Centro de Documentação da PJ
Monografia

CD299
SANTOS, Joana Labrincha Costa dos
Correios de droga detidos em Portugal [Documento electrónico] : trajetórias de vida e significados do crime / Joana Labrincha Costa dos Santos.- Porto : [s.n.], 2015.- 1 CD-ROM ; 12 cm
Tese apresentada à Universidade Fernando Pessoa como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutor em Ciências Sociais - Psicologia sob a orientação de Ana Sacau e coorientação de Raquel Matos. Resumo inserto na publicação. Ficheiro de 1,70 MB em formato PDF (192 p.).


TRÁFICO DE DROGA, CORREIO DE DROGA, ROTA DE DROGA, DETIDO, ANÁLISE PSICOLÓGICA, TESE, PORTUGAL

A presente tese versa sobre as trajetórias de vida de homens detidos em Portugal que se constituíram como correios de droga no narcotráfico, procurando compreender em particular os significados que os mesmos atribuem ao crime nessas trajetórias. A literatura tem evidenciado o número crescente de correios de droga, justificando-se a realização de estudos empíricos para compreensão desta problemática. A nível teórico partimos de abordagens acerca das trajetórias de vida e envolvimento no crime em geral, para nos determos em particular sobre as trajetórias de vida de correios de droga. Foi desenvolvido um estudo qualitativo, que permitiu aceder às narrativas dos reclusos sobre o modo como o narcotráfico surge nas suas trajetórias de vida. Os dados foram recolhidos através da realização de entrevistas qualitativas aprofundadas a 24 correios de droga recluídos num estabelecimento prisional do Norte do país, a partir do guião de entrevista “Trajetórias de vida de correios de droga”, adaptado de um guião proposto de Matos, Machado, Barbosa e Salgueiro (2010). Posteriormente, as entrevistas foram transcritas e analisadas sob os pressupostos da “grounded analysis”, com recurso ao programa informático Nvivo10. A análise dos dados evidenciou, antes de mais, que estes homens iniciaram o crime de forma tardia, já na idade adulta. Evidenciou ainda a existência de três grupos que se distinguem pelos percursos de vida e significados atribuídos ao narcotráfico: dois grupos de homens que se constituíram como “mulas” e um terceiro grupo de reclusos que entraram no narcotráfico como “self-employed”. Relativamente aos “self-employed”, percebemos que se trata de homens que tendem a encarar o crime como um negócio, tendo interesses comerciais elevados e viajando com frequência. Quanto aos homens identificados como “mulas”, para alguns o envolvimento no narcotráfico esteve associado a pressão económica ou coação. A vulnerabilidade está presente no caso destes reclusos, sendo que tal vulnerabilidade está associada à vitimação decorrente do seu envolvimento no narcotráfico. A motivação esteve, nestes casos, associada à necessidade de satisfação e/ou proteção das famílias. Para outros reclusos que se constituíram como “mulas”, as motivações associaram-se sobretudo à intenção de melhorar o seu estilo de vida, não tendo sofrido vitimação no seu envolvimento no crime. Concluímos, por isso, que a designação “mulas” não pode ser assumida como categoria única e que o estatuto de “mulas” do narcotráfico não está inevitavelmente associado a vitimação.