Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul | |
Processo: | 1100/05.6BESNT |
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Secção: | CT |
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Data do Acordão: | 01/27/2022 |
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Relator: | CRISTINA FLORA |
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Descritores: | OPOSIÇÃO, PRESCRIÇÃO, RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA; |
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Sumário: | I. Quando é aplicável o disposto no n.º 2 do art. 49.º da LGT (antes da sua revogação pela Lei n.º 53-A/2006, de 29/12) cessa o efeito interruptivo da citação, apenas quando se verifica a paragem do processo que determinou a interrupção da prescrição por período superior a um ano e por motivo não imputável ao sujeito passivo, que se degrada em mero efeito suspensivo de um ano; II. Quando a responsabilidade subsidiária se subsume ao disposto na alínea a), do n.º 1, do art. 24.º da LGT, a Fazenda Pública tem de provar a culpa do Oponente na insuficiência do património da pessoa coletiva para a satisfação da dívida, sendo irrelevante para este efeito o facto de o prazo de início de pagamento voluntário da dívida se ter iniciado ainda durante o exercício do cargo pelo Oponente. |
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Votação: | Unanimidade |
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Aditamento: | ![]() |
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Decisão Texto Integral: | Acordam, em conferência, os juízes que constituem a 2.ª Subsecção da Secção de Contencioso Tributário do Tribunal Central Administrativo Sul:
A Fazenda Pública e o oponente A.A.M.S.interpuseram recurso da sentença proferida pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra, que julgou parcialmente procedente a oposição à execução fiscal n.º 3549200201569880 e apensos por dívidas de IRC de 2001 e 2002, IVA de 2001/12, 2002/04, 2002/12, 2003/11, e coimas de 2001/12, 2002/12. O Oponente interpôs ainda recurso do despacho de 20/12/2012, a fls. 296 e ss dos autos que indeferiu a sua pretensão de inquirir as testemunhas que não teve oportunidade de inquirir em virtude de estar impedido. A Recorrente Fazenda Pública veio recorrer da sentença na parte em que lhe é desfavorável, tendo apresentado as suas alegações e formulado as seguintes conclusões: “I - Visa o presente recurso reagir contra a mui douta sentença que julgou parcialmente procedente a oposição deduzida por A.A.M.S., no segmento que concerne ao IVA do período 2003/11 e coimas VII - O que efectivamente não pode prevalecer é a conclusão formulada pela Douta Sentença, porquanto, ainda que se quisesse considerar que os factos tributários se consubstanciavam, apenas e só, aquando da entrega da declaração periódica de IVA do período, nada impedia que essa entrega ocorresse durante o mês de Dezembro de 2003, e se o oponente ia renunciar à gerência da executada, por maioria de razão, e num acto de boa gestão, deveria ter providenciado essa entrega e pagamento atempado, razão pela qual, e em nossa modesta opinião, concluiu mal a Douta Sentença quando reconhece a gerência de facto do oponente no período de Novembro de 2003 e de seguida afasta a responsabilidade do gestor pelo pagamento sem qualquer fundamentação que suporte esse afastamento. XII - Ainda com particular acuidade no caso vertente, reitera-se, já que estamos perante coimas derivadas de falta de entrega de impostos de repercussão sobre terceiros/cobrados a terceiros de boa fé, no caso, Imposto s/ o Valor Acrescentado. “…impõe-se ao administrador… que as suas opções discricionárias não sejam o fruto de improvisações irresponsáveis ou negligentes mas de decisões meditadas, ainda que envolvendo riscos, devidamente calculados e ponderados” (in A Administração das Sociedades por Quotas e Anónimas, de Ilídio Duarte Rodrigues, pág. 178). XXIII - Face à Doutrina e Jurisprudência, aqui referida, este instituto da reversão não coloca, na nossa modesta opinião, em causa, a garantia constitucional estabelecida no n.º 3 do artigo 30.º CRP, ainda por maioria de razão quando se está em face de coimas derivadas de impostos repercutidos sobre terceiros cuja falta de entrega nos cofres do Estado, imediatamente consubstancia gestão danosa.
O Recorrido Oponente não apresentou contra-alegações.
O Recorrente Oponente veio recorrer da sentença na parte em que lhe é desfavorável, tendo apresentado as suas alegações e formulado as seguintes conclusões:
“III. CONCLUSÕES O Recorrido Fazenda Pública não apresentou contra-alegações.
