir de 2000.
122. Na falência de “Co... – Componentes para Calçado, Lda., o arguido QQQQQQ avaliou a viatura de matrícula 47-05-IH.
123. O arguido QQQQQQ combinou com TTTTTTTTTapresentar várias propostas em nome de entidades diferentes para a venda da viatura, para simular a existência de concorrentes e que emitiria cheques para o respetivo pagamento, sendo que um se destinava ao IVA, outro a ser depositado à ordem da massa falida e o restante ao arguido QQQQQQ.
124. O montante entregue efetivamente pelo comprador TTTTTTTTTao arguido QQQQQQ foi de 600.000$00, pelo que o arguido QQQQQQ fez sua a diferença de 183.599$00.
125. A arguida PPPPPP resolveu pedir ao comprador da viatura o preço de 600.000$00.
*
126. Na falência de “P.. Móveis, Lda”: adjudicada a venda, a S... cobrou aos compradores dos bens vendidos comissões a título de honorários.
127. A S... entregou uma percentagem do montante das comissões ao arguido GG.
128. Na falência “T...F...., Lda”: para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, o arguido GG recorreu aos serviços da S...N...L... (S...).
129. São frequentes os pagamentos «por fora» efectuados pelo comprador GGG.
130. Adjudicada a venda, a S... cobrou ao comprador dos bens vendidos, uma comissão a título de honorários, tendo entregado uma parte ao arguido GG.
131. Na falência “A...T.... – Indústria Têxtil, Ldª”: para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, o arguido GG recorreu aos serviços da S...N...L... (S...).
132. O aviso de pagamento do preço dos bens vendidos foi subscrito pelo advogado FFFF.
133. Adjudicada a venda, a S... cobrou ao comprador dos bens vendidos, uma comissão a título de honorários, correspondente a cerca de 10% do valor da venda.
134. Na falência “Sociedade de Construções G....M..., S.A”: FFFFFFF, redigiu e remeteu em simultâneo para a própria leiloeira (S...) diversas propostas em nome de terceiros, com vista à aquisição de diversas garagens e aparcamentos da falida.
135. FFFFFFF apresentou a proposta para compra do imóvel, a pedido do arguido DD, depois de conhecida a proposta mais elevada no valor de 12.500.000$00.
136. Nas falências “Li.....”, “G......G...., Ldª”, “A.....C....., Ldª”, JJJ e mulher, MM e mulher, NN e mulher, I...... – Exploração Pesqueira, Ldª, a arguida JJ ao indicar a morada da sua residência nas notas de honorários, quis ocultar qualquer relação com a S....
137. A arguida JJ ao apresentar faturas de despesas nas falênciasL...., G......G...., A.....C....., LL e esposa, MM e esposa, NN e esposa, e I......, em seu nome, agiu com a intenção de se apropriar desses valores e prejudicar a massa falida, com a conivência do arguido GG.
138. Na falência “Construções A...M...., Lda.”: para efeitos de coadjuvação na venda do património da empresa, o arguido GG recorreu aos serviços da S...N...L... (S...).
139.  O comprador NNNNNN apresentou proposta de compra a pedido do seu patrão, o arguido DD, depois de conhecidas as demais propostas.
140. Posteriormente, os bens foram revendidos a uma empresa de Braga.
141. Por via deste negócio, a S... veio a ter um lucro de 120.000$00, com o aval do arguido GG, que bem sabia que o arguido DD iria vender os bens obtendo lucros que pertenciam à massa falida, mas que após a venda dividiriam entre si.
142. O valor entregue ao arguido GG por referência a esta falência, foi a título de repartição do lucro obtido pelos arguidos DD e JJ.
143. Na falência de JJJ e mulher: quanto aos restantes 2.500.000$00, que inicialmente foram depositados na conta do mandatário da compradora, o Dr. UUUUUUUUU, este reteve 500 contos a título de honorários.
144. A parte paga, ao liquidatário GG, de comissão foi dividida com o arguido SS.
145. Na falência M.....I....., Lda., a sociedade Fa...., Ldª apresentou uma proposta por intermédio do Dr. FFFF.
146. Tal proposta foi apresentada em condições mais vantajosas, depois do conhecimento das propostas apresentadas, face à inexistência de leilão.
147. O arguido GG e FFFF negociaram “por fora” a venda dos imóveis da falida a S....S.....i.
148. O arguido GG e FFFF sabiam que o arguido DD negociou com S....S.....i a venda dos imóveis pelo valor de 375.000.000$00.
149. Os cheques emitidos por S....S.....i no valor de 95.000.000$00 e 20.000.000$00 foram entregues ao advogado FFFF, por indicação do arguido DD.
150. Adjudicada a venda, a S... cobrou ao comprador dos bens móveis vendidos, uma comissão a título de honorários, correspondente a cerca de 10% do valor da venda.
151. FFFF recebeu uma parte dos 125.000.000$00, com grave prejuízo dos credores da empresa a quem a mesma pertencia.
152. O arguido DD simulou ter vendido os imóveis por 250.000.000$00.
153. O arguido DD, ao auferir a quantia de 125.000.000$00 nos moldes descritos na factualidade que veio a ser considerada provada, causou prejuízo aos credores da massa falida.
154. Na falência de MM e mulher: a S... cobrou comissão aos compradores AAAAAAAA e BBBBBBBB.
155. A S... cobrou uma comissão a título de honorários no montante total de 4.750.000$00, correspondente a cerca de 10% do valor da venda.
156. Na falência de “C.J. C...., S.A.”: a S... recebeu a título de comissão a quantia global de 15.645.000$00.
157. Na falência de “A..... – Sociedade de Artigos de Papelaria e Plásticos, Ldª”: os bens móveis foram adjudicados à proponente “Sociedade P.....C....V.....”; e que a quantia de 430.000$00 paga pela S... ao liquidatário judicial GG o tenha sido por conta dos lucros por ela obtidos neste negócio.
158. O arguido GG recebeu dos arguidos DD e JJ, em ocasiões diversificadas e no âmbito de 9 processos de falência que não foi possível identificar, diversas quantias no valor total de 19.669.200$00, como contrapartida pela selecção da S... como encarregada da venda, pela sua anuência à cobrança ilícita de comissões, e pela sua autorização à realização de negócios manifestamente lesivos para as massas falidas e respetivos credores.
*
159. Na falência de “A....”: o negócio da compra do património da falida foi realizado sob a direcção do arguido FFFF.
160. O arguido DD remeteu uma carta ao BTA.
161. Nessa carta era invocada pouca transparência na apresentação da proposta de valor superior à da PPor......
162. Os arguidos DD e FFFF procuraram influenciar a Comissão de Credores no sentido da rejeição da proposta de valor superior à da PPor......
163. Na falência da “C...S..,.Ç, Lda”: a S... cobrou ao comprador dos bens vendidos uma comissão a título de honorários no montante de 40.000.000$00, o que foi ocultado ao Tribunal. 
164. O arguido NN recebeu dos arguidos DD e JJ, em ocasiões diversificadas e no âmbito de 6 processos de falência não identificadas a quantia de 12.249.291$00, como contrapartida pela selecção da S... como encarregada da venda, pela sua anuência à cobrança ilícita de comissões, e pela sua autorização à realização de negócios manifestamente lesivos para as massas falidas e respetivos credores.
165. Na falência de “C......”: o arguidoKK recebeu dinheiro da S... para entregar ao arguido NNNN.
166. Os montantes recebidos destinados ao arguido NNNN e entregues em mão aoKK, eram normalmente divididos da seguinte forma: 50% para NNNN e o restante entre AA eKK.
167. O arguido NNNN teve conhecimento do depósito do sinal pago ao arguido DD, no dia do leilão, no montante de 38.000.000$00.
168. Na falência da “L”: o arguido FFFF actuou mancomunado com o DD e com o liquidatário NNNN, visando todos “deitar mão” ao património imobiliário da falida. 
169. Adjudicada a venda, a S... obteve de comissões e lucros o montante de 69.249.000$00.
170. O pagamento da quantia de 22.436.676$00 operou-se, em numerário, entregue em mão ao arguidoKK e foi repartido pelos arguidosKK, AA e pelo NNNN.
171. Na falência de “C....”: o arguidoKK recebeu a quantia de 9.609.100$00, a qual foi repartida pelos arguidos NNNN, AA eKK.
172. O arguido TT recebeu a quantia global de 9.609.100$00, incluindo o pagamento de uma segunda “tranche” por conta daquele valor, no montante de 5.000.000$00.
173. Na falência de “E......: a proposta apresentada em nome de VVVVVVVVV não foi efetivamente subscrita pela mesma, tendo sido forjada pelos arguidos.
174. Na falência de “S..... de V......, JSO, SA”: a venda foi adjudicada em 30-6-99 e a quantia de 4.500.000$00 foi entregue ao arguido UU pelos arguidos DD e JJ a título de repartição das comissões cobradas.
175. O arguido UU recebeu dos arguidos DD e JJ, em ocasiões diversificadas e no âmbito de processos de falência não identificados, a quantia total de 8.700.000$00, como contrapartida pela selecção da S... como encarregada da venda, pela sua anuência à cobrança ilícita de comissões, e pela sua autorização à realização de negócios manifestamente lesivos para as massas falidas e respetivos credores.
176. Na falência de A...D...S.... e mulher: os arguidos DD e JJ era “dona” da empresa IN..... – Sociedade de Investimentos Imobiliários, SA.
177. As propostas apresentadas pelo arguido FFFF foram formuladas depois de conhecidas as demais propostas concorrentes e de forma a cobri-las.
178. Os arguidos concluíram que a sugestão apresentada pelo BTA prejudicaria as suas perspectivas de negócio, aumentaria o valor do prédio e retardaria a venda, o que não lhes interessava, razão pela qual surgiu FFFF na veste de advogado, omitindo a de proponente vencedor e interessado no negócio.
179. A S... contabilizou lucros com o negócio.
180. Na falência de “C....T...., SA”: para efeitos de coadjuvação na venda do património, o arguido LLLrecorreu aos serviços da S...N...L... (S...).
181. ZZZZZZZZ verificando que, no auto de arrolamento, os bens estavam avaliados por montante muito baixo – 1.660.000$00 -, propôs-se ficar com eles para posterior revenda a preços de mercado, dividindo os lucros com o DD.
182. Acolhendo tal proposta, o arguido DD fez juntar ao processo as propostas em nome de NNNNNN, seu funcionário, e de RRR
183. Como contrapartida, Rui Oliveira deu ao arguido DD estantes e alguns ferros que pertenciam à massa falida e ainda uma carrinha Volkswagen Transporter, avaliada em 500.000$00.
184. Obtido o lucro correspondente aos bens vendidos, a S... entregou ao arguido LLL uma parte dos mesmos.
185. Na falência de “C...A...., Ldª”: para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, o arguido LLLrecorreu aos serviços da S...N...L... (S...).
186. Adjudicada a venda, a S... cobrou ao comprador dos bens vendidos uma comissão a título de honorários.
187. Na falência de “A ...., Lda”: o arguido DD pressionou o liquidatário no sentido de aceitar uma proposta para compra do imóvel da Fa...., no montante de 4.500.000$00.
188. Na falência de “AZ.. – Companhia Portuguesa de Azulejos, SA”: foi a arguida XX que escolheu, como modalidade da venda, a negociação particular através de leilão, e a S...N...L... (S...) como coadjuvante da venda; e que a venda dos bens foi adjudicada em 24/11/99.
189. Na falência de “E...B.... & C.ª Lda”: para efeitos de coadjuvação na venda do património da referida empresa, o arguido Eduardo Pereira recorreu aos serviços da S...N...L... (S...).
190. Há pelo menos uma década que entre os representantes de empresas encarregadas das vendas judiciais, os liquidatários e os funcionários judiciais se estabeleceu uma organização em moldes bem estruturados e com funções perfeitamente definidas estando todos os seus membros vocacionados para a mesma finalidade: obter lucros avultados no âmbito do processo de falência, que todos repartiam entre si.
191. A prossecução deste objetivo pressupunha a colaboração e atividade conjugada de cada um dos membros.

