Biblioteca DGRSP


EST914
Monografia
8179


PRAL, Catarina Maria Martins de Azinheira
Sintomatologia depressiva e delinquência juvenil em adolescentes a cumprirem medidas tutelares educativas / Catarina Maria Martins de Azinheira Pral ; ori. tese Bruno Ademar Paisana Gonçalves, Catarina Maria Antunes Valente Marques.- Lisboa : [s.n.], 2018.- 158, [39] p. ; 30 cm em PDF. - (Estudos)
Tese para a obtenção do grau de Doutor em Psicologia, na especialidade de Psicologia Clínica apresentado na Universidade de Lisboa Faculdade de Psicologia
(Polic.) : oferta


PSICOLOGIA, PSICOLOGIA CLÍNICA, DIREITO DOS MENORES, DEPRESSÃO, REINCIDÊNCIA CRIMINAL, MEDIDAS TUTELARES EDUCATIVAS, ADOLESCENTE, DELINQUÊNCIA JUVENIL, CENTRO EDUCATIVO, TESE DOUTORAMENTO, PORTUGAL

Muitos estudos têm mostrado que a coocorrência de várias formas de psicopatologia, especificamente a depressão, é particularmente frequente em jovens delinquentes. Os fatores de proteção individuais destes jovens, nomeadamente a resiliência, revelam-se igualmente importantes. Diversas teorias explicativas da coocorrência têm sido defendidas, nomeadamente a Teoria da falha, de acordo com a qual os problemas externalizantes predizem os problemas internalizantes (Burke, Loeber, Lahey & Rathouz, 2005; Capaldi, 1992); A Teoria do acting-out que defende que os problemas de internalização predizem os problemas externalizantes - depressão mascarada (Carlson & Cantwel, 1980; Gold, Matlin & Osgood, 1989) e a Perspetiva da estabilidade que explica a coocorrência através de fatores de risco não específicos, como sejam a história familiar, a relação pais-filho e os acontecimentos de vida (Krueguer, 1999; Krueguer, Caspi, Moffitt & Silva, 1998; Overbeek, Vollerberg, Meeus, Engels & Luijpers, 2001). A presença da resiliência em grupos de risco específicos está pouco estudada, existindo no entanto algumas evidências de que o processo de resiliência é menos frequente em adolescentes que adotam comportamentos de risco (Wolin e Wolin, 1993), sendo que os adolescentes detidos apresentam níveis de resiliência inferiores quando comparados com adolescentes não delinquentes (Biscoe & Vincent, 1998). Cyrulnik (2001) defende que a delinquência, em determinados contextos, assume um valor adaptativo, consistindo o comportamento desviante numa estratégia resiliente. Neste contexto, estabelecemos os seguintes objetivos para a presente investigação: - Avaliar a prevalência de sintomatologia depressiva em jovens a cumprirem medidas tutelares educativas e a relação desta sintomatologia com o risco de reincidência criminal; - Avaliar o efeito da institucionalização sobre a ocorrência de sintomatologia depressiva; - Avaliar a relação entre a depressão e os níveis de reincidência, num momento posterior, tendo em conta igualmente a resiliência e outros fatores avaliados no momento inicial. No intuito de atingir os objetivos propostos o presente estudo adotou uma metodologia de caráter longitudinal: o momento inicial de recolha de informação ocorreu entre março e 2011 e fevereiro de 2012, tendo o follow-up sido desenvolvido em junho e julho de 2014. Na primeira fase de recolha de informação, procedeu-se à aplicação dos instrumentos selecionados para avaliar os constructos, que a seguir descreveremos. Na segunda fase de recolha de informação, efetuou-se um estudo de follow-up, com vista à avaliação da reincidência criminal. Com vista a caracterizar a situação sociodemográfica dos participantes na investigação e relacioná-la com as restantes variáveis em estudo procedeu-se ao levantamento das variáveis sociodemográficas pertinentes para este efeito, nomeadamente idade, género e escolaridade. Complementarmente, estabeleceram-se também variáveis caracterizadoras do posicionamento dos sujeitos face ao aparelho da justiça que permitiram proceder a comparações no modelo, através da identificação do tipo e características das medidas tutelares educativas a que os jovens se encontravam sujeitos, bem como dos tipos de crime que deram origem aos processos tutelares educativos. Os constructos do modelo, que pretendemos relacionar no estudo em apreço, foram o Risco de reincidência criminal; a Depressão; a Resiliência e a Reincidência criminal (observada no follow-up). A avaliação do risco de reincidência criminal foi efetuada com base num instrumento de avaliação de necessidades e risco o Youth Level of Service / Case Management Inventory (Hoge, Andrews, & Leschied 2002; adaptação portuguesa DGRS, 2009. A sintomatologia depressiva foi avaliada através da Escala de Depressão do Centro de Estudos Epidemiológicos (CES-D; Radloff, 1977, versão portuguesa de Gonçalves & Fagulha, 2006). A resiliência foi avaliada através da Escala de Resiliência (Wagnild & Young, 1993, versão Portuguesa de Vigário, 2010). Os dados obtidos foram analisados através dos métodos da análise quantit
