Centro de Documentação da PJ
Monografia

CD359(Vol.1)
GASPAR, Nádia Solange Canário Lopes
Estudo da influência de aminas putrefativas na análise de anfetaminas por métodos imunoenzimáticos, em amostras de sangue post mortem / Nádia Solange Canário Lopes Gaspar.- Coimbra : [s.n.], 2022.- 1 CD-ROM ; 12 cm
Tese de mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses, apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, tendo como orientadores Francisco Manuel Andrade Corte Real Gonçalves e Paula Cristina Nunes Leitão Valente Monsanto. Ficheiro de 3,53 MB em formato PDF (57 p.).


TOXICOLOGIA FORENSE, ANFETAMINA, ANÁLISE DE DROGA, ANÁLISE DE SANGUE, ESTUDO DE CASOS

Em laboratórios de toxicologia, com um elevado numero de pedidos de pesquisa de drogas de abuso, o recurso a métodos de rastreio imunoenzimáticos e essencial para permitir a obtenção de resultados de forma rápida e com uma sensibilidade adequada. Esta metodologia e utilizada no SQTF-DC do INMLCF, l.P. desde 2003 e tem sido continuamente melhorada com o objetivo de adequá-la a diversos tipos de amostras com interesse toxicológico, incluindo o sangue post mortem. A obtenção de resultados positivos com recurso a métodos de triagem imunoenzimáticos, obriga à sua posterior confirmação através de métodos capazes de fornecer informação estrutural sobre os analitos de interesse como, os sistemas de cromatografia gasosa ou liquida acoplados a detetores de espectrometria de massa, motivo pelo qual as ocorrências de resultados falso positivos nos ensaios de triagem traduzem um consumo desnecessário de recursos materiais e humanos. O objetivo deste trabalho consistiu na realização de uma revisão bibliográfica da literatura existente relacionada com a seleção das principais amostras biológicas utilizadas em Toxicologia Forense, em particular o sangue, matriz que foi a utilizada neste estudo, e em como a sua putrefação pode conduzir a libertação de compostos que induzem a produção de falsos positivos quando se utilizam testes de rastreio imunoenzimáticos. Pretendia-se deste modo identificar os compostos potencialmente geradoras desses resultados e, eventualmente promover o ajuste dos valores de concentração cut off atualmente utilizados pelo SQTF, a fim de reduzir ou eliminar a ocorrência de resultados falso positivos nas amostras de sangue post mortem. Neste sentido, o trabalho inclui uma parte teórica de revisão bibliográfica da literatura e de uma avaliação dos compostos detetados no SQTF-DC entre 2018-2020 associados aos casos de falsos positivos no método imunoenzimático para a triagem de anfetaminas. Incluiu também a parte prática propriamente dita onde se fortificaram diversas amostras de sangue em concentrações conhecidas de aminas putrefativas e de fármacos e analisaram-se segundo os procedimentos em vigor no SQTF-DC do INMLCF, usando um auto analisador Evolis Twin Plus, para triagem de anfetaminas, com um kit da OraSure Technologies, Inc., específico para a analise de anfetaminas. Foi ainda testado o efeito do conservante/ anticoagulante presente na amostra de sangue usada como amostra branco e foi feito um ensaio in vitro com uma amostra post mortem para verificar o efeito de degradação da amostra (com e sem conservante) nos resultados obtidos neste procedimento. Para o estudo da interferência da matriz foram também realizados ensaios em amostras de soro fortificadas com os analitos selecionados, em especial com a cadaverina e a putrescina. Os resultados obtidos permitem concluir que a tiramina dá origem a um resultado falso positivo quando em concentrações acima de 10 ug/mL e que o indol e o fenol originam também resultados falsos positivos para concentrações acima de 125 ug/mL. A cadaverina e a putrescina, até uma concentração de 200 ug/mL, não apresentaram qualquer tipo de interferência nestes ensaios, mesmo quando analisadas em conjunto. Os fármacos testados também não apresentaram qualquer interferência, mesmo sendo analisados em concentrações com elevada toxicidade. Relativamente aos estudos de estabilidade da amostra, após quase 6 meses, a amostra de sangue post mortem deixada a temperatura ambiente, não produziu interferência na triagem de anfetaminas (com e sem fluoreto de sódio). Os restantes ensaios, em sangue com SAGM como conservante e em soro, também não originaram interferências. Podemos concluir que o método utilizado e bastante eficaz na triagem de anfetaminas e que muito provavelmente resultados falsos positivos ocorrerão pelas características do sangue durante o processo de putrefação do cadáver e não após a colheita. Tendo também demonstrado ter elevados níveis de especificidade, os resultados obtidos levam a não sugerir efetuar a alteração da concentração cut off para a análise de anfetaminas em sangue post mortem pelo método imunoenzimático efetuado de acordo com o procedimento de ensaio PE-STF-C-104_rev02.