O Recorrente OPONENTE interpôs ainda recurso do despacho de 20/12/2012, a fls. 296 e ss apresentado as suas alegações e formulado as seguintes conclusões: “III. CONCLUSÕES:
A Recorrida Fazenda Pública não apresentou contra-alegações. **** Foram os autos a vista do Magistrado do Ministério Público que emitiu parecer no sentido de ser negado provimento ao recurso do despacho interlocutório, verifica-se insuficiência da matéria de facto para ser conhecida a prescrição, e não provimento ao recurso da Fazenda Pública. **** Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir, considerando que a tal nada obsta. ****
II. FUNDAMENTAÇÃO A decisão recorrida deu como provada a seguinte matéria de facto: “1. De Facto - IVA relativo aos períodos 2001/12; 2002/04; 2002/12 e 2003/11 e - Coimas de 2001/12 e 2002/12. – cfr. fls. 5 e 53 do Processo de Execução Fiscal (PEF) apenso. C) Na sua atividade de venda de equipamentos para indústria gráfica com recurso à locação financeira, a sociedade “G.” representava marcas estrangeiras, tomava de retoma e armazenava equipamentos antigos, obsoletos, que eram objeto de revisão mas que tinham pouca saída – depoimento da testemunhal. D) Em 15.12.2003 as participações do capital social da “G.” foram vendidas a F. A. B., consignando-se na Claúsula Primeira do contrato a situação da sociedade a 31.10.2003, onde se reconhece um passivo de € 725.000,00 à administração fiscal e um ativo total de € 1.192.500,00, mais se referindo na Cláusula Terceira que o adquirente do capital social assumiu a responsabilidade pelo pagamento do passivo de natureza fiscal da sociedade – doc. junto com o exercício do direito de audição prévia a fls. 67 a 75 do PEF. E) Em 14.12.2004 foi elaborada informação (projeto de decisão) da qual se retira, em síntese, o seguinte: Com base nos pontos 1 e 2 é do parecer destes serviços que seja feita a reversão na pessoa daqueles responsáveis, (…) nos termos dos artigos 23º e 24º da Lei Geral Tributária e 8ª do RGIT no caso de coimas fiscais (…). – cfr. fls. 53 e 54 do PEF. H) Por despacho de 06.01.2005 foi ordenada a suspensão da reversão ordenando-se o envio de carta precatória para diligência de penhora à devedora principal, na sequência das informações prestadas em sede de audiência prévia – cfr. fls. 87 e 88 do PEF. I) Em 25.07.2005 foi proferido despacho que converteu em definitivo o projeto de reversão referido em D), com base na informação dos serviços que concluiu do seguinte modo: A. A. M. S. refere que exerceu o cargo de Presidente do Conselho de Administração até ao dia 12 de dezembro de 2003, e, assim como N. L., utiliza o argumento que “não existe fundada insuficiência de bens penhoráveis do devedor principal”. * Motivação da decisão de facto: A decisão da matéria de facto assenta nos elementos constantes do PEF apenso e dos presentes autos, bem como da posição assumida pelas partes, conforme indicado nas respetivas alíneas, bem como da prova produzida em audiência de julgamento, mostrando-se relevante e esclarecedor o depoimento da testemunha C. M. T. M. G., que demonstrou conhecimento direto dos factos no que respeita aos bens e equipamentos comercializados e armazenados pela devedora originária e ao seu valor.” **** Antes de mais, cumpre conhecer o objeto do recurso do despacho interlocutório interposto pelo Oponente. Efetivamente, o Oponente interpôs recurso do despacho de 20/12/2012, a fls. 296 e ss dos autos que indeferiu a sua pretensão de inquirir as testemunhas que não teve oportunidade de inquirir em virtude de estar impedido. Invoca o Recorrente Oponente que o despacho recorrido é nulo porque o instituto do justo impedimento pode ser utilizado para a falta de comparência em tribunal. Interpretar que o art. 146.º do CPC não tem aplicação no caso concreto constituiria uma inconstitucionalidade por ofensa ao princípio da tutela jurisdicional efetiva e direito de defesa, ínsitos nos artigos 20.º, n.º 1, e 4, e art. 268.º, n.º 4, ambos da Lei Fundamental. Vejamos. Resulta dos autos, nomeadamente de fls. 220 e ss, e 230 e ss, que na marcação da diligência foi dado cabal cumprimento ao disposto no art. 155.º, n.º 1 do CPC, que dispõe sobre a marcação da diligência mediante acordo prévio com os mandatários, tal como impõe o disposto no n.º 3, do art. 118.º do CPPT, tendo sido, deste modo, designada audiência de inquirição de testemunhas para o dia 29 de outubro de 2012. Ora, no dia 26/10/2012, três dias antes da data designada para a realização da audiência, o mandatário do Oponente veio informar o processo de que por motivo de doença súbita se encontrava impedido de poder comparecer à audiência de discussão e julgamento, requerendo o seu adiamento, e mais “…informa que irá proceder junto do Opoente para que as testemunhas cuja apresentação a juízo cabe efetuar pelo mesmo, sejam contactadas no sentido de não comparecerem.”. Ora, apenas posteriormente a este requerimento, é junto atestado médico para comprovar a situação de impedimento (a fls. 238 dos autos). A Meritíssima Juíza do TAF de Sintra não adiou a realização da audiência, mantendo tal decisão no despacho recorrido. A questão que se coloca é a de saber se a verificação de justo impedimento previsto no então art. 146.º do CPC (atual art. 140.º) é fundamento de adiamento da audiência de inquirição de testemunhas, e na afirmativa, se este se verifica no caso dos autos. Ora, seguindo a jurisprudência do STA e do TCAS nesta matéria, in casu, não se verifica o justo impedimento invocado pelo Recorrente. Efetivamente, “O não adiamento da diligência de inquirição de testemunhas por falta de advogado, previsto no n.º 4 do art. 118.º do CPPT, só pode ocorrer se o tribunal tiver dado cumprimento ao disposto no art. 155.º do CPC, nos termos do n.º 3 daquele art. 118.º.” – acórdão do Pleno do STA de 29/05/2008, proc. n.º 0952/07. Ou seja, o n.º 3, do art. 118.º do CPPT constitui regra especial face ao artigo 651.º, do CPC, pois uma vez designada a data para a realização da diligência, e cumprido o artigo 155.