192. Os pagamentos efectuados pela S... ao liquidatário NNNN eram, normalmente, feitos em numerário, que o DD metia em envelopes e entregava ao arguido KK.

193.  Os arguidos DD e JJ repartiam os ganhos obtidos com a compra e venda de património das falidas com os advogados EEEE e FFFF, os quais mancomunados com aqueles, apresentaram propostas de aquisição de bens, que acabavam por ser sempre as vencedoras.

194. Todos os liquidatários que trabalhavam com o arguido DD (S...) tinham conhecimento da ligação dos arguidos DD e da JJ a estas empresas e aos advogados EEEE e FFFF.

195. Sabiam perfeitamente que as propostas por eles apresentadas eram, afinal, propostas dos representantes da S..., depois de conhecerem e avaliarem, em situação de privilégio, as propostas dos demais concorrentes e de concluírem que o negócio lhes interessava a eles próprios, utilizando tais intermediários para simular distanciamento entre o encarregado da venda e o adquirente dos bens.

196. VVV e ZZZ subavaliaram bens das falidas para posterior aquisição pela Ju......... e a J.....T..... Limited, o que aconteceu nas falidas “Redufe”, “Isabi” e “GA......”.

197. Posteriormente, à revelia do processo de falência, o ZZZ em parceria com a sociedade T..M..., Comércio e Investimentos Imobiliários, Lda., revendia os bens pelo seu preço real, locupletando-se com o respetivo lucro que repartia com o liquidatário QQ.
198. Na falência de “A....M...., Ldª”: o arguido QQao depositar os valores relativos ao produto da venda dos bens na sua conta pessoal, fê-lo com o objetivo consumado de se apropriar dos juros correspondentes, gastando-os em proveito próprio, tinha consciência de que tais valores não lhe pertenciam e que lesava o património das falidas e dos respetivos credores.
199. O arguido QQ permitiu o pagamento/recebimento de despesas inexistentes descritas nas faturas da CON...., nas falências A....M....., GA...... e S....., à custa do tribunal e/ou das massas falidas, tendo consciência de que violava os seus deveres funcionais e mercadejavam com o cargo que exercia.

200. Entregando quantia monetária à arguida XX, agiram os arguidos DD e JJ de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei.

201. Actuou a arguida XX de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que a sua conduta era proibida e punida por lei.
202. O arguido CCCC não se coibiu de favorecer investidores seus amigos, bem como o processamento de vendas a favor de pessoas e entidades ligadas às leiloeiras.
203. Os arguidos DD e JJ vieram a entregar ao arguido CCCC quantia pecuniária, em troca da sua anuência à venda do activo da falida “P...” em condições diferentes das declaradas no processo de falência.

204. Agiram os arguidos DD, JJ e CCCC de forma livre, deliberada e consciente, bem sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei.

205. De toda a atividade ilícita descrita nos autos resultou para o arguido KK um ganho no valor de 1.529.657,53 € (306.668.801$00); para a arguida XX a quantia de € 9.786,41 (nove mil setecentos e oitenta e seis euros e quarenta e um cêntimos); e para o arguido CCCC o montante de € 24.940,00..
Factos não provados da contestação do arguido AA:

206. Na fase de liquidação do activo, as despesas suportadas com a massa falida são apenas as referentes aos emolumentos junto das conservatórias e repartições de finanças.

207. Todas as demais despesas são suportadas pelas leiloeiras nomeadas para a fase de venda dos bens da massa falida.

208. O arguido AA escolhia a leiloeira que entendesse ser mais conveniente para a venda dos bens da massa falida.

209. O arguido AA efetuou    aplicações financeiras do produto da venda dos bens das massas falidas em seu nome, para dispor de fundo de maneio para ocorrer a despesas da sua administração, da responsabilidade da massa falida, depositando, depois, à ordem do Juiz do processo, o saldo do rendimento produzido.
Factos não provados da contestação dos arguidos DD e JJ:
210. A busca ao edifício sito na Rua ....., nº...., Porto, iniciou-se pelo....andar e prosseguiu no 2º andar, sem que houvesse despacho judicial a autorizá-lo.
211. O despacho da JIC constante de fls. 901 foi emitido/proferido, se eventualmente nesse dia 3 de Julho de 2002, seguramente após a realização da busca.  

212. Nas falências Supermercados G.... e I...., o liquidatário judicial AA na prática não se vinculava aos negócios resultantes dos leilões, o qual só intervinha aquando da celebração do contrato promessa e da escritura pública, depois de superados todos os entraves ou obstáculos à feitura do negócio, quando fosse certa e definitiva a alienação do património.

213. Até lá, a S..., por sua iniciativa e sem qualquer documento que vinculasse a massa falida, aceitava apenas de candidatos à aquisição de bens, entregas de dinheiro, “como reserva de negócio”.