ativa, utilizando os programas informáticos IBM SPSS Statistics (v.19, SPSS, Inc., Chicago, IL) e AMOS (v.16, SPSS, Inc., Chicago, IL), tendo-se procedido à analise das medidas descritivas, correlações entre as variáveis estudadas e modelos estruturais. Foram usados Testes de Hipóteses e Modelos de Equações Estruturais (SEM) para testar as hipóteses enunciadas, recorrendo-se, também, a casos particulares do SEM, como sendo a Análise Fatorial Exploratória (AFE), Análise Fatorial Confirmatória (AFC), Análise Fatorial de 2ª ordem e Modelos de Análise de Caminhos (Path Analysis), de acordo com os objetivos enunciados. Para avaliar diferenças entre grupos e estabelecer comparações, recorreu-se também à análise multigrupos. O presente estudo envolveu 283 sujeitos, 39 raparigas e 244 rapazes, com idades compreendidas entre os 14 e os 19 anos de idade; 86 cumpriam medida de Acompanhamento Educativo (AE), encontrando-se 197 a cumprir medida de Internamento em Centro Educativo (CE). O perfil sociodemográfico dos jovens pertencentes à amostra estudada aponta para estruturas familiares com marcadas carências que os colocam numa situação de vulnerabilidade face ao fenómeno da delinquência juvenil. Na segunda fase foram contactados 196 jovens da amostra inicial. As características sociodemográficas desta subamostra não diferiam significativamente das características da amostra inicial, com exceção da variável institucionalização, sendo a diferença a favor dos jovens a cumprir medidas de internamento em centro educativo (77%). Os resultados obtidos com base nas medidas descritivas e testes de hipóteses apontam para um nível elevado de sintomatologia depressiva (CES-D > 20) em 43 % dos adolescentes, verificando-se que a institucionalização aumenta o risco de sintomatologia depressiva, verificando-se que atinge mais de metade dos jovens (51%) a cumprirem medida de internamento em centro educativo. Através da análise multigrupos verificou-se que: - O risco de reincidência criminal e a reincidência criminal efetivamente observada são superiores nos adolescentes a cumprirem medida de internamento em centro educativo; - Observam-se diferenças entre géneros ao nível da reincidência criminal as raparigas tendem a reincidir menos; - A gravidade dos crimes cometidos não se relaciona com as restantes variáveis em estudo. Através do estudo das correlações entre as variáveis estudadas efetuado, verificou-se uma correlação negativa significativa (p < 0,05) entre o total obtido na CES-D e a Escala de Resiliência (-0,134) e entre o fator II da Escala de Resiliência- Autosuficiência e o total da CES-D verificou-se uma correlação negativa fraca (-0,156). Entre o risco de reincidência criminal, avaliado através do YLS/CMI e a reincidência criminal, verificouse uma correlação positiva significativa, mas baixa (0,253). Os efeitos da Depressão, Risco de Reincidência e Resiliência na Reincidência foram estimados por dois modelos de equações estruturais. As estimativas standardizadas dos coeficientes de regressão e as correlações entre os constructos permitiram-nos concluir que: - O risco de reincidência é preditor da reincidência, dado que o efeito estimado é forte e significativo (0,715; p < 0,01); - A depressão influencia a reincidência (0,337; p < 0,01), pelo que adolescentes com sintomatologia depressiva mais acentuada tenderão a reincidir criminalmente com maior facilidade; - A resiliência não influencia a reincidência criminal, uma vez que o seu efeito é não significativo. Procedeu-se às estimativas dos coeficientes de regressão para averiguar se a depressão medeia a relação entre o risco e a reincidência através de dois modelos de análise de caminhos, verificando-se que: - A depressão não medeia a relação entre o risco e a reincidência em ambos os modelos, com um nível de significância de 5%; - O risco é preditor da reincidência, como já anteriormente verificado Face aos resultados obtidos, seria interessante efetuar um estudo longitudinal do desenvolvimento das carreiras delitivas destes jovens face à reincidência criminal em termos etários (início d
a atividade desviante), percurso e abandono. Seria igualmente importante aprofundar o estudo sobre o conjunto de fatores de ordem social, cultural, económica e outros que motivam ou contextualizam a reincidência criminal feminina. A realização de um estudo dirigido aos jovens que apresentam sintomatologia depressiva e se encontram a cumprir medidas tutelares educativas, utilizando instrumentos de diagnóstico, nomeadamente a entrevista clínica, permitiria no futuro aprofundar e desenvolver os resultados ora alcançados e aprofundar o conhecimento sobre a relação entre a depressão e a delinquência juvenil.