º do CPC a falta do Mandatário não constitui fundamento válido de adiamento da diligência. Em sentido idêntico: “Se na marcação da data da audiência para inquirição de testemunhas foram observadas as regras previstas nos números 1 a 3 do artigo 155.º do Código de Processo Civil, como impõe o n.º 3 do artigo 118.º do CPPT, a falta de mandatário dos oponentes, bem como a do representante da Fazenda Pública e/ou das testemunhas, não constitui motivo para o adiamento da diligência (artigo 118.º n.º 4 do CPPT).” – acórdão do STA de 21/09/2011, proc. n.º 0404/11. Neste último acórdão do STA, tal como no caso dos autos, na marcação da diligência foi cumprido o disposto no art. 155.º, n.º 1 do CPC, e estava em causa a não comparência do mandatário na diligência por motivo de doença justificado por atestado médico, que foi comunicado ao Tribunal no dia anterior à data designada para a realização da diligência, e ainda assim, entendeu-se confirmar a decisão recorrida que não adiou a diligência. Entendemos que, in casu, importa aferir se a justificação apresentada pode acarretar, de alguma forma, uma situação de justo impedimento prevista no à data artigo 146.º do CPC (atual 140.º), aplicável ex vi artigo 2.º, alínea e), do CPPT. Para tanto, seguiremos o acórdão do TCAS de 06/02/2020, proc. n.º 204/09.0BELRS, subscrito pela ora Relatora, e relatado pela 1.ª adjunta, entendeu-se o seguinte: “Preceituava o artigo 146.º, nº 1, do CPC (atual 140.º, nº1 do CPC) aplicável ex vi artigo 2.º alínea e), do CPPT que: “Considera-se justo impedimento o evento não imputável à parte nem aos seus representantes ou mandatários, que obste à prática atempada do ato.” Acrescenta, por seu turno, o nº 2 do mesmo normativo que: Com efeito, a redação do número 1 do artigo 146.º do CPC foi introduzida pelo Dec-Lei nº 329-A/95, de 12 de dezembro e manteve-se inalterada com a Lei 41/2013 de 26 de junho, sendo que até à reforma introduzida pelo aludido Decreto-Lei, só era considerado justo impedimento o evento normalmente imprevisível estranho à vontade da parte que a impossibilitasse de praticar o ato por si ou por mandatário. Conforme doutrina Lopes do Rego[3] , com a atual redação do citado normativo “[o] que deverá relevar decisivamente para a verificação do “justo impedimento” - mais do que a cabal demonstração da ocorrência de um evento totalmente imprevisível e absolutamente impeditivo da prática atempada do acto – é a inexistência de culpa da parte, seu representante ou mandatário no excedimento ou ultrapassagem do prazo peremptório, a qual deverá naturalmente ser valorada em consonância com o critério geral estabelecido no n.º 2 do art.º 487.º do C. Civil, e sem prejuízo do especial dever de diligência e organização que recai sobre os profissionais do foro no acompanhamento das causas”. António Santos Abrantes Geraldes[4], enuncia, neste particular, que “[a] experiência aconselha que tal mecanismo seja reservado para situações que verdadeiramente o justifiquem, desconsiderando, para além dos argumentos artificiosos, eventos imputáveis à própria parte ou aos seus representantes e que sejam reveladores de negligência ou da falta de diligência devida.” A jurisprudência, de forma unânime, tem defendido que só o evento que impeça em absoluto a prática atempada do ato pode ser considerado “justo impedimento”, excluindo-se, por isso, a simples dificuldade da realização daquele. Dir-se-á, portanto, que são requisitos cumulativos do justo impedimento: (i) que o evento não seja imputável à parte nem aos seus representantes ou mandatários; (ii) que determine a impossibilidade de praticar em tempo o acto. No caso vertente, não obstante se entenda que o evento que impossibilitou a falta de comparência da Ilustre Mandatária à audiência de inquirição de testemunhas agendada para o dia 10 de maio de 2010, possa, efetivamente, ser qualificado como imprevisível, a verdade é que se entende que o mesmo não era determinante para a ausência, não tendo a mesma sido previdente acautelando a sua substituição. Note-se que, como bem evidenciou o Tribunal a quo, a procuração forense foi outorgada a favor da Ilustre Mandatária Drª Filipa ..... e Dr. Miguel ....., donde, estava o mesmo em condições de representar a Recorrente em juízo, entenda-se sem necessidade de outorga adicional de instrumento de representação. É certo que nas alegações do requerimento de interposição de recurso do despacho interlocutório é feita alusão à circunstância de o Dr. Miguel ..... se encontrar ausente do território nacional na data da audiência, porém tal alegação não pode lograr provimento, e isto porque, por um lado, quando apresenta o requerimento a pedir o agendamento de nova data (ponto 4) nada evidencia nesse e para esse efeito, e por outro lado, porque tal facto per se não seria, de todo, impeditivo da representação da Recorrente na audiência de inquirição de testemunhas, bastando, tão-só, acautelar um substabelecimento. Note-se que, se, como alega, não tinha capacidade para representar a Recorrente em audiência de inquirição de testemunhas, o certo é que a lei processual, no sentido de ultrapassar esse seu impedimento, faculta-lhe mecanismos tendentes a superar a situação, podendo, desde logo, substabelecer. Ora, in casu, a Ilustre Mandatária nem tão-pouco alegou, e menos provou, que logrou subestabelecer em colega e que não o conseguiu em tempo útil. (…) Como se esclareceu no Acórdão proferido pelo Tribunal da Relação de Lisboa, no processo nº 1651/02.4TAOER-A.L1-5, datado de 09 de março de 2010: “[n]inguém é insubstituível, nem a lei permite a derrogação de qualquer prazo peremptório à espera que um mandatário da parte se restabeleça para que o processo prossiga os seus termos. O acto é da parte, o advogado é apenas representante desta. Quando o advogado escolhido não está em condições de exercer o mandato, a parte tem de diligenciar pela escolha de outro que o esteja, caso aquele não tome a iniciativa de substabelecer noutro colega de profissão. O processo não pode ficar indefinidamente parado à espera que o mandatário impedido, por doença, se restabeleça, (…) com manifesto prejuízo para a justiça e os interesses dos cidadãos envolvidos no respectivo processo e, consequentemente, para a segurança da ordem jurídica globalmente considerada (…)”. Face a todo o exposto, entende-se que, de facto, a Ilustre Mandatária não agiu com a diligência devida e que os meios legais lhe facultavam, merecendo, no nosso entender, um juízo de censura e nessa medida, a falta de comparência na audiência de inquirição de testemunhas é-lhe imputável não ocorrendo, por isso, uma situação de justo impedimento. E por assim ser ao não adiar a diligência, agiu a Mma Juiz do Tribunal a quo, no estrito cumprimento da lei, cumprindo o já evidenciado artigo 118.