214. Porque o liquidatário AA se não vinculara ainda ao negócio e só o pretendia fazer quando estivessem resolvidas todas essas questões, de modo a evitar todos os inconvenientes, convicto que aquelas questões que faltava resolver sê-lo-iam a muito curto prazo, decidiu só receber aquelas verbas aquando da concretização do respetivo negócio e vinculação da massa falida.
215. Na falência Supermercados G...., a S... suportou à sua custa largos milhares de contos pagando do seu bolso rendas dos imóveis aos respetivos senhorios.
216. Muito antes da fase da liquidação de património e consequentemente antes de ser adjudicada à S... a realização de leilão, o liquidatário GG, logo após ter sido nomeado liquidatário em cada uma das sete falências, incumbia a arguida Autora Pinto de proceder a todas as démarches necessárias ao registo da apreensão dos imóveis ou “móveis sujeitos a registo” que integravam o património da massa falida.
217. A arguida JJ sempre foi de todo alheia às atividades da S... ou do seu marido.  
218. A arguida limitava-se a usar na contabilidade os talões de depósito dos bancos e a “passar a limpo” indicações escritas, normalmente ilegíveis do marido.
219. A arguida JJ nunca entregou qualquer quantia a um liquidatário.
*
Facto não provado da contestação do arguido ZZ:
220. Na falência M...M..., o arguido não teve qualquer intenção ou esperou obter para si ou outrem qualquer participação na comissão ou percentagem da LEI... fosse no momento em que foram fixadas as cláusulas da intervenção daquela e o montante da respetiva remuneração e forma de cobrança desta, fosse em qualquer outro momento.
                                                                    *
Factos não provados da contestação do arguido NNNN:
221. Os montantes descritos na matéria de facto provada entregues pela S...N...L... ao arguido NNNN, nas falências C...., L e C......, dizem respeito a quantias provenientes das empresas tituladas pelo arguido ou seus familiares.
*
Facto não provado da contestação do arguido AAA:
222. Na falência A...”, a quantia de 251.830$00 paga ao arguido nos termos descritos na matéria de facto provada, advém do acerto de contas relativo à venda dos bens móveis da falida.
(Factos não provados resultantes da alteração da matéria de facto pelo acórdão recorrido):
Fls. 985/986:
223. Sabendo que os arguidos DD e JJ se propunham partilhar consigo quaisquer proveitos auferidos por força da intervenção da S... como coadjuvante na liquidação de activos de falidas, e pretendendo beneficiar da referida divisão de ganhos,
224. Este valor (de 1.750.000$00, correspondente a 10% do valor da venda) foi somado pelo arguido DD aos montantes de 715.000$00 (este, de proveniência não apurada) e de 1.000.000$00 – este, referente ao valor das comissões cobradas a QQQQQQ e SSSSSSS, no âmbito da falência de JJJ e mulher –, atingindo-se o valor global de 3.465.000$00, que o arguido DD dividiu por três, com vista à repartição com o arguido GG na proporção de 1/3.
225. Ao resultado de tal operação aritmética – 1.155.000$00 – foi subtraído o montante de 667.000$00, obtendo-se o valor de 488.000$00.
226. Tal entrega (do valor de 488.000$00 referido no facto provado nº 683) visou, no que concerne a esta falência e ainda à falência de JJJ e mulher (quanto a esta, por referência às comissões cobradas a XXXXXXX e SSSSSSS), pagar a contrapartida “devida” ao arguido GG pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito do s referidos processos.
Fls. 988:

227) Este montante de 1.000.000$00 foi incluído na contabilização de valores a fim de serem repartidos com o arguido GG e subsequente pagamento ao mesmo da quantia de 488.000$00, nos termos expostos na análise da falência da “S........”.

228) Assim, e conforme já referido, tal entrega pelos arguidos DD e JJ visou, no que concerne a esta falência (por referência às comissões cobradas a XXXXXXX e SSSSSSS) e à falência da “S........, Lda”, pagar a contrapartida “devida” ao arguido GG pela escolha e subsequente intervenção da S... como coadjuvante da venda no âmbito dos referidos processos.

229) Tal pagamento operou-se em 14/3/2001, através de cheque, e nos moldes já descritos na falência da “S........, Lda”.
*
Finalmente, não resultou provado que a sala de reuniões da S..., local onde foram encontrados e apreendidos os manuscritos e outros documentos, na sequência da busca efetuada, servisse de escritório ao advogado OOOOOOOOO.
Não se provou qualquer outro facto alegado na pronúncia, nas contestações apresentadas pelos arguidos ou resultante da discussão da causa, com pertinência para a decisão desta, que se mostre em oposição com os factos dados como provados ou que esteja prejudicado por estes.

2.2.3. A medida da pena conjunta.
2.2.3.1. A propósito desta questão, o Tribunal da Relação teceu as seguintes considerações:
«2.2.3.9.2– As penas únicas aplicadas
Reavaliemos, agora, a determinação das penas únicas…
Na atual versão do artigo 77º do Código Penal, o legislador consagrou, para as hipóteses em que o mesmo agente tenha praticado vários crimes antes de transitar em julgado a condenação por qualquer deles, um sistema de pena conjunta obtida através de um cúmulo jurídico.
Os limites que balizam essa pena são estabelecidos no nº 2 do mesmo preceito: “A pena aplicável tem como limite máximo a soma das penas concretamente aplicadas aos vários crimes (...); e como limite mínimo a mais elevada das penas concretamente aplicadas (…).
A tarefa de determinação da medida da pena do concurso – não sendo, em termos legais, tão rigidamente balizada como a determinação das penas isoladas ou das penas parcelares passíveis de cúmulo jurídico – não pode ser entendida, apesar de tudo, como uma atividade isenta de regras e que dispense fundamentação.
As dificuldades suscitadas pela ponderação conjunta dos factos caraterizadores dos diversos crimes que originaram as penas em concurso e da personalidade revelada pelo agente têm levado alguma jurisprudência a avançar com “regras” tendentes à obtenção de uma maior uniformidade de critérios.
Vendo-se, embora, alguma utilidade neste esforço, não pode deixar de olhar-se para tais tentativas como contendo perigos generalizadores e redutores para a atividade dos tribunais.
[E refere, como um dessas tentativas a criação de um algoritmo, divulgada por Carmona da Mota].

As penas parcelares em presença no caso que agora nos ocupa resultaram de crimes que –  … – podem qualificar-se como de média gravidade, se atendermos, em conjunto, às penas aplicáveis e aplicadas.
Importa, agora, proceder à conferência dos cúmulos jurídicos das penas aplicadas aos arguidos…
Como é consabido, as penas unitárias dos concursos deverão ser determinadas no âmbito de molduras abstractas que terão como limite mínimo a mais elevada das penas concretamente aplicadas aos vários crimes e como limite máximo a soma das penas parcelares, não podendo ultrapassar 25 anos tratando-se de pena de prisão (cfr. o nº 2 do art. 77º do Código Penal).
Dentro dos limites assim encontrados para esta moldura abstrata, importa determinar a medida da pena conjunta do concurso, considerando as exigências de culpa e de prevenção, nos termos gerais do artigo 71º do Código Penal, com a única particularidade de que aquelas se referem, agora, à imagem global dos factos e da personalidade dos arguidos neles documentada (cfr. o nº 1 do artigo 77º do Código Penal).
Considerando até que algumas das molduras abstratas do concurso das penas parcelares aplicadas a cada um dos arguidos sofreram alterações em resultado das vicissicitudes ocasionadas pelos presentes recursos, importa fazer uma resenha das penas parcelares aplicadas a cada um dos arguidos recorridos, para encontrar os limites mínimos e máximos a ter em conta.
O arguido AA encontra-se agora condenado nas seguintes penas parcelares:
- quanto aos crimes de corrupção passiva para acto ilícito, previstos e punidos pelo artigo 372º, nº 1, do Código Penal, por referência a cada um dos processos de falência elencados:
(…)
- C.....C....A.... – 1 ano e 3 meses de prisão;
- Curtumes P...S...R..... – 1 ano e 3 meses de prisão;
- E....A... – 1 ano e 6 meses de prisão;
- D... – 1 ano e 3 meses de prisão;
- A....A... – 1 ano e 3 meses de prisão;
- M...C...M.... – 1 ano e 8 meses de prisão;
- T... – 1 ano e 3 meses de prisão;
- C...C... & C.ª – 1 ano e 6 meses de prisão;
- C...D..... – 1 ano e 6 meses de prisão;
- C...D..... – 1 ano e 6 meses de prisão;
- J..M...R... – 1 ano e 6 meses de prisão;
- M...... – 1 ano e 8 meses de prisão;
- Supermercados G.... – 1 ano e 6 meses de prisão;
- I.... – 1 ano e 6 meses de prisão;
-S....... – 1 ano e 6 meses de prisão;
- M.... – 1 ano e 6 meses de prisão;
- A...M..R... – 1 ano e 6 meses prisão;
- EEE & Comp.ª, Lda – 1 ano e 6 meses de prisão;
- Fábrica de Calçado Z.. – 1 ano e 6 meses de prisão;
- Fábrica de C...C... – 1 ano e 6 meses de prisão;
- C.... – 1 ano e 5 meses de prisão;
-A... – 1 ano e 5 meses de prisão;
- A... – 1 ano e 5 meses de prisão;
- F.... – 2 anos de prisão;
- HHH e mulher – 1 ano e 5 meses de prisão;
- III e mulher – 1 ano e 5 meses de prisão;
- quanto ao crime de peculato, previsto e punido pelo artigo 375º, nº 1, do Código Penal, integrado pelos factos ilícitos descritos nas falências de “C.....C....A....”, “T...l”, “M......”, “G....”, “I....” e A...M..R..., e praticado em co-autoria material com o arguidoKK: 3 anos de prisão;
- quanto aos crimes de peculato, previstos e punidos pelo artigo 375º, nº 1, do Código Penal, praticados, em coautoria material, com os arguidos DD e JJ, e por referência às falências de “Supermercados G....” e “I....”: 1 ano e 1 mês de prisão e 1 ano de prisão, respetivamente.
Deste modo, a moldura penal do cúmulo tem o limite mínimo de 3 anos de prisão e o limite máximo de 25 anos de prisão – ou seja, o máximo legal, sendo certo que a soma das penas parcelares ultrapassa 43 anos e 3 meses de prisão.
O Ministério Público requereu que este arguido fosse condenado em uma pena única de 13 anos de prisão (caso obtivessem provimento as suas pretensões no sentido do agravamento das penas parcelares, o que, de um modo geral, não sucedeu), ou que, mantendo-se as penas parcelares aplicadas, a pena única não fosse inferior a 10 anos de prisão.
Por sua vez, o arguido AA pediu que a fixação da pena única se quedasse pelos 5 anos de prisão e que, aí se chegando, se suspendesse a execução de tal pena, sob a condição de entregar ao Estado as vantagens obtidas com os crimes cometidos, pena que, em seu entender, será “mais do que suficiente para satisfazer as medidas de prevenção geral e especial que o caso recomenda”.
Após a eliminação de duas das penas parcelares ocasionada pela prescrição do procedimento criminal referente aos respetivos crimes e também depois do agravamento de duas das penas parcelares, os contornos da moldura penal a levar em conta no cúmulo jurídico mantêm-se praticamente inalterados.
Estão em causa 29 penas parcelares de prisão, ainda que sendo a maior delas de 3 anos de prisão.
Acresce que sofreu, entretanto, 4 condenações por crimes económicos ou tributários (uma em pena de multa e três em penas de prisão suspensas na sua execução), embora as respetivas penas tenham sido já julgadas extintas.

