Biblioteca DGRSP


EST1122
Monografia
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GONÇALVES, Natália Susana Correia Soares

Cuidar entre as grades : vivências dos enfermeiros / Natália Susana Correia Soares Gonçalves ; ori. tese Ana Paula França.- Porto : [s.n.], 2014.- 155, [10] p. ; 30 cm em PDF. - (Estudos)
Dissertação para grau de Mestre em Ciências da Enfermagem submetida ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto.
(Polic.) : oferta


MEDICINA, MEDICINA NA PRISÃO, TRATAMENTO MÉDICO, ENFERMAGEM, DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS, RECLUSÃO, RECLUSO, DOENTE, PRISÃO, MEIO PRISIONAL, TESE DE MESTRADO, PORTUGAL

Cuidar na prisão é cuidar a pessoa que perdeu um bem fundamental, a liberdade física, que vive num ambiente hostil, que pela sua trajectória de vida apresenta necessidades de saúde e que sofre pela vivência da reclusão. O contexto prisional, vocacionado para a punição, não é um ambiente aparentemente facilitador para o cuidar. O presente estudo com o tema “Cuidar Entre as Grades: Vivências dos Enfermeiros”, tem como objectivo compreender a experiência vivida pelos enfermeiros de cuidar reclusos em estabelecimentos prisionais. Para a realização deste estudo enveredamos pela abordagem fenomenológica de Amadeo Giorgi, realizando entrevistas a catorze enfermeiros que no seu quotidiano vivem a experiência de cuidar reclusos em estabelecimentos prisionais do país. Das unidades de significado dos discursos dos enfermeiros emergiu a estrutura essencial da vivência de cuidar reclusos, constituída por três componentes: Vivendo o Cuidar na Reclusão, Humanizando o Cuidar na Reclusão e Experienciando as Dificuldades do Cuidar na Reclusão, enquadradas nos contextos: Ambiente Intramuros, Compromisso com a Pessoa Reclusa, Estar Doente Intramuros, Ser Enfermeiro Intramuros e Cuidar Dentro da Grades. Das experiências vividas dos enfermeiros emerge a prisão como um contexto hostil, vocacionado para a segurança e potencialmente não terapêutico. A pessoa reclusa está vulnerável, pelo sofrimento de viver em reclusão, num espaço sobrelotado e pela doença entre grades. Estes enfermeiros expressaram ainda fragilidades no cuidar: sentimentos de insegurança, desvalorização profissional, fragilidade laboral e necessidade em criar barreiras na relação com o recluso. A doença no espaço intramuros tem contornos exacerbados. Os enfermeiros valorizam a compreensão do sofrimento que, quer seja físico ou emocional, consideram sofrimento. A relação de cuidar dos enfermeiros é demonstrada pela sua disponibilidade, empatia e preservação da dignidade, humanizando o momento de cuidar. Cuidar reporta-se ao cuidado assistencial, perspectivando a capacitação do recluso no seu projecto de saúde, para o seu futuro além da reclusão, incutindo-lhe esperança. A vivência de cuidar reclusos pode despertar um turbilhão de sentimentos ambivalentes que os enfermeiros manifestam ter capacidade de gerir, sugerindo que o que parece ser um dilema, é uma oportunidade de reflectir e melhorar a relação de cuidar, tornando-a mais autêntica e num momento de crescimento profissional. Das vivências destes participantes de cuidar na prisão podemos perceber que o que parece ser um contexto à priori com fragilidades para o cuidar, emerge como uma oportunidade para proporcionar um cuidar humanizador aos reclusos.