º do CPPT.” Sufragando a jurisprudência supra, importa concluir que também in casu, a falta de comparência na audiência de inquirição de testemunhas é imputável ao mandatário, não ocorrendo, por isso, uma situação de justo impedimento. Na verdade, apesar de se entender que a doença subida do mandatário que impossibilitou a sua comparência à audiência de inquirição de testemunhas agendada possa ser qualificada como imprevisível, a verdade é que se entende que a mesma não era determinante para a ausência, não tendo o mesmo acautelado o substabelecimento em colega, sendo certo que não alegou, e menos provou, que logrou subestabelecer em colega e que não o conseguiu em tempo útil. Sublinhe-se que a doença do mandatário se verifica três dias antes da realização da audiência, e foi comunicada ao Tribunal, porém, juntamente com o requerimento não juntou o atestado para a prova do justo impedimento, de modo a permitir aferir a sua verificação, conforme legalmente exige o citado artigo 146.º, nº2 do CPC. Por outro lado, o lapso de tempo alargado entre o requerimento e a realização da audiência e ter efetuado a comunicação ao tribunal, revelam que o mandatário não se encontrava de tal modo incapacitado que o impossibilitasse de substabelecer num colega nos termos do n.º 2, do art. 36.º do CPC (atual art. 44.º, n.º 2, do CPC). Pelo exposto, entende-se, face à jurisprudência supra citada, que in casu o mandatário não agiu com a diligência devida e que os meios legais lhe facultavam, merecendo um juízo de censura e nessa medida, a falta de comparência na audiência de inquirição de testemunhas é-lhe imputável não ocorrendo, por isso, uma situação de justo impedimento. Por último, refira-se ainda que, in casu, não se verifica qualquer violação do direito à tutela jurisdicional efetiva constitucionalmente consagrado, na medida em que, mesmo com a falta do mandatário, o tribunal assegurou a realização da audiência, tendo sido inquirida a testemunha oferecida e que foi notificada pelo tribunal. E, quanto às testemunhas que eram a apresentar pela parte que as ofereceu, e que não foram ouvidas na audiência, também não se verifica o dever de o juiz de as ouvir em momento posterior, suspendendo a audiência, porque no requerimento para adiamento da diligência, o mandatário afirma que “…informa que irá proceder junto do Opoente para que as testemunhas cuja apresentação a juízo cabe efetuar pelo mesmo, sejam contactadas no sentido de não comparecerem.”. Ou seja, in casu, se as testemunhas a apresentar pela parte não foram ouvidas pelo juiz na audiência de inquirição de testemunhas, tal facto é imputável ao mandatário. Pelo exposto, será de negar provimento ao recurso do despacho interlocutório interposto pelo Oponente. Vejamos, então quanto aos recursos interpostos pelas partes da sentença. Com base na matéria de facto supra, a Meritíssima Juíza do TAF de Sintra julgou parcialmente procedente, considerando o Oponente parte ilegítima na execução pela dívida de IVA do período de 2003/11 e dívidas de coimas fiscais, e na parte restante das dívidas de IVA e dívidas de IRC entendeu que seria parte legítima. O Recorrente Oponente, e a Recorrente Fazenda Pública não se conformam com a sentença recorrida, respetivamente, na parte em que a sentença lhes foi desfavorável. Considerando as questões suscitadas em cada um dos recursos e sua relação de prejudicialidade, importa conhecer do recurso interposto da sentença pelo Oponente, porque este invoca erro de julgamento por se verificar a prescrição das dívidas exequendas. A prescrição é de conhecimento oficioso, e, portanto, apesar de se tratar de questão nova, pode ser conhecida no presente recurso, o que se fará relativamente a todas as dívidas exequendas considerando que os dois recursos da sentença recorrida juntos abrangem a totalidade da dívida exequenda. Efetivamente, como se sumariou no recente acórdão do STA de 27/10/2021, proc. n.º 0182/16.0BEAVR “I - A prescrição da dívida exequenda constitui fundamento de oposição à execução (cfr. artº.176, al.d), do C.P.C.Impostos; artº.286, nº.1, al.d), do C.P.Tributário; artº.204, nº.1, al.d), do C.P.P.Tributário), consubstanciando excepção peremptória de conhecimento oficioso no âmbito do processo tributário (cfr.artº.27, §2 e 3, do C.P.C.Impostos; artº.259, do C.P.Tributário; artº.175, do C.P.P.Tributário). (…)”. Por outro lado, como se sumariou no acórdão do STA de 26/05/2021, proc. n.º 1077/20.8BELRA “Em sede de recursos, não é de conhecer de questão nova, conforme resulta do art. 635.º n.ºs 2 e 3 do C.P.C., salvo se, tratando-se de questão de conhecimento oficioso, for ainda de conhecer da mesma.”. Passemos, então, a conhecer da prescrição das dívidas exequendas que constituem fundamento de oposição previsto na alínea d), do n.º 1, do art. 204.º do CPPT. Para tanto, importa ao abrigo do disposto no n.º 1 do art. 662.º do CPC alterar oficiosamente a matéria de facto, nomeadamente a alínea J) e aditar a alínea L) e M), nos seguintes termos: J) O Oponente foi citado pelo ofício n.º 13853, de 25/07/2005, durante o mês de julho, mas em dia não apurado (cf. ofício de fls. 111 e aviso de receção assinado a fls. 113 do PEF no qual apenas é legível no carimbo dos CTT o mês 07 e o ano 2005 em que o aviso foi assinado). L) A executada originária foi citada para os vários processos de execução fiscal entre 21/08/2003 e 08/10/2004 (cf. documentos de fls. 9 e 123 e ss do PEF). M) No âmbito do processo de execução fiscal revertido contra o Oponente efetuadas diligências para penhora de bens constantes da informação datada de 10/07/2006, e lavrou-se um auto de arrombamento e auto de penhora em 19/12/2006 (cf. documentos de fls. 93 e 103 dos autos). N) O processo de execução fiscal n.