Não ocorrendo a circunstância do grande lapso de tempo já decorrido, a pena única a aplicar ao arguido não deveria ser inferior a 10 anos de prisão.
Mesmo subtraindo ao máximo legal (25 anos) os 3 anos da pena parcelar mais grave e dividindo o resultado bonificado (22) por 4, encontra-se a correspondência ‘mínima’ a um quarto das penas restantes (5,5 anos), que se deve adicionar ao referido mínimo, perfazendo 8 anos e meio.
O Tribunal recorrido foi, assim, neste caso, demasiado brando, pelo que, mesmo atendendo ao tempo decorrido, se deve fixar em 8 anos de prisão a pena única a aplicar, nessa medida se dando parcial provimento a esta parte do recurso do Ministério Público e negando provimento a este segmento do recurso do arguido (pois, além do mais, tal pena não pode ser suspensa)».

O arguido GG encontra-se agora condenado nas seguintes penas parcelares, todas referentes a crimes de corrupção passiva para acto ilícito, por referência a cada um dos processos de falência elencados:
- F....L..... – 1 ano e 3 meses de prisão;
- H... – 1 ano e 6 meses de prisão;
- P.. Móveis – 1 ano e 2 meses de prisão;
- F.... – 1 ano e 6 meses de prisão;
- R.....F..... – Artes Gráficas – 1 ano e 4 meses de prisão;
-L.... – 1 ano e 4 meses de prisão;
-R..... – 1 ano e 3 meses de prisão;
- Construções G....M... – 1 ano e 4 meses de prisão;
- G...G.... – 1 ano e 4 meses de prisão;
- A....C.... – 1 ano e 4 meses de prisão;
- Construções A...V.... – 1 ano e 4 meses de prisão;
- MM e mulher – 1 ano e 4 meses de prisão;
- JJJ e mulher – 1 ano e 2 meses de prisão;
- C.... – 1 ano e 3 meses de prisão;
- M....I.... (Confecções E....) – 2 anos de prisão;
-NN e mulher – 1 ano e 3 meses de prisão;
- I...... – 1 ano e 3 meses de prisão;
- OO – 1 ano e 3 meses de prisão;
- MA.... – 1 ano e 2 meses de prisão;
- KKK e mulher – 1 ano e 3 meses de prisão.
Assim, atendendo às não muito significativas alterações verificadas, a pena única a aplicar a este arguido continua a encontrar-se balizada por um limite mínimo de 2 anos e máximo de 25 anos de prisão – ou seja, o máximo legal, sendo certo que a soma das penas parcelares é agora de 25 anos e 7 meses de prisão.
O Ministério Público requereu que este arguido fosse condenado em uma pena única de 9 anos de prisão (caso obtivessem provimento as suas pretensões no sentido do agravamento das penas parcelares, o que não sucedeu), ou que, mantendo-se as penas parcelares aplicadas, a pena única não fosse inferior a 7 anos de prisão.
Após a eliminação de uma das penas parcelares ocasionada pela não prova dos pressupostos típicos do crime correspondente e de um ligeiro desagravamento de uma das penas parcelares, os contornos da moldura penal a levar em conta no cúmulo jurídico não sofreram alteração significativa.
Estão agora em causa 20 penas parcelares de prisão, ainda que sendo a maior delas de 2 anos de prisão.
Anota-se ainda que este arguido sofreu, embora por acórdão já transitado em julgado em 1997, uma condenação por crime tributário em pena de prisão suspensa na sua execução.
Os critérios jurisprudenciais acima adiantados mostram-se, aqui, apesar de tudo, de possível aplicação, visto que o máximo legal da pena única apenas é ultrapassado em alguns meses pela soma das penas em concurso.
Não ocorrendo a circunstância do grande lapso de tempo já decorrido, a pena única a aplicar ao arguido não deveria ser inferior a 7 anos e meio de prisão, mesmo reduzindo ao mínimo jurisprudencialmente aceitável (a um quarto) o contributo das penas menos graves.
Porém, nem o decurso do tempo, nem o relativo bom comportamento do arguido, nem a circunstância de as falências em que interveio não terem proporcionado comissões especialmente elevadas, nem o cumprimento escrupuloso da lei relativamente à frutificação das verbas das massas falidas em favor destas – circunstâncias que, com exceção da do tempo entretanto decorrido, têm reduzido valor atenuativo e já foram levadas em conta na fixação das penas parcelares – constituem motivos suficientes para que se reduza a pena única a 5 anos de prisão, como o fez o Coletivo.
O Tribunal recorrido foi, assim, neste caso, demasiado brando, pelo que se deve fixar em 5 anos e 10 meses de prisão a pena única a aplicar, nessa medida se dando parcial provimento a esta parte do recurso do Ministério Público (pois, além do mais, tal pena não pode ser suspensa na sua execução).

No acórdão recorrido, os arguidos DD [e JJ], tinham sido condenados, nas seguintes penas parcelares:
- relativamente aos crimes de corrupção activa para acto ilícito, previstos e punidos pelo artigo 374º, nº 1, do Código Penal, praticados em coautoria material pelos mesmos arguidos, por referência aos processos de falência em que intervieram os arguidos/liquidatários:
- QQ – 2 anos e 3 meses de prisão;
- GG – 2 anos e 8 meses de prisão;
- RR – 2 anos e 3 meses de prisão;
- TT – 2 anos de prisão;
- UU – 1 ano e 4 meses de prisão;
- LLL– 1 ano e 5 meses de prisão;
- BBB entretanto falecido) – 7 meses de prisão;
- AAA – 7 meses de prisão;
- ZZ – 10 meses de prisão;
- VV – 1 ano e 6 meses de prisão.
- quanto aos crimes de peculato, previstos e punidos pelo artigo 375º, nº 1, do Código Penal, praticados, em coautoria material, com o arguido AA, e por referência às falências de Supermercados G.... e I....:
- Supermercados G.... - 1 ano e 2 meses de prisão;
- I.... – 1 ano e 1 mês.
Ao efetuar o cúmulo jurídico, o Tribunal recorrido considerou, pois, relativamente a cada um destes arguidos, um limite mínimo de 2 anos e 8 meses e máximo de 17 anos e 8 meses de prisão.
Pela prática desses 10 crimes de corrupção ativa para ato ilícito e 2 crimes de peculato, foram aqueles arguidos condenados, em 1ª instância, na pena única, cada um deles, de 5 anos de prisão, cuja execução se decidiu suspender por igual período temporal, mediante a condição de procederem ao pagamento ao Estado, cada um deles, do montante de € 1.000.000,00 (um milhão de euros), com sujeição a regime de prova, mediante cumprimento de plano de reinserção social.
Porém, há que assinalar as seguintes alterações:
- em consequência da procedência do recurso do Ministério Público na parte respeitante à prescrição do crime de corrupção passiva para ato ilícito tendo como ‘alvo’ o liquidatário judicial AA, acresceu um 11º crime de corrupção ativa para ato ilícito;
- como efeito da parcial procedência do segmento do recurso do Ministério Público respeitante à modificação das penas parcelares, foram agravadas as penas parcelares aplicadas ao arguido DD no que tange aos crimes de corrupção ativa para ato ilícito;
- em resultado da parcial procedência do recurso dos arguidos DD [e JJ] no que respeita aos crimes de peculato que lhes (e a outro) eram imputados, foram atenuadas as penas respetivas.
Assim, há agora que levar em consideração, para efeitos de reformulação dos cúmulos jurídicos, as seguintes penas parcelares aplicadas:
- relativamente aos crimes de corrupção ativa para acto ilícito, previstos e punidos pelo artigo 374º, nº 1, do Código Penal, praticados em coautoria material pelos mesmos arguidos, por referência aos processos de falência em que intervieram os arguidos/liquidatários:
- (AA) – … 3 anos e 2 meses de prisão, ao arguido DD;
- (QQ) – … 2 anos e 6 meses de prisão, ao arguido DD;
- (GG) – … 2 anos e 11 meses de prisão, ao arguido DD;
- (RR) – … 2 anos e 6 meses de prisão, ao arguido DD;
- (TT) – … 2 anos e 3 meses de prisão, ao arguido DD;
- (UU) – … 1 ano e 6 meses de prisão, ao arguido DD;
- (SS) – … 1 ano e 7 meses de prisão, ao arguido DD;
- (BBB, entretanto falecido) – … 9 meses de prisão, ao arguido DD;
- (AAA) – … 9 meses de prisão, ao arguido DD;
- (ZZ) – … 1 ano de prisão, ao arguido DD;
- (VV) – … 1 ano e 8 meses de prisão, ao arguido DD;
- quanto aos crimes de peculato, previstos e punidos pelo artigo 375º, nº 1, do Código Penal, praticados, em coautoria material, com o arguido AA, e por referência às falências de Supermercados G.... e I....:
- Supermercados G.... - 1 ano e 1 mês de prisão a cada um dos arguidos;
- I.... – 1 ano de prisão a cada um dos arguidos.
Nesta parte do seu recurso, o Ministério Público, embora propugnando uma agravação das penas parcelares, continuou a considerar como absolutamente idênticos para os dois arguidos todos os fatores influenciadores da medida das penas, posição de que acima nos demarcámos.
Entendia o Ministério Público que, face às penas parcelares agravadas que propugnava, entendia que a ambos os arguidos não deveria ser aplicada pena única inferior a 8 anos de prisão. Em todo o caso, em caso de manutenção das penas parcelares, defendia a aplicação de pena única não inferior a 6 anos e 6 meses.
Pois bem.
Temos agora penas parcelares diferenciadas relativamente a cada um dos arguidos, pelas razões que apontámos oportunamente.
Assim, quanto à arguida JJ, …
Já no que respeita ao arguido DD, deparamos com uma moldura de cúmulo jurídico com um limite mínimo de 3 anos e 2 meses e um máximo de 22 anos e 8 meses de prisão.
Seguindo os critérios jurisprudenciais acima enunciados mesmo na sua vertente mais benévola (reduzido a um quarto o contributo das penas menos graves), chegaríamos, em termos usuais, a uma pena única próxima dos 8 anos de prisão.
É certo que o decurso de um demasiado largo período de tempo constitui atenuante com um peso considerável, sendo ainda de referir o anterior bom comportamento do arguido (que não tem antecedentes criminais).
No entanto, entendemos que estas circunstâncias não constituem motivos suficientes para que se reduza a pena única a 5 anos de prisão, como ocorreu na 1ª instância, até porque não se deve omitir que os factos fazem passar a imagem de que foram a afoiteza, a habilidade e a argúcia negocial mal direcionadas deste arguido que deram azo a que ocorresse um aliciamento tão ‘eficaz’ e sistemático dos liquidatários judiciais envolvidos.
Entende-se, assim, que a pena aplicada pelo Tribunal recorrido foi, assim, neste caso, demasiado branda (embora, note-se, partindo de pressupostos menos gravosos para o arguido, ao nível das penas parcelares), pelo que se fixará em 5 anos e 10 meses de prisão a pena única a aplicar ao arguido DD, nessa medida se dando parcial provimento a esta parte do recurso do Ministério Público (pois, além do mais, tal pena não pode ser suspensa na sua execução)».
2.2.3.2. Os Recorrentes contestam a pena conjunta em que foram condenados:
O arguido GG alega, em síntese, que, entretanto, decorreram mais de 18 anos sobre a prática dos factos; que, «hoje como sempre, os actuais administradores das massas insolventes continuam a indicar e a contratar os serviços de leiloeiras para procederem à alienação dos activos das massas»; que vive do seu trabalho de economista, «levando uma vida cumpridora e conforme ao direito, perfeitamente integrado no seu meio e na sociedade e deixou a actividade de administração de massas insolventes», razão por que «não existem … quaisquer motivos ou fundamentos de prevenção geral ou de prevenção especial que possam justificar o agravamento da pena e a revogação da suspensão da [sua] execução.
– Por sua vez, o arguido DD, para além dos argumentos que se prendem com a punibilidade de alguns dos crimes parcelares alegadamente prescritos e respectivas penas – argumentos que não podem ser aqui e agora considerados pois, como atrás julgamos, trata-se de questões cobertas pelo caso julgado material que se formou sobre a decisão que recaiu sobre esses crimes, sobre todos os crimes sigulares que integram o concurso – e admita que possa entender-se que os crimes por que vem condenado «carecem de uma particular reafirmação do seu potencial punitivo», afirma concorrerem outras circunstâncias associadas ao caso «que recomendam que as penas a aplicar-[lhe] sejam fixadas com parcimónia»: a ausência de antecedentes criminais, a adequada inserção socio-profissional e famiiar; o «larguíssimo» período de tempo decorrido sobre os factos.
Em concreto e em resumo, critica o acórdão recorrido
- pelo modo como seguiu e aplicou o critério matemático desenvolvido por Carmona da Mota;
- por ter errado na soma das penas parcelares consideradas para fixar o limite máximo da moldura do concurso: as penas parcelares somam 20 anos e 8 meses e não 22 anos e 8 meses;
- por se ter limitado a relevar o tempo decorrido e o «bom comportamento anterior», violando, em todo o caso, o princípio da proibição da dupla valoração, pois que tais circunstâncias foram já consideradas na determinação da medida das penas parcelares;
- por não fazer referência aos critérios estabelecidos na 2ª do nº 1 do artº 77º do CPenal  - a análise global dos factos e a projecção da personalidade nos mesmos – e por ter omitido qualquer referência às exigências de prevenção,                                                                                              em consequência do que arguiu a nulidade do acórdão recorrido, por falta de fundamentação e por omissão de pronúncia.
E conclui que, se o Supremo Tribunal de Justiça entender que cabe censura penal aos factos dados como provados e que deve reformular o cúmulo jurídico determinado pelo Tribunal a quo, «em nenhum caso, esta [a pena conjunta] deverá ser fixada em limite superior a cinco anos de prisão, devendo, em todo o caso, a pena que vier a ser aplicada ser suspensa na respectiva execução, nos mesmos termos que haviam sido já decididos pelo Tribunal de primeira instância, na medida em que tal decisão asseguraria, de forma esgotante, as finalidades de punição que ao presente caso cabem».
– O arguido AA, admite que, a ter de ser condenado, a pena conjunta deverá situar-se nos 5 anos de prisão, suspensa na sua execução, mas condicionada à obrigação de entregar ao Estado as vantagens obtidas com os crimes cometidos.
Acrescenta, todavia, que «a aplicação, nos presentes autos de qualquer pena ao recorrente será inconstitucional, por violação do disposto no artº 20º, nº 4 da Lei Fundamental … o que se mostra violado nos presentes autos, uma vez que o recorrente foi constituído arguido há mais de treze anos».  
2.2.3.3. Pois bem.
Nos termos do artº 77º, nº 1, do CPenal, a medida da pena conjunta é fixada em função dos critérios gerais da culpa e das exigências de prevenção estabelecidos nos seus arts. 40º, nº 1 e 71º, nº 1 e, ainda, do critério especial da 2ª parte do referido preceito. Isto é, na medida da pena do concurso são também necessariamente considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente. (cfr. fls. 50480)

            Por isso é que Figueiredo Dias ensina[40], no que vem sendo seguido, sem divergências, pela jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça, (Cfr., dos mais recentes, os Acórdãos de 29.03.2012, Pº nº 316/07.5GBSTS.S1-3ª; de 26.04.2012, Pº nº 70/08.3ELSB.L1.S1-5ª; de 21.06.2012, Pº nº 778/06.8G....I.S1-5ª; de 05.07.2012, Pºs nºs 246/11.6SAGRD.S1 e 145/06.SPBBRG.S1; de 15.11.2012, Pº Nº 178/09.8PQPRT-A.P1.S1,de 14.03.2013, Pº nº 287/12.6TCLSB, de 30.04.2013, Pº nº 11/09.0GASTS.S1, de 13.05.2013, Pº nº 392/10.3PCCBR.C2.S1, e de 06.03.2014, Pº nº 352/10.4PGOER.S1, de 10.09.2014, Pº nº 223/10.4SMPRT.P1.S1, de 18.02.2016, Pº nº 2927/13.0TAMAI.P1.S1 e de 17.03.2016, Pº nº 1180/10.2JAPRT.P1.S1), que «a exigência deste critério especial obriga logo (…) a que do teor da sentença conste uma especial fundamentação, em função de um tal critério, da medida da pena do concurso… só assim se evitando que a medida da pena do concurso surja como fruto de um acto intuitivo – da «arte» do juiz, uma vez mais – ou puramente mecânico e portanto arbitrário» (sublinhado e negrito nossos).

Aplicando esta doutrina, diz, por exemplo, aquele Acórdão de 29.03.2012 que o «especial dever de fundamentação» exige a ponderação do «conjunto de todos os factos cometidos pelo arguido, de modo a surpreenderem-se, ou não, conexões entre os diversos comportamentos ajuizados, através duma visão ou imagem global do facto, encarado na sua dimensão e expressão global, tendo em conta o que ressalta do contexto factual narrado e atender ao fio condutor presente na repetição criminosa, procurando estabelecer uma relação desses factos com a personalidade do agente, tendo-se em conta a caracterização desta, com sua projecção nos crimes praticados».