º 3549200401050508 relativo a coimas, cujo prazo limite de pagamento voluntário terminou a 31/12/2002, foi instaurado com base na certidão de dívida datada de 15/04/2004 (cf. documentos de fls. 129-130 dos autos); O) O processo de execução fiscal n.º 3549200401095668, relativo a coimas cujo prazo limite de pagamento voluntário terminou a 06/09/2004, foi instaurado com base na certidão de dívida datada de 15/04/2004 (cf. documentos de fls. 151-153 dos autos); Prosseguindo. Estão em causa nos autos dívidas de IRC de 2001 e 2002, IVA de relativo ao período de 2001/12, 2002/04, e 2002/12 e 2003/11, e coimas de 2001/12 e 2002/12 (cf. alínea A) da matéria de facto assente). Relativamente às dívidas de impostos (IVA e IRC) o prazo de prescrição é de 8 anos. No que diz respeito à contagem do prazo, no caso do IRC que é um imposto periódico, conta-se a partir do termo do ano em que se verificou o facto tributário, e no caso do IVA o prazo se conta a partir do início do ano civil seguinte àquele em que se verificou o facto tributário (cf. art. 48.º, n.º 1 da LGT) – cf. art. 48.º, n.º 1 da LGT. Saliente-se que, sendo o IVA um imposto de obrigação única (e não um imposto periódico) o termo inicial do prazo de prescrição (de 8 anos) que se contava, à luz da inicial redação do n.º 1 do art. 48.º da LGT, a partir da data da ocorrência dos respetivos factos tributários, passou a contar-se, por via da alteração que o art. 40.º da Lei nº 55-B/2004 introduziu neste n.º 1, a partir do início do ano civil seguinte àquele em que se verificou a exigibilidade do imposto. Na verdade, “ (…) este novo modo de contagem do prazo de prescrição é já aplicável, no caso, a estas dívidas relativas ao IVA dos anos de 1999 e 2000, dado que se trata de prazos que estavam em curso no início da vigência da lei que introduziu tal alteração, não havendo aí qualquer aplicação retroactiva da nova disposição legal, uma vez que o facto extintivo do direito à cobrança coerciva da dívida tributária é duradouro (o decurso do prazo) e não instantâneo (o início do prazo em momento temporal determinado) - cfr. o segmento final do nº 2 do art. 12° do CCivil (entendimento idêntico tem, aliás, vindo a ser afirmado pela jurisprudência desta secção do STA - cfr., entre outros, os acs. de 26/11/08, no rec. n° 598/08; de 20/5/09, no rec. n° 293/09; de 25/6/09, no rec. n° 1109/08; de 3/3/10, no rec. n° 1076/09; de 30/6/10, nos recs. nºs. 0158/10 e 0201/10; de 17/3/2011, proc nº 177/11; e de 28/9/2011, proc nº 764/2011). (E também no acórdão de 8/2/2012, rec. nº 033/12, se chega à mesma conclusão, embora apelando à aplicação da regra contida no nº 2 do art. 297º e não à aplicação da regra do nº 2 do art. 12º, ambos do CCivil.) - cfr. Ac. do STA de 14/01/2015, proc. n.º 01684/13). Portanto, in casu, o dies a quo das dívidas de IRC de 2001 e 2002 é 01/01/2002 e 01/01/2003, respetivamente, e das dívidas de IVA de 2001/12, 2002/04, e 2002/12 e 2003/11 o dies a quo é 01/01/2002, 01/01/2003, 01/01/2003, 01/01/2004, respetivamente. Não ocorrendo qualquer causa de interrupção ou suspensão da prescrição, as dívidas estariam prescritas entre 01/01/2010 (a mais antiga) a 01/01/2012 (a mais recente). O processo de execução fiscal não documenta qualquer causa de suspensão do prazo de prescrição, verificando-se, porém, causas de interrupção, nomeadamente a citação da executada originária para as várias dívidas (cf. alínea L) da matéria de facto aditada), e, posteriormente a citação do Oponente na qualidade de responsável subsidiário em data não apurada, mas que ocorreu entre o dia 25/07/2005 e 30/07/2005 (cf. alínea J) dos factos provados aditado oficiosamente). Estas causas de interrupção têm por efeito inutilizar todo o prazo de prescrição decorrido. Sublinhe-se que nos termos do disposto no art. 49.º, n.º 1 da LGT a citação interrompe a prescrição, tendo o Oponente sido citado dentro dos 5 anos posteriores às liquidações, a interrupção da prescrição relativamente ao devedor principal aproveita igualmente o devedor subsidiário (cf. n.º 3, do art. 48.º da LGT). Como se escreveu no Acórdão do Pleno da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo, de 03/04/2019, Proc. n.º 02369/15.3BEPNF 0983/16 “[v]erificando-se uma sucessão cronológica de causas de interrupção da prescrição antes de 1 de Janeiro de 2007 (data em que entrou em vigor a redação dada ao art. 49.º da LGT pela Lei n.º 53-A/2006, de 29 de Dezembro), cada uma delas tem a virtualidade de interromper o prazo prescricional, ainda que ocorra quando a anterior ainda está a produzir efeitos” Apenas com a redação que a Lei n.º 53-A/2006, de 29 de dezembro, deu ao n.º 3 do art.º 49.º, da LGT, é que ficou definido que a interrupção tem lugar uma única vez, com o facto que se verificar em primeiro lugar – cf. Jorge Lopes de Sousa, Sobre a prescrição da obrigação tributária, 2.ª edição, Áreas Editora, Lisboa, 2010, pp. 73, 78 e 79. Por outro lado, in casu, e ao contrário do alegado pelo Oponente, o processo não se encontra parado por mais de um ano, por causa não imputável ao sujeito passivo, uma vez que após a citação do Oponente em Julho de 2005, verifica-se que foram efetuadas diligências para penhora de bens tal como resulta da informação datada de 10/07/2006, e mais se tendo lavrado um auto de arrombamento e auto de penhora em 19/12/2006 (cf. alínea M) dos factos aditados oficiosamente), pelo que não se aplica o disposto no n.º 2 do art. 49.º da LGT que previa que a paragem do processo por período superior a um ano por facto não imputável ao sujeito passivo faz cessar o efeito interruptivo previsto no n.º 1 do art. 49.º da LGT. Com efeito, após a entrada em vigor da Lei n.º 53-A/2006, de 29/12 (Lei do Orçamento do Estado para 2007 entrou em vigor no dia 1-1-2007, nos termos do seu art. 163.°) foi revogado o n.º 2 do art. 49.º da LGT [nos termos do art. 91 .° daquela Lei n° 53-A /2006 “a revogação do n.