Voltando àquele critério, temos que o conjunto dos factos praticados nos indica a gravidade do ilícito global perpetrado, sendo decisiva para a sua avaliação a conexão e o tipo de conexão que entre os factos concorrentes se verifique; por sua vez, na avaliação da personalidade – unitária – do agente relevará, sobretudo, a questão de saber se o conjunto dos factos é reconduzível a uma tendência (ou eventualmente mesmo a uma «carreira») criminosa, ou tão-só a uma pluriocasionalidade que não radica na personalidade, só no primeiro caso se justificando atribuir à pluralidade de crimes um efeito agravante dentro da moldura penal conjunta. Relevo especial na operação terá ainda o juízo sobre o efeito previsível da pena no comportamento futuro do agente (exigências de prevenção especial de socialização).

            E os factores que intervieram na determinação de cada uma das penas parcelares não devem, por regra, ser de novo valorados na medida da pena conjunta, sob pena de violação do princípio da proibição da dupla valoração, salvo, naturalmente, quando esse factor seja referido, não a um dos crimes singulares, mas ao conjunto deles, porque, então, «não haverá razão para invocar a proibição da dupla valoração».

Por outro lado, nos termos do artº 40º, nº 1, do CPenal, a aplicação das penas visa a protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade. À culpa está reservado o papel de limite intransponível da medida da pena, diz o nº 2 do mesmo preceito.

            Por sua vez, dispõe o nº 1 do artº 71º que a determinação da medida concreta da pena, dentro dos limites definidos na lei, é feita em função da culpa do agente e das exigências de prevenção. E o número seguinte manda atender, para o efeito, a todas as circunstâncias – que enumera de forma exemplificativa nas suas diversas alíneas – que, não fazendo parte do tipo de crime, depuserem a favor do agente ou contra ele: os “factores de medida da pena”, como lhes chama Figueiredo Dias[41], os quais hão-de relevar naturalmente para efeitos da culpa e/ou da prevenção.

            Em síntese, continuando a seguir os ensinamentos do Mestre de quem a doutrina daqueles preceitos legais é tributária[42], «(1) Toda a pena serve finalidades exclusivas de prevenção, geral e especial; (2) A pena concreta é limitada, no seu máximo inultrapassável, pela medida da culpa; (3) Dentro deste limite máximo ela é determinada no interior de uma moldura de prevenção geral de integração, cujo limite superior é oferecido pelo ponto óptimo de tutela dos bens jurídicos e cujo limite inferior é constituído pelas exigências mínimas de defesa do ordenamento jurídico; (4) Dentro desta moldura de prevenção geral de integração a medida da pena é encontrada em função de exigências de prevenção especial, em regra positiva ou de socialização, excepcionalmente negativa, de intimidação ou de segurança individuais», sendo estas que vão determinar, em última instância, a medida da pena.

            A medida da pena é, assim, à luz do direito vigente, função da medida da necessidade de tutela dos bens jurídicos, traduzida na tutela das expectativas comunitárias na manutenção e reforço da validade da norma violada, a determinar em consonância com as circunstâncias do caso concreto, em face do modo de execução do crime, da motivação do agente, das consequências da sua conduta, etc.

            Mas do mesmo modo que o Estado usa do seu ius puniendi, também tem o dever de oferecer ao condenado o mínimo de condições para prevenir a reincidência (cfr., o artº 2º do Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade, aprovado pela Lei 115/2009, de 15 de Outubro), nisso se traduzindo essencialmente as razões de prevenção especial (de socialização). Como nota Taipa de Carvalho[43], «a função da ressocialização não significa uma espécie de “lavagem ao cérebro”, … mas, sim e apenas, uma tentativa de interpelação e consequente auto-adesão do delinquente à indispensabilidade social dos valores essenciais (…) para a possibilitação da realização pessoal de todos e cada um dos membros da sociedade. Em síntese, significa uma prevenção da reincidência».

            Entre as razões de prevenção especial não pode, porém, escamotear-se a função de dissuasão ou intimidação do delinquente (prevenção especial negativa) que, segundo o mesmo Autor, em nada é incompatível com a função de ressocialização, porque se trata, não de intimidar por intimidar, mas antes de uma dissuasão, através do sofrimento inerente à pena, «humanamente necessária para reforçar no delinquente o sentimento de necessidade de se auto-ressocializar, ou seja de não reincidir».

Este tem sido o caminho que temos seguido, onde não encontramos apelo a qualquer critério «matemático». E continuamos a não ver razões para dele nos arredarmos.

2.2.3.4. Vimos acima o teor da fundamentação do acórdão recorrido no que respeita à fixação da medida da pena conjunta que aplicou a cada um dos Recorrentes.

Em sintese,

- convocou o disposto no artº 77º;

- aludiu à existência de «regras» avançadas pela jurisprudência, «tendentes à obtenção de uma maior uniformidade de critérios», e referiu o método matemático divulgado por Carmona da Mota;

- considerou serem de média gravidade os  crimes praticados pelo Arguidos, atendendo «às penas aplicáveis e aplicadas»;

- apontou as penas parcelares em que cada um dos Recorrentes foi condenado, com nota das alterações que lhes introduziu.
E, passando a julgar cada um dos Recorrente, depois de fixar a respectiva moldura do concurso – e há que dizer, desde já que, contrariamente ao alegado pelo arguido DD, a soma das penas parcelares em que foi condenado não enferma de erro; as diversas penas somam efectivamente 22 anos e 8 meses de prisão e não, como pretende, 20 anos e 8 meses –, anotou as alterações que introduziu ao nível das penas parcelares que vinham fixadas pela 1ª Instância, relevou os antecedentes criminais dos arguidos, o muito tempo entretanto decorrido sobre a data dos factos, o «relativo bom comportamento» do arguido GG, o montante das comissões proporcionadas pelas falências e a frutificação das verbas das massas falidas em favor delas e a benevolência do Tribunal da 1ª Instância. Relativamente ao arguido DD especificou que o decurso do tempo decorrido – que reconhece ser atenuante com um peso considerável – e a ausência de antecedentes criminais «não constituem motivos suficientes para que se reduza a pena única a 5 anos de prisão, como ocorreu na 1ª instância, até porque não se deve omitir que os factos fazem passar a imagem de que foram a afoiteza, a habilidade e a argúcia negocial mal direcionadas deste arguido que deram azo a que ocorresse um aliciamento tão ‘eficaz’ e sistemático dos liquidatários judiciais envolvidos».

   Convenhamos que se trata de uma fundamentação incompleta designadamente no domínio da exigida “especial fundamentação” de que fala Figueiredo Dias.

Todavia, fundamentação incompleta ou deficiente não é o mesmo que falta de fundamentação ou omissão de pronúncia e só estas são susceptíveis de integrar as nulidades previstas na alíneas a) e c) do nº 1 do artº 379º, aplicável ao acórdão recorrido por força do disposto no artº 425º, nº 4, ambos do CPP.