° 2 do artigo 49. da LGT aplica-se a todos os prazos de prescrição em curso, objecto de interrupção, em que ainda não tenha decorrido o período superior a um ano de paragem do processo por facto não imputável ao sujeito passivo” ]. Portanto, in casu, não se aplica o n.º 2, do art. 49.º da LGT, porque durante a sua vigência, o processo de execução fiscal não esteve parado por mais de um ano. Como se escreveu no Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, de 10/05/2017, Proc. n.º 0452/17: “Na verdade, a interrupção da prescrição, como resulta expressamente do n.º 1 do art. 326.º do CC, aplicável às obrigações, quer civis quer tributárias, significa que todo o tempo decorrido até ao acto interruptivo é inutilizado para efeitos de prescrição. Mas, relativamente às obrigações de natureza tributária, a interrupção tem também um outro efeito, dito duradouro (A regra geral para as obrigações civis é a de que o facto interruptivo apenas tem efeito instantâneo, com a inutilização para a prescrição de todo o tempo decorrido anteriormente e imediato início do novo prazo, nos termos do n.º 1 do art. 326.º do CC («A interrupção inutiliza para a prescrição todo o tempo decorrido anteriormente, começando a correr novo prazo a partir do acto interruptivo, sem prejuízo do disposto nos n.ºs 1 e 3 do artigo seguinte»). A excepção, em que, a par desse efeito instantâneo, o facto interruptivo tem também um efeito duradouro (de impedir o início do novo prazo enquanto se mantiver pendente o processo) é a situação prevista no art. 327.º, n.º 1, do CC, ou seja, quando «a interrupção resultar de citação, notificação ou acto equiparado, ou de compromisso arbitral», caso em que «o novo prazo de prescrição não começa a correr enquanto não passar em julgado a decisão que puser termo ao processo».), quer no domínio da vigência do Código de Processo das Contribuições e Impostos (cfr. art. 27.º, § 1), quer no domínio da vigência do Código de Processo Tributário (cfr. art. 34.º, n.º 3) , quer enquanto vigorou o n.º 2 do art. 49.º da LGT, que viria a ser revogado pela Lei n.º 53-A/2006, de 29 de Dezembro: o acto interruptivo obviava ao início da contagem do novo prazo de prescrição enquanto se mantivesse pendente o processo que determinou a interrupção, a menos que se verificasse a «paragem do processo por período superior a um ano por facto não imputável ao sujeito passivo», caso em que se somava «o tempo que decorrer após este período ao que tiver decorrido até à data da autuação» ( Para maior desenvolvimento JORGE LOPES DE SOUSA, Sobre a Prescrição da Obrigação Tributária, Notas Práticas, Áreas Editora, 2.ª edição, págs. 57 e segs.).” Ou seja, a eficácia do facto interruptivo (citação) prolonga-se no tempo, obviando ao imediato início de contagem de um novo prazo prescricional. Só no caso de ocorrer uma paragem do processo por período superior a um ano, por facto não imputável ao contribuinte, é que o facto potencialmente interruptivo passava a ter um efeito meramente suspensivo (idêntico aos das causas suspensivas), o que não sucede no caso dos autos. Deste modo, mantendo-se o efeito duradouro do facto interruptivo que é a citação, então, o novo prazo de prescrição não começa a correr enquanto não passar em julgado a decisão que puser termo ao processo de execução fiscal. Pelo exposto, as dívidas exequendas referentes a de IRC de 2001 e 2002, IVA de relativo ao período de 2001/12, 2002/04, e 2002/12 e 2003/11, não se encontram prescritas. Relativamente às dívidas de coimas estão em causa dívidas de 2001/12 e 2002/12. No âmbito das contraordenações fiscais existe norma específica regulamentadora do prazo da prescrição, concretamente o artigo 34. ° do RGIT, o qual estabelece que “As sanções por contraordenação tributária prescrevem no prazo de cinco anos a contar da data da sua aplicação, sem prejuízo das causas de interrupção e de suspensão previstas na lei geral”. Deste modo, fixa-se um prazo de prescrição de cinco anos, sendo o termo inicial do mesmo a data do trânsito em julgado da decisão administrativa/judicial que aplicou a coima. Na verdade, apesar do legislador fazer referência à data da sua aplicação, é esta interpretação que se deve ter como a mais acertada e que melhor se coaduna com a unidade do sistema jurídico, atentos os ditames consagrados no artigo 9. ° do Código Civil (cf. Jorge Lopes de Sousa e Manuel Simas Santos, Regime Geral das Infrações Tributárias Anotado, Áreas Editora, 4.ª edição, 2010, pág. 332 e seg.). Sendo que o legislador, na parte final do preceito em causa, determina a aplicação ao regime de prescrição da coima das causas de suspensão e de interrupção previstas na lei geral, ou seja, o regime constante dos artigos 30. ° e 30. °-A do RGCO. Dispõe o artigo 30. °, sob a epígrafe “Suspensão da prescrição da coima”: “A prescrição da coima suspende-se durante o tempo em que: a) Por força da lei a execução não pode começar ou não pode continuar a ter lugar; b) A execução foi interrompida; c) Foram concedidas facilidades de pagamento.” Por sua vez, nos termos do artigo 30.°-A, com a epígrafe “Interrupção da prescrição da coima”: “1- A prescrição da coima interrompe-se com a sua execução. 2- A prescrição da coima ocorre quando desde o seu início e ressalvado o tempo de suspensão, tiver decorrido o prazo normal de prescrição acrescido de metade. ”. A respeito da interpretação destes normativos importa salientar que a instauração do processo de execução fiscal para cobrança coerciva de coimas não constitui facto interruptivo da prescrição da execução das coimas previsto no n.° 1 do artigo 30.°-A do RGCO – nesse sentido, v. acórdão do STA de 17/06/2015, proc. n.° 0334/14. No acórdão do STA de 27/04/2016, proc. n.º 0378/15 escreve-se a propósito das causas de suspensão e interrupção o seguinte que aqui acolhemos: “É certo que, nos termos do n.º 1 do art. 30.º-A do RGCO, «[a] prescrição da coima interrompe-se com a sua execução». Portanto, in casu, não se verifica qualquer causa de suspensão do prazo de prescrição. Por outro lado, consagra-se no citado n.° 2 do artigo 30.°-A, do RGCO um termo absoluto para a prescrição da coima (à semelhança do que se estabelece no artigo 126.°, n.° 3, do Código Penal, para a prescrição da pena): “A prescrição da coima ocorre quando desde o seu início e ressalvado o tempo de suspensão, tiver decorrido o prazo normal de prescrição acrescido de metade”. Assim, descontado o período de suspensão da prescrição que eventualmente se tiver verificado, a prescrição ocorrerá sempre que tiverem decorrido sete anos e meio sobre a data do trânsito em julgado da decisão de aplicação da coima (cf. Jorge Lopes de Sousa e Manuel Simas Santos, ob. cit., pág. 335). Passando para a aplicação do regime legal exposto ao caso dos autos, importa desde logo sublinhar que, como já referimos, não se verificam quaisquer das causas de suspensão previstas no art. 30.º do RGCO, e assim sendo, considerando que as dívidas das coimas se reportam a 2001/12 e 2002/12, e que pese embora inexista uma data concreta relativamente à data do trânsito em julgado das decisões administrativas de aplicações da coima, a verdade é que, por um lado, foram extraídas as respetivas certidões de dívida em 2004 (cf. alíneas N) e O) da matéria de facto aditada oficiosamente), e por outro lado, nada foi alegado no sentido de que as decisões administrativas foram objeto de qualquer recurso judicial, nem resulta dos autos qualquer elemento que permita inferir nesse sentido, pelo que é manifesto que à presente data (2022) há muito que decorreu o prazo de 7 anos e meio que resulta do disposto no n.º 2, do art. 30.º-A do RGCO. Pelo exposto, importa concluir que se verifica a prescrição das dívidas exequendas relativas a coimas. Assim sendo, encontrando-se prescritas as dívidas exequendas referentes a coimas, tal fundamento conduz à procedência da Oposição nessa parte, e a consequente extinção da execução fiscal também nessa parte, nos termos da alínea d), do n.º 1, do art. 204.º do CPPT, pelo que fica prejudicado o conhecimento dos fundamentos do recurso interposto pela Fazenda Pública quanto a estas dívidas, nos termos do disposto no art. 608.º, n.º 2 do CPC. Prosseguindo. Invoca o Recorrente Oponente no seu recurso da sentença, quanto às dívidas de IVA e IRC dos períodos de 2001/12, 2002/04 e 2002/12, a nulidade do despacho de reversão por falta de fundamentação. Contudo, esta questão não foi conhecida na sentença recorrida, e bem, uma vez que não foi invocada na p.i.. Como se sumariou no acórdão do STA de 11/07/2019, proc. n.º 0557/07.5BECBR “II - Enferma de nulidade por excesso de pronúncia a sentença judicial que julgou procedente a oposição à execução fiscal com base na falta de fundamentação do despacho de reversão, vício não invocado nos autos e que não é do conhecimento oficioso.” Portanto, não se verifica erro de julgamento da sentença recorrida quando esta assume a posição jurídica de não conhecimento da nulidade do despacho de reversão porque não foi invocado na p.i., não sendo a questão de conhecimento oficioso. Por outro lado, também em sede do presente recurso a questão não poderá ser conhecida porque estamos perante uma questão nova que não é de conhecimento oficioso (nesse sentido, v. acórdão do STA de 01/07/2020, proc. n.º 0557/13.6BEVIS 01347/17: “(…) VI -Como é pacificamente entendido, os recursos jurisdicionais têm por objecto a apreciação de decisões da mesma natureza proferidas por Tribunais de grau hierárquico inferior, visando a respectiva anulação ou revogação, por vícios de forma ou de fundo. Significa isto que nos recursos jurisdicionais não é possível fazer a apreciação de quaisquer questões que sejam novas, isto é, que não tenham sido colocadas à apreciação do Tribunal “a quo”, salvo quando o seu conhecimento seja imposto por lei. VII - No caso vertente, o recorrente suscita a referida questão (a tentativa de concretização do “vício” do despacho de reversão gerador de absolvição da instância), posta apenas em sede de recurso; ou seja, tal questão foi suscitada apenas perante o Tribunal «ad quem», já que não foi invocada perante o Tribunal «a quo». VIII - Infere-se das conclusões alegatórias, pois, que a recorrente pretende a emissão de pronúncia sobre questão nova, o que o mesmo é dizer que a questão suscitada excede o objecto do recurso, implicando a sua apreciação a preterição de um grau de jurisdição. E como a recorrente deixou cair a questão da ilegitimidade substantiva dos revertidos por não serem responsáveis pela dívida exequenda, sobre a qual a sentença transitou em julgado (cfrº artºs. 619º e 580º do CPC), na improcedência do recurso, deve manter-se a sentença recorrida.” Em suma, sufragamos a jurisprudência supra citada, pelo que não é de conhecer do fundamento invocado pelo Recorrente nas suas conclusões 13 a 23. Pelo exposto, e em face dos fundamentos invocados pelo Oponente nas suas conclusões de recurso importa concluir que o recurso do Oponente não merece provimento. Prosseguindo. Finalmente quanto ao recurso da Fazenda Pública, face à prescrição das dívidas exequendas referentes às coimas, que como vimos, se encontram prescritas, apenas resta conhecer dos fundamentos do recurso atinentes às dívidas de IVA de 2003/11 que constituem objeto deste recurso. Vejamos. Antes de mais, e para efeitos de conhecimento deste fundamento de recurso importa aditar à matéria de facto o seguinte facto, ao abrigo do art. 662.º, n.º 1 do CPC: L) A dívida de IVA 2003/11 tem como prazo limite de pagamento voluntário o dia 12/01/2004 (cf. certidão de dívida de fls. 79 dos autos). Prosseguindo. Neste particular invoca a Recorrente Fazenda Pública que revela a falta de zelo do revertido o facto de não ter entregue a declaração de IVA no início do prazo legal para o fazer, ou seja, a partir do primeiro dia do mês de dezembro de 2003, e nessa medida não poderá ser afastada a responsabilidade do Oponente. Contudo, não lhe assiste razão. Efetivamente, não é controvertido que nos autos resulta provado que o Oponente exerceu, confessadamente, as funções correspondentes ao cargo de presidente do conselho de administração da sociedade devedora originária até 31.12.2003 (cf. al. B) da matéria assente). Por outro lado, a dívida exequenda de IVA 2003/11 tem como prazo limite de pagamento voluntário o dia 12/01/2004 (cf. alínea L) dos factos assentes, supra aditado oficiosamente).