Improcede, assim, a arguição, por parte do arguido DD, da nulidade do acórdão recorrido.
O mesmo Arguido destaca também (conclusão 257) que «as únicas considerações (de natureza genérica) que o Tribunal a quo teceu, em matéria de determinação das penas parcelares, a pp. 1146-1147, da decisão recorrenda coincidem exactamente com as razões invocadas a pp. 1167, da mesma decisão, para efeitos de fundamentação da pena unitária aplicada, o que consubstancia clara inversão metodológica e jurídica». E, mais à frente (conclusão 331 e segs), parecendo censurar o Tribunal da Relação por ter considerado, na fixação da medida da pena conjunta, que o lapso de tempo decorrido desde a prática dos factos e o bom bomportamento anterior «não constituem motivos suficientes para que se reduza a pena única a 5 anos de prisão, como ocorreu na primeira instância», logo adianta que, tendo essas circunstâncias sido valoradas para determinação das penas parcelares, estava vedada a sua consideração para efeitos de determinação do quantum da pena conjunta, por violação do princípio da proibição da dupla valoração (cfr. conclusão 332) – o que formalmente constitui uma alegação carecida de interesse em agir.
Seja como for, volta a não ter razão.
Justifiquemos.
A fls. 1146 do acórdão recorrido, o Tribunal da Relação, conhecendo do recurso interposto pelo Ministério Público na parte em que impugnava as penas parcelares aplicadas ao arguido DD (e JJ), afirmou efectivamente que «aí se peca por não se dar a devida ênfase diferenciadora ao papel ‘percursor’ ou desencadeante da atuação destes leiloeiros». E, dois parágrafos depois, acrescentou: «De resto, ao partir de uma moldura penal menos grave (prisão de 6 meses a 5 anos, versus prisão de 1 a 8 anos) e ao chegar a penas parcelares não inferiores, em regra, às encontradas para cada um dos crimes de corrupção passiva, o Tribunal recorrido reconheceu já, de alguma forma (ainda que implícita), o maior peso relativo da inicial, pertinaz e organizada ação dos referidos leiloeiros». (sublinhados nossos).
E mais à frente, considerando embora que «o plano de obter o aumento do volume de negócios da empresa comum,…, resultasse de acordo entre os arguidos DD e JJ (…) não parecem restar dúvidas de que foram a afoiteza, o sentido de oportunidade e a argúcia “negocial” do arguido DD que criaram as condições básicas para que o intuito comum tivesse o êxito demonstrado» (voltamos a sublinhar).
A fls. 1167, já a propósito da pena conjunta, considerou que se «é certo que o decurso de um demasiado largo período de tempo constitui atenuante com um peso considerável, sendo ainda de referir o anterior bom comportamento do arguido (que não tem antecedentes criminais) … estas circunstâncias não constituem motivos suficientes para que se reduza a pena única a 5 anos de prisão, como ocorreu na 1ª instância, até porque não se deve omitir que os factos fazem passar a imagem de que foram a afoiteza, a habilidade e a argúcia negocial mal direcionadas deste arguido que deram azo a que ocorresse um aliciamento tão ‘eficaz’ e sistemático dos liquidatários judiciais envolvidos» (sublinhado também nosso).
Ora, independentemente de não podermos sindicar, pelas razões antes referidas e por várias vezes repetidas, qualquer questão relacionada com cada um dos crimes parcelarers julgados cometidos, incluindo, portanto, as relativas aos factores que justificaram as correspondentes penas aplicadas, a verdade é que esta última consideração se reporta manifestamente ao conjunto da actividade criminosa que é imputada ao Arguido. E, deste modo, como assinala Figueiredo Dias no local atrás citado, «não há razão para invocar a proibição de dupla conforme».
2.2.3.5. Posto isto, avancemos para o exame das penas conjuntas aplicadas a cada um dos Arguidos à luz do critério antes definido.
Pois bem
 No caso dos autos, considerando o tipo e o contexto dos crimes cometidos – de corrupção e de peculato – são muito elevadas as exigências de prevenção geral. Aliás, o próprio arguido DD o reconhece quando admite, como atrás apontamos, que possa entender-se que os crimes por que vem condenado «carecem de uma particular reafirmação do seu potencial punitivo».
A corrupção, sendo um fenómeno que, embora antiquíssimo, hoje em dia – uma época em que os escândalos financeiros e a corrupção desenfreada, protagonizados pelas elites atingiram níveis impensáveis – é objecto de particular atenção e preocupação por parte da comunidade, considerando os resultados muito negativos a que conduz, designadamente em termos de coesão social. Como escreveu o jornal Público na sua edição de 16 do corrente, citando o relatório da Transparência Internacional, os portugueses apontam a corrupção como um dos principais problemas do país. Aí se realça, além do mais, que os cidadãos vêem na riqueza um factor inibidor do combate à corrupção, «percepção que aumenta com a prevalência de formas mais subtis de corrupção»; que reina a impunidade sobre a corrupção; que «os administradores e gestores de empresas surgem, aos olhos dos portugueses, como a classe que lidera a cadeia de corrupção no país».  
No caso concreto, essa gravidade sai acrescida por os factos terem ocorrido no âmbito da actividade jurisdicional do Estado, enfim, no seio dos tribunais, a quem compete justamente reprimir essas condutas, envolvendo agentes ou colaboradores seus. Como comenta o mesmo jornal, a propósito dos dados fornecidos por aquele relatório, «os níveis de desconfiança sobre os políticos em geral, empresários e funcionários do Estado não deixam dúvidas sobre a erosão da confiança no sector público».
Há, pois, premente necessidade de reafirmar a validade das normas que foram violadas pelos Arguidos.
Por outro lado, como, aliás, vem dito no acórdão recorrido, a conduta dos Arguidos AA e GG é altamente censurável, pelo especial dever de, consideradas as funções que desempenhavam como liquidatários/administradores judiciais, recusarem veementemente os subornos propostos pelo co-arguido DD e até de os denunciar. Como passível de elevada censura é a conduta do arguido DD, por não se sentir inibido de propor os negócios pretendidos a um elevado número de liquidatários/administradores, de forma persistente, quotidianamente, e durante vários anos, fazendo desta actividade verdadeiro modo de vida, com proveitos da ordem de vários milhões de euros (cfr. nº 1202 dos “Factos Provados").
Todos eles agiram com dolo directo e intenso.
O conjunto dos factos provados evidencia, por outro lado, uma muito elevada gravidade do ilícito global, pelo número de factos típicos por todos cometidos, pelos proveitos que todos eles retiraram de actividade criminosa de que tratamos, pelo largo período de tempo em que essa actividade se desenvolveu.
Contrariamente ao sustentado no acórdão recorrido, ainda que a propósito das penas parcelares, não cremos que, considerando a conduta global, se possa considerar que a dos arguidos AA e GG se mostre menos grave do que a do co-arguido DD, por caberem na previsão legal (crime de corrupção passiva para acto ilícito) «hipóteses objectivamente mais graves» e os actos praticados pelos arguidos liquidatários não ultrapassarem formalmente a esfera de discricionariedade concedida por lei (cfr. fls. 1143).
Sem embargo de, relativamente a este factor, devermos fazer alguma discriminação quantitativa, em função do número de processos em que os dois primeiros intervieram e dos proveitos que tiraram dessa acividade, cremos que todos eles merecem cenrura idêntica, por todos eles se terem comprometido com o mesmo projecto criminoso, da iniciativa, é verdade, do DD. De resto, e referindo-nos especialmente aos arguidos AA e GG, entendemos que a corrupção clinicamente situada entre lícito e o ilícito, como será o caso, torna-a menos visível, por isso mais eficaz e duradora, mais produtiva e lucrativa do ponto de vista dos agentes nela envolvidos.
Quanto à personalidade revelada pelo conjunto dos factos, é manifesto que, face à frequência e persistência com que foram praticados, está decididamente afastada a consideração de terem sido fruto de simples pluriocasionalidade. Antes actuaram, durante anos, de forma conjugada e organizada, o arguido DD com cada um dos Arguidos liquidatários/administradores, fazendo dessa conduta autêntica profissão. Por isso que a pluralidade de crimes praticados terá de ter impacto fortemente agravativo dentro da moldura penal conjunta.

Relativamente a todos os Arguidos há que considerar, como circunstância atenuante, na medida em que reduz as necessidades de prevenção especial positiva, o lapso de tempo muito considerável decorrido depois dos últimos factos – factor que, em nossa opinião, não tem, todavia, impacto redutor quer no domínio das exigências de prevenção geral quer no âmbito das exigências de prevenção especial de dissuasão, porquanto este tipo de crimes, pelo lugar que ocupam na hierarquia social os seus agentes, não é facilmente esquecido e, pela sua própria natureza, propício à reincidência. Aliás, o comportamento processual dos Arguidos, como evidencia o relatório inicial, não é de todo estranho ao muito tempo entretanto decorrido.
Postas estas considerações, comuns aos três Recorrentes, há que discutir agora a pena conjunta a cada um deles aplicada, para o que desde já afirmamos a nossa concordância com os fundamentos aduzidos pelo Tribunal a quo que não foram objecto da nossa discordância e que, por isso, damos aqui por reproduzidos.
Assim,
            a) Quanto ao arguido GG, apesar das circunstâncias que invoca, não vemos razões para alterar a pena que vem fixada. Não fosse o tempo decorrido sobre a data dos factos, a pena conjunta teria de ser bem mais elevada, como aliás reconhece o acórdão recorrido.
b) Quanto ao arguido AA para além do maior número de crimes que praticou, os maiores proveitos que deles tirou e o maior lapso de tempo que durou a sua actividade, tem, ainda contra si, a circunstância de ter já sofrido 4 condenações, embora nenhuma em prisão efectiva (cfr. nº 1332 dos “Factos Provados”). Comparativamente com a conduta global do anterior Arguido, a sua tem der ser, como foi, mais severamente punida.
Todavia, entendemos que não tão severamente como vem decidido – 8 anos de prisão. Em nosso juízo 6 (seis) anos e meio de prisão respondem cabalmente ao grau da sua culpa, à ilicitude global da sua conduta, às exigências de prevenção geral.
Consequentemente reduzimos para 6 (seis) anos e 6 (seis) meses de prisão a pena conjunta que lhe foi aplicada.
 c) Relativamente ao arguido DD, há que considerar que a iniciativa dos subornos foi sua iniciativa;
que não tem antecedentes criminais – o que é circunstância substancialmente diferente da de ter bom comportamento anterior –, o  que, em si, não tem significado atenuativo porque é a isso mesmo que nos obriga a vida em sociedade;
que está social e familiarmente integrado.
Entendemos, porém, contra o por si alegado que, no caso, o grau da sua culpa, elevado, como referimos, não saiu diminuído à medida que os diversos crimes que integram o concurso foram tendo lugar (cfr. conclusão 350). Pelo contrário, a reiteração criminosa, fruto do sentido que quis dar à sua actividade profissional, impõe um juízo de censura particularmente severo.
Invoca ainda a seu favor (cfr. conclusão 339), que «no que diz especificamente respeito à personalidade do Recorrente, o Tribunal a quo deveria ter tido em linha de conta dois aspectos: por um lado, o teor do ponto 1338, dos factos dados como provados, do qual decorre que o mesmo tem uma evidente apetência para a actividade comercial (tendo, aliás, deixado a actividade de leiloeiro na sequência do presente processo, tendo de reorientar a sua vida profissional para outras actividades) e que, sobretudo, denota capacidade para se orientar de acordo com padrões de obediência ao Direito.
A verdade é que, quanto ao primeiro aspecto, o que os autos indibitavelmente nos mostram é que «essa apetência para a actividade comercial», que não contestamos, resvalou para uma actividade marginal, porque criminosa, não se tendo, nesse longo período, orientado de acordo com os padrões de obediência ao direito.
Nesta conformidade, temos por adequada à sua conduta a pena conjunta em que vem condenado, razão por que a confirmamos