Assim sendo, a responsabilidade subsidiária do Oponente quanto a esta dívida enquadra-se na alínea a), do n.º 1 do art. 24.º da LGT: “a) Pelas dívidas tributárias cujo facto constitutivo se tenha verificado no período de exercício do seu cargo ou cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha terminado depois deste, quando, em qualquer dos casos, tiver sido por culpa sua que o património da pessoa colectiva ou ente fiscalmente equiparado se tornou insuficiente para a sua satisfação;” (sublinhado nosso). Esse enquadramento foi efetuado pela sentença recorrida. Portanto, considerando que o prazo legal de pagamento ou entrega do IVA terminou em 12/01/2004, importa concluir que aquele completou-se após o término do exercício do cargo de presidente do conselho de administração da sociedade devedora originária, pelo Oponente (31/12/2003). Na alínea a) não se prevê qualquer presunção de culpa do gerente da sociedade, ficando, por isso, a cargo da Fazenda Pública o ónus de provar que foi por culpa daquele que o património social se tornou insuficiente para satisfação das dívidas. Na sentença recorrida decidiu-se, e bem que tal ónus da prova não cumprido: “Consequentemente, e de acordo com a exposição de direito acima efetuada, cabia à Administração Tributária a prova da culpa do responsável subsidiário na insuficiência do património da devedora originária, o que, percorrida a matéria de facto provada, maxime as als. E), F) e I), não foi feito. Nada se disse, quer no projeto de reversão, quer no despacho que opera a reversão, sobre eventuais comportamentos censuráveis do ora Oponente que tivessem como consequência a diminuição do património societário a ponto de se tornar insuficiente para pagamento das dívidas ao Estado. Não se mostrando cumprido aquele ónus, impõe-se concluir que o Oponente é parte ilegítima na execução fiscal em relação à dívida de IVA correspondente ao período 2003/11. (…)”.
Na verdade, importa sublinhar, por um lado, que para efeitos do cumprimento do ónus da prova da Recorrente o pressuposto relevante é a data limite do pagamento ou entrega do imposto, e por outro lado, a prova que deverá ser efetuada, tal como decorre claramente da alínea a), do n.º 1, do art. 24.º da LGT é a da culpa do Oponente na insuficiência do património da pessoa coletiva para a satisfação da dívida, e não a culpa no não pagamento. Assim sendo, não se vê como é que a alegação da Fazenda Pública de que o Oponente poderia ter entregue a declaração IVA e pago o imposto no início do prazo legal poderá satisfazer o ónus da prova previsto na lei que é, reitere-se a da culpa do Oponente na insuficiência do património da pessoa coletiva para a satisfação da dívida. Deste modo, nada mais resta senão confirmar a sentença recorrida que não enferma do erro julgamento que lhe assaca o Recurso da Fazenda Pública, sendo de negar provimento ao recurso da Fazenda Pública. Nos termos do artigo 527.º do CPC aplicável ex vi do artigo 2.º alínea e) do CPPT a decisão que julgue o recurso condena em custas a parte a que elas houver dado causa (n.º 1), entendendo-se que dá causa às custas do processo a parte vencida na proporção em que o for (n.º 2), e, portanto, ambas as partes são responsáveis pelo pagamento das custas na proporção do decaimento que se fixa em 1/5 para a Fazenda Pública e 4/5 para o Oponente. Considerando que o valor da presente causa é superior a 275.000,00€, e que a questão da dispensa do remanescente da taxa de justiça ao abrigo do disposto no art. 6.º, n.º 7 do RCP é de conhecimento oficioso (cf. ac. do STA de 07/05/2014, proc. n.º 01953/13), sempre se dirá que se encontram reunidos os pressupostos do n.º 7 do art. 6.º do RCP. Na verdade, in casu, ponderado o montante da taxa de justiça que será devida, face ao concreto serviço prestado, revela-se adequado e necessário face ao princípio da proporcionalidade, dispensar o remanescente da taxa de justiça, verificando-se os pressupostos do n.º 7 do art. 6.º do RCP.
Sumário (art. 663.º, n.º 7 do CPC) I. Quando é aplicável o disposto no n.º 2 do art. 49.º da LGT (antes da sua revogação pela Lei n.º 53-A/2006, de 29/12) cessa o efeito interruptivo da citação, apenas quando se verifica a paragem do processo que determinou a interrupção da prescrição por período superior a um ano e por motivo não imputável ao sujeito passivo, que se degrada em mero efeito suspensivo de um ano; II. Quando a responsabilidade subsidiária se subsume ao disposto na alínea a), do n.º 1, do art. 24.º da LGT, a Fazenda Pública tem de provar a culpa do Oponente na insuficiência do património da pessoa coletiva para a satisfação da dívida, sendo irrelevante para este efeito o facto de o prazo de início de pagamento voluntário da dívida se ter iniciado ainda durante o exercício do cargo pelo Oponente.
DECISÃO Em face do exposto, acordam em conferência os juízes da 2.ª Subsecção, da Secção do Contencioso Tributário deste Tribunal Central Administrativo Sul, negar provimento a ambos os recursos da Recorrente Oponente, e negar provimento ao recurso da Fazenda Pública. **** Custas na proporção do decaimento que se fixa em 1/5 para a Fazenda Pública e 4/5 para o Oponente. Dispensa-se o pagamento do remanescente da taxa de justiça. D.n. Lisboa, 27 de janeiro de 2022. Cristina Flora (Relatora) Patrícia Manuel Pires (1.ª adjunta)
Vital Lopes (2.º adjunto) |