3. Dispositivo
Nestes termos, acordam na Secção Criminal do Supremo Tribunal de Justiça em:
3.1. Sem embargo de entendermos que o Código de Processo Penal não admite que o recorrente responda à resposta do recorrido à sua motivação, decidimos não ordenar o desentranhamento das respostas dos arguidos AA e DD à resposta do Ministério Público à sua motivação, por o seu conteúdo ter sido por eles integrado nas respostas que apresentaram ao abrigo do nº 2 do artº 417º do CPP;
3.2. Ordenar o desentranhamento dos autos dos pareceres doutrinários que o arguido DD juntou a fls. 51392 e 52022, bem como da «adenda» que juntou a fls. 52126, os quais lhe devem ser entregues quando solicitados.
3.3. Julgar nulo e de nenhum efeito o acórdão da Relação do Porto proferido em 16.03.2016, a fls. 51859;
3.4. Rejeitar os recursos interpostos pelos três Recorrentes, por não serem admissíveis, excepto nos segmentos em que impugnaram a medida da pena conjunta que lhes foi aplicada, nos termos dos arts. 432º, nº 1-b), 400º, nº 1-c), e) e f), 420, nº 1-b) e 414, nº 2, todos do CPP;
3.5. Confirmar o acórdão recorrido relativamente às penas conjuntas em que condenou os arguidos GG e DDAA, assim negando provimento aos recursos que interpuseram, na parte em que foram admitidos;
3.6. Reduzir para 6 (seis) anos e 6 (seis) meses de prisão a pena conjunta em que foi condenado o arguido AA, com o consequente provimento do seu recurso, na parte em que foi admitido.
Custas pelo decaimento, pelos arguidos GG e DD, fixando-se a taxa de justiça, a cargo de cada um deles, em 7 (sete) UC’s.
Os três Recorrentes, GG, AA e DD pagarão ainda a quantia de 7 (sete) UC’s, pela rejeição parcial dos recursos que interpuseram, nos termos do nº 3 do artº 420º, do CPP.
Lisboa, 23 de Novembro de 2016

Processado e revisto pelo Relator

Sousa Fonte (Relator)
Oliveira Mendes
Santos Cabral (Vencido quanto à medida concreta da pena aplicada aos arguidos A e M. No caso concreto, o decurso do tempo aliado às circunstâncias concretas dos referidos arguidos são suficientemente densas para fundamentar a convicção da diluição das exigências preventivas com reflexo a nível da pena única e da sua substituição por uma pena de “suspensão”, na medida em que esta, no novo contexto se poderia considerar apta a “realizar de forma adequada e suficiente as finalidade da punição” e isto na condição de os mesmos arguidos entregarem ao Estado as quantias determinadas em função dos montantes ilicitamente obtidos, ou seja, 1.000.000,00€ e 206.837,38€).


________________________________


[1] Ao longo das conclusões, o Arguido associa frequentemente às suas pretensões a situação jurídico-processual da co-arguida e co-autora JJ que, todavia, não é recorrente. Essas pretensões, enquanto a ela referidas não serão, por isso, consideradas na fundamentação do presente acórdão, sem prejuízo, naturalmente, de eventualmente lhe aproveitar o que vier a ser decidido relativamente a ele, nos termos do disposto no artº 402º, nº 2, alínea a), do CPP. 
[2] Na “CRP – Constituição da República Portuguesa, Anotada”, Volume I, 4ª Edição Revista, 522/523.
[3] O acórdão em causa apreciou a conformidade constitucional do nº 2 do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 437/75, de 16 de Agosto (Lei da extradição), e considerou, além do mais, o seguinte: «As garantias de defesa não podem deixar de incluir a possibilidade de contrariar ou contestar todos os elementos carreados pela acusação; o princí­pio do contraditório não pode deixar de compreender a possibi­lidade de contraditar as alegações finais do MP. Ou seja: da conjugação dos dois princípios decorre seguramente que é ao defensor do arguido (na extradição: do extraditando) que deve caber a última palavra em matéria de alegações».
[4] Que nos parece ter sido indicado por lapso, porquanto julgou inconstitucional, por violação do artigo 229.º alínea a), da Constituição, os artigos 1.º, 3.º, 4.º, 5.º, 6.º e 7.º (este na fase em que estabelece a pena complementar de multa para a condução de velocípedes com motor, sem a legal habilitação) todos do Decreto Regional n.º 21/80/A, de 11 de Setembro.
[5] Cfr. o seu “Direito Processual Penal”, Primeiro Volume (1974), 150 e segs.
[6] «Ainda que, nos termos do nº 3 do artº 413º do CPP, a resposta às motivações do recurso deva ser notificada aos sujeitos processuais por ela afectados, isso não confere a estes o direito de se pronunciarem sobre o seu teor»; «a falta de notificação à demandante recorrente da resposta apresentada pelo demandado recorrido, em que defende que era inadmissível o recurso interposto para o STJ, não determina a violação do disposto no nº 5 do art. 32º da CRP, na medida em que é de conhecimento oficioso a questão da recorribilidade da decisão impugnada, devendo sempre o relator sobre ela se pronunciar (art. 417º, nº 6, do CPP).
[7] No seu “Comentário do Código de Processo Penal…”, 4^Edição Actualizada (2011), 461/462.
[8] Cfr. o seu “Código de Processo Penal, Anotado e Comentado…”, 17ª edição – 2009, 422
[9] Cfr. o seu “Curso de Processo Penal”, II (1993),161.
[10] Cfr. o seu ”Código de Processo Penal, Anotado», I Volume, 3ª edição (2008), 1089.
[11] Cfr. o seu “Código De Processo Penal, Comentários e notas Práticas” (2009), 428.
[12] Cfr. o seu “Comentário do Código de Processo Penal …”, 4ª edição, 460.
[13] Cfr. “Código de Processo Penal, Comentado”, 2016 – 2ª Edição Revista, 645.
[14] Cfr., p.ex. o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 14.05.1992, Pº nº 42717 e o Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 18.03.2009, Pº nº 74205.
[15] Cfr. Oliveira Ascensão, “O Direito, Introdução e Tepria Geral – Uma Perspectiva Luso Brasileira”, 357
[16] Cfr. ob. e loc. cit na nota 16.
[17] Cfr. Karl Larenz,  “Metodologia da Ciência do Direito (Fundação Calouste Gulbenkian), 432.
[18] Cfr MaiaGonçalves, no “código de Processo Penal, Anotado e Comentado”, (Livraria Almedina) 1972, 566
[19] Cfr. Cunha Rodrigues, em “Jornadas de Direito Processual Penal, O Novo Código de Processo Penal”, CEJ, 384.
[20] Ob.e loc.cit.
[21] Cfr.” Manual de Processo Civil”, de Antunes Varela, Miguel Bezerra e Sampaio e Nora, 666.
[22] E não inexistência porquanto, apesar de se ter esgotado o poder jurisdicional do Tribunal quanto à matéria da causa, o acórdão foi proferido por órgão investido de poder jurisdicional [cfr. Antunes Varela, ob. cit., 686, nota 3 e Alberto dos Reis, “Código de Processo Civil, Anotado”, Vol. 5 (Reimpressão, 1981), pág. 113 e segs].
[23] O primeiro dos acórdãos invocados tem a data de 29 (e não 20) de Maio de 2008 e foi proferido no Pº nº 1313/08, da 5ª Secção; o segundo foi proferido no Pº nº 217/08, da 3ª Secção, como, de resto, refere, na sua resposta, o arguido DD.
[24] Em “Studia Iuridica”, 44, 87
[25] Cfr., no mesmo sentido, os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 22.10.2008, Pº nº 215/08 e de 17.01.2007, Pº nº 176/07, ambos da 3ª Secção.
[26] Cfr. José António Barreiros, “Sistema e Estrutura do Processo Penal Português, I, 189, citado na fundamentação do referido Acórdão 4/2009.
[27] Cfr. Karl English, “Introdução ao Pensamento Jurídico”, 6ª edição, 279/280.
[28] Cfr. Batista Machado, “Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador”, 173.   
[29] Cfr. nº 10 da Exposição de Motivos da Proposta de Lei nº 77/XII, que está na origem daquela Lei.
[30] Ob. cit. 245 e segs.
[31] Ob e loc. cit. na nota anterior
[32] Cfr. “O Direito, Introdução e Teoria Geral”, 438.
[33] Ob. cit. 227.
[34] Cfr., a este propósito, o voto de vencido aposto no Acórdão nº 171/200 pelo Senhor Conselheiro Paulo Mota Pinto.
[35] Cfr. “CRP, Constituição da República Portuguesa, Anotada”, 1º Vol., 418.
[36] Cfr. AA. e Ob. cit., 516.
[37] Cfr. Ireneu Cabral Barreto, “A Convenção…”, 99.
[38] Antunes Varela e outros, Ob. cit.. 368.
[39] Cfr. fls. 50475 e segs. do acórdão recorrido.
[40]  Em “… As Consequências Jurídicas do Crime”, (1993), 291.
[41] Ob. cit. 232.
[42] Cfr. o seu “Direito Penal – Parte Geral”, Tomo I, 2ª edição, 81 e 84.
[43] Cfr “Direito Penal, Parte Geral – Questões Fundamentais”